“Para você ganhar um belíssimo Ano Novo... tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo”.
Então, meus amigos, por favor, sem choramingo pelo que não deu certo em 2007. Vem ai um ano novinho em folha para todo mundo, sem distinção de cor, idade, nacionalidade, sexo ou gosto musical. Serão mais 365 dias para refletir, corrigir, construir, inovar, acreditar, aprender, ensinar, dividir, doar, tolerar, falar, calar, desprender-se, libertar, rir, perdoar, amar, enfim... Começar (ou recomeçar). Mas não se enganem... Desses todos, também haverá dias de choro, sofrimento, indignação, irritação. Dias para de errar, cair, magoar, pedir desculpas... Como todo bom e teimoso humano.
A receita para acertar em 2008? É simples (e tão complexa)... não tenha medo! Não tenha medo de abandonar o “homem velho”, de olhar para si, de corrigir rumos, de desafiar-se, de mudar. Afinal, nada no universo é estático, então por quê a acomodação? Reveja seus valores, atitudes e pensamentos. E quando estiver em dúvida sobre o melhor caminho a seguir, ouça o seu coração... Não tenha medo de amar, de amar-se. Não tenha medo de acreditar em anjos.
Para todos nós... um 2008 repleto de mudanças. De fé, amor!
Ah! E antes de 2007 termine, vá à sua “despensa” e observe os “prazos de validade”. Lembre-se que “sentimento guardado azeda por dentro”.
domingo, 30 de dezembro de 2007
Receita de Ano Novo
Para você ganhar um belíssimo Ano Novo
Cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com o tempo já vivido (mal vivido talvez ousem sentido)
para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, recomendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha...
Não precisa fazer lista de boas intenções, para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependimento
Pelas besteiras consumadas
Nem parvamente acreditar
Que por decreto da esperança
A partir de janeiro as coisas mudem
E seja tudo claridade, recompensa,
Justiça entre os homens e as nações,
Liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados,
começando pelo direito de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que
não é fácil, mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
Cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade
Cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com o tempo já vivido (mal vivido talvez ousem sentido)
para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, recomendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha...
Não precisa fazer lista de boas intenções, para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependimento
Pelas besteiras consumadas
Nem parvamente acreditar
Que por decreto da esperança
A partir de janeiro as coisas mudem
E seja tudo claridade, recompensa,
Justiça entre os homens e as nações,
Liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados,
começando pelo direito de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que
não é fácil, mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
Cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade
domingo, 23 de dezembro de 2007
24h de que?
Quem já passou 24h em uma corrida de aventura – correndo, pedalando, remando, nadando – pode sobreviver tranquilamente a algumas horas de natação, certo?
Sim!!! Sobreviver, sim! Mas... Tranquilamente? Aí já é outra história.
Quando o Júnior perguntou se iria participar do Desafio 24h de Natação ele não sabia que estava usando uma palavra mágica para me convencer a encarar a competição : DESAFIO.
- Mas como é a prova?
- Simples. São 24 horas nadando. Vence a equipe que fizer a maior distância durante esse tempo. Serão oito equipes e cada uma pode ter até 30 pessoas. Você só precisa dizer em que horários pode nadar.
30 pessoas... 24 horas... Fácil! Só precisava escolher uma horinha (ou mais) que não chocasse com os outros compromissos que teria naquela sexta-feira. Seria só mais um dia de treino de natação, dessa vez em um lugar diferente. Seria... se fosse.
Ao chegar ao ginásio onde estava sendo realizada a competição fui logo percebendo que aquilo não era algo tão simples como eu havia pensado. A primeira imagem foi uma arquibancada lotada de atletas, familiares e curiosos. Metade dela colorida de vermelho e amarelo. Era a equipe do Corpo de Bombeiros, incluindo alguns companheiros das corridas de aventura – Tavares, Marcelinho e André.
A prova havia começado há pouco mais de uma hora e a nossa equipe (Iate) estava em terceiro lugar, a 450m da segunda colocada (Nadart). Em primeiro estavam os bombeiros, ou melhor, a tropa de elite aquática do CB... 600 metros a nossa frente.
Sem dúvida e nem falsa modéstia, tínhamos os melhores nadadores da competição. Mas o fato de não estarem todos ali, durante as 24h, fez uma grande diferença. Enquanto o CB tinha todos seus nadadores no ginásio, as demais equipes eram formadas por “atletas” que dividem o tempo dentre esporte, trabalho, casa, etc. Mais pessoas em um equipe, na prática, significava que os nadadores teriam mais tempo para descansar e assim poderiam render mais.
Com essa vantagem competitiva, o CB adotou a estratégia de fazer revezamento de 50m. Ou seja, se quiséssemos diminuir aqueles 600m de diferença teríamos de nadar um bocado. Só não imaginava que fosse tanto. Enquanto eles tinham 30, nossa equipe mantinha uma média de 4 a 5 pessoas/hora se revezando na piscina. Isso na teoria. Na prática, houve momentos de desfalque, o que acelerou o processo de desgaste dos nadadores. Porque uma coisa é você fazer uma hora de natação, outra bem diferente é você passar essa mesma uma hora usando 100% da sua força. E se for 1h30? Pois é... quando cai na piscina, às 10h30, estávamos em um desses momentos de desfalque. Preciso dizer mais alguma coisa?
Foi nessa hora que soou a sirene, anunciando que havia passado mais uma hora de competição. Junto veio um grito otimista... “Parabéns nadadores! Faltam APENAS 22h!!!" Apenas?
Nesse instante acabei descobrindo que água pode pesar tanto (ou mais) que um saco de cimento. Mesmo você estando em cima dela.
Mas o fato é que a possibilidade de nos aproximar dos bombeiros acirrava os ânimos e motivava todo mundo. Na segunda hora de prova, a diferença do Iate para a Nadart havia caído para 250m.
Enquanto isso, do lado de fora da piscina estava o Júnior, nosso treinador/professor, com celular ao ouvido recrutando reforço. Ele já havia percebido que a idéia inicial, de ter 4 nadadores a cada hora, não seria suficiente para fazer a equipe “deslizar”. Era preciso mais gente para que o nosso tempo de recuperação fosse maior.
Às 12h, quando os braços não respondiam a mente, tive de sair da água. O coração, que estava apertado em ter de deixar Alexandre, Núbia e Givaldo sozinhos na piscina, tranqüilizou-se ao ver Paulinho e Hélcio chegando para reforçar a equipe.
Mas o meu desafio não parava ali. Foi só o tempo de resolver algumas coisas “lá fora”, almoçar e voltar para a competição. Dessa vez, totalmente consciente (e preocupada) do que viria pela frente. Quantos estariam lá para nadar? Para meu alívio, ao chegar, dei de cara com a verdadeira “Tropa de Elite” da competição. A nossa Tropa de Elite. Já tínhamos nadado 31.850m e estávamos em segundo lugar, 1.200m a frente da Nadart. Também não éramos apenas quatro, mas 10. Até a Talita, que mora em Sampa e havia chegado há poucas horas em Maceió para passar o Natal com a família, estava lá para integrar a equipe, junto com a mãe e a sobrinha (três gerações de nadadoras).
Assim, Júnior dividiu os nadadores em duas equipes de 5 pessoas, que se revezavam a cada 30 minutos. Essa foi sem dúvida, a melhor estratégia.
Às 17h30 sai da piscina, novamente de coração apertado. O esgotamento já era visível e só haviam se passado 9 horas de competição. Como seria a noite e a madrugada?
Não consegui ficar em casa com essa pergunta na cabeça. Mesmo que apenas por alguns minutos, tinha de voltar para a piscina e ajudar a carregar aqueles “sacos de cimento”, o quanto fosse possível. Então, às 21h, voltei... levando comida e o que restava de força nos braços. A boa notícia é que tive um incentivo a mais... a presença do meu namorado (Júnior).
E quando cheguei... mais uma surpresa. Ao chegar, me deparei com um “mar” de gente, competindo e assistindo. Equipes elétricas e uma euforia geral, apesar de todo cansaço! O espírito de equipe estava presente e vi gente dispensando a tradicional farra de sexta-feira para estar na competição. Foram as horas de melhor rendimento, 4.950m/hora. E pra não deixar a peteca cair... água, repositor, barras de proteína, pizza, amendoim, etc, etc, etc.
Uma hora, foi o quanto os braços agüentaram. Além de não haver mais força, precisava tentar descansar, já que na manhã seguinte ainda tinha 60km de pedal e outros 12km de corrida.
Mas, em casa, embora o corpo cansado, a mente não conseguia desacelerar e o sono só chegou depois das 2h30 da manhã. Já sabia que o treino tinha ido por água a baixo, então pensei em dormir mais um pouco e ir para a piscina apenas na última hora da prova, quando toda equipe deveria estar reunida. Mas, esses planos também foram por água a baixo. Às 04h o telefone toca.
- Fabí?
- Oi Ju...
- Como você está?
- Um bagaço.
- Fabí. Estamos precisando de você.
- Ju... eu tô morta.
- A Núbia parou de vez. Não agüenta mais levantar o braço. O Raul está nas últimas. O Paulinho está nadando só para a equipe não parar. Se não vier reforço, vamos parar o revezamento.
- Parar?? Tá, tô chegando.
Não sabia como iria nadar e bateu outra preocupação... o que o Júnior (o namorado) vai pensar ? Que sou maluca? Acho que vou levar "cartão vermelho". Mas, fui mesmo assim, rezando para que ao voltar ainda tivesse o namorado.
Hélcio, que também havia sido recrutado, assumiu a piscina para aliviar os guerreiros da madruga. Raul, Paulinho e Bruno estavam apenas esperando alguém chegar para saírem da água. Às 4h30 cai na piscina e, ao contrário do que imaginava, o inimigo não era o cansaço, mas a água fria. E põe fria nisso.
Às 4h45 toca a sirene.
- Parabéns nadadores!!! Faltam só 4 horas”.
- ?? (silencio total)
Com o amanhecer o restante dos nadadores foi chegando e voltamos a ter duas equipes se revezando na água.
Às 7h45, quando mais uma parcial era anunciada, o grito de um dos bombeiros lembrou: falta só uma hora galera. Apenas 1 horinha? A partir dali, começamos uma contagem regressiva e o cansaço sumiu de vez, como um toque de mágica.
Embora não fosse mais possível alcançar a equipe do CB. Ter chegado até ali e estar em segundo lugar, já era motivo suficiente para comemorar. E parece que isso “nitrogenou” todo mundo.
Às 8h45, depois de 105.950 m de braçadas, finalmente chegamos na hora 24 daquela competição. A pergunta que rondava a mente durante a madrugada (porque eu me meti nisso?) deu lugar a satisfação de vencer mais um desafio. Semblantes cansados, dores nos braços, no abdômen, olheiras... tudo se tornou pequeno diante da sensação de superação, superação em equipe.
Queridos amigos, não tentem entender a “loucura”. Desafie-se... e saberá o que quero dizer. Parabéns... essa é a nossa Tropa de Elite.
Sim!!! Sobreviver, sim! Mas... Tranquilamente? Aí já é outra história.
Quando o Júnior perguntou se iria participar do Desafio 24h de Natação ele não sabia que estava usando uma palavra mágica para me convencer a encarar a competição : DESAFIO.
- Mas como é a prova?
- Simples. São 24 horas nadando. Vence a equipe que fizer a maior distância durante esse tempo. Serão oito equipes e cada uma pode ter até 30 pessoas. Você só precisa dizer em que horários pode nadar.
30 pessoas... 24 horas... Fácil! Só precisava escolher uma horinha (ou mais) que não chocasse com os outros compromissos que teria naquela sexta-feira. Seria só mais um dia de treino de natação, dessa vez em um lugar diferente. Seria... se fosse.
Ao chegar ao ginásio onde estava sendo realizada a competição fui logo percebendo que aquilo não era algo tão simples como eu havia pensado. A primeira imagem foi uma arquibancada lotada de atletas, familiares e curiosos. Metade dela colorida de vermelho e amarelo. Era a equipe do Corpo de Bombeiros, incluindo alguns companheiros das corridas de aventura – Tavares, Marcelinho e André.
A prova havia começado há pouco mais de uma hora e a nossa equipe (Iate) estava em terceiro lugar, a 450m da segunda colocada (Nadart). Em primeiro estavam os bombeiros, ou melhor, a tropa de elite aquática do CB... 600 metros a nossa frente.
Sem dúvida e nem falsa modéstia, tínhamos os melhores nadadores da competição. Mas o fato de não estarem todos ali, durante as 24h, fez uma grande diferença. Enquanto o CB tinha todos seus nadadores no ginásio, as demais equipes eram formadas por “atletas” que dividem o tempo dentre esporte, trabalho, casa, etc. Mais pessoas em um equipe, na prática, significava que os nadadores teriam mais tempo para descansar e assim poderiam render mais.
Com essa vantagem competitiva, o CB adotou a estratégia de fazer revezamento de 50m. Ou seja, se quiséssemos diminuir aqueles 600m de diferença teríamos de nadar um bocado. Só não imaginava que fosse tanto. Enquanto eles tinham 30, nossa equipe mantinha uma média de 4 a 5 pessoas/hora se revezando na piscina. Isso na teoria. Na prática, houve momentos de desfalque, o que acelerou o processo de desgaste dos nadadores. Porque uma coisa é você fazer uma hora de natação, outra bem diferente é você passar essa mesma uma hora usando 100% da sua força. E se for 1h30? Pois é... quando cai na piscina, às 10h30, estávamos em um desses momentos de desfalque. Preciso dizer mais alguma coisa?
Foi nessa hora que soou a sirene, anunciando que havia passado mais uma hora de competição. Junto veio um grito otimista... “Parabéns nadadores! Faltam APENAS 22h!!!" Apenas?
Nesse instante acabei descobrindo que água pode pesar tanto (ou mais) que um saco de cimento. Mesmo você estando em cima dela.
Mas o fato é que a possibilidade de nos aproximar dos bombeiros acirrava os ânimos e motivava todo mundo. Na segunda hora de prova, a diferença do Iate para a Nadart havia caído para 250m.
Enquanto isso, do lado de fora da piscina estava o Júnior, nosso treinador/professor, com celular ao ouvido recrutando reforço. Ele já havia percebido que a idéia inicial, de ter 4 nadadores a cada hora, não seria suficiente para fazer a equipe “deslizar”. Era preciso mais gente para que o nosso tempo de recuperação fosse maior.
Às 12h, quando os braços não respondiam a mente, tive de sair da água. O coração, que estava apertado em ter de deixar Alexandre, Núbia e Givaldo sozinhos na piscina, tranqüilizou-se ao ver Paulinho e Hélcio chegando para reforçar a equipe.
Mas o meu desafio não parava ali. Foi só o tempo de resolver algumas coisas “lá fora”, almoçar e voltar para a competição. Dessa vez, totalmente consciente (e preocupada) do que viria pela frente. Quantos estariam lá para nadar? Para meu alívio, ao chegar, dei de cara com a verdadeira “Tropa de Elite” da competição. A nossa Tropa de Elite. Já tínhamos nadado 31.850m e estávamos em segundo lugar, 1.200m a frente da Nadart. Também não éramos apenas quatro, mas 10. Até a Talita, que mora em Sampa e havia chegado há poucas horas em Maceió para passar o Natal com a família, estava lá para integrar a equipe, junto com a mãe e a sobrinha (três gerações de nadadoras).
Assim, Júnior dividiu os nadadores em duas equipes de 5 pessoas, que se revezavam a cada 30 minutos. Essa foi sem dúvida, a melhor estratégia.
Às 17h30 sai da piscina, novamente de coração apertado. O esgotamento já era visível e só haviam se passado 9 horas de competição. Como seria a noite e a madrugada?
Não consegui ficar em casa com essa pergunta na cabeça. Mesmo que apenas por alguns minutos, tinha de voltar para a piscina e ajudar a carregar aqueles “sacos de cimento”, o quanto fosse possível. Então, às 21h, voltei... levando comida e o que restava de força nos braços. A boa notícia é que tive um incentivo a mais... a presença do meu namorado (Júnior).
E quando cheguei... mais uma surpresa. Ao chegar, me deparei com um “mar” de gente, competindo e assistindo. Equipes elétricas e uma euforia geral, apesar de todo cansaço! O espírito de equipe estava presente e vi gente dispensando a tradicional farra de sexta-feira para estar na competição. Foram as horas de melhor rendimento, 4.950m/hora. E pra não deixar a peteca cair... água, repositor, barras de proteína, pizza, amendoim, etc, etc, etc.
Uma hora, foi o quanto os braços agüentaram. Além de não haver mais força, precisava tentar descansar, já que na manhã seguinte ainda tinha 60km de pedal e outros 12km de corrida.
Mas, em casa, embora o corpo cansado, a mente não conseguia desacelerar e o sono só chegou depois das 2h30 da manhã. Já sabia que o treino tinha ido por água a baixo, então pensei em dormir mais um pouco e ir para a piscina apenas na última hora da prova, quando toda equipe deveria estar reunida. Mas, esses planos também foram por água a baixo. Às 04h o telefone toca.
- Fabí?
- Oi Ju...
- Como você está?
- Um bagaço.
- Fabí. Estamos precisando de você.
- Ju... eu tô morta.
- A Núbia parou de vez. Não agüenta mais levantar o braço. O Raul está nas últimas. O Paulinho está nadando só para a equipe não parar. Se não vier reforço, vamos parar o revezamento.
- Parar?? Tá, tô chegando.
Não sabia como iria nadar e bateu outra preocupação... o que o Júnior (o namorado) vai pensar ? Que sou maluca? Acho que vou levar "cartão vermelho". Mas, fui mesmo assim, rezando para que ao voltar ainda tivesse o namorado.
Hélcio, que também havia sido recrutado, assumiu a piscina para aliviar os guerreiros da madruga. Raul, Paulinho e Bruno estavam apenas esperando alguém chegar para saírem da água. Às 4h30 cai na piscina e, ao contrário do que imaginava, o inimigo não era o cansaço, mas a água fria. E põe fria nisso.
Às 4h45 toca a sirene.
- Parabéns nadadores!!! Faltam só 4 horas”.
- ?? (silencio total)
Com o amanhecer o restante dos nadadores foi chegando e voltamos a ter duas equipes se revezando na água.
Às 7h45, quando mais uma parcial era anunciada, o grito de um dos bombeiros lembrou: falta só uma hora galera. Apenas 1 horinha? A partir dali, começamos uma contagem regressiva e o cansaço sumiu de vez, como um toque de mágica.
Embora não fosse mais possível alcançar a equipe do CB. Ter chegado até ali e estar em segundo lugar, já era motivo suficiente para comemorar. E parece que isso “nitrogenou” todo mundo.
Às 8h45, depois de 105.950 m de braçadas, finalmente chegamos na hora 24 daquela competição. A pergunta que rondava a mente durante a madrugada (porque eu me meti nisso?) deu lugar a satisfação de vencer mais um desafio. Semblantes cansados, dores nos braços, no abdômen, olheiras... tudo se tornou pequeno diante da sensação de superação, superação em equipe.
Queridos amigos, não tentem entender a “loucura”. Desafie-se... e saberá o que quero dizer. Parabéns... essa é a nossa Tropa de Elite.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
Recomeçar
Recomeça se puderes,
E os passos que deres,
Nesse caminho duro do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances,
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
Miguel Torga
E os passos que deres,
Nesse caminho duro do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances,
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
Miguel Torga
domingo, 2 de dezembro de 2007
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
Correção de rota
Quem disse que os dias quentes de verão (coloca quente nisso) e a correria das semanas que antecedem o tão esperado recesso de fim de ano precisam ser insuportavelmente tórridos e apressados. Quem disse que não podem ser criativos?
O relógio comandava as rotinas do dia recheado de reuniões onde protagonizo o papel da “chata” que cobra resultados. Fim de ano é assim. As duas horas de almoço pareciam ideais para resolver as coisinhas da vida que corre fora da empresa. O roteiro incluía: banco, almoço, um pulinho na lojinha de alimentos natureba, supermercado rapidinho e, sobrando tempo, locadora.
