domingo, 21 de março de 2010

Audiência com Deus

A pauta ainda não está fechada, mas na minha próxima audiência com Deus vou pedir a revisão de algumas leis um tanto injustas.

Embora não tenha me nomeado porta voz da humanidade, acho que Ele não é do tipo que recusa conselhos. Além do mais, depois de tantos anos (luz) na gestão do universo, algumas mudanças podem até fazer bem para humanidade.

Bem, dentre os itens que proporei revisão, há um especial que está no topo da lista. Vou sugerir uma emenda à Lei de Ação e Reação, proibindo idosos de sofrer, principalmente aqueles que levaram uma vida digna e repleta de sacrifícios.

Com as mudanças na Constituição Celeste eles passariam a ter privilégios, regalias e todos os tipos de mimos que fazem bem a alma.

A emenda que apresentarei ao Supremo determina que idosos não podem adoecer, nem da mente, nem do físico. Nada de dores musculares, osteoporose, doenças de pele e disfunções gastrointestinais. Nada de picadas de agulha, remédios amargos ou muletas. Vovôs e vovós nas filas do nosso eficiente SUS, sendo humilhados por tentar usufruir de um direito, adquirido à custa de muitos impostos? Terminantemente proibido!

Para eles a morte deverá chegar de maneira sutil, como uma bateria que vai descarregando aos poucos. Nenhum acidente ou internações.

No setor de embarque do aeroporto me deparei com um senhor de corpo franzino, curvado, calças acima da cintura, óculos de lente amarela (amarela mesmo) e movimentos lentos. A esteira onde era feita a inspeção das bagagens de mão (raios-x) era só dele. Ninguém ousava apressá-lo ou reclamar do seu ritmo. Naquela cena, meu e outros olhares eram de contemplação.

E assim deveria ser, sempre! Eles não deveriam lidar com atendentes de loja mal educados, enfermeiros impacientes, netos mimados, filhos egoístas ou tão pouco pedir esmolas, dormir nas ruas ou ficar abandonados em asilos. Jamais deveriam ser aborrecidos com brigas mesquinhas de família.

Aparelhos para surdez e dentadura? Nem pensar. Eles deverão ter liberdade para comer e ouvir os belos sons que a natureza pode oferecer. Para o restante dos barulhos, fofocas e reclamações sem fim, caberia a audição seletiva.

Passada certa idade, o trabalho deveria ser hobby e não um determinante para o sustento. E se o Alzheimer os atingisse, que os fizesse perder apenas as lembranças dolorosas.

Para eles... bicicleta, banho de mar, bolinho de chuva (feitos pelos netos), caminhadas no parque, jogo de xadrez, muito tricô, uma rede e um livro e, por que não, salto de pára-quedas, trilhas no parque... Enfim, tudo o quando a mente pudesse e quisesse acompanhar.

Já dizia Carlos Drummond de Andrade que “há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons”. Então, para os nossos idosos, doses diárias de bombons, de todos os sabores.

Mas, esse é apenas um item da minha pauta, o que vocês proporiam ao Magnânimo?

segunda-feira, 15 de março de 2010

Eles são indispensáveis

Entre os muitos personagens que passam pela nossa vida, os dias que passaram me convidaram a refletir sobre um em especial – os amigos.

O honrado Aurélio diz que amigo é 1. Que é ligado a outrem por laços de amizade. 2. Simpático, acolhedor. 3.Que ampara ou defende; protetor... Entre muitas outras definições.

Na verdade, nos acostumamos a utilizar a palavra “amigo” de uma maneira genérica e instituímos uma escala de valores. Nela há o amigo “Básico”, o amigo “Premium” e aquele “Reserva Especial”, raríssimo de se encontrar e seu cultivo rende frutos de sabor inigualável. Mas, esqueçam as generalidades, hoje quero falar sobre os amigos mesmo.

Dias atrás, uma amiga, daquelas que não mede esforços para ajudar alguém, contava sobre suas aventuras do final de semana, onde trocara a psicologia pela carpintaria. Casada a pouco mais de um ano, já fazia alguns meses que ela vinha perseguindo a meta da casa própria. Não que o dinheiro estivera sobrando, ela simplesmente estava decidida a não desperdiçar (mais) dim dim com aluguel. Claro que, com a coragem e a persistência que são suas características, ela conseguiu.

