domingo, 29 de julho de 2007

Foi o Pan

Acabou. Esse domingo marcou o encerramento da maior competição esportiva das Américas – os XV Jogos Pan-Americanos Rio 2007. Pois é... Foi Pan. Até pareceu a primeira vez que o Brasil sediou os jogos. Quase ninguém nem se lembra de São Paulo, há 44 anos.

Uma coisa é fato: embora o tenha sido realizada na ‘Cidade Maravilhosa’, a competição mobilizou o País inteiro. Desde os cofres públicos até alma dos brasileiros. Um evento grandioso e impressionante, a começar pelo montante investido. O Pan custou ao Brasil R$ 3,9 bilhões. Recurso utilizado, entre outras coisas, para construção, reforma ou modernização dos 16 locais de competição. Sem falar na vila do Pan, formada por 17 prédios e 1.480 apartamentos. O Rio foi transformado em um imenso canteiro de obras durante aproximadamente quatro anos. Cerca de 46 mil pessoas foram empregadas para dar conta do recado e tentar concluir as obras no prazo, aliás, finalizadas mesmo só aos 42’ do segundo tempo. Somos brasileiros, não suíços! Dá um desconto!

A 15ª edição dos jogos trouxe ao Brasil 5.662 atletas de 42 países, um recorde na história do Pan. Homens e mulheres que competiram em 38 modalidades e 34 esportes. Como era de esperar, por estar em casa ou pela evolução dos próprios atletas, o Brasil consegui bater seu recorde de ouros – 54 das 161 medalhas conquistadas.
Alguns desses ouros foram ‘profetizados’ e tinham como protagonistas atletas que estampavam o favoritismo, como a seleção masculina de vôlei. Outros vieram de mãos até então anônimas, como as da menina do sertão pernambucano, Yane Marques, ouro e revelação em um esporte nada popular - o pentatlo moderno.

O Pan, com suas muitas histórias e surpresas, mexeu com o coração dos brasileiros, em muitos momentos emocionou. Mostrou ao País, tão conhecido pelo samba, sol e praia, o que o esporte pode fazer por seus cidadãos. Mais do que trazer ao Brasil milhares de turistas, mobilizar a economia e os gigantes da mídia, os jogos mostraram que o esporte é capaz de resgatar meninos da marginalidade, de criar novas e boas perspectivas para aqueles que têm como realidade senão a pobreza e o abandono. Revelou do que são constituídos os super atletas. Músculos? Nada disso... De disciplina, determinação, garra, emoção, perseverança e um bocado de outras características que encantam quem tiver olhos de ver.

O esporte mostrou (e mostra) que nossos jovens podem ter outros ídolos, que não apenas o ‘rock star’ ou o traficante do morro, e que podem sim chamar a atenção sem precisar queimar índios, matar os pais, espancar domésticas, atropelar crianças pelas ruas e outros tantos comportamentos ‘indisciplinados’.
Os jogos mostraram ao mundo que o esporte é uma das ferramentas mais eficazes para inclusão e desenvolvimento social. Quando bem direcionado, forma homens e mulheres que superam obstáculos, que sabem perder e ganhar, disciplinados e cooperativos. Ou você acha que os educadores orientam pais a matricularem seus filhinhos ‘indomáveis’ em aulas de karatê apenas para descer a mão nos coleguinhas dentro da área permitida? E porque será que aumenta cada vez mais o número de empresas que incentivam os funcionários a prática esportiva, revelando executivos que dividem, prazerosamente, o tempo entre as responsabilidades profissionais e o esporte amador?

O fato é que o Pan Rio 2007 deverá ser lembrado (espero eu) por todos os brasileiros. Seja pela organização, pela vaia ao presidente da República, pelos resultados dos nossos atletas, pela passionalidade (ou falta de educação?) dos nossos torcedores diante dos adversários, pelos talentos revelados e até mesmo pelos transtornos ao trânsito dos cariocas, que carinhosamente apelidaram a competição de Jogos Pânico-Americano. É o brasileiro sempre criativo!

Bom, mas e daí? O que fica depois do Pan? Depois de botar o ovo e cacarejar, será que a galinha vai cuidar de seus pintinhos? Depois de gastar quase R$ 4 bilhões em um evento que durou 16 dias, o que sobrará para os outros 154 dias de 2007 e para os anos que virão? Tenho lá minhas ressalvas.

Você sabe o quanto o Brasil investe no esporte? Não? Tudo bem, esses números não são tão divulgados como deveriam. Seja pela baixa expressividade, seja pela falta de uma política consolidada de investimento na atividade, embora a tal Lei de Incentivo.

Em 2007, dos R$ 1,5 trilhões do orçamento nacional, foram destinados ao Ministério do Esporte cerca de R$ 447 milhões; bem distante do R$ 2,6 bilhões abocanhados pelo Senado ou dos R$ 3,3 bilhões da Câmara dos Deputados. Tire dessa ‘grande’ monta os gastos administrativos e quanto deve sobrar?!

Pra nossa sorte ainda temos, Brasil afora, muitos heróis que investem tempo, buscam apoio e recursos (quando não tiram do próprio bolso) em projetos corajosos. Ações muitas vezes isoladas e ainda pouco, muito pouco reconhecidas. A tirar pelo fato de que os programas das TVs abertas destinados a divulgação dessas iniciativas são geralmente exibidos nos fins de semana em horários nada nobres.

Mas o que o governo (estou falando das três esferas) faz, de fato, no dia-a-dia? Insisto: depois da festa, o que sobrará? Nada contra o Pan, não me levem a mal. Mas, quantos projetos sociais de incentivo ao esporte, patrocinados pelo governo, você conhece em seu município?

O ministro do Esporte, Orlando Silva, fez um balanço da edição do XV Jogos e da participação do Brasil. De acordo com o ministro, o êxito do certame “mostra que o País está capacitado para sediar eventos internacionais e que o Brasil melhora a cada ano sua performance”.

Mas de que performance ele estava falando? É verdade seu ministro, o Brasil sabe fazer festa!


Um comentário:

  1. Mexeu com minha alma mesmo.
    Não entendo nada de esportes, mas de torcida eu entendo mto bem...
    Vai ficar na história e como meu pequeno filhote disse: Este é o meu primeiro Pan.
    Qto aos investimentos... assombrosos... espero que coisa mais simples sejam feitas, poque de bomba barulhentas o país tá cheio, precismos de tiros certiros e silenciosos que façam a diferença.

    Ahhhh...
    Mas a Fabí atleta vai para China ou espera para ir ao México?

    bjo

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