Mas... não foi bem assim! Digamos que houve um desvio no mapa... Bato o ponto eletrônico, desligo o monitor, saio ligeirinho do estacionamento, espero o sinal abrir, escolho o caminho da orla, dou de cara com a praia, o queixo cai. Céu azul, nem um rastro de nuvem, mar verde, calmo, reluzente, termômetro na casa dos 29°, minha casa a quatro quadras. “Dia lindo! Será que amanhã vai estar assim? E o fim de semana? Pode não estar...”
Então esqueça o banco, a lojinha natureba, o supermercado, a locadora.
Paro carro na porta de casa, subo as escadas correndo, descubro que tenho novos vizinhos e que eles têm uma menininha, jogo a bolsa na mesa da cozinha, roupas espalhadas na cama, biquíni a postos, praia, mar, céu azul, calor, mergulho, contemplação, mergulho, sorriso, mais calor, mergulho, alívio, agradecimento, sossego, alma lavada e pronta para a segunda etapa da jornada.
O relógio comandava as rotinas do dia recheado de reuniões onde protagonizo o papel da “chata” que cobra resultados. Fim de ano é assim. As duas horas de almoço pareciam ideais para resolver as coisinhas da vida que corre fora da empresa. O roteiro incluía: banco, almoço, um pulinho na lojinha de alimentos natureba, supermercado rapidinho e, sobrando tempo, locadora.
Mas... não foi bem assim! Digamos que houve um desvio no mapa... Bato o ponto eletrônico, desligo o monitor, saio ligeirinho do estacionamento, espero o sinal abrir, escolho o caminho da orla, dou de cara com a praia, o queixo cai. Céu azul, nem um rastro de nuvem, mar verde, calmo, reluzente, termômetro na casa dos 29°, minha casa a quatro quadras. “Dia lindo! Será que amanhã vai estar assim? E o fim de semana? Pode não estar...”
Então esqueça o banco, a lojinha natureba, o supermercado, a locadora.
Paro carro na porta de casa, subo as escadas correndo, descubro que tenho novos vizinhos e que eles têm uma menininha, jogo a bolsa na mesa da cozinha, roupas espalhadas na cama, biquíni a postos, praia, mar, céu azul, calor, mergulho, contemplação, mergulho, sorriso, mais calor, mergulho, alívio, agradecimento, sossego, alma lavada e pronta para a segunda etapa da jornada.
Diga... o que você faria..?
domingo, 4 de novembro de 2007
Encerramento
Tudo bem... Não há mesmo "contrato aditivo". Então, que venha o "termo de encerramento", por Cecília Meireles... nesses moldes:
“Não deixe portas entreabertas,
escancare-as ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas,
passam apenas semiventos,
meias verdades e muita insensatez”.
“Não deixe portas entreabertas,
escancare-as ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas,
passam apenas semiventos,
meias verdades e muita insensatez”.
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Promessas de casamento
Fim de ano, fim de ciclos? Que diachos acontece em 2007? Será que o prazo de “garantia” expirou? Não sei. O que vejo são amigos queridos decididos a mudanças... revendo valores, posturas, fazendo escolhas... refazendo escolhas. Pra quem está do lado de cá não há muito o que falar. Mas, continuaremos aqui!
Promessas de Casamento
Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento a igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre. "Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?" Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:
- Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
- Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
- Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?
- Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
- Promete se deixar conhecer?
- Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
- Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
- Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
- Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
- Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?
Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros.
Marta Medeiros
Promessas de Casamento
Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento a igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre. "Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?" Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:
- Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
- Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
- Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?
- Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
- Promete se deixar conhecer?
- Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
- Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
- Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
- Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
- Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?
Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros.
Marta Medeiros
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Fortaleza de papel
Como se constrói uma fortaleza, de fato? Com cara sisuda, palavra firme, convicção de idéias? Com porte austero e caminhos sempre certos? Seria resultado de uma conduta moral que não gera contradição entre palavras e atitudes, da disciplina, do acerto?
Senhores e senhoras... Abandonem suas antigas crenças. Digo que essa fortaleza se constrói seguindo o caminho do coração. Felizes e fortes são aqueles que aprendem (ou tentam) a administrar seus conflitos, que reconhecem e aceitam suas fragilidades, as oscilações de humor, as perdas... Mas que, ainda assim, dão o melhor de si. Sentem, expressam, recebem, doam e não se autoflagelam pelos erros que cometem. Lembre-se... seja alegre, gentil, chato, elegante, magro, gordo, largado, crítico, humilde, discreto, arrogante, humano, sincero... Ouça o coração e construa sua fortaleza.
Senhores e senhoras... Abandonem suas antigas crenças. Digo que essa fortaleza se constrói seguindo o caminho do coração. Felizes e fortes são aqueles que aprendem (ou tentam) a administrar seus conflitos, que reconhecem e aceitam suas fragilidades, as oscilações de humor, as perdas... Mas que, ainda assim, dão o melhor de si. Sentem, expressam, recebem, doam e não se autoflagelam pelos erros que cometem. Lembre-se... seja alegre, gentil, chato, elegante, magro, gordo, largado, crítico, humilde, discreto, arrogante, humano, sincero... Ouça o coração e construa sua fortaleza.
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
Efeito borboleta, atropelamento... alguém explica?
Prometo que terei mais cuidado meus amigos, prometo!Aquele foi um dos dias em que a rotina é colocada de lado e nos faz pensar no tal “efeito borboleta”. Em como o “acaso” faz sua programação, como escolhe pessoas e situações.
Era pra ser um dia em que, normalmente, acordaria cedo e sairia para fazer meu treino de bicicleta. Mas, a viagem para o Rio de Janeiro fez com que alterasse minha programação. Tinha de estar no aeroporto às 10h30 e ainda faltava arrumar algumas coisas para a viagem, então decidi substituir a bike pelo treino de corrida (mais curto).
E assim fui. Ao chegar à praia – quatro quadras da minha casa, meu quintal - o primeiro pensamento foi agradecer a Deus pelo privilégio de estar ali, vendo a manhã nascer com suas cores suaves, um mar azul e calmo. O treino já se tornou mais que uma prática esportiva. É também um momento de refletir e socializar. A cada passada um pensamento, um “bom dia” e por ai vai. Naquele dia não foi diferente. Ao longo do caminho fui encontrando os amigos de sempre, companheiros do treino de corrida e bicicleta. Entre eles um senhor que vez ou outra pedalava na praia.
- Você se incomodaria se eu tentar acompanhar você no pedal?
- Imagina. Sem problemas.
Lembro-me que esse foi nosso primeiro contato e ao vê-lo naquela manhã pensei: pois é amigo, hoje quebrei a rotina. Você vai pedalar sozinho.
Nos feriados e fins de semana é comum ver motoristas em atitudes irresponsáveis. Por isso mesmo é que alguns amigos nunca cansam de me pedir cuidado. Mas só agora as palavras do amigo Hélcio realmente soam fundo... “Antes de sair para treinar eu sempre peço a Deus que me proteja. Nós nunca sabemos quem vamos encontrar pelo caminho”.
Estava com 50’ de corrida, faltando pouco para chegar em casa, quando passaram por mim o amigo ciclista – devidamente equipado - e um desses motoristas estúpidos que colocam em risco suas vidas e as de tantas outras pessoas.Não se passaram nem dois minutos se passam de corrida e quanto olho para frente vejo apenas um aglomerado de gente e uma pessoa estendida no chão. Não acredito... Aquele motorista atropelou uma pessoa. PQP. PQP!!!
Continuei correndo, tentando entender o que estava vendo, quando um carro se aproxima de mim. Era um dos conhecidos das caminhadas na praia, indignado: um rapaz embriagado acabou de atropelar um ciclista. Será que você conhece? Naquela distância não conseguia identificar quem pudesse ser, mas a primeira pessoa que veio a mente foi o “cara da Trek branca”. Comecei a correr mais rápido e a cada passada a preocupação aumentava, junto com uma explosão de indignação e a raiva. Era ele, o cara da Trek branca que havia tentado me acompanhar na semana passada.
As pessoas que estavam ao redor, olhando a cena, não sabiam o que faze e quando me aproximei , correndo, olharam para mim como se eu pudesse resolver algo. Foram logo me entregando o relógio do tal ciclista e perguntando quem era ele. Mas eu não sabia seu nome, a quem avisar do acidente ou o que fazer. Segui apenas o instinto e pensei no que precisaria se estivesse em seu lugar (não fosse a quebra da rotina, eu estaria pedalando naquela manhã). Ajoelhei ao seu lado para ver se estava acordado. O que vi foi um homem de respiração ofegante, imóvel, extremamente machucado (desnecessário mencionar os detalhes) e sangue por todos os lados. O impacto da pancada quebrou o pára-brisa do carro e não tinha idéia do estrago que teria feito por dentro dele. Por instantes tive medo que ele parasse de respirar, que tivesse uma convulsão ou qualquer outra coisa do tipo. O que fazer? Sabia apenas que não deveria tentar deixá-lo imóvel até a chegada do socorro.
Então coloquei as mãos em suas costas, me aproximei do seu rosto e fiquei conversando com ele. Tentando acalmá-lo e, intimamente, pedindo a Deus que ele “resistisse” até a chegada da ambulância. Os minutos pareciam intermináveis, mas, aos poucos, a sua respiração se normalizou e eu me tranqüilizei.
- Você consegue dizer seu nome?
Nada! Nem uma palavra. Apenas um olhar vago.
Fiquei ali até que o socorro chegasse. Foi quando pude olhar para os lados e ver que a bicicleta havia se transformado em um monte de ferro retorcido. O que fazer agora? Ele vai entrar nessa ambulância só? Para onde iria? Como avisar a família? Quem eram seus familiares? E a bicicleta, o que fazer com ela? Não havia ninguém ali que o conhecesse e pudesse acompanhá-lo. Pensei em fazer esse papel, mas faltavam menos de três horas para meu vôo. Então tentei sensibilizar uma das pessoas conhecidas que assistiam a cena, mas não deu muito certo... “Meu Deus... poderia ter sido um de nós ali, naquele dia. Poderia ter sido eu. Ele não poderia ficar só, naquela situação”. Senti-me angustiada e com uma enorme sensação de egoísmo.
Na minha limitação, o que pude fazer foi convencer algumas pessoas de ser um canal de contato para os socorristas, caso não conseguissem entrar em contato com a família do ciclista. Pensei em me voluntariar, mas não estaria em Maceió, e dessa forma não poderia resolver muita coisa. Pedi ainda ao vigia do clube onde nado (que também assista a cena) que guardasse o que havia restado da bicicleta.
E assim, sem ter mais o que fazer, vi aquele rapaz ser levado ao hospital. Chocada, indignada, enfurecida, assustada com a fragilidade de nossa vida. Agora sim compreendendo os pedidos de cuidado, vindos de todos os lados. Poderia ter sido eu naquela manhã, poderia ter sido um dos amigos mais próximos.
O que aconteceu com o ciclista? Ao chegar ao Rio, busquei informações e soube que ele estava fora de perigo. O que aconteceu ao motorista? Não sei. Mas o que vocês acham que pode acontecer num País onde grande parte da sociedade e seus governantes ainda preferem aceitar que esses “acidentes” são decorrências naturais de um conjunto de fatalidades? Onde, anualmente, 34 mil pessoas morem em acidentes de trânsito, 400 mil ficam feridas e.... Quantas mesmo são presas?? Um País onde a faixa de pedestre é apenas um mero detalhe pintado no chão das ruas e onde pagar ou não multa de trânsito depende do tamanho do seu “network”?!
Era pra ser um dia em que, normalmente, acordaria cedo e sairia para fazer meu treino de bicicleta. Mas, a viagem para o Rio de Janeiro fez com que alterasse minha programação. Tinha de estar no aeroporto às 10h30 e ainda faltava arrumar algumas coisas para a viagem, então decidi substituir a bike pelo treino de corrida (mais curto).
E assim fui. Ao chegar à praia – quatro quadras da minha casa, meu quintal - o primeiro pensamento foi agradecer a Deus pelo privilégio de estar ali, vendo a manhã nascer com suas cores suaves, um mar azul e calmo. O treino já se tornou mais que uma prática esportiva. É também um momento de refletir e socializar. A cada passada um pensamento, um “bom dia” e por ai vai. Naquele dia não foi diferente. Ao longo do caminho fui encontrando os amigos de sempre, companheiros do treino de corrida e bicicleta. Entre eles um senhor que vez ou outra pedalava na praia.
- Você se incomodaria se eu tentar acompanhar você no pedal?
- Imagina. Sem problemas.
Lembro-me que esse foi nosso primeiro contato e ao vê-lo naquela manhã pensei: pois é amigo, hoje quebrei a rotina. Você vai pedalar sozinho.
Nos feriados e fins de semana é comum ver motoristas em atitudes irresponsáveis. Por isso mesmo é que alguns amigos nunca cansam de me pedir cuidado. Mas só agora as palavras do amigo Hélcio realmente soam fundo... “Antes de sair para treinar eu sempre peço a Deus que me proteja. Nós nunca sabemos quem vamos encontrar pelo caminho”.
Estava com 50’ de corrida, faltando pouco para chegar em casa, quando passaram por mim o amigo ciclista – devidamente equipado - e um desses motoristas estúpidos que colocam em risco suas vidas e as de tantas outras pessoas.Não se passaram nem dois minutos se passam de corrida e quanto olho para frente vejo apenas um aglomerado de gente e uma pessoa estendida no chão. Não acredito... Aquele motorista atropelou uma pessoa. PQP. PQP!!!
Continuei correndo, tentando entender o que estava vendo, quando um carro se aproxima de mim. Era um dos conhecidos das caminhadas na praia, indignado: um rapaz embriagado acabou de atropelar um ciclista. Será que você conhece? Naquela distância não conseguia identificar quem pudesse ser, mas a primeira pessoa que veio a mente foi o “cara da Trek branca”. Comecei a correr mais rápido e a cada passada a preocupação aumentava, junto com uma explosão de indignação e a raiva. Era ele, o cara da Trek branca que havia tentado me acompanhar na semana passada.
As pessoas que estavam ao redor, olhando a cena, não sabiam o que faze e quando me aproximei , correndo, olharam para mim como se eu pudesse resolver algo. Foram logo me entregando o relógio do tal ciclista e perguntando quem era ele. Mas eu não sabia seu nome, a quem avisar do acidente ou o que fazer. Segui apenas o instinto e pensei no que precisaria se estivesse em seu lugar (não fosse a quebra da rotina, eu estaria pedalando naquela manhã). Ajoelhei ao seu lado para ver se estava acordado. O que vi foi um homem de respiração ofegante, imóvel, extremamente machucado (desnecessário mencionar os detalhes) e sangue por todos os lados. O impacto da pancada quebrou o pára-brisa do carro e não tinha idéia do estrago que teria feito por dentro dele. Por instantes tive medo que ele parasse de respirar, que tivesse uma convulsão ou qualquer outra coisa do tipo. O que fazer? Sabia apenas que não deveria tentar deixá-lo imóvel até a chegada do socorro.
Então coloquei as mãos em suas costas, me aproximei do seu rosto e fiquei conversando com ele. Tentando acalmá-lo e, intimamente, pedindo a Deus que ele “resistisse” até a chegada da ambulância. Os minutos pareciam intermináveis, mas, aos poucos, a sua respiração se normalizou e eu me tranqüilizei.
- Você consegue dizer seu nome?
Nada! Nem uma palavra. Apenas um olhar vago.
Fiquei ali até que o socorro chegasse. Foi quando pude olhar para os lados e ver que a bicicleta havia se transformado em um monte de ferro retorcido. O que fazer agora? Ele vai entrar nessa ambulância só? Para onde iria? Como avisar a família? Quem eram seus familiares? E a bicicleta, o que fazer com ela? Não havia ninguém ali que o conhecesse e pudesse acompanhá-lo. Pensei em fazer esse papel, mas faltavam menos de três horas para meu vôo. Então tentei sensibilizar uma das pessoas conhecidas que assistiam a cena, mas não deu muito certo... “Meu Deus... poderia ter sido um de nós ali, naquele dia. Poderia ter sido eu. Ele não poderia ficar só, naquela situação”. Senti-me angustiada e com uma enorme sensação de egoísmo.
Na minha limitação, o que pude fazer foi convencer algumas pessoas de ser um canal de contato para os socorristas, caso não conseguissem entrar em contato com a família do ciclista. Pensei em me voluntariar, mas não estaria em Maceió, e dessa forma não poderia resolver muita coisa. Pedi ainda ao vigia do clube onde nado (que também assista a cena) que guardasse o que havia restado da bicicleta.
E assim, sem ter mais o que fazer, vi aquele rapaz ser levado ao hospital. Chocada, indignada, enfurecida, assustada com a fragilidade de nossa vida. Agora sim compreendendo os pedidos de cuidado, vindos de todos os lados. Poderia ter sido eu naquela manhã, poderia ter sido um dos amigos mais próximos.
O que aconteceu com o ciclista? Ao chegar ao Rio, busquei informações e soube que ele estava fora de perigo. O que aconteceu ao motorista? Não sei. Mas o que vocês acham que pode acontecer num País onde grande parte da sociedade e seus governantes ainda preferem aceitar que esses “acidentes” são decorrências naturais de um conjunto de fatalidades? Onde, anualmente, 34 mil pessoas morem em acidentes de trânsito, 400 mil ficam feridas e.... Quantas mesmo são presas?? Um País onde a faixa de pedestre é apenas um mero detalhe pintado no chão das ruas e onde pagar ou não multa de trânsito depende do tamanho do seu “network”?!
domingo, 14 de outubro de 2007
5.292 e um atropelamento
Dia das crianças e um presentinho nada convencional. Que tal uma L200? Nada mal... se... ela viesse para mim e não por cima de mim. Pois é amigos... eis o primeiro (e único, espero) atropelamento!
Para falar a verdade estava felizmente surpresa e achando um tanto estranhando, diante do meu histórico, passar 14 meses sem nenhuma queda de bike, quer dizer, com a minha cannondale. Exatos 5.292 e nenhum acidente. Embora os muitos riscos, consegui passar ilesa pelos treinos na BR em pleno feriadão, pelas descidas alucinantes do Benedito Bentes dias de chuva, pelas madrugadas ( e os tarados)... tudo tudo e nadinha de nada.
Mas eles (acidentes) sempre acontecem quando você menos espera e nessa sexta-feira foi exatamente assim. Cena do crime: fim de treino na orla de Maceió, velocidade moderada, uma L200 (aqueles caminhões disfarçados de carro), uma equipe de festas montando os brinquedos que iriam fazer a festa da molecada. Todos próximos a uma das transversais de acesso a praia e... e uma dedução ingênua.
Aviste a caminhonete ao longe e vi que ao se aproximar daquela transversal, onde três rapazes montavam os brinquedos, o motorista reduziu a velocidade até parar (embora não tenha sinalizado que iria entrar). Entre a parada do carro e minha aproximação passaram-se alguns segundos, foi quando deduzi, ingenuamente, que o motorista estava esperando eu passar. Mas quando? Ele se quer havia me visto, estava na verdade analisando se aquele seu “caminhão doméstico” passaria na parte da rua que ainda não estava ocupada pelos brinquedos. Resultado: ao me aproximar do carro... o motorista decidiu que poderia arriscar e daí vocês já podem imaginar o resto da cena.
Naquelas frações de segundo que percebi o inevitável, minha duvida era: tento parar a bicicleta e me esfolo no chão ou relaxo e encaro a batida contra o capô do carro? Bem... o capô é mais lisinho. E depois, como o carro havia saído do estado de inércia e ainda não havia tido tempo de aceleração suficiente para ganhar uma velocidade que representasse risco de morte... e eu, por minha vez, já estava em processo de desaceleração (olha aí as aulas de física servindo para alguma coisa)... conclui que aquela seria a melhor e “relaxei”.
Acudida de imediato pelos rapazes que montavam os tais brinquedos, felizmente não aconteceu nada de grave. Alguns hematomas no cotovelo, joelho (que estava bom), bacia e outras coisinhas mais. Porém, nada, absolutamente nada em comparado com as quedas hollywoodianas que já aconteceram quando eu “pilotava” uma mountain bike.