Mas, depois de garantida a compra, o dilema era saber se faziam os concertos no apartamento ou se o mobiliavam. Escolha difícil e que foi solucionada rapidinho. Os amigos, de imediato, se prontificaram a cuidar da reforma do apartamento. Fizeram um mutirão para lixar, pintar e concertar tudo que podiam. Quem tinha alergia tratou de tomar umas bolinhas para evitar crises e quem tinha trabalho trocou o descanso pelo turno extra. O objetivo era um só: arrumar a casa da amiga e fazê-la economizar bons trocados.

Enquanto ela me contava sobre aquele mutirão eu pensava sobra importância dessas figuras em nossa vida. Quanto tempo leva para construirmos essas relações de amizade? De que material elas são feitas? São resistentes a criptonita?

Não arriscaria uma teoria. Mas, posso dizer que amizades se constroem com o tempo. São edificadas com risos, com aborrecimentos, com dedicação, companheirismo, com desentendimentos e, sobretudo, com o compartilhar de valores. Às vezes elas ficam abaladas, mas, se há respeito e compreensão, são restabelecidas, mesmo que leve um tempinho.

Amizades são resistentes a distância geográfica e ao passar dos anos. E chega um momento em que eles – os amigos – passam a ter as mesmas prerrogativas de mãe, pai ou irmão mais velho.

E engana-se quem acredita que amigos são sempre uma boa companhia e dizem apenas coisas boas a nosso respeito. Ora, ora... Pessoas sempre “boazinhas” não são amigos, são políticos.

A amizade implica em amar e quem ama colabora com o crescimento do outro. O que significa que os amigos, muitas vezes, irão nos confrontar e dizer verdades nem sempre agradáveis. Mas, ainda assim são capazes de respeitar a nossa individualidade, nosso tempo e as nossas escolhas.

Amigos - sejam pais, irmãos, namorados, esposas ou amigos – nos fazem perceber que família vai muito além do sangue e que esse sentimento, por vezes tão mal interpretado, chamado amor, pode ser multiplicado por milhares.

Felizes de quem os têm!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Ter ou não ter...

O post da semana passada causou certo frenesi. Mas isso já era de se esperar, pois toquei num ponto um tanto delicado. Afinal, com mãe não se mexe, não é verdade?

Até que uma amiga, daquelas que me inspiram a maternidade, levantou a seguinte questão: “E aqueles casais que optam por não ter filhos? Porque você não fala deles?” Ela estava um tanto abusada, é verdade. Mas amiga tem esse direito.

Pensei, pensei, pensei... o que a danada queria dizer com isso?

Tendo a mim mesmo como exemplo, passei a refletir sobre o assunto e muitas coisas vieram à mente.... Será que não ter “rebentos” seria uma opção egoísta e conveniente?

Para alguns talvez seja. Afinal, maternidade (ou paternidade) é um sacerdócio. Dentro das minhas crenças pessoais, os filhos são seres que nos foram confiados para que possamos ajudá-los a crescer, em todos os aspectos. E como dedicar-se a tal missão enquanto nossos interesses estão voltados para questões ainda egoístas e de satisfação a curto prazo?

Olhando por esse ângulo, não tê-los pode ser egoísmo sim. Ou pode não ser... Há pessoas que simplesmente adotaram outras prioridades na sua lista de realizações pessoais. Há casais, mais iluminados, que conseguem transcender nossa pequenina noção de família e se realizam dedicando-se a outras pessoas, anônimas ou não.

Por mais que pense no assunto só consigo voltar à mesma pergunta: o que, verdadeiramente, nos motiva? O que buscamos?

Crianças são lindas! Talvez nenhum outro ser no planeta tenha tanta habilidade para aproximar e reconciliar pessoas quanto esses pequeninos. Sabiam que uma gargalhada dessas “fadas” disfarçadas de pequenos mortais pode ser terapêutica?

Mas, para que crianças cresçam emocionalmente saudáveis é preciso provas de amor, diárias. E não me refiro apenas aos afagos na cabeça, beijinhos de boa-noite e noites em claro.

Amor significa esforço, esforço demanda tempo e, normalmente, desgasta. Saber ouvir faz parte do esforço da atenção. Para ouvir, precisamos renunciar ao nosso tempo, concentrar-se e experimentar o mundo de quem fala, ainda que seja muito diferente do nosso. Isso é amor.

Acontece que nem todos estão dispostos a isso e optam por não se arriscar. Egoísmo, medo, insegurança, momento? Não sei... Deixo a avaliação para vocês.

Mas não acredito que haja uma “fórmula” certa, tipo “se casou, tem de ter filhos”. Felicidade e realização são muito subjetivas para serem taxadas.

E... Para aqueles que duvidam... Sim! Pretendo ter filhos. Um ou dois! Apenas não sei quando. Por enquanto, estou no empenho por ser menos “general” e mais humana.