Meio assustado, meio desesperado, o motorista queria saber se eu estava bem. Tudo bem moço, eu e minha bicicleta passamos bem.... mas... blá, blá, blá, blá... o pobre não escapou da minha falação e jurou mais cuidado e respeito aos ciclistas que não andam na contra-mão.
Para falar a verdade estava felizmente surpresa e achando um tanto estranhando, diante do meu histórico, passar 14 meses sem nenhuma queda de bike, quer dizer, com a minha cannondale. Exatos 5.292 e nenhum acidente. Embora os muitos riscos, consegui passar ilesa pelos treinos na BR em pleno feriadão, pelas descidas alucinantes do Benedito Bentes dias de chuva, pelas madrugadas ( e os tarados)... tudo tudo e nadinha de nada.
Mas eles (acidentes) sempre acontecem quando você menos espera e nessa sexta-feira foi exatamente assim. Cena do crime: fim de treino na orla de Maceió, velocidade moderada, uma L200 (aqueles caminhões disfarçados de carro), uma equipe de festas montando os brinquedos que iriam fazer a festa da molecada. Todos próximos a uma das transversais de acesso a praia e... e uma dedução ingênua.
Aviste a caminhonete ao longe e vi que ao se aproximar daquela transversal, onde três rapazes montavam os brinquedos, o motorista reduziu a velocidade até parar (embora não tenha sinalizado que iria entrar). Entre a parada do carro e minha aproximação passaram-se alguns segundos, foi quando deduzi, ingenuamente, que o motorista estava esperando eu passar. Mas quando? Ele se quer havia me visto, estava na verdade analisando se aquele seu “caminhão doméstico” passaria na parte da rua que ainda não estava ocupada pelos brinquedos. Resultado: ao me aproximar do carro... o motorista decidiu que poderia arriscar e daí vocês já podem imaginar o resto da cena.
Naquelas frações de segundo que percebi o inevitável, minha duvida era: tento parar a bicicleta e me esfolo no chão ou relaxo e encaro a batida contra o capô do carro? Bem... o capô é mais lisinho. E depois, como o carro havia saído do estado de inércia e ainda não havia tido tempo de aceleração suficiente para ganhar uma velocidade que representasse risco de morte... e eu, por minha vez, já estava em processo de desaceleração (olha aí as aulas de física servindo para alguma coisa)... conclui que aquela seria a melhor e “relaxei”.
Acudida de imediato pelos rapazes que montavam os tais brinquedos, felizmente não aconteceu nada de grave. Alguns hematomas no cotovelo, joelho (que estava bom), bacia e outras coisinhas mais. Porém, nada, absolutamente nada em comparado com as quedas hollywoodianas que já aconteceram quando eu “pilotava” uma mountain bike.
Meio assustado, meio desesperado, o motorista queria saber se eu estava bem. Tudo bem moço, eu e minha bicicleta passamos bem.... mas... blá, blá, blá, blá... o pobre não escapou da minha falação e jurou mais cuidado e respeito aos ciclistas que não andam na contra-mão.
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Certificado de Garantia
Já imaginaram como seria a vida se para todas as boas coisas houvesse um certificado de garantia, assim como o da minha bicicleta – vitalício? Quebrou, rachou, arranhou, caiu, machucou, feriu, brigou, acabou, morreu... Bastaria acessar o Serviço de Atendimento ao Consumidor e pronto! Teríamos um cachorrinho novo, um pedido de desculpa... Um amor 0 km. Os abraços seriam sempre mágicos, os beijos nos levariam sempre ao mundo da lua, os filmes seriam todos bons e os amores nunca esfriariam.
Já imaginaram certificados que dessem a garantia de que o amor da nossa vida seria eterno e que nos amaria como somos para o resto da vida, com todos os nossos defeitinhos. Algo que nos certificasse que sempre teríamos aquelas pessoas que amamos ao nosso lado, de preferência saudáveis e bem humorados. Sem despedidas.
Certificado para garantir os dias de sol e os dias de chuva também - aqueles que passamos em boa companhia. Garantia de mar limpo e o ar puro. Algo que nos assegurasse que não perderíamos horas preciosas de nossa vida em congestionamentos e que motivação, auto-estima, tesão... estariam sempre em alta.
Que tal certificados que pudessem garantir filhos sempre amáveis, sem rebeldias? Certificados para palavras e ações sinceras. Garantia de alimento, emprego, saúde - em escala mundial. Ah! Sem falar dos certificados de garantia para festas, jantares, amigos leais e uma vida sem estresse???
Bom seria... Mas que chatice seria. Antes de resolver, esses tais certificados nos limitariam a mesmice e a pequenez de nossas imperfeições. “Poupariam o esforço” de melhorar em nós aquilo que azedou e que nos afastou de nosso amor. De aparar as arrestas que ainda arranham e machucam. De modificar os hábitos que contribuíram para a poluição do mar, dos ares, das almas. Talvez esses certificados nos prendessem no egoísmo de achar que pessoas, assim como coisas, são propriedades. Pior que isso... Talvez esses certificados atrofiassem nossa coragem, força, fé. A capacidade de sermos melhores, enfim... evoluir.
Então senhores... Diante dessa inconstância, a única garantia é que de que não podemos acomodar jamais.
Já imaginaram certificados que dessem a garantia de que o amor da nossa vida seria eterno e que nos amaria como somos para o resto da vida, com todos os nossos defeitinhos. Algo que nos certificasse que sempre teríamos aquelas pessoas que amamos ao nosso lado, de preferência saudáveis e bem humorados. Sem despedidas.
Certificado para garantir os dias de sol e os dias de chuva também - aqueles que passamos em boa companhia. Garantia de mar limpo e o ar puro. Algo que nos assegurasse que não perderíamos horas preciosas de nossa vida em congestionamentos e que motivação, auto-estima, tesão... estariam sempre em alta.
Que tal certificados que pudessem garantir filhos sempre amáveis, sem rebeldias? Certificados para palavras e ações sinceras. Garantia de alimento, emprego, saúde - em escala mundial. Ah! Sem falar dos certificados de garantia para festas, jantares, amigos leais e uma vida sem estresse???
Bom seria... Mas que chatice seria. Antes de resolver, esses tais certificados nos limitariam a mesmice e a pequenez de nossas imperfeições. “Poupariam o esforço” de melhorar em nós aquilo que azedou e que nos afastou de nosso amor. De aparar as arrestas que ainda arranham e machucam. De modificar os hábitos que contribuíram para a poluição do mar, dos ares, das almas. Talvez esses certificados nos prendessem no egoísmo de achar que pessoas, assim como coisas, são propriedades. Pior que isso... Talvez esses certificados atrofiassem nossa coragem, força, fé. A capacidade de sermos melhores, enfim... evoluir.
Então senhores... Diante dessa inconstância, a única garantia é que de que não podemos acomodar jamais.
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Você sofre de Normose?
Lendo uma entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, considerado o fundador da ioga no Brasil, ouvi uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal. Todo mundo quer se encaixar num padrão.
Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Quem não se "normaliza" acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o que de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas?
Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo.
A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?
Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original.
Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais. Eu não sou filiada, seguidora, fiel, ou discípula de nenhuma religião ou crença, mas simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera.
Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.
Martha Medeiros
Jornal Zero Hora
05.08.07
Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Quem não se "normaliza" acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o que de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas?
Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo.
A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?
Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original.
Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais. Eu não sou filiada, seguidora, fiel, ou discípula de nenhuma religião ou crença, mas simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera.
Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.
Martha Medeiros
Jornal Zero Hora
05.08.07
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Quer saber?
Sabe quando o amor é lindo?
Quando encontramos alguém que nos impulsione ao melhor que podemos ser.
Quando é livre e quando respeita.
Quando nos faz amar o outro na medida em que amamos a nós mesmos.
Esse amor é um sentimento pra lá de complicado... tantas vezes confundido e mal interpretado. Mas é ele quem dá corda ao relógio do mundo. Capaz de nos transformar em "anjos".
Quando encontramos alguém que nos impulsione ao melhor que podemos ser.
Quando é livre e quando respeita.
Quando nos faz amar o outro na medida em que amamos a nós mesmos.
Esse amor é um sentimento pra lá de complicado... tantas vezes confundido e mal interpretado. Mas é ele quem dá corda ao relógio do mundo. Capaz de nos transformar em "anjos".
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Rodrigo e Gabriel na dose certa
O mundo precisa de mais ‘Rodrigos’ e menos ‘Gabriéis’”. A frase que ouvi de uma amiga nessa quinta-feira resumiu a ordem mundial. Durante um almoço agradável, em um restaurante da gastronômica São Paulo, ela relatava as descobertas pelas quais passavam seus dois pequeninos – Rodrigo e Gabriel. Uma demonstração de quão autônomos são os componentes da personalidade humana... E de quanta responsabilidade têm os senhores pais.
Rodrigo, sete anos, está mergulhado em uma daquelas maravilhosas fases da infância que fazem os pais chorarem de rir ou terem vontade de se esconder num buraco. Mas em seus questionamentos de criança (?) ele não quer saber como nascem os bebês ou porque meninos são diferentes de meninas. O que incomoda o pequenino são dúvidas da existência humana. “Mãe, quando eu morrer e nascer de novo... quem será minha mãe?” E essa não se trata de mera repetição de frases ouvidas da televisão ou qualquer coisa do gênero. Esse é o “Rô” que se emociona quando vê crianças pedindo dinheiro no sinal. Que tenta convencer o caçula a casar-se com a irmã de seu coleguinha para que eles – melhores amigos - possam ficar sempre juntos e na mesma família. Esse é o Rô que já pensa no futuro como uma construção do presente.
Influenciado pela convivência com o irmão mais velho, Gabi, 3 anos, não fugiu a dúvida e dia desses surpreendeu os pais com o mesmo questionamento, ou quase... “Mãe, quando eu morrer e nascer de novo”... Silêncio! Pai e mãe aguardando pela pergunta que sempre vem acompanhada de uma dose de emoção... “Como eu faço para ter os mesmos brinquedinhos”?
Se não fosse tão sincero e inocente, seria preocupante. Mas essa é a autonomia, maravilhosa, da personalidade humana. Quer tentar explicar? Embora os ingredientes sejam os mesmos, nada pode garantir que as receitas saiam completamente iguais.
A sinceridade de Gabi está longe de condenar seu futuro. O pequenino é apenas uma argila que começa a ser moldada e seus pais ainda têm um longo caminho pela frente. Mas há aqueles (pais e mães) que não têm sensibilidade nem maturidade para empreender nesse desafio e assim o mundo vai ficando cada vez mais cheio de Gabriéis e Gabrielas.
E o surpreendente é que enquanto desejamos Rodrigos em nossas vidas, capazes de sentir e emocionar, estamos muito pouco dispostos (ou quase nada) a abrir mãos dos Gabriéis que ainda existem em nós. Um exemplo comum está nos relacionamentos. E nem precisa de muita filosofia para entender do que estou falando.
É contraditório, pra não dizer neurótico, ver homens e mulheres em busca de uma companhia com o qual se identifiquem, enquanto, cada vez mais, se disfarçam para tentar encontrá-la. Dizem que estão à procura de alguém com gostos e hábitos similares... mas, como pretendem isso se nessa busca tiram do armário uma roupa protetora qualquer que acaba por disfarçar quem realmente são? Auto-sabotagem?
Como resultado dessa neurose toda vivemos num “jogo”, começado não sei onde e nem por quem, que já dura longa data, com regras complicadas para Rodrigos e até mesmo Gabrieis. Regras que dizem entre outras coisas que: 1)Você nunca deve demonstrar ao outro o quanto realmente está interessado nele. Ou seja, a desvalorização é regra base (?). 2) Ele – o outro – nunca pode estar seguro de que detém a “exclusividade do uso”. Ou seja, deixar sempre nas entre linhas que, se bobear, a fila anda (??). Resumindo... esse tal jogo diz que você nunca pode demonstrar o que verdadeiramente sente e quem verdadeiramente é. Vale um pouquinho, mas não tudo.
Mas a coisa mais maluca de tudo isso é que os “jogadores” agem assim tentando colher no adversário – sim, porque a essa altura já deixou de ser parceiro – a reação exatamente oposta. Ao passo que querem atenção, acreditam que precisam dar uma dose de desprezo. Ao passo que desejam cumplicidade, acreditam que autonomia é sinônimo de risco. Querem cuidados, mas têm a convicção que não podem dedicar tanta atenção. O mais engraçado, e trágico, de tudo isso é que, embora a maioria das partidas terminem em 0 x 0 (quando um dos lados não perde de lavada) as pessoas insistem em manter essas regras que ouço desde adolescente.
Na verdade o que o mundo precisa é de mais Rodrigos e Gabriéis, nas suas doses certas e complementares. Precisamos da sensibilidade do gigante Rô e a sinceridade do ainda pequeno Gabi. Somados esses dois ingredientes... seriam todos mais felizes. O problema é que ninguém quer dar o start nessa partida e arriscar jogar com novas regras. Assim vemos perpetuar essa fórmula maluca de viver, que provoca cada vez mais acidentes. Ferimentos que nem sempre se curam com um mertiolate ou beijinho da mamãe. Feridas que às vezes ficam por anos a fio.
Precisamos de mais Rodrigos, pessoas capazes de expressar com autonomia e sensibilidade. Determinadas, que sabem chorar, rir, emocionar-se. E não digam que isso é coisa de “boiola” porque para SER em essência é preciso de muita coragem. É preciso ser muito “homem”.
O mundo precisa, sem dúvida, de mais Gabriéis. Honestos, francos, sinceros, que se mostram como são, sem medos, disfarces ou meras tentativas de agrado. Mas, com respeito e compreensão. Gabriéis e Gabrielas felizes com o que são e quem são.
Senhores pais e candidatos... cuidem de seus Rodrigos. Eduquem e estimulem seus Gabriéis. Se é que ainda desejam viver em mundo melhor.
Rodrigo, sete anos, está mergulhado em uma daquelas maravilhosas fases da infância que fazem os pais chorarem de rir ou terem vontade de se esconder num buraco. Mas em seus questionamentos de criança (?) ele não quer saber como nascem os bebês ou porque meninos são diferentes de meninas. O que incomoda o pequenino são dúvidas da existência humana. “Mãe, quando eu morrer e nascer de novo... quem será minha mãe?” E essa não se trata de mera repetição de frases ouvidas da televisão ou qualquer coisa do gênero. Esse é o “Rô” que se emociona quando vê crianças pedindo dinheiro no sinal. Que tenta convencer o caçula a casar-se com a irmã de seu coleguinha para que eles – melhores amigos - possam ficar sempre juntos e na mesma família. Esse é o Rô que já pensa no futuro como uma construção do presente.
Influenciado pela convivência com o irmão mais velho, Gabi, 3 anos, não fugiu a dúvida e dia desses surpreendeu os pais com o mesmo questionamento, ou quase... “Mãe, quando eu morrer e nascer de novo”... Silêncio! Pai e mãe aguardando pela pergunta que sempre vem acompanhada de uma dose de emoção... “Como eu faço para ter os mesmos brinquedinhos”?
Se não fosse tão sincero e inocente, seria preocupante. Mas essa é a autonomia, maravilhosa, da personalidade humana. Quer tentar explicar? Embora os ingredientes sejam os mesmos, nada pode garantir que as receitas saiam completamente iguais.
A sinceridade de Gabi está longe de condenar seu futuro. O pequenino é apenas uma argila que começa a ser moldada e seus pais ainda têm um longo caminho pela frente. Mas há aqueles (pais e mães) que não têm sensibilidade nem maturidade para empreender nesse desafio e assim o mundo vai ficando cada vez mais cheio de Gabriéis e Gabrielas.
E o surpreendente é que enquanto desejamos Rodrigos em nossas vidas, capazes de sentir e emocionar, estamos muito pouco dispostos (ou quase nada) a abrir mãos dos Gabriéis que ainda existem em nós. Um exemplo comum está nos relacionamentos. E nem precisa de muita filosofia para entender do que estou falando.
É contraditório, pra não dizer neurótico, ver homens e mulheres em busca de uma companhia com o qual se identifiquem, enquanto, cada vez mais, se disfarçam para tentar encontrá-la. Dizem que estão à procura de alguém com gostos e hábitos similares... mas, como pretendem isso se nessa busca tiram do armário uma roupa protetora qualquer que acaba por disfarçar quem realmente são? Auto-sabotagem?
Como resultado dessa neurose toda vivemos num “jogo”, começado não sei onde e nem por quem, que já dura longa data, com regras complicadas para Rodrigos e até mesmo Gabrieis. Regras que dizem entre outras coisas que: 1)Você nunca deve demonstrar ao outro o quanto realmente está interessado nele. Ou seja, a desvalorização é regra base (?). 2) Ele – o outro – nunca pode estar seguro de que detém a “exclusividade do uso”. Ou seja, deixar sempre nas entre linhas que, se bobear, a fila anda (??). Resumindo... esse tal jogo diz que você nunca pode demonstrar o que verdadeiramente sente e quem verdadeiramente é. Vale um pouquinho, mas não tudo.
Mas a coisa mais maluca de tudo isso é que os “jogadores” agem assim tentando colher no adversário – sim, porque a essa altura já deixou de ser parceiro – a reação exatamente oposta. Ao passo que querem atenção, acreditam que precisam dar uma dose de desprezo. Ao passo que desejam cumplicidade, acreditam que autonomia é sinônimo de risco. Querem cuidados, mas têm a convicção que não podem dedicar tanta atenção. O mais engraçado, e trágico, de tudo isso é que, embora a maioria das partidas terminem em 0 x 0 (quando um dos lados não perde de lavada) as pessoas insistem em manter essas regras que ouço desde adolescente.
Na verdade o que o mundo precisa é de mais Rodrigos e Gabriéis, nas suas doses certas e complementares. Precisamos da sensibilidade do gigante Rô e a sinceridade do ainda pequeno Gabi. Somados esses dois ingredientes... seriam todos mais felizes. O problema é que ninguém quer dar o start nessa partida e arriscar jogar com novas regras. Assim vemos perpetuar essa fórmula maluca de viver, que provoca cada vez mais acidentes. Ferimentos que nem sempre se curam com um mertiolate ou beijinho da mamãe. Feridas que às vezes ficam por anos a fio.
Precisamos de mais Rodrigos, pessoas capazes de expressar com autonomia e sensibilidade. Determinadas, que sabem chorar, rir, emocionar-se. E não digam que isso é coisa de “boiola” porque para SER em essência é preciso de muita coragem. É preciso ser muito “homem”.
O mundo precisa, sem dúvida, de mais Gabriéis. Honestos, francos, sinceros, que se mostram como são, sem medos, disfarces ou meras tentativas de agrado. Mas, com respeito e compreensão. Gabriéis e Gabrielas felizes com o que são e quem são.
Senhores pais e candidatos... cuidem de seus Rodrigos. Eduquem e estimulem seus Gabriéis. Se é que ainda desejam viver em mundo melhor.
domingo, 23 de setembro de 2007
Desejos
Carlos Drumond de Andrade
"Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme de Carlitos
Chopp com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Ter uma pessoa especial
Uma surpresa agradável
Ver a banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Escrever um poema de amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu."
"Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme de Carlitos
Chopp com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Ter uma pessoa especial
Uma surpresa agradável
Ver a banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Escrever um poema de amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu."
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Iron 70.3...
Senhoras e senhores agora sim... Sou uma Ironman, ou melhor, uma “Ironwoman”. O que isso significa? Para alguns maluquice, para outros... Superação, prazer e a indescritível sensação de ser um daqueles super heróis com ultra poderes.
A história de agora começou a ser descrita em 2006, quando iniciei os treinos para o Ironman 70.3. Já contei aqui a história dessa competição, mas, na perspectiva de uma mera expectadora. Dessa vez o relato vem de quem estava no “olho do furacão”.
Pra minha sorte não estava nessa empreitada sozinha. Além de mim, Hélcio, Josemar, Marco André, Peixoto e Itamar também encarariam o desafio. Os dois primeiros, já experientes, davam dicas e orientações do que fazer, além de transmitir para o restante de nós, estreantes em triathlon de longa distância, a tranqüilidade de quem já passou pela mesma situação.
Na quinta-feira quando partimos (eu, Júnior, Marcos e Andréa) de Maceió para Brasília, local da competição, havia dentro de mim uma explosiva mistura de ansiedade, preocupação, medo e expectativa. Medo do desconhecido. Porque por mais que você imagine como será a prova, ela nunca será como você imaginou. A única coisa que de fato sabia é que teria de nadar 1.900m, pedalar 90 km e correr outros 21.
Sabia também que tudo isso seria feito num calor “dos infernos”, com umidade de aproximadamente 20%, ou seja, um “agradável” clima de deserto. Condições nada favoráveis para quem passou maior parte do tempo treinando com a brisa e umidade de quase 90% do litoral nordestino.
Expectativa porque as três semanas que antecederam a competição foram de complicações. Lesão no joelho, na lombar e depois inflamação nos ouvidos... Urucubaca das boas. Diante disso, minha preocupação não era com o desempenho (que desempenho?), mas, que no fim das contas acabasse sofrendo mais que o “esperado”.
Partimos com antecedência para tentar descansar na sexta e ter o sábado sossegado para cuidar de todos os preparativos da competição, que seria no domingo. Mas, nem esses dois dias livres de trabalho e da rotina do dia-a-dia conseguiram acalmar minha ansiedade. No sábado à tarde, ao chegar ao local do evento para fazer a entrega dos equipamentos e participar do congresso técnico, a sensação era de que a prova já havia começado e com o passar das horas minha ansiedade ia aumentando e se transformando num misto de concentração e mau humor (pobres amigos). Ah! E foi no congresso que encontramos outros “cabras da peste” e vizinhos de Pernambuco, Nuno e Maurício, além dos amigos Donadon, Simone e as pequeninas Bibi e Sabrina – família esportiva, lindo de se ver.
Naquela noite até tentei dormir cedo, mas, lá pelas 22h30 comecei a sentir dores em todos os lugares possíveis do corpo. Todas as lesões passadas e mais algumas vieram à tona. Doía o joelho, a lombar, o trapézio, a cabeça, a sobrancelha, a unha do dedo mindinho do pé esquerdo, tudo e, se não bastasse isso, ainda havia a secura daquele clima do cerrado. A certeza de que faria uma prova ruim era evidente. Tanto que, depois de constatar que não seria possível fazer milagres, resolvi relaxar.
Levantamos às 4h30 e começamos a nos movimentar para estar no local da competição até às 6h. A primeira imagem ao chegar já te faz respirar mais fundo... Um mar de bicicletas, 518 delas para ser mais precisa. A largada estava marcada para 7h30 e o tempinho que faltava foi o suficiente para fazer a pintura do corpo, ir ao banheiro, checar pela última vez os equipamentos, tirar algumas fotos, repassar os detalhes das transições na mente, ir ao banheiro outra vez, abraçar os amigos, chorar de nervoso e pensar nas pessoas especiais que você gostaria que estivessem ao seu lado.
Às 7h15 começamos a descer para a margem do Lago Paranoá, de onde seria dada a largada e onde faríamos os 1.900 m de natação. Para aquela etapa, meu objetivo era levar o menor número de tapas e pesadas possível - é o que acontece quando mais de 500 pessoas saem juntas para nadar. Então a estratégia era ficar no fundão e deixar os mais preparados (ou afoitos) na briga de braçadas. Deu 07h29... 07h31... 07h37... 07h43... E nada de largada. Até que a organização da prova se justifica: o Detran não havia terminado de fechar todos os trechos por onde os atletas passariam e sem a garantia de segurança ninguém sairia do lugar. Mas também avisaram que “aqueles que quisessem” poderiam sair da água. Ufa! Mas quem não tivesse afim poderia ficar ali mesmo, congelando pouquinho. Não contei conversa...
Nessa hora a programação de alimentação de muita gente já havia ido para o espaço. E meu nervosismo veio à tona novamente, com uma dor de cabeça daquela. Mas tudo bem, finalmente às 8h20 (ou algo próximo disso) a largada foi dada. Embora tivesse tentando me preparar psicologicamente para não sofrer da famosa “síndrome da largada”, que faz você sair forte demais e acabar se quebrando, meu coração não entendeu a mensagem. No primeiro minuto de prova ele parecia que ai saltar pela boca. - Não acredito! Que é isso? Cadê o aaaar??? A solução foi tentar imaginar que estava na piscina do Iate (onde fazia meus treinos diariamente) e procurar uma harmonia entre a respiração e as braçadas. Deu certo! Com 36’30” sai da água para aquele que julgava ser o trecho mais difícil de todos – os 90 km de ciclismo.
A transição entre as modalidades é um capitulo a parte. Sabia que precisaria de calma para não esquecer nenhum detalhe que pudesse jogar no ralo aqueles 12 meses de treinamento. Então, antes de me preocupar com o tempo, me preocupei com a vaselina (muita vaselina) nos pés e entre as coxas. Depois, pernas pra que te quero...
Os 90 km estavam divididos em quatro voltas. A primeira delas foi para reconhecer o percurso e saber onde apertar e onde aliviar. Logo nos primeiros minutos percebi que teria de fazer um ajuste na programação, já que o calor estava muito além do que eu imaginava. A idéia inicial era fazer a hidratação a cada 20 minutos, mas na metade desse tempo minha boca já estava seca. E não era de nervosismo não. Era calor mesmo. Então a estratégia foi beber água a cada 10’, ingerir um “power gororoba gel” a cada 20’ e molhar cabeça, pescoço e punhos sempre que necessário, ou seja, a cada 10’. Hidratação era fator de sobrevivência nessa prova.
Pra minha tristeza, nos 15 km encontro um dos mosqueteiros (Josemar) encostado na calçada e, num gesto de fúria, jogando o pneu da sua bike pra bem longe. - Caramba! Não acredito! Não acredito! É o Josemar! Nosso amigo foi sorteado e, desprevenido, acabou fora do jogo.
Durante aqueles 90 km um turbilhão de coisas passou pela mente. Os treinos, as orientações do treinador/professor Júnior, as brincadeiras com os amigos, a saudade de quem não podia estar ali naquele momento, a expectativa de como meu corpo reagiria aos próximos quilômetros... Enfim, algumas idéias animadoras e outras nem tanto. Nessas horas cada um usa artifícios bem pessoais para buscar motivação, mas, sem dúvida, todos nós pudemos contar com um tipo de “dopping” que costuma funcionar muito bem. Nada melhor do que ver um rosto ou reconhecer uma voz amiga no meio daquele “vazio”.
No meu caso esse "dopping" vinha da amiga Andrea que gritava "Vai Fabí". Em outras horas, do amigo/treinador/professor Júnior que, mais eufórico, berrava "Vai lá mulher, você está muito bem. Você é maravilhosa”. Caramba! Sabia que aquilo era mero incentivo de quem passou parte dos treinos me chamando, carinhosamente, de “mulher xibunga”. Mas tudo bem! O importante é que tinha um efeito psicológico muito bom.
A cada volta completada me surpreendia por ainda estar inteira. Para quem sempre olhou os pedais longos com certo sofrimento, foi impossível conter o grito de satisfação e o choro ao terminar aqueles 90 km com uma agradável sensação de missão quase cumprida.
- Pronto! Falta só mais uma etapa. Foi no que pensei quando terminei o ciclismo.
- Mas peraí! Cadê minhas pernas? Caramba! Acho que ficaram na bike. Tem um par de pernas ai?, brinquei com o staff que cuidava da minha magrelinha. - Tá em falta! Mas tem uma coca-cola ali que já ajuda, respondeu com o mesmo bom humor.
Nos meus planos, começaria ali a parte mais agradável da competição - os 21 km de corrida. Moleza! Ao sair, Júnior ainda me supriu com uma dose extra... - Vai lá mulher, faz o que você sabe fazer! - Xá comigo!
Mas quê? Quanto engano... Descobri que depois de 90 km de pedal não há corrida fácil e se você fizer isso às 12h, sem um “pé de sombra”, ai é que o bicho complica mesmo.
No primeiro quilômetros de pista, ao me deparar com aquele sol, àquela seca, imaginei que seriam os 21 km de corrida mais longos da minha vida. “Lasquei-me”!
Mas como além de terminar a prova, meu objetivo era terminá-la bem e como até ali havia conseguido administrar psicologicamente as dificuldades, não podia escorregar faltando tão pouco. Nessas horas você dá uma de doida e começa a falar consigo mesma. E naquele diálogo aberto dizia - Fabi. Você já fez 90... agora só faltam 21. Se concentra e administra garota. Resolvi encarar a corrida como um “passeio” e quando dei por mim já estava nos 5 km.
Esse é o momento da competição em que você realmente consegue olhar no olho dos demais atletas e solidarizar-se com eles. Se no olhar de alguns percebia energia sobrando, em outros era notório o esforço para superar as limitações e concluir o desafio. Então era comum que aqueles mais tivessem doassem um pouquinho aos que precisavam, ainda que fossem apenas palavras de incentivo. Os amigos Hélcio e Itamar cuidaram de me alimentar com um pouquinho daquele nitrogênio todo. - Bi... É isso aí. Tá muito bem. Continua assim que hoje eu pago seu jantar. Foi o compromisso que o Doutor assumiu ao passar por mim. - Menina continue assim. Falta pouco. Foi o incentivo carinhoso do outro amigo também apaixonado por corridas.
Aquele sol de rachar não era moleza mesmo. Mas quem escolhe fazer um Ironman tem, no mínimo, uma força de vontade muito grande e isso estava ainda mais visível naqueles que preferiam encarar os 21 km sob a “lua” a ter de desistir.
Quando estava finalizando os primeiros 10 km de corrida meus joelhos começaram a reclamar.
- Ah não! Peraí amigo... Segura a onda. Falta muito pouco. Diante daquela dorzinha a primeira coisa que me passou pela cabeça era 1) se a dor iria aumentar e se iria conseguir 2) que não deveria pensar naquilo e enganar minha mente.
Nesse ponto da prova ver os rostos amigos de Andrea, Junior e Josemar foi um consolo. Uma miragem no deserto? Ouvir a voz dos amigos “pangarés” de Brasília gritando "Vai Fabi! Acredita! Pensa em mim que você consegue"! Foi fundamental para levantar o astral e lembrar que aquilo tudo era uma grande festa.
Então vamos pra aquele conversa de pé de ouvido novamente. - Fabi imagina que você está correndo os 10 km da orla de Maceió. Fiz isso mesmo e a cada quilômetro passei a visualizar o cenário dos meus treinos. Quando dei por mim já estava passando pelo último posto de abastecimento.
Tô terminando? Tive que repetir aquilo para mim mesma. Era verdade, apenas 1 km me separava do título de Ironman. Naquele trecho veio à tona todas as lembranças boas e os perrengues que me fizeram chegar até ali. O joelho já estava dizendo - Se você não parar eu paro. Mas naquele instante a conexão entre ele o meu cérebro foi desligada e a única coisa que conseguia sentir era uma felicidade incontrolável.
Não conseguiria explicar em palavras a sensação de entrar na reta final e cruzar a chegada. Desculpem, mas vocês ficaram sem essa emoção, que só pode ser sentida por quem vive a situação. É simplesmente inexplicável.
Quando acaba a única coisa que você pensa é em abraçar as pessoas amigas que estão com você e ligar aos que não podem estar para dizer - Sou uma Iron. É maravilhoso! Se valeu a pena? Alguém ai ainda tem dúvida?
A história de agora começou a ser descrita em 2006, quando iniciei os treinos para o Ironman 70.3. Já contei aqui a história dessa competição, mas, na perspectiva de uma mera expectadora. Dessa vez o relato vem de quem estava no “olho do furacão”.
Pra minha sorte não estava nessa empreitada sozinha. Além de mim, Hélcio, Josemar, Marco André, Peixoto e Itamar também encarariam o desafio. Os dois primeiros, já experientes, davam dicas e orientações do que fazer, além de transmitir para o restante de nós, estreantes em triathlon de longa distância, a tranqüilidade de quem já passou pela mesma situação.
Na quinta-feira quando partimos (eu, Júnior, Marcos e Andréa) de Maceió para Brasília, local da competição, havia dentro de mim uma explosiva mistura de ansiedade, preocupação, medo e expectativa. Medo do desconhecido. Porque por mais que você imagine como será a prova, ela nunca será como você imaginou. A única coisa que de fato sabia é que teria de nadar 1.900m, pedalar 90 km e correr outros 21.
Sabia também que tudo isso seria feito num calor “dos infernos”, com umidade de aproximadamente 20%, ou seja, um “agradável” clima de deserto. Condições nada favoráveis para quem passou maior parte do tempo treinando com a brisa e umidade de quase 90% do litoral nordestino.
Expectativa porque as três semanas que antecederam a competição foram de complicações. Lesão no joelho, na lombar e depois inflamação nos ouvidos... Urucubaca das boas. Diante disso, minha preocupação não era com o desempenho (que desempenho?), mas, que no fim das contas acabasse sofrendo mais que o “esperado”.
Partimos com antecedência para tentar descansar na sexta e ter o sábado sossegado para cuidar de todos os preparativos da competição, que seria no domingo. Mas, nem esses dois dias livres de trabalho e da rotina do dia-a-dia conseguiram acalmar minha ansiedade. No sábado à tarde, ao chegar ao local do evento para fazer a entrega dos equipamentos e participar do congresso técnico, a sensação era de que a prova já havia começado e com o passar das horas minha ansiedade ia aumentando e se transformando num misto de concentração e mau humor (pobres amigos). Ah! E foi no congresso que encontramos outros “cabras da peste” e vizinhos de Pernambuco, Nuno e Maurício, além dos amigos Donadon, Simone e as pequeninas Bibi e Sabrina – família esportiva, lindo de se ver.
Naquela noite até tentei dormir cedo, mas, lá pelas 22h30 comecei a sentir dores em todos os lugares possíveis do corpo. Todas as lesões passadas e mais algumas vieram à tona. Doía o joelho, a lombar, o trapézio, a cabeça, a sobrancelha, a unha do dedo mindinho do pé esquerdo, tudo e, se não bastasse isso, ainda havia a secura daquele clima do cerrado. A certeza de que faria uma prova ruim era evidente. Tanto que, depois de constatar que não seria possível fazer milagres, resolvi relaxar.
Levantamos às 4h30 e começamos a nos movimentar para estar no local da competição até às 6h. A primeira imagem ao chegar já te faz respirar mais fundo... Um mar de bicicletas, 518 delas para ser mais precisa. A largada estava marcada para 7h30 e o tempinho que faltava foi o suficiente para fazer a pintura do corpo, ir ao banheiro, checar pela última vez os equipamentos, tirar algumas fotos, repassar os detalhes das transições na mente, ir ao banheiro outra vez, abraçar os amigos, chorar de nervoso e pensar nas pessoas especiais que você gostaria que estivessem ao seu lado.
Às 7h15 começamos a descer para a margem do Lago Paranoá, de onde seria dada a largada e onde faríamos os 1.900 m de natação. Para aquela etapa, meu objetivo era levar o menor número de tapas e pesadas possível - é o que acontece quando mais de 500 pessoas saem juntas para nadar. Então a estratégia era ficar no fundão e deixar os mais preparados (ou afoitos) na briga de braçadas. Deu 07h29... 07h31... 07h37... 07h43... E nada de largada. Até que a organização da prova se justifica: o Detran não havia terminado de fechar todos os trechos por onde os atletas passariam e sem a garantia de segurança ninguém sairia do lugar. Mas também avisaram que “aqueles que quisessem” poderiam sair da água. Ufa! Mas quem não tivesse afim poderia ficar ali mesmo, congelando pouquinho. Não contei conversa...
Nessa hora a programação de alimentação de muita gente já havia ido para o espaço. E meu nervosismo veio à tona novamente, com uma dor de cabeça daquela. Mas tudo bem, finalmente às 8h20 (ou algo próximo disso) a largada foi dada. Embora tivesse tentando me preparar psicologicamente para não sofrer da famosa “síndrome da largada”, que faz você sair forte demais e acabar se quebrando, meu coração não entendeu a mensagem. No primeiro minuto de prova ele parecia que ai saltar pela boca. - Não acredito! Que é isso? Cadê o aaaar??? A solução foi tentar imaginar que estava na piscina do Iate (onde fazia meus treinos diariamente) e procurar uma harmonia entre a respiração e as braçadas. Deu certo! Com 36’30” sai da água para aquele que julgava ser o trecho mais difícil de todos – os 90 km de ciclismo.
A transição entre as modalidades é um capitulo a parte. Sabia que precisaria de calma para não esquecer nenhum detalhe que pudesse jogar no ralo aqueles 12 meses de treinamento. Então, antes de me preocupar com o tempo, me preocupei com a vaselina (muita vaselina) nos pés e entre as coxas. Depois, pernas pra que te quero...
Os 90 km estavam divididos em quatro voltas. A primeira delas foi para reconhecer o percurso e saber onde apertar e onde aliviar. Logo nos primeiros minutos percebi que teria de fazer um ajuste na programação, já que o calor estava muito além do que eu imaginava. A idéia inicial era fazer a hidratação a cada 20 minutos, mas na metade desse tempo minha boca já estava seca. E não era de nervosismo não. Era calor mesmo. Então a estratégia foi beber água a cada 10’, ingerir um “power gororoba gel” a cada 20’ e molhar cabeça, pescoço e punhos sempre que necessário, ou seja, a cada 10’. Hidratação era fator de sobrevivência nessa prova.
Pra minha tristeza, nos 15 km encontro um dos mosqueteiros (Josemar) encostado na calçada e, num gesto de fúria, jogando o pneu da sua bike pra bem longe. - Caramba! Não acredito! Não acredito! É o Josemar! Nosso amigo foi sorteado e, desprevenido, acabou fora do jogo.
Durante aqueles 90 km um turbilhão de coisas passou pela mente. Os treinos, as orientações do treinador/professor Júnior, as brincadeiras com os amigos, a saudade de quem não podia estar ali naquele momento, a expectativa de como meu corpo reagiria aos próximos quilômetros... Enfim, algumas idéias animadoras e outras nem tanto. Nessas horas cada um usa artifícios bem pessoais para buscar motivação, mas, sem dúvida, todos nós pudemos contar com um tipo de “dopping” que costuma funcionar muito bem. Nada melhor do que ver um rosto ou reconhecer uma voz amiga no meio daquele “vazio”.
No meu caso esse "dopping" vinha da amiga Andrea que gritava "Vai Fabí". Em outras horas, do amigo/treinador/professor Júnior que, mais eufórico, berrava "Vai lá mulher, você está muito bem. Você é maravilhosa”. Caramba! Sabia que aquilo era mero incentivo de quem passou parte dos treinos me chamando, carinhosamente, de “mulher xibunga”. Mas tudo bem! O importante é que tinha um efeito psicológico muito bom.
A cada volta completada me surpreendia por ainda estar inteira. Para quem sempre olhou os pedais longos com certo sofrimento, foi impossível conter o grito de satisfação e o choro ao terminar aqueles 90 km com uma agradável sensação de missão quase cumprida.
- Pronto! Falta só mais uma etapa. Foi no que pensei quando terminei o ciclismo.
- Mas peraí! Cadê minhas pernas? Caramba! Acho que ficaram na bike. Tem um par de pernas ai?, brinquei com o staff que cuidava da minha magrelinha. - Tá em falta! Mas tem uma coca-cola ali que já ajuda, respondeu com o mesmo bom humor.
Nos meus planos, começaria ali a parte mais agradável da competição - os 21 km de corrida. Moleza! Ao sair, Júnior ainda me supriu com uma dose extra... - Vai lá mulher, faz o que você sabe fazer! - Xá comigo!
Mas quê? Quanto engano... Descobri que depois de 90 km de pedal não há corrida fácil e se você fizer isso às 12h, sem um “pé de sombra”, ai é que o bicho complica mesmo.
No primeiro quilômetros de pista, ao me deparar com aquele sol, àquela seca, imaginei que seriam os 21 km de corrida mais longos da minha vida. “Lasquei-me”!
Mas como além de terminar a prova, meu objetivo era terminá-la bem e como até ali havia conseguido administrar psicologicamente as dificuldades, não podia escorregar faltando tão pouco. Nessas horas você dá uma de doida e começa a falar consigo mesma. E naquele diálogo aberto dizia - Fabi. Você já fez 90... agora só faltam 21. Se concentra e administra garota. Resolvi encarar a corrida como um “passeio” e quando dei por mim já estava nos 5 km.
Esse é o momento da competição em que você realmente consegue olhar no olho dos demais atletas e solidarizar-se com eles. Se no olhar de alguns percebia energia sobrando, em outros era notório o esforço para superar as limitações e concluir o desafio. Então era comum que aqueles mais tivessem doassem um pouquinho aos que precisavam, ainda que fossem apenas palavras de incentivo. Os amigos Hélcio e Itamar cuidaram de me alimentar com um pouquinho daquele nitrogênio todo. - Bi... É isso aí. Tá muito bem. Continua assim que hoje eu pago seu jantar. Foi o compromisso que o Doutor assumiu ao passar por mim. - Menina continue assim. Falta pouco. Foi o incentivo carinhoso do outro amigo também apaixonado por corridas.
Aquele sol de rachar não era moleza mesmo. Mas quem escolhe fazer um Ironman tem, no mínimo, uma força de vontade muito grande e isso estava ainda mais visível naqueles que preferiam encarar os 21 km sob a “lua” a ter de desistir.
Quando estava finalizando os primeiros 10 km de corrida meus joelhos começaram a reclamar.
- Ah não! Peraí amigo... Segura a onda. Falta muito pouco. Diante daquela dorzinha a primeira coisa que me passou pela cabeça era 1) se a dor iria aumentar e se iria conseguir 2) que não deveria pensar naquilo e enganar minha mente.
Nesse ponto da prova ver os rostos amigos de Andrea, Junior e Josemar foi um consolo. Uma miragem no deserto? Ouvir a voz dos amigos “pangarés” de Brasília gritando "Vai Fabi! Acredita! Pensa em mim que você consegue"! Foi fundamental para levantar o astral e lembrar que aquilo tudo era uma grande festa.
Então vamos pra aquele conversa de pé de ouvido novamente. - Fabi imagina que você está correndo os 10 km da orla de Maceió. Fiz isso mesmo e a cada quilômetro passei a visualizar o cenário dos meus treinos. Quando dei por mim já estava passando pelo último posto de abastecimento.
Tô terminando? Tive que repetir aquilo para mim mesma. Era verdade, apenas 1 km me separava do título de Ironman. Naquele trecho veio à tona todas as lembranças boas e os perrengues que me fizeram chegar até ali. O joelho já estava dizendo - Se você não parar eu paro. Mas naquele instante a conexão entre ele o meu cérebro foi desligada e a única coisa que conseguia sentir era uma felicidade incontrolável.
Não conseguiria explicar em palavras a sensação de entrar na reta final e cruzar a chegada. Desculpem, mas vocês ficaram sem essa emoção, que só pode ser sentida por quem vive a situação. É simplesmente inexplicável.
Quando acaba a única coisa que você pensa é em abraçar as pessoas amigas que estão com você e ligar aos que não podem estar para dizer - Sou uma Iron. É maravilhoso! Se valeu a pena? Alguém ai ainda tem dúvida?
Amigos... parabéns a todos vocês. Hélcio, Itamar e Nuno, pela exelente prova, Marco André, Marcão, Donandon e Maurício, pela garra, perseverança e determinação, Ju, Andrea e Josemar, pelo apoio e paciência, Geraldo , Alex e Chico, pelo bom humor restaurador, e ao "anjo" que esteve presente comigo em todos os minutos e, claro, a todos os outros que não estavam ali mas estavam torcendo por nós. Valeu! Desafio vencido!
Júnior e Andrea.... nosso "dopping" legalizado
Companheiros de perrengue
Ah!! Pra quem está na curiosidade... Concluí a prova em 6:06:49. A sétima colocada na categoria Mulher Maravilha, digo... F30-34.sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Nos States (final)
Embora a complicação para entrar no trem, com todas aquelas malas nada compactas, depois de acomodados a viagem seguiu tranqüila. Aliás, muito bem acomodados. A opção de fazer a viagem de trem ao invés de avião não foi meramente econômica, uma vez que a diferença entre as tarifas não ultrapassava U$ 40. Encarar 3h30 sobre os trilhos e não 45'de ar foi uma alternativa para conhecermos um pouco mais o interior dos EUA. Uma escolha acertada. Depois, se fossemos de avião ainda teríamos de nos preocupar com o translado JFK/Manhattan, o que nos custaria alguns muitos dólares e 1h (ou mais) de trânsito. Desembarcando na Pennsylvania Station, ficaríamos há apenas três quadras do hotel onde, na 33th St com a 6th Av.
No trem reencontramos nossa companheira Carolina, uma das mosqueteiras dessa história. A chegada em NY não foi, assim por dizer, encantadora. Nos deparamos com uma cidade de concreto e céu cinza, nada muito diferente das metrópoles brasileiras. O desembarque na estação nos revelou a essência da cidade. Atmosfera, cheiro, barulho e energia, capazes de provocar reações de paixão, amor, ódio e desprezo. Mas, de qualquer forma, é impossível passar indiferente. E nem adianta questionar porque é assim mesmo. Logo de cara NY vai despejando em você toda sua personalidade e hábitos, sem a obrigação de agradar. Então, corra para pegar o trem ou fique com cara de “mané” no meio da rua.
Chegando ao hotel tivemos a oportunidade de conhecer a “simpatia” dos nova-iorquinos. Corrigindo... do povo que vive em NY ou dos seus muitos povos. Sim, porque aquela cidade é uma ONU. Em um quarteirão é possível encontrar, pelo menos, uma dúzia de raças. E a raça da recepcionista daquele hotel não era das mais gentis. Paciência é uma palavra que não deve existir no vocabulário da garota ou então ela não estava mesmo num bom dia. Não via a hora dela saltar de trás daquele balcão de aplicar golpes ninjas em nós, pobres turistas brasileiros.
O hotel não era lá essas coisas e olha que nem se tratava de mera exigência dos “estudantes” de Babson. Um exemplo, além de uma central de ar que não funcionava, foi a primeira experiência de Renata com o secador de cabelos. O aparelho tinha suas peculiaridades, não podia esquentar que parava de funcionar. Haja cabelo e haja paciência. Mas, uma vez instalados, embora o cansaço, a noite de NY apenas começava. Nossos amigos Anésio e Fabiano já haviam chegado à cidade e nos esperavam. Claro que, estando lá, a última coisa que poderia fazer era me apegar aos hábitos da vida cotidiana. Então, entrei no clima dos meus companheiros de aventura e fomos para uma das badaladas boates da cidade. Imaginei que fosse encontrar figuras mais bizarras, mas nada disso. Boate até que bem comportada, onde as mulheres não podiam entrar com micro saias e cigarro era objeto proibido. Escolha acertada, afinal, não há coisa mais desagradável para não fumantes que sair de um lugar parecendo um peru defumado.
A noitada não durou muito. Vínhamos do batente de Boston, das 3h30 horas de agradáveis chacoalhada e aquela altura não sobrava muito de nós. Depois, ainda tínhamos dois dias pela frente e precisaríamos de muita energia.
Embora poucas horas de sono, na manhã seguinte, guiados pelos por Anésio e Fabiano,começamos nosso tour bem dispostos. Mas começar por onde? Que tal pelo começo?! De ante mão já sabíamos quem em dois dias não conseguiríamos conhecer muita coisa da cidade, então nos concentramos em Manhattan, o distrito mais conhecido, que com uma população de 1,5 milhão de habitantes, por si só já apresentava uma imensidão de atrações. Descemos para Downtown, a parte mais ao sul da ilha, até o Pier 17, a fim de tentar conhecer a “Dona Liberdade”. Mas da “bunita” só vimos o vulto porque a manhã nublada não ajudou muito. Nada de desanimar. A partir do Financial District fomos subindo a ilha passando por monumentos e locais tradicionais, como o “falecido” World Trade Center, algumas lojas de departamento, Wall Stret e seu lendário touro, símbolo do poder econômico-financeiro, New York Stock Exchange, uma outra loja ali, a Bolsa de Valores, o Civic Center, o City Hall, mais uma loja acolá, o Federal Reserv Bank, mais um bocadinho de outras lojas, até, enfim, chegarmos ao Central Park.
Se minhas amigas Renata e Carolina tinham comichão ao entrar em daquelas imensas lojas de departamento, como Vitoria Screts, eu senti o mesmo ao chegar no Central Park. Um dos sonhos de consumo dos apaixonados por corrida é conhecer as famosas trilhas do lugar. Eu estava ali, bem no miolo, vendo alguns corajosos corredores e ciclistas encarem aquela tarde escaldante de Manhattan, sem se quer poder arriscar um trote. Afinal, às 16h, depois de oito horas de peregrinação por todas aquelas ruas e lojas, não sobrava muita força para uma corridinha (pra não dizer quase nenhuma).
Mas nem assim nos demos por vencidos. Depois ainda percorremos a badalada 5th Av e todas aquelas luxuosas lojas, o Empire State, co m seus 102 andares, e tudo mais que estivesse em nosso caminho. Lá pelas 20h, de volta ao hotel, foi só o tempo de despejar as comprinhas, tomar um banho e... rua novamente. Dessa vez o destino era Times Square, digamos assim... o centro do formigueiro.
O batente se repetiu no dia seguinte e o resultado de toda essa maratona? Muita diversão, não tenha dúvida, pílulas de cultura, informação, muitos dólares a menos na carteira, cobranças a mais no cartão de crédito, alguns calos nos pés, olheiras e uma vontade enorme de voltar pra casa.
Mas, quando pensávamos que a aventura havia chegado ao fim e que nos faltava apenas a jornada nos aeroportos (nosso vôo sairia de Boston), começamos a perceber que esse retorno não seria tão tranqüilo assim.
Depois de três noites e dois dias em NY, tivemos, digamos, certa dificuldade em fazer as malas. Sabíamos que, com aquelas “comprinhas”, o peso extra seria inevitável. Apenas não imaginávamos que fosse tão extra assim. Marcos conseguiu manter sua praticidade. Euzinha, como trouxe mala de mais, consegui administrar os apetrechos todos no espaço que sobrava. Nossa amiga Carol precisou de uma ajudinha para acomodar suas roupas. Nada que um extensor não pudesse resolver. Mas Renatinha... bem, faltou espaço na mala vermelha para nossa amiga guardar suas “lembrancinhas”. Ou seja, peso demais, força e coluna de menos.
Peso extra nesse caso significa puxador quebrado logo na saída hotel. Ai é que complicou tudo mesmo e nosso amigo Marcos acabou se candidatando a um belo dum abacaxi. Melhor, uma melancia, que cavalheiramente e caridosamente arrastou pelo restante da viagem.
Então, antes de despacharmos aquelas tralhas todas, primeiro foi preciso conseguir colocá-las dentro de um taxi. Vejamos: três pessoas + três malas + duas caixas + três bagagens de mão = pobre Marcos, pobre taxista. Depois era penitenciar pela Penn Station, embarcar as malas no trem para Boston, desembarcá-las na South Station, mais uma vez enfiar nossos bagulhos em um taxi até o aeroporto e, ufa!, mandar tudo para esteira... alguém ai duvida que Marcos sofreu um bocado?
Mas como viagem sem mico não rende história... é claro que a nossa teve de terminar com um king Kong dos grandes. Com muitos quilos a mais do que o permitido pelas normas internacionais de aviação, nossa amiga Renata teve der distribuir suas comprinhas no que ainda sobrava de espaço na mala do Marcos e na minha. Imaginem a cena: malas abertas em pleno saguão, a atendente da companhia aérea nos aguardando, uma fila de pessoas esperando para fazer o check-in... Estresse? Nem pensar! Éramos turistas assumidos e, além do mais, quem ali nos veria de novo?
Bem, mas não parou por ai. Depois de 30´ dentro do avião que nos levaria de volta a NY (??) para a conexão com SP, o piloto pediu que todos descessem. A aeronave estava com defeito e teríamos de fazer uma troca. Troca feita, mais alguns minutos de demora até que o piloto pede que um dos passageiros sentados no fundo da aeronave vá para frente do avião, pois precisavam equilibrar o peso. Será que esse problema da crise aérea é um vírus? Parasse que sim porque em NY ficamos mais cerca de quatro horas esperando que fosse consertada uma pane no sistema de navegação da aeronave. Dessa vez, sem o peso das bagagens, o que incomodava era a fome e aquela angustia de quem apenas quer voltar para casa, de preferência, com todas as nossas malas.
Saldo desses 10 dias? Bem, para mim, a certeza de que 1) mais vale um amigo na praça que dinheiro no bolso (como diz o dito popular), 2) desprender-se dos velhos hábitos é tão importante quanto adaptar-se, 3) cuidado com os excessos e 4) mala é mala mesmo e não adianta.
No trem reencontramos nossa companheira Carolina, uma das mosqueteiras dessa história. A chegada em NY não foi, assim por dizer, encantadora. Nos deparamos com uma cidade de concreto e céu cinza, nada muito diferente das metrópoles brasileiras. O desembarque na estação nos revelou a essência da cidade. Atmosfera, cheiro, barulho e energia, capazes de provocar reações de paixão, amor, ódio e desprezo. Mas, de qualquer forma, é impossível passar indiferente. E nem adianta questionar porque é assim mesmo. Logo de cara NY vai despejando em você toda sua personalidade e hábitos, sem a obrigação de agradar. Então, corra para pegar o trem ou fique com cara de “mané” no meio da rua.
Chegando ao hotel tivemos a oportunidade de conhecer a “simpatia” dos nova-iorquinos. Corrigindo... do povo que vive em NY ou dos seus muitos povos. Sim, porque aquela cidade é uma ONU. Em um quarteirão é possível encontrar, pelo menos, uma dúzia de raças. E a raça da recepcionista daquele hotel não era das mais gentis. Paciência é uma palavra que não deve existir no vocabulário da garota ou então ela não estava mesmo num bom dia. Não via a hora dela saltar de trás daquele balcão de aplicar golpes ninjas em nós, pobres turistas brasileiros.
O hotel não era lá essas coisas e olha que nem se tratava de mera exigência dos “estudantes” de Babson. Um exemplo, além de uma central de ar que não funcionava, foi a primeira experiência de Renata com o secador de cabelos. O aparelho tinha suas peculiaridades, não podia esquentar que parava de funcionar. Haja cabelo e haja paciência. Mas, uma vez instalados, embora o cansaço, a noite de NY apenas começava. Nossos amigos Anésio e Fabiano já haviam chegado à cidade e nos esperavam. Claro que, estando lá, a última coisa que poderia fazer era me apegar aos hábitos da vida cotidiana. Então, entrei no clima dos meus companheiros de aventura e fomos para uma das badaladas boates da cidade. Imaginei que fosse encontrar figuras mais bizarras, mas nada disso. Boate até que bem comportada, onde as mulheres não podiam entrar com micro saias e cigarro era objeto proibido. Escolha acertada, afinal, não há coisa mais desagradável para não fumantes que sair de um lugar parecendo um peru defumado.
A noitada não durou muito. Vínhamos do batente de Boston, das 3h30 horas de agradáveis chacoalhada e aquela altura não sobrava muito de nós. Depois, ainda tínhamos dois dias pela frente e precisaríamos de muita energia.
Embora poucas horas de sono, na manhã seguinte, guiados pelos por Anésio e Fabiano,começamos nosso tour bem dispostos. Mas começar por onde? Que tal pelo começo?! De ante mão já sabíamos quem em dois dias não conseguiríamos conhecer muita coisa da cidade, então nos concentramos em Manhattan, o distrito mais conhecido, que com uma população de 1,5 milhão de habitantes, por si só já apresentava uma imensidão de atrações. Descemos para Downtown, a parte mais ao sul da ilha, até o Pier 17, a fim de tentar conhecer a “Dona Liberdade”. Mas da “bunita” só vimos o vulto porque a manhã nublada não ajudou muito. Nada de desanimar. A partir do Financial District fomos subindo a ilha passando por monumentos e locais tradicionais, como o “falecido” World Trade Center, algumas lojas de departamento, Wall Stret e seu lendário touro, símbolo do poder econômico-financeiro, New York Stock Exchange, uma outra loja ali, a Bolsa de Valores, o Civic Center, o City Hall, mais uma loja acolá, o Federal Reserv Bank, mais um bocadinho de outras lojas, até, enfim, chegarmos ao Central Park.
Se minhas amigas Renata e Carolina tinham comichão ao entrar em daquelas imensas lojas de departamento, como Vitoria Screts, eu senti o mesmo ao chegar no Central Park. Um dos sonhos de consumo dos apaixonados por corrida é conhecer as famosas trilhas do lugar. Eu estava ali, bem no miolo, vendo alguns corajosos corredores e ciclistas encarem aquela tarde escaldante de Manhattan, sem se quer poder arriscar um trote. Afinal, às 16h, depois de oito horas de peregrinação por todas aquelas ruas e lojas, não sobrava muita força para uma corridinha (pra não dizer quase nenhuma).
Mas nem assim nos demos por vencidos. Depois ainda percorremos a badalada 5th Av e todas aquelas luxuosas lojas, o Empire State, co m seus 102 andares, e tudo mais que estivesse em nosso caminho. Lá pelas 20h, de volta ao hotel, foi só o tempo de despejar as comprinhas, tomar um banho e... rua novamente. Dessa vez o destino era Times Square, digamos assim... o centro do formigueiro.
O batente se repetiu no dia seguinte e o resultado de toda essa maratona? Muita diversão, não tenha dúvida, pílulas de cultura, informação, muitos dólares a menos na carteira, cobranças a mais no cartão de crédito, alguns calos nos pés, olheiras e uma vontade enorme de voltar pra casa.
Mas, quando pensávamos que a aventura havia chegado ao fim e que nos faltava apenas a jornada nos aeroportos (nosso vôo sairia de Boston), começamos a perceber que esse retorno não seria tão tranqüilo assim.
Depois de três noites e dois dias em NY, tivemos, digamos, certa dificuldade em fazer as malas. Sabíamos que, com aquelas “comprinhas”, o peso extra seria inevitável. Apenas não imaginávamos que fosse tão extra assim. Marcos conseguiu manter sua praticidade. Euzinha, como trouxe mala de mais, consegui administrar os apetrechos todos no espaço que sobrava. Nossa amiga Carol precisou de uma ajudinha para acomodar suas roupas. Nada que um extensor não pudesse resolver. Mas Renatinha... bem, faltou espaço na mala vermelha para nossa amiga guardar suas “lembrancinhas”. Ou seja, peso demais, força e coluna de menos.
Peso extra nesse caso significa puxador quebrado logo na saída hotel. Ai é que complicou tudo mesmo e nosso amigo Marcos acabou se candidatando a um belo dum abacaxi. Melhor, uma melancia, que cavalheiramente e caridosamente arrastou pelo restante da viagem.
Então, antes de despacharmos aquelas tralhas todas, primeiro foi preciso conseguir colocá-las dentro de um taxi. Vejamos: três pessoas + três malas + duas caixas + três bagagens de mão = pobre Marcos, pobre taxista. Depois era penitenciar pela Penn Station, embarcar as malas no trem para Boston, desembarcá-las na South Station, mais uma vez enfiar nossos bagulhos em um taxi até o aeroporto e, ufa!, mandar tudo para esteira... alguém ai duvida que Marcos sofreu um bocado?
Mas como viagem sem mico não rende história... é claro que a nossa teve de terminar com um king Kong dos grandes. Com muitos quilos a mais do que o permitido pelas normas internacionais de aviação, nossa amiga Renata teve der distribuir suas comprinhas no que ainda sobrava de espaço na mala do Marcos e na minha. Imaginem a cena: malas abertas em pleno saguão, a atendente da companhia aérea nos aguardando, uma fila de pessoas esperando para fazer o check-in... Estresse? Nem pensar! Éramos turistas assumidos e, além do mais, quem ali nos veria de novo?
Bem, mas não parou por ai. Depois de 30´ dentro do avião que nos levaria de volta a NY (??) para a conexão com SP, o piloto pediu que todos descessem. A aeronave estava com defeito e teríamos de fazer uma troca. Troca feita, mais alguns minutos de demora até que o piloto pede que um dos passageiros sentados no fundo da aeronave vá para frente do avião, pois precisavam equilibrar o peso. Será que esse problema da crise aérea é um vírus? Parasse que sim porque em NY ficamos mais cerca de quatro horas esperando que fosse consertada uma pane no sistema de navegação da aeronave. Dessa vez, sem o peso das bagagens, o que incomodava era a fome e aquela angustia de quem apenas quer voltar para casa, de preferência, com todas as nossas malas.
Saldo desses 10 dias? Bem, para mim, a certeza de que 1) mais vale um amigo na praça que dinheiro no bolso (como diz o dito popular), 2) desprender-se dos velhos hábitos é tão importante quanto adaptar-se, 3) cuidado com os excessos e 4) mala é mala mesmo e não adianta.
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Nos States (2ª parte)
Apesar do desconforto de estar em um país estranho, até que estava conformada com a situação. Tavares, depois de nos fazer penar um pouquinho, foi solidário e prestativo. Segundo ele, a bagagem deveria chegar naquela mesma tarde e até 20h seria devolvida a mim. Claro que a notícia, embora não fosse das piores, preocupou um bocado porque a cerimônia de abertura do curso seria realizada naquele mesmo dia, às 18h. Bem, depois de quase dois dias de viagem, minhas roupas, impraticáveis, já caminhavam sozinhas.
De qualquer forma o remédio era tentar manter a calma. Então, almoçamos e do aeroporto fomos para a universidade de Babson College, que fica em um distrito de Boston chamado Wellesley. As primeiras impressões da cidade foram excelentes, tanto que merece entrar para a lista de “lugares que quero conhecer”. Limpa, com ruas largas, bem cuidadas e uma arquitetura bela, não fosse as bandeiras norte americanas hasteadas na fachada de 8 entre 10 casas, poderia dizer que estava em uma cidade européia.
Não custou muito para chegarmos a Babson, onde seria realizado curso e onde também ficaríamos alojados. Quer dizer, alojados não, hospedados, com o conforto de um hotel cinco estrelas. Dentro da universidade foi construído um centro de educação para executivos – Executive Conference Center - com toda infra-estrutura de um hotel de luxo, mas sem aquela chatice de pagar horrores por um copo de água. Aliás, café, chocolate, sorvete, frutas, entre outras guloseimas eram disponibilizadas para os alunos sem custo (direto, claro!). Mordomia das boas e merecidas.
Depois de nos acomodarmos é que fomos realmente perceber o quanto estávamos cansados, pra não dizer um bagaço. No meu caso, somando o cansaço + o extravio da mala + mais uma gripe que me congestionava cruelmente há cinco dias + o esforço de manter-me calma + três dias sem treino (ou seja, energia acumulada até a tampa)... Estava pronta para explodir. Não fosse a “Santa Renata”, amiga e companheira de quarto – que, aliás, deveria ser canonizada - eu teria perdido as estribeiras. A “bunita” não apenas me emprestou algumas roupas como soube administrar meu estresse com a sabedoria de quem e mãe do Gabriel.
Mas, embora o carinho da amiga, a qualidade das instalações e do jantar servido aos participantes do curso - todos brasileiros - nada foi capaz de me animar naquela noite. Queria apenas “aquele colo”e minha malinha queridinha de volta. Deu 20h e nada, 21h, 22h, 23h e nada... Fazer o que? Sem colo e sem mala, a solução era tentar dormir. Na manhã seguinte acordei como uma criança em dia de Natal, direto em busca dos presentes deixados sob árvore. Mas que presente? Nada de presente, digo nada de mala. Nessa altura do campeonato ninguém ousasse me chamar de feia porque corria risco de morte. Mas ao menos a Santa Renata parecia ter previsto a situação. Na sua mala havia mais roupa do que o necessário e algumas delas na minha numeração. Então, lá fui eu novamente vestida de Renatinha para a aula, até, finalmente, receber minha mala, lá pelas tantas da manhã. Ufa! Que alívio. Nada pior que sentir-me dependente. Finalmente era dona das minhas próprias roupas e, tranqüilizada, pude aproveitar melhor o que Babson e Wellesley tinham a nos oferecer, incluindo belos lugares para a corridinha matinal.
Bem, disse a vocês que não iria me ater aos detalhes intelectuais de Babson, que foi em si uma experiência excelente, seja pela didática dos professores, pelos temas abordados e pela oportunidade de interagir com profissionais de áreas tão distintas. Ah! Claro, pela comida também. E haja comida! Além dos fartos e deliciosos café da manhã, almoço e jantar, cada intervalo para o “cafezinho” era um atentado a boa forma. Estudar e comer , comer e estudar ... Essa foi a rotina durante os cinco dias de Babson.
Mas além das aulas, eu, Renata e Marcos, passamos a semana organizando a parte “exploratória” de nossa viagem. Estava em nossos planos, depois de terminado o curso, passar um dia em Boston e seguir para NY. Rezando para que, dessa vez, minha mala me acompanhasse.
Em Babson acabamos descobrindo outros companheiros para nossa aventura, como Carolina, Fabiano e Anésio. O roteiro dos rapazes, além de Boston e NY, incluía uma viagem de carro pela Costa Leste dos EUA. Carol, nos encontraria em NY.
Como quem tem boca vai a Roma, com as dicas que recebemos, conseguimos fazer a reserva em num hotel no centro da cidade (dessa vez, sem os mesmos confortos e regalias de Babson) e compramos passagens para NY em um trem que sairia de South Station às 15h da sexta-feira. Ou seja, tínhamos apenas a tarde e noite da quinta e a manhã de sexta para tentar conhecer um pouquinho da cidade. Então dormir não era bem nossa prioridade.
Apaixonante. É assim que posso descrever o centro de Boston. Caminhando pelas ruas da cidade é que se percebe o sentido da palavra civilização. Bicicletas transitando em harmonia com os carros, sem barulho de buzinas ou lixo esparramado pelas calçadas. Um exemplo claro da relação saudável entre cidadão e estado é o sistema de transporte, em que os ônibus circulam sem cobrador. Uma vez que todos sabem que é preciso pagar para utilizar o serviço, cada um faz seu papel e pronto. Simples assim.
Apesar do pouco tempo, conseguimos conhecer a famosa universidade de Harvard, onde até os esquilos são intelectuais, e os principais pontos turísticos (e lojas, claro) de Boston. Anésio e Fabiano foram nossos guias, que hora orientavam e outras nos desorientavam.
Como tudo próximo, taxi não era uma alternativa inteligente. Caminhar pela cidade era a melhor forma de explorar os detalhes. Nossa idéia era fazer parte do Freedom Trail, uma caminhada, de 4 km, que passa pelos principais pontos turísticos históricos de Bonston. É possível fazer o passei sem ajuda de guias, já que o caminho é indicado com uma faixa vermelha pintada no chão. Com um mapa nas mãos, bastava seguira faixa e desvendar por si mesmo o cenário local.
Até que tentamos e quem surpreendeu mesmo foi Renata. Minha amiga, que pega um taxi para atravessar as pistas da Avenida Paulista, enfrentou a “maratona” sem deixar a bola cair. Quer dizer, não foi bem assim, já no fim da manhã de sexta, depois de horas num sol de rachar, nos rendemos e embarcamos em um daqueles ônibus de tour convencional. Mas não era o Duck Tour, carros anfíbios da Segunda Guerra Mundial adaptados para transportar pacíficos turistas. Afinal, o mico não poderia ser tão grande.
No fim das contas, moídas, pagamos U$29 para descansar um pouco e conhecer lugares que nossas pernas se recusavam a levar, como Public Garden. E Marcos? Bem, nosso amigo optou por uma visita ao museu marinho e nos encontraria na estação.
Rendidas ao cansaço, ao fim do passeio já não éramos mais gente... E pela frente ainda tínhamos uma viagem de 3h30 de trem até NY... Onde, ai sim, começamos a entender o verdadeiro o sentido da palavra mala.
Continua...
De qualquer forma o remédio era tentar manter a calma. Então, almoçamos e do aeroporto fomos para a universidade de Babson College, que fica em um distrito de Boston chamado Wellesley. As primeiras impressões da cidade foram excelentes, tanto que merece entrar para a lista de “lugares que quero conhecer”. Limpa, com ruas largas, bem cuidadas e uma arquitetura bela, não fosse as bandeiras norte americanas hasteadas na fachada de 8 entre 10 casas, poderia dizer que estava em uma cidade européia.
Não custou muito para chegarmos a Babson, onde seria realizado curso e onde também ficaríamos alojados. Quer dizer, alojados não, hospedados, com o conforto de um hotel cinco estrelas. Dentro da universidade foi construído um centro de educação para executivos – Executive Conference Center - com toda infra-estrutura de um hotel de luxo, mas sem aquela chatice de pagar horrores por um copo de água. Aliás, café, chocolate, sorvete, frutas, entre outras guloseimas eram disponibilizadas para os alunos sem custo (direto, claro!). Mordomia das boas e merecidas.
Depois de nos acomodarmos é que fomos realmente perceber o quanto estávamos cansados, pra não dizer um bagaço. No meu caso, somando o cansaço + o extravio da mala + mais uma gripe que me congestionava cruelmente há cinco dias + o esforço de manter-me calma + três dias sem treino (ou seja, energia acumulada até a tampa)... Estava pronta para explodir. Não fosse a “Santa Renata”, amiga e companheira de quarto – que, aliás, deveria ser canonizada - eu teria perdido as estribeiras. A “bunita” não apenas me emprestou algumas roupas como soube administrar meu estresse com a sabedoria de quem e mãe do Gabriel.
Mas, embora o carinho da amiga, a qualidade das instalações e do jantar servido aos participantes do curso - todos brasileiros - nada foi capaz de me animar naquela noite. Queria apenas “aquele colo”e minha malinha queridinha de volta. Deu 20h e nada, 21h, 22h, 23h e nada... Fazer o que? Sem colo e sem mala, a solução era tentar dormir. Na manhã seguinte acordei como uma criança em dia de Natal, direto em busca dos presentes deixados sob árvore. Mas que presente? Nada de presente, digo nada de mala. Nessa altura do campeonato ninguém ousasse me chamar de feia porque corria risco de morte. Mas ao menos a Santa Renata parecia ter previsto a situação. Na sua mala havia mais roupa do que o necessário e algumas delas na minha numeração. Então, lá fui eu novamente vestida de Renatinha para a aula, até, finalmente, receber minha mala, lá pelas tantas da manhã. Ufa! Que alívio. Nada pior que sentir-me dependente. Finalmente era dona das minhas próprias roupas e, tranqüilizada, pude aproveitar melhor o que Babson e Wellesley tinham a nos oferecer, incluindo belos lugares para a corridinha matinal.
Bem, disse a vocês que não iria me ater aos detalhes intelectuais de Babson, que foi em si uma experiência excelente, seja pela didática dos professores, pelos temas abordados e pela oportunidade de interagir com profissionais de áreas tão distintas. Ah! Claro, pela comida também. E haja comida! Além dos fartos e deliciosos café da manhã, almoço e jantar, cada intervalo para o “cafezinho” era um atentado a boa forma. Estudar e comer , comer e estudar ... Essa foi a rotina durante os cinco dias de Babson.
Mas além das aulas, eu, Renata e Marcos, passamos a semana organizando a parte “exploratória” de nossa viagem. Estava em nossos planos, depois de terminado o curso, passar um dia em Boston e seguir para NY. Rezando para que, dessa vez, minha mala me acompanhasse.
Em Babson acabamos descobrindo outros companheiros para nossa aventura, como Carolina, Fabiano e Anésio. O roteiro dos rapazes, além de Boston e NY, incluía uma viagem de carro pela Costa Leste dos EUA. Carol, nos encontraria em NY.
Como quem tem boca vai a Roma, com as dicas que recebemos, conseguimos fazer a reserva em num hotel no centro da cidade (dessa vez, sem os mesmos confortos e regalias de Babson) e compramos passagens para NY em um trem que sairia de South Station às 15h da sexta-feira. Ou seja, tínhamos apenas a tarde e noite da quinta e a manhã de sexta para tentar conhecer um pouquinho da cidade. Então dormir não era bem nossa prioridade.
Apaixonante. É assim que posso descrever o centro de Boston. Caminhando pelas ruas da cidade é que se percebe o sentido da palavra civilização. Bicicletas transitando em harmonia com os carros, sem barulho de buzinas ou lixo esparramado pelas calçadas. Um exemplo claro da relação saudável entre cidadão e estado é o sistema de transporte, em que os ônibus circulam sem cobrador. Uma vez que todos sabem que é preciso pagar para utilizar o serviço, cada um faz seu papel e pronto. Simples assim.
Apesar do pouco tempo, conseguimos conhecer a famosa universidade de Harvard, onde até os esquilos são intelectuais, e os principais pontos turísticos (e lojas, claro) de Boston. Anésio e Fabiano foram nossos guias, que hora orientavam e outras nos desorientavam.
Como tudo próximo, taxi não era uma alternativa inteligente. Caminhar pela cidade era a melhor forma de explorar os detalhes. Nossa idéia era fazer parte do Freedom Trail, uma caminhada, de 4 km, que passa pelos principais pontos turísticos históricos de Bonston. É possível fazer o passei sem ajuda de guias, já que o caminho é indicado com uma faixa vermelha pintada no chão. Com um mapa nas mãos, bastava seguira faixa e desvendar por si mesmo o cenário local.
Até que tentamos e quem surpreendeu mesmo foi Renata. Minha amiga, que pega um taxi para atravessar as pistas da Avenida Paulista, enfrentou a “maratona” sem deixar a bola cair. Quer dizer, não foi bem assim, já no fim da manhã de sexta, depois de horas num sol de rachar, nos rendemos e embarcamos em um daqueles ônibus de tour convencional. Mas não era o Duck Tour, carros anfíbios da Segunda Guerra Mundial adaptados para transportar pacíficos turistas. Afinal, o mico não poderia ser tão grande.
No fim das contas, moídas, pagamos U$29 para descansar um pouco e conhecer lugares que nossas pernas se recusavam a levar, como Public Garden. E Marcos? Bem, nosso amigo optou por uma visita ao museu marinho e nos encontraria na estação.
Rendidas ao cansaço, ao fim do passeio já não éramos mais gente... E pela frente ainda tínhamos uma viagem de 3h30 de trem até NY... Onde, ai sim, começamos a entender o verdadeiro o sentido da palavra mala.
Continua...
Um pouco de Boston.
Desorientados no metrô.
Exploradores em Harvard.
Duck Tour: esse mico não pagamos....
domingo, 2 de setembro de 2007
Nos States (1ª parte)
O EUA nunca esteve no topo da minha lista de “lugares que quero conhecer”. Minto, havia NY, que sempre chamou minha atenção pelo Central Park e sua famosa maratona. Mas, por obra do destino, “Tio Sam” foi o primeiro a carimbar meu passaporte.
Acontece que por uma oportunidade de trabalho, com o propósito de participar de um curso sobre empreendedorismo, na universidade Babson College, este ano fiz minha primeira viagem internacional. O destino? Boston, com direito a uma visitinha a Nova York.
A capacitação foi excelente, Babson é tudo que se espera de uma universidade, seja pelas suas instalações, limpeza, organização, beleza e qualificação do corpo acadêmico. Mas, não é do aspecto intelectual dessa viagem que quero falar e sim das aventuras. Teve de tudo, bagagem extraviada, avião quebrado e até o homem da mala vermelha.
Começando do começo... Como não podia deixar de ser, os dias que antecederam a ida para o EUA foram de ansiedade. O fato de não estar fluente no idioma, pra não dizer totalmente travada, potencializou ainda mais a angústia. Minha tábua de salvação seriam os dois companheiros de viagem: Marcos e Renata.
Acostumada a acordar cedinho para treinar, naquele sábado, levantar da cama às 3h30 da manhã para estar no aeroporto às 5h não foi nada demais. De mala pronta, com o suficiente para 10 dias nos States e espaço bastante para trazer umas “comprinhas”, passei na casa do amigo. Nessas horas, sempre impressiona a praticidade masculina. A mala do Marcos (não o mala do Marcos) tinha metade do tamanho da minha.
Bem, tentando fazer uma analogia, posso dizer que nossa viagem aos States é comparável a uma corrida de aventura, onde o que vale é a resistência, a paciência e o espírito de companheirismo.
Os desafios começaram no aeroporto. O avião que nos levou para São Paulo, nossa primeira escala e onde encontraríamos a Renata, chegou à cidade às 8h e pouco da manhã, mas só embarcaríamos para NY, nossa segunda escala, às 21h30.
Ficamos os três nos sentindo o próprio Tom Hanks, no filme “O Terminal”. O detalhe é que eu e Marcos tivemos de ficar com as malas aguardando pelo embarque internacional, que só começaria às 17h30. Então vamos contabilizar... 13 horas de espera no aeroporto de Guarulhos, nove delas arrastando nossas tralhas pra cima e pra baixo. Maravilha! Aliás, para Marcos, aquele foi um ensaio do que estaria por vir. As malas foram a sensação dessa viagem.
Mas até então tudo era festa. Todos na expectativa, animados e com energia suficiente para agüentar as cerca de 10h de vôo para NY. Alias, foi ai que começamos a perceber as diferenças entre o terceiro e o primeiro mundo.
Se o Brasil perde na qualidade da comida servida dentro das aeronaves, ganha de lavada nos quesitos beleza, aparência e atendimento das nossas comissárias de bordo. Algumas das senhoras aeromoças norte americanas pareciam ter saído de um filme de terror. Já no quesito overbooking, Brasil e EUA empataram. Eu, Marcos e Renata fomos testemunhas disso. Nossos acentos foram vendidos duas vezes. A pergunta era: quem sentaria no colo de quem? Bem, meus amigos tiveram um “desagradável” remanejamento da classe econômica para a classe executiva, enquanto eu fiquei no meu lugarzinho... De segunda.
A noite dentro de um avião nunca é tão agradável, ao menos para quem tenta dormir nas poltronas da classe econômica. Por isso, a chegada a NY foi um alívio. O embarque para Boston (até quem fim) levaria apenas duas horas, o que no total contabilizaria quase 36 horas de viagem.
Nesse meio tempo fomos apresentados ao “cafezinho” americano e além de descobrir que o café dos vizinhos do primeiro mundo é ralo, descobrimos também que nunca se deve pedir a versão “big” (grande), porque o “small” (pequeno) deles já é suficientemente gigante.
Bem, salvo aquelas coisinhas desagradáveis como ter de tirar os sapatos para fazer o reembarque e o fato da minha operadora de celular ter me deixado na mão, tudo correu bem até a chegada em Boston. Chegada em termos, porque minha mala... Essa resolveu curtir um pouquinho mais de NY e não chegou ao nosso destino. Ótimo! Seria a primeira oportunidade de experimentar o idioma. Na sessão de malas perdidas, tentava estabelecer um diálogo razoável com o atendente, Tavares, e Marcos me ajudava nessa árdua missão, até travar tudo.
Fabi: Marcos, o que foi que ele disse?
Marcos: ???
Fabi: Ai meu Deus... E agora?
Marcos: repeat, please???
Tavares: &*$#&%!
Fabi: Entendeu?
Marcos: Não.
Tavares: Perguntei aonde vocês vão ficar em Boston (em bom e claro português).
O cara era brasileiro, mineiríssimo... Encontrá-lo foi como, criança, estar perdida no supermercado e dar de cara com minha mãe.
Continua...
Acontece que por uma oportunidade de trabalho, com o propósito de participar de um curso sobre empreendedorismo, na universidade Babson College, este ano fiz minha primeira viagem internacional. O destino? Boston, com direito a uma visitinha a Nova York.
A capacitação foi excelente, Babson é tudo que se espera de uma universidade, seja pelas suas instalações, limpeza, organização, beleza e qualificação do corpo acadêmico. Mas, não é do aspecto intelectual dessa viagem que quero falar e sim das aventuras. Teve de tudo, bagagem extraviada, avião quebrado e até o homem da mala vermelha.
Começando do começo... Como não podia deixar de ser, os dias que antecederam a ida para o EUA foram de ansiedade. O fato de não estar fluente no idioma, pra não dizer totalmente travada, potencializou ainda mais a angústia. Minha tábua de salvação seriam os dois companheiros de viagem: Marcos e Renata.
Acostumada a acordar cedinho para treinar, naquele sábado, levantar da cama às 3h30 da manhã para estar no aeroporto às 5h não foi nada demais. De mala pronta, com o suficiente para 10 dias nos States e espaço bastante para trazer umas “comprinhas”, passei na casa do amigo. Nessas horas, sempre impressiona a praticidade masculina. A mala do Marcos (não o mala do Marcos) tinha metade do tamanho da minha.
Bem, tentando fazer uma analogia, posso dizer que nossa viagem aos States é comparável a uma corrida de aventura, onde o que vale é a resistência, a paciência e o espírito de companheirismo.
Os desafios começaram no aeroporto. O avião que nos levou para São Paulo, nossa primeira escala e onde encontraríamos a Renata, chegou à cidade às 8h e pouco da manhã, mas só embarcaríamos para NY, nossa segunda escala, às 21h30.
Ficamos os três nos sentindo o próprio Tom Hanks, no filme “O Terminal”. O detalhe é que eu e Marcos tivemos de ficar com as malas aguardando pelo embarque internacional, que só começaria às 17h30. Então vamos contabilizar... 13 horas de espera no aeroporto de Guarulhos, nove delas arrastando nossas tralhas pra cima e pra baixo. Maravilha! Aliás, para Marcos, aquele foi um ensaio do que estaria por vir. As malas foram a sensação dessa viagem.
Mas até então tudo era festa. Todos na expectativa, animados e com energia suficiente para agüentar as cerca de 10h de vôo para NY. Alias, foi ai que começamos a perceber as diferenças entre o terceiro e o primeiro mundo.
Se o Brasil perde na qualidade da comida servida dentro das aeronaves, ganha de lavada nos quesitos beleza, aparência e atendimento das nossas comissárias de bordo. Algumas das senhoras aeromoças norte americanas pareciam ter saído de um filme de terror. Já no quesito overbooking, Brasil e EUA empataram. Eu, Marcos e Renata fomos testemunhas disso. Nossos acentos foram vendidos duas vezes. A pergunta era: quem sentaria no colo de quem? Bem, meus amigos tiveram um “desagradável” remanejamento da classe econômica para a classe executiva, enquanto eu fiquei no meu lugarzinho... De segunda.
A noite dentro de um avião nunca é tão agradável, ao menos para quem tenta dormir nas poltronas da classe econômica. Por isso, a chegada a NY foi um alívio. O embarque para Boston (até quem fim) levaria apenas duas horas, o que no total contabilizaria quase 36 horas de viagem.
Nesse meio tempo fomos apresentados ao “cafezinho” americano e além de descobrir que o café dos vizinhos do primeiro mundo é ralo, descobrimos também que nunca se deve pedir a versão “big” (grande), porque o “small” (pequeno) deles já é suficientemente gigante.
Bem, salvo aquelas coisinhas desagradáveis como ter de tirar os sapatos para fazer o reembarque e o fato da minha operadora de celular ter me deixado na mão, tudo correu bem até a chegada em Boston. Chegada em termos, porque minha mala... Essa resolveu curtir um pouquinho mais de NY e não chegou ao nosso destino. Ótimo! Seria a primeira oportunidade de experimentar o idioma. Na sessão de malas perdidas, tentava estabelecer um diálogo razoável com o atendente, Tavares, e Marcos me ajudava nessa árdua missão, até travar tudo.
Fabi: Marcos, o que foi que ele disse?
Marcos: ???
Fabi: Ai meu Deus... E agora?
Marcos: repeat, please???
Tavares: &*$#&%!
Fabi: Entendeu?
Marcos: Não.
Tavares: Perguntei aonde vocês vão ficar em Boston (em bom e claro português).
O cara era brasileiro, mineiríssimo... Encontrá-lo foi como, criança, estar perdida no supermercado e dar de cara com minha mãe.
Continua...
domingo, 29 de julho de 2007
Foi o Pan
Acabou. Esse domingo marcou o encerramento da maior competição esportiva das Américas – os XV Jogos Pan-Americanos Rio 2007. Pois é... Foi Pan. Até pareceu a primeira vez que o Brasil sediou os jogos. Quase ninguém nem se lembra de São Paulo, há 44 anos.
Uma coisa é fato: embora o tenha sido realizada na ‘Cidade Maravilhosa’, a competição mobilizou o País inteiro. Desde os cofres públicos até alma dos brasileiros. Um evento grandioso e impressionante, a começar pelo montante investido. O Pan custou ao Brasil R$ 3,9 bilhões. Recurso utilizado, entre outras coisas, para construção, reforma ou modernização dos 16 locais de competição. Sem falar na vila do Pan, formada por 17 prédios e 1.480 apartamentos. O Rio foi transformado em um imenso canteiro de obras durante aproximadamente quatro anos. Cerca de 46 mil pessoas foram empregadas para dar conta do recado e tentar concluir as obras no prazo, aliás, finalizadas mesmo só aos 42’ do segundo tempo. Somos brasileiros, não suíços! Dá um desconto!
A 15ª edição dos jogos trouxe ao Brasil 5.662 atletas de 42 países, um recorde na história do Pan. Homens e mulheres que competiram em 38 modalidades e 34 esportes. Como era de esperar, por estar em casa ou pela evolução dos próprios atletas, o Brasil consegui bater seu recorde de ouros – 54 das 161 medalhas conquistadas.
Alguns desses ouros foram ‘profetizados’ e tinham como protagonistas atletas que estampavam o favoritismo, como a seleção masculina de vôlei. Outros vieram de mãos até então anônimas, como as da menina do sertão pernambucano, Yane Marques, ouro e revelação em um esporte nada popular - o pentatlo moderno.
O Pan, com suas muitas histórias e surpresas, mexeu com o coração dos brasileiros, em muitos momentos emocionou. Mostrou ao País, tão conhecido pelo samba, sol e praia, o que o esporte pode fazer por seus cidadãos. Mais do que trazer ao Brasil milhares de turistas, mobilizar a economia e os gigantes da mídia, os jogos mostraram que o esporte é capaz de resgatar meninos da marginalidade, de criar novas e boas perspectivas para aqueles que têm como realidade senão a pobreza e o abandono. Revelou do que são constituídos os super atletas. Músculos? Nada disso... De disciplina, determinação, garra, emoção, perseverança e um bocado de outras características que encantam quem tiver olhos de ver.
O esporte mostrou (e mostra) que nossos jovens podem ter outros ídolos, que não apenas o ‘rock star’ ou o traficante do morro, e que podem sim chamar a atenção sem precisar queimar índios, matar os pais, espancar domésticas, atropelar crianças pelas ruas e outros tantos comportamentos ‘indisciplinados’.
Os jogos mostraram ao mundo que o esporte é uma das ferramentas mais eficazes para inclusão e desenvolvimento social. Quando bem direcionado, forma homens e mulheres que superam obstáculos, que sabem perder e ganhar, disciplinados e cooperativos. Ou você acha que os educadores orientam pais a matricularem seus filhinhos ‘indomáveis’ em aulas de karatê apenas para descer a mão nos coleguinhas dentro da área permitida? E porque será que aumenta cada vez mais o número de empresas que incentivam os funcionários a prática esportiva, revelando executivos que dividem, prazerosamente, o tempo entre as responsabilidades profissionais e o esporte amador?
O fato é que o Pan Rio 2007 deverá ser lembrado (espero eu) por todos os brasileiros. Seja pela organização, pela vaia ao presidente da República, pelos resultados dos nossos atletas, pela passionalidade (ou falta de educação?) dos nossos torcedores diante dos adversários, pelos talentos revelados e até mesmo pelos transtornos ao trânsito dos cariocas, que carinhosamente apelidaram a competição de Jogos Pânico-Americano. É o brasileiro sempre criativo!
Bom, mas e daí? O que fica depois do Pan? Depois de botar o ovo e cacarejar, será que a galinha vai cuidar de seus pintinhos? Depois de gastar quase R$ 4 bilhões em um evento que durou 16 dias, o que sobrará para os outros 154 dias de 2007 e para os anos que virão? Tenho lá minhas ressalvas.
Você sabe o quanto o Brasil investe no esporte? Não? Tudo bem, esses números não são tão divulgados como deveriam. Seja pela baixa expressividade, seja pela falta de uma política consolidada de investimento na atividade, embora a tal Lei de Incentivo.
Em 2007, dos R$ 1,5 trilhões do orçamento nacional, foram destinados ao Ministério do Esporte cerca de R$ 447 milhões; bem distante do R$ 2,6 bilhões abocanhados pelo Senado ou dos R$ 3,3 bilhões da Câmara dos Deputados. Tire dessa ‘grande’ monta os gastos administrativos e quanto deve sobrar?!
Pra nossa sorte ainda temos, Brasil afora, muitos heróis que investem tempo, buscam apoio e recursos (quando não tiram do próprio bolso) em projetos corajosos. Ações muitas vezes isoladas e ainda pouco, muito pouco reconhecidas. A tirar pelo fato de que os programas das TVs abertas destinados a divulgação dessas iniciativas são geralmente exibidos nos fins de semana em horários nada nobres.
Mas o que o governo (estou falando das três esferas) faz, de fato, no dia-a-dia? Insisto: depois da festa, o que sobrará? Nada contra o Pan, não me levem a mal. Mas, quantos projetos sociais de incentivo ao esporte, patrocinados pelo governo, você conhece em seu município?
O ministro do Esporte, Orlando Silva, fez um balanço da edição do XV Jogos e da participação do Brasil. De acordo com o ministro, o êxito do certame “mostra que o País está capacitado para sediar eventos internacionais e que o Brasil melhora a cada ano sua performance”.
Mas de que performance ele estava falando? É verdade seu ministro, o Brasil sabe fazer festa!
Uma coisa é fato: embora o tenha sido realizada na ‘Cidade Maravilhosa’, a competição mobilizou o País inteiro. Desde os cofres públicos até alma dos brasileiros. Um evento grandioso e impressionante, a começar pelo montante investido. O Pan custou ao Brasil R$ 3,9 bilhões. Recurso utilizado, entre outras coisas, para construção, reforma ou modernização dos 16 locais de competição. Sem falar na vila do Pan, formada por 17 prédios e 1.480 apartamentos. O Rio foi transformado em um imenso canteiro de obras durante aproximadamente quatro anos. Cerca de 46 mil pessoas foram empregadas para dar conta do recado e tentar concluir as obras no prazo, aliás, finalizadas mesmo só aos 42’ do segundo tempo. Somos brasileiros, não suíços! Dá um desconto!
A 15ª edição dos jogos trouxe ao Brasil 5.662 atletas de 42 países, um recorde na história do Pan. Homens e mulheres que competiram em 38 modalidades e 34 esportes. Como era de esperar, por estar em casa ou pela evolução dos próprios atletas, o Brasil consegui bater seu recorde de ouros – 54 das 161 medalhas conquistadas.
Alguns desses ouros foram ‘profetizados’ e tinham como protagonistas atletas que estampavam o favoritismo, como a seleção masculina de vôlei. Outros vieram de mãos até então anônimas, como as da menina do sertão pernambucano, Yane Marques, ouro e revelação em um esporte nada popular - o pentatlo moderno.
O Pan, com suas muitas histórias e surpresas, mexeu com o coração dos brasileiros, em muitos momentos emocionou. Mostrou ao País, tão conhecido pelo samba, sol e praia, o que o esporte pode fazer por seus cidadãos. Mais do que trazer ao Brasil milhares de turistas, mobilizar a economia e os gigantes da mídia, os jogos mostraram que o esporte é capaz de resgatar meninos da marginalidade, de criar novas e boas perspectivas para aqueles que têm como realidade senão a pobreza e o abandono. Revelou do que são constituídos os super atletas. Músculos? Nada disso... De disciplina, determinação, garra, emoção, perseverança e um bocado de outras características que encantam quem tiver olhos de ver.
O esporte mostrou (e mostra) que nossos jovens podem ter outros ídolos, que não apenas o ‘rock star’ ou o traficante do morro, e que podem sim chamar a atenção sem precisar queimar índios, matar os pais, espancar domésticas, atropelar crianças pelas ruas e outros tantos comportamentos ‘indisciplinados’.
Os jogos mostraram ao mundo que o esporte é uma das ferramentas mais eficazes para inclusão e desenvolvimento social. Quando bem direcionado, forma homens e mulheres que superam obstáculos, que sabem perder e ganhar, disciplinados e cooperativos. Ou você acha que os educadores orientam pais a matricularem seus filhinhos ‘indomáveis’ em aulas de karatê apenas para descer a mão nos coleguinhas dentro da área permitida? E porque será que aumenta cada vez mais o número de empresas que incentivam os funcionários a prática esportiva, revelando executivos que dividem, prazerosamente, o tempo entre as responsabilidades profissionais e o esporte amador?
O fato é que o Pan Rio 2007 deverá ser lembrado (espero eu) por todos os brasileiros. Seja pela organização, pela vaia ao presidente da República, pelos resultados dos nossos atletas, pela passionalidade (ou falta de educação?) dos nossos torcedores diante dos adversários, pelos talentos revelados e até mesmo pelos transtornos ao trânsito dos cariocas, que carinhosamente apelidaram a competição de Jogos Pânico-Americano. É o brasileiro sempre criativo!
Bom, mas e daí? O que fica depois do Pan? Depois de botar o ovo e cacarejar, será que a galinha vai cuidar de seus pintinhos? Depois de gastar quase R$ 4 bilhões em um evento que durou 16 dias, o que sobrará para os outros 154 dias de 2007 e para os anos que virão? Tenho lá minhas ressalvas.
Você sabe o quanto o Brasil investe no esporte? Não? Tudo bem, esses números não são tão divulgados como deveriam. Seja pela baixa expressividade, seja pela falta de uma política consolidada de investimento na atividade, embora a tal Lei de Incentivo.
Em 2007, dos R$ 1,5 trilhões do orçamento nacional, foram destinados ao Ministério do Esporte cerca de R$ 447 milhões; bem distante do R$ 2,6 bilhões abocanhados pelo Senado ou dos R$ 3,3 bilhões da Câmara dos Deputados. Tire dessa ‘grande’ monta os gastos administrativos e quanto deve sobrar?!
Pra nossa sorte ainda temos, Brasil afora, muitos heróis que investem tempo, buscam apoio e recursos (quando não tiram do próprio bolso) em projetos corajosos. Ações muitas vezes isoladas e ainda pouco, muito pouco reconhecidas. A tirar pelo fato de que os programas das TVs abertas destinados a divulgação dessas iniciativas são geralmente exibidos nos fins de semana em horários nada nobres.
Mas o que o governo (estou falando das três esferas) faz, de fato, no dia-a-dia? Insisto: depois da festa, o que sobrará? Nada contra o Pan, não me levem a mal. Mas, quantos projetos sociais de incentivo ao esporte, patrocinados pelo governo, você conhece em seu município?
O ministro do Esporte, Orlando Silva, fez um balanço da edição do XV Jogos e da participação do Brasil. De acordo com o ministro, o êxito do certame “mostra que o País está capacitado para sediar eventos internacionais e que o Brasil melhora a cada ano sua performance”.
Mas de que performance ele estava falando? É verdade seu ministro, o Brasil sabe fazer festa!
segunda-feira, 16 de julho de 2007
Errata de pé de página
A vida deveria nos oferecer um lugarzinho no rodapé da nossa história pessoal para eventuais erratas, como em tese de doutorado (as que não são plágio). Pelas vezes em que na infância e adolescência a gente foi bobo, foi ingênuo, foi indesculpavelmente romântico, cego e teimoso, devia haver uma errata possível. Como quando a gente acreditou que se fosse bonzinho ganharia aquela bicicleta; que todos os professores eram sábios e justos e todas as autoridades decentes; e quando a gente acreditou que pai e mãe eram imortais ou perfeitos. E que aquele namorado não estava saindo com a outra menina, e a melhor amiga não contaria nossos segredos.
Devia haver erratas que anulassem bobagens adultas: botei fora aquela oportunidade, não cuidei da minha grana, fui onipotente, perdi quem era tão precioso para mim, escolhi a gostosona em lugar da parceira alegre e terna; fiquei com aquele cara porque com ele seria mais divertido, mas no fundo eu não o queria como meu amigo e pai de meus filhos. Ofendi aquela pessoa que me faria bem e corri atrás de quem logo adiante ia me passar uma rasteira. Profissionalmente não me preparei, não me preveni, não refleti, não entendi nada, tomei as piores decisões. Ah, que bom seria se essas trapalhadas pudessem ser anuladas com uma boa errata. Em geral, não podem.
Lia Luft
Devia haver erratas que anulassem bobagens adultas: botei fora aquela oportunidade, não cuidei da minha grana, fui onipotente, perdi quem era tão precioso para mim, escolhi a gostosona em lugar da parceira alegre e terna; fiquei com aquele cara porque com ele seria mais divertido, mas no fundo eu não o queria como meu amigo e pai de meus filhos. Ofendi aquela pessoa que me faria bem e corri atrás de quem logo adiante ia me passar uma rasteira. Profissionalmente não me preparei, não me preveni, não refleti, não entendi nada, tomei as piores decisões. Ah, que bom seria se essas trapalhadas pudessem ser anuladas com uma boa errata. Em geral, não podem.
Lia Luft
Troque o relógio pela bússola
Você quer aprender a administrar o tempo?
Então esqueça o relógio - e pegue uma bússola.
Mais do que controlar as horas, os minutos e os segundos do dia, uma boa gestão do tempo exige, prioritariamente, a definição clara do rumo que você deseja dar à sua vida e sua carreira.
Disso resultará todo o resto: dias menos desgastantes, compromissos respeitados, tarefas realizadas no prazo programado, metas alcançadas com serenidade e convívio saudável com a família. (Mauro Silveira)
Então esqueça o relógio - e pegue uma bússola.
Mais do que controlar as horas, os minutos e os segundos do dia, uma boa gestão do tempo exige, prioritariamente, a definição clara do rumo que você deseja dar à sua vida e sua carreira.
Disso resultará todo o resto: dias menos desgastantes, compromissos respeitados, tarefas realizadas no prazo programado, metas alcançadas com serenidade e convívio saudável com a família. (Mauro Silveira)
domingo, 15 de julho de 2007
Pelas barbas do profeta
Acostumada, por conta do trabalho, a passar algumas noites fora de casa, essa era pra ser apenas mais uma semana dormindo há milhares de quilômetros dos meus travesseiros.
Tudo muito comum não fosse a infeliz idéia de dividir o quarto de hotel com um casal de colegas que também estaria no planalto central naqueles dias. ‘Nada de mais’, pensei comigo - levando em consideração apenas o fato serem amigos de longa data e que não me causariam nenhum tipo de constrangimento.
O fato de não serem do tipo que adoram uma noitada e não saírem à ‘caça’ só porque estão fora de casa pesou a favor. Depois, a divisão de quarto não seria por toda semana, apenas quatro dos sete dias que ficaria na cidade, o que me deixaria à vontade para acordar cedinho ou assistir filme até de madrugada. ‘Será ótimo! Não terei nem tempo para sentir saudades de casa’. Quanto engano!
Da querida dupla dinâmica, um deles – ele - foi meu pesadelo. Se fossemos um casal, essa viagem teria sido o início de uma crise conjugal. Embora todos os pontos positivos da personalidade do meu amigo e mais embora ainda a admiração que tenho por ele, descobri um fator incontestavelmente inaceitável: seu ronco. O abominável ronco.
Logo na primeira noite fui acordada por um barulho estranho, ainda que não muito alto. Era o ronco. Pois é... Quem vê cara, não vê coração... E bem menos o sistema respiratório. Como poderia imaginar?!
Mas, a noite passou sem tantos transtornos e não me incomodei com fato, que julguei perfeitamente administrável por mais três noites. Mal sabia eu que, na verdade, aquele era apenas um aperitivo do que estava por vir.
Foi na segunda noite que o bicho começou a pegar. Descobri que não é apenas a sensação de fome que me deixa irritada, não conseguir dormir também é algo problemático. Não que seja daquelas pessoas que precisam de silêncio absoluto, mas há barulhos e ‘barulhos’. Na época de residência universitária estava acostumada a dormir ouvindo batucada de samba, conversa fiada, televisão e todos os tipos de sons possíveis e imaginários. Mas, o tempo vai passando, as mordomias da vida de solteira aumentando e as manias também.
Nesse dia, não era nem batucada, nem ‘convesaiada’, o que embalava meu sono era a narração do jogo México X Argentina. A cada lance e-mo-ci-o-nan-te o locutor soltava seu famoso jargão, em som alto e rouco: ‘pelas barbas do profeta’.
Até aí tudo bem, embora ali já fosse o começo da contagem regressiva para as 5h30, hora em que ‘acordaria’ para dar minha corridinha matinal no parque da cidade.
A certa altura meu colega de quarto desligou a TV e relaxei. Quero dizer, pensei em relaxar.
Aos poucos, o silêncio da noite foi sendo invadido por um som estranho, vindo não sei de onde. A princípio pensei que estivesse sonhando e que acordei imaginando ter sido aquilo um pesadelo. “Mas se já estou acordada, porque continuo a ouvir esse barulho”? Ô meu Deus... Ele está roncando de novo... E mais alto ainda. ‘Pelas barbas do profeta’.
Talvez meu sono fosse maior e talvez ele não estivesse tão relaxado, a sinfonia teve momentos de trégua no decorrer da noite e consegui dar minhas cochiladas.
Durante o dia fiquei imaginando o que fazer para não cair na armadilha do ronco na noite seguinte. Bolei uma estratégia. O plano consistia em tentar me cansar ao máximo possível para desmaiar quando chegasse ao quarto e, assim como nossa outra colega, não acordar nem mesmo com um terremoto.
Então marquei uma corrida no parque com dois amigos (‘pangarés’ amados) e saí para matar as saudades de locais que freqüentava quando morava no planalto central. Ao retornar ao hotel meu colega já dormia, melhor, já roncava. ‘Putz! Me dei mal. Já sei, vou assistir TV até capotar’.
Outro engano! O sono havia chegado e quanto mais cansada ficava, mais aquele som ecoava em meus tímpanos. Numa mistura de irritação e desespero, começava a invejar o sono de pedra da ‘bunita’ que dormia na cama ao lado.
‘Vou acordá-lo. Mas não adianta, essa porcaria de ronco é uma doença. Só vou deixá-lo constrangido e ficarão os dois acordados’ (Mulheres Boazinhas Não Enriquecem, já dizia o título de um livro. Mas no meu caso, elas também não dormem).
Então, às 3h da manhã ligo para recepção do hotel, mas descubro que não havia nenhum quarto disponível. Já estava no limite de um ataque de nervos, e olha que nem estava na TPM.
Em meio aquele pesadelo fiquei imaginando como seria a quarta noite juntos e me desesperava ainda mais. As horas passaram lentamente até o momento de saltar da cama.
Junto ao ‘bom dia’ costumeiro veio a pergunta: dormiu bem? Poderia parecer irônico, mas ele era sincero. Claro que tive de dizer da minha noite em claro. Estava prestando um serviço de utilidade à sua esposa, afinal, santo de casa não faz mesmo milagres. Mas essas são daquelas coisas que só acredita quem vê, neste caso, quem ouve. Depois, não fosse minha cara de trapo e as olheiras, poderia ser exagero da minha parte. Como saber, se um roncava, outra hibernava e apenas eu de testemunha?
Como foi a quarta noite? Bem, antes de entregar os pontos, tentei de todas as formas remarcar meu vôo para aquele dia mesmo. Afinal, se fosse para passar a madrugada acordada, que fosse voando para casa.
É claro que, entre amigos, o episódio se tornou motivo de muita piada. A amizade continua a mesma com as conclusões de que 1) nunca mais iremos dividir o mesmo quarto e 2) ronco tornou-se quesito eliminatório no meu ‘processo seletivo’.
E, sem vôo disponível para aquela noite, o jeito foi seguir o conselho da ministra ‘relaxar... ’. Só relaxei!
Tudo muito comum não fosse a infeliz idéia de dividir o quarto de hotel com um casal de colegas que também estaria no planalto central naqueles dias. ‘Nada de mais’, pensei comigo - levando em consideração apenas o fato serem amigos de longa data e que não me causariam nenhum tipo de constrangimento.
O fato de não serem do tipo que adoram uma noitada e não saírem à ‘caça’ só porque estão fora de casa pesou a favor. Depois, a divisão de quarto não seria por toda semana, apenas quatro dos sete dias que ficaria na cidade, o que me deixaria à vontade para acordar cedinho ou assistir filme até de madrugada. ‘Será ótimo! Não terei nem tempo para sentir saudades de casa’. Quanto engano!
Da querida dupla dinâmica, um deles – ele - foi meu pesadelo. Se fossemos um casal, essa viagem teria sido o início de uma crise conjugal. Embora todos os pontos positivos da personalidade do meu amigo e mais embora ainda a admiração que tenho por ele, descobri um fator incontestavelmente inaceitável: seu ronco. O abominável ronco.
Logo na primeira noite fui acordada por um barulho estranho, ainda que não muito alto. Era o ronco. Pois é... Quem vê cara, não vê coração... E bem menos o sistema respiratório. Como poderia imaginar?!
Mas, a noite passou sem tantos transtornos e não me incomodei com fato, que julguei perfeitamente administrável por mais três noites. Mal sabia eu que, na verdade, aquele era apenas um aperitivo do que estava por vir.
Foi na segunda noite que o bicho começou a pegar. Descobri que não é apenas a sensação de fome que me deixa irritada, não conseguir dormir também é algo problemático. Não que seja daquelas pessoas que precisam de silêncio absoluto, mas há barulhos e ‘barulhos’. Na época de residência universitária estava acostumada a dormir ouvindo batucada de samba, conversa fiada, televisão e todos os tipos de sons possíveis e imaginários. Mas, o tempo vai passando, as mordomias da vida de solteira aumentando e as manias também.
Nesse dia, não era nem batucada, nem ‘convesaiada’, o que embalava meu sono era a narração do jogo México X Argentina. A cada lance e-mo-ci-o-nan-te o locutor soltava seu famoso jargão, em som alto e rouco: ‘pelas barbas do profeta’.
Até aí tudo bem, embora ali já fosse o começo da contagem regressiva para as 5h30, hora em que ‘acordaria’ para dar minha corridinha matinal no parque da cidade.
A certa altura meu colega de quarto desligou a TV e relaxei. Quero dizer, pensei em relaxar.
Aos poucos, o silêncio da noite foi sendo invadido por um som estranho, vindo não sei de onde. A princípio pensei que estivesse sonhando e que acordei imaginando ter sido aquilo um pesadelo. “Mas se já estou acordada, porque continuo a ouvir esse barulho”? Ô meu Deus... Ele está roncando de novo... E mais alto ainda. ‘Pelas barbas do profeta’.
Talvez meu sono fosse maior e talvez ele não estivesse tão relaxado, a sinfonia teve momentos de trégua no decorrer da noite e consegui dar minhas cochiladas.
Durante o dia fiquei imaginando o que fazer para não cair na armadilha do ronco na noite seguinte. Bolei uma estratégia. O plano consistia em tentar me cansar ao máximo possível para desmaiar quando chegasse ao quarto e, assim como nossa outra colega, não acordar nem mesmo com um terremoto.
Então marquei uma corrida no parque com dois amigos (‘pangarés’ amados) e saí para matar as saudades de locais que freqüentava quando morava no planalto central. Ao retornar ao hotel meu colega já dormia, melhor, já roncava. ‘Putz! Me dei mal. Já sei, vou assistir TV até capotar’.
Outro engano! O sono havia chegado e quanto mais cansada ficava, mais aquele som ecoava em meus tímpanos. Numa mistura de irritação e desespero, começava a invejar o sono de pedra da ‘bunita’ que dormia na cama ao lado.
‘Vou acordá-lo. Mas não adianta, essa porcaria de ronco é uma doença. Só vou deixá-lo constrangido e ficarão os dois acordados’ (Mulheres Boazinhas Não Enriquecem, já dizia o título de um livro. Mas no meu caso, elas também não dormem).
Então, às 3h da manhã ligo para recepção do hotel, mas descubro que não havia nenhum quarto disponível. Já estava no limite de um ataque de nervos, e olha que nem estava na TPM.
Em meio aquele pesadelo fiquei imaginando como seria a quarta noite juntos e me desesperava ainda mais. As horas passaram lentamente até o momento de saltar da cama.
Junto ao ‘bom dia’ costumeiro veio a pergunta: dormiu bem? Poderia parecer irônico, mas ele era sincero. Claro que tive de dizer da minha noite em claro. Estava prestando um serviço de utilidade à sua esposa, afinal, santo de casa não faz mesmo milagres. Mas essas são daquelas coisas que só acredita quem vê, neste caso, quem ouve. Depois, não fosse minha cara de trapo e as olheiras, poderia ser exagero da minha parte. Como saber, se um roncava, outra hibernava e apenas eu de testemunha?
Como foi a quarta noite? Bem, antes de entregar os pontos, tentei de todas as formas remarcar meu vôo para aquele dia mesmo. Afinal, se fosse para passar a madrugada acordada, que fosse voando para casa.
É claro que, entre amigos, o episódio se tornou motivo de muita piada. A amizade continua a mesma com as conclusões de que 1) nunca mais iremos dividir o mesmo quarto e 2) ronco tornou-se quesito eliminatório no meu ‘processo seletivo’.
E, sem vôo disponível para aquela noite, o jeito foi seguir o conselho da ministra ‘relaxar... ’. Só relaxei!
segunda-feira, 2 de julho de 2007
terça-feira, 19 de junho de 2007
Uma nova história... 70.3
Faltando 89 dias para o Ironman 70.3 (e 88 pra entrar nos 30) começo a sentir o tal friozinho na barriga e um monte de outras sensações.
A primeira vez que ouvi falar nessa prova nem de longe imaginava um dia vir a participar dela. Aliás, o triathlon não era uma modalidade que me agradava. Além de considerá-lo elitista, nunca tive vocação para esportes que exigissem força física. Aquela sensação de que seu coração vai saltar pela boca ou de que a qualquer momento você pode ter um ‘piripaque’ e parar de respirar... Me deixa em pânico. Prefiro sentir o coração confortável. Devagar e sempre, esse é meu lema... E de preferência com desafios e superações, para apimentar a conquista. Por isso sempre preferi as modalidades que exigissem mais resistência e concentração do que explosão.
Mas, em 2006, tive a oportunidade de conhecer a outra vertente desse esporte. Em meados de junho, Júnior (o treinador) havia ligado para comentar que três amigos, que moravam em Maceió, iriam à Brasília participar do Ironman 70.3.
- Ótimo! Diz a eles que podem contar comigo pro que for necessário.
Não adianta tentar explicar. Para entender o que se passa em um Ironman, é preciso estar na prova. E pra não repetir toda história, quem tiver curiosidade de saber o que aconteceu naquela época, pode acessar os textos antigos... 70.3 do começo e 70.3 – 2ª parte.
Foi depois de vivenciar aqueles dias que minha opinião sobre o triathlon começou a mudar. Descobri que nem tudo nesse esporte era apenas força física e que havia provas que exigiam além de resistência, muita paciência e perseverança.
O desafio despertou meu interesse, mas, mesmo assim, nem de longe cogitava a hipótese de vir a fazer um Ironman.
- Nadar 1.900 m, pedalar 90 km e correr 21 km... Tudo de uma tacada só ? Tá maluco!
Dizia aos amigos que me encorajavam ao desafio (e olha que estou falando o Ironman 70.3, ou seja, metade da distância do Ironman. Multiplica isso por dois e veja o que é desafio de verdade).
Bem, 2007 chegou e lá vai eu parar para pensar no que estabeleceria de metas, objetivos e desafios para os próximos 12 meses.
Como o ano anterior havia sido de muitas conquistas profissionais, sabia que a tendência para 2007 era de certa estabilização. Mas, de espírito inquieto, tinha de estabelecer algum objetivo que pudesse por em prova minha capacidade de superação.
A essa altura o esporte já havia se tornado um ‘vício’... O Ironman era algo que desafiava... Ou seja, a fome e vontade de comer estavam ali, bem juntinhas. Só faltava um empurrãozinho.
- Você tem medo de que? Já fez uma corrida de aventura de 24 horas e acha que não vai dar conta de uma prova de seis horas?
Bem, o resultado a provocação, feita pelo Júnior, vocês já podem imaginar.
Quando descobri que a prova de 2007 seria no dia 16 de setembro – um dia depois de completar 30 anos - decidi que esse seria meu presente de aniversário. Trintão em grande estilo.
Já sei... Você pode estar pensando que grande estilo é uma festa de arromba ou uma viagem maravilhosa. Tudo bem, também adoro por o pé na estrada, mas.... Viva as diferenças!!!
Desde a decisão até hoje, já se vão nove meses de treinos. Puxa, uma gestação!
Há amigos que admiram a coragem, há outros que me acham maluca. Sem problemas! Há horas que também acho.
Todas as vezes que acordo às 4h30 da manhã para pedalar 70, 80, 90 km, em baixo de chuva, nos domingos em que saio de casa para correr 35 km ou quando no meio de um treino sinto as pernas queimarem... Paro... Penso... E aí? É isso? Tem certeza?
Quem, em santa consciência, faria o mesmo?! Bem, eu e mais um bando de oito ou dez adoráveis ‘malucos’ que vez por outra treinam comigo.
Se você não pratica esporte, provavelmente não entenderá o que vou dizer. Acontece que o prazer desse ‘vício’ supera qualquer cansaço físico, que, aliás, é passageiro.
Mas, quando alguém se propõe a encarar um desafio que vai exigir treinamento e dedicação (sem falar da paciência, tolerância, perseverança, etc., etc., etc.) nem tudo são flores, por mais motivado que você esteja.
Se há momentos onde o treino é uma diversão, com direito a brincadeiras durante o pedal ou entre as braçadas na piscina... Horas em que, ao vencer uma barreira, você se sente a própria Mulher Maravilha ou o Wolverine... Também há momentos de preguiça, de tédio, de dúvida, de aborrecimento, de insônia e de cansaço mesmo. Ahhhh... E quando esses momentos se misturam a rebeldia dos hormônios femininos... Xiii... Sai de baixo!
Confesso: Já houve domingo em que troquei o pedal por uma manhã de praia. Dias em que dei uma ‘arrumadinha’ nos horários para não perder a ‘farra’ com os amigos. Outros em que, sem culpa, matei o treino da manhã para ficar um pouco mais na cama. Tudo pra ter a certeza de que não havia pirado de vez e que esse ‘vício’ não havia sufocado outros prazeres.
De uma forma ou de outra, todos esses momentos só deixam ainda mais flagrante o fato de que o ser humano é movido por fases e pior do que vivenciar essa montanha russa de emoções é a sensação de ter abandonado um projeto no meio do caminho. E isso acaba valendo para todas as outas coisas da vida.
A primeira vez que ouvi falar nessa prova nem de longe imaginava um dia vir a participar dela. Aliás, o triathlon não era uma modalidade que me agradava. Além de considerá-lo elitista, nunca tive vocação para esportes que exigissem força física. Aquela sensação de que seu coração vai saltar pela boca ou de que a qualquer momento você pode ter um ‘piripaque’ e parar de respirar... Me deixa em pânico. Prefiro sentir o coração confortável. Devagar e sempre, esse é meu lema... E de preferência com desafios e superações, para apimentar a conquista. Por isso sempre preferi as modalidades que exigissem mais resistência e concentração do que explosão.
Mas, em 2006, tive a oportunidade de conhecer a outra vertente desse esporte. Em meados de junho, Júnior (o treinador) havia ligado para comentar que três amigos, que moravam em Maceió, iriam à Brasília participar do Ironman 70.3.
- Ótimo! Diz a eles que podem contar comigo pro que for necessário.
Não adianta tentar explicar. Para entender o que se passa em um Ironman, é preciso estar na prova. E pra não repetir toda história, quem tiver curiosidade de saber o que aconteceu naquela época, pode acessar os textos antigos... 70.3 do começo e 70.3 – 2ª parte.
Foi depois de vivenciar aqueles dias que minha opinião sobre o triathlon começou a mudar. Descobri que nem tudo nesse esporte era apenas força física e que havia provas que exigiam além de resistência, muita paciência e perseverança.
O desafio despertou meu interesse, mas, mesmo assim, nem de longe cogitava a hipótese de vir a fazer um Ironman.
- Nadar 1.900 m, pedalar 90 km e correr 21 km... Tudo de uma tacada só ? Tá maluco!
Dizia aos amigos que me encorajavam ao desafio (e olha que estou falando o Ironman 70.3, ou seja, metade da distância do Ironman. Multiplica isso por dois e veja o que é desafio de verdade).
Bem, 2007 chegou e lá vai eu parar para pensar no que estabeleceria de metas, objetivos e desafios para os próximos 12 meses.
Como o ano anterior havia sido de muitas conquistas profissionais, sabia que a tendência para 2007 era de certa estabilização. Mas, de espírito inquieto, tinha de estabelecer algum objetivo que pudesse por em prova minha capacidade de superação.
A essa altura o esporte já havia se tornado um ‘vício’... O Ironman era algo que desafiava... Ou seja, a fome e vontade de comer estavam ali, bem juntinhas. Só faltava um empurrãozinho.
- Você tem medo de que? Já fez uma corrida de aventura de 24 horas e acha que não vai dar conta de uma prova de seis horas?
Bem, o resultado a provocação, feita pelo Júnior, vocês já podem imaginar.
Quando descobri que a prova de 2007 seria no dia 16 de setembro – um dia depois de completar 30 anos - decidi que esse seria meu presente de aniversário. Trintão em grande estilo.
Já sei... Você pode estar pensando que grande estilo é uma festa de arromba ou uma viagem maravilhosa. Tudo bem, também adoro por o pé na estrada, mas.... Viva as diferenças!!!
Desde a decisão até hoje, já se vão nove meses de treinos. Puxa, uma gestação!
Há amigos que admiram a coragem, há outros que me acham maluca. Sem problemas! Há horas que também acho.
Todas as vezes que acordo às 4h30 da manhã para pedalar 70, 80, 90 km, em baixo de chuva, nos domingos em que saio de casa para correr 35 km ou quando no meio de um treino sinto as pernas queimarem... Paro... Penso... E aí? É isso? Tem certeza?
Quem, em santa consciência, faria o mesmo?! Bem, eu e mais um bando de oito ou dez adoráveis ‘malucos’ que vez por outra treinam comigo.
Se você não pratica esporte, provavelmente não entenderá o que vou dizer. Acontece que o prazer desse ‘vício’ supera qualquer cansaço físico, que, aliás, é passageiro.
Mas, quando alguém se propõe a encarar um desafio que vai exigir treinamento e dedicação (sem falar da paciência, tolerância, perseverança, etc., etc., etc.) nem tudo são flores, por mais motivado que você esteja.
Se há momentos onde o treino é uma diversão, com direito a brincadeiras durante o pedal ou entre as braçadas na piscina... Horas em que, ao vencer uma barreira, você se sente a própria Mulher Maravilha ou o Wolverine... Também há momentos de preguiça, de tédio, de dúvida, de aborrecimento, de insônia e de cansaço mesmo. Ahhhh... E quando esses momentos se misturam a rebeldia dos hormônios femininos... Xiii... Sai de baixo!
Confesso: Já houve domingo em que troquei o pedal por uma manhã de praia. Dias em que dei uma ‘arrumadinha’ nos horários para não perder a ‘farra’ com os amigos. Outros em que, sem culpa, matei o treino da manhã para ficar um pouco mais na cama. Tudo pra ter a certeza de que não havia pirado de vez e que esse ‘vício’ não havia sufocado outros prazeres.
De uma forma ou de outra, todos esses momentos só deixam ainda mais flagrante o fato de que o ser humano é movido por fases e pior do que vivenciar essa montanha russa de emoções é a sensação de ter abandonado um projeto no meio do caminho. E isso acaba valendo para todas as outas coisas da vida.
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