sábado, 30 de dezembro de 2006

Um casório pra fechar o ano bem

Entre as coisas que emocionam uma mulher, poucas eram tão indiferentes a mim quanto ao casamento. Eram!

O dia 29 de dezembro de 2006 entrou para a lista das datas mais emocionantes dessas quase três décadas. Foi o casamento dos meus mais que amigos, irmãos, Lúcia e Marcelo.

Lembro como se fosse ontem...
Era uma noite qualquer da semana e liguei pra Lúcia, que há um bom tempo estava sem namorado, convidando-a para sairmos. Queria que ela conhecesse o David e Marcelo, dois amigos de aventura.

Na verdade, queria que Lúcia conhecesse Marcelo. Já tinha tentado apresentar outros amigos a ela, mas tudo sem muito sucesso... Apenas boas, muitas, risadas.
No encontro, Marcelo já chegou atrasado (nada muito bom para a primeira impressão). Na verdade, estava um tanto descrente da possibilidade de aproximá-los. Sabia que eram muito diferentes.

Lú... Arquiteta que admiro pela inteligência, sensibilidade e sua imensa capacidade de se adequar a situações adversas, era difícil de agradar. Marcelo, ainda na faculdade de Biologia, estava na fase “carpe diem”. Tratava-se de um amigo que admirava pela sua habilidade “safa”, pela sua característica protetora, sua personalidade decidida e autêntica. Um animado companheiro de aventura. Mas, o conhecia suficientemente para saber do seu gênio nada fácil de administrar.
Ainda assim, era só uma tentativa.

O fato é que aquela tal noite não produziu muitos efeitos nem em um nem em outro. Então, dar uma forcinha para aproximação deles foi algo tentador e inevitável.
Confabulando com outra amiga – Gisele - perguntei o que ela acharia se eu desse o telefone da Lúcia para Marcelo.
- Ela vai te odiar. Mas pode dar. Eu não conto nada.
- Combinado.

No dia seguinte, lembro que estava sentada na redação da TV aguardando um telefone para concluir a produção de pauta quando liguei para Marcelo.
Tentei sondar o que ele havia achado de Lúcia. Os comentários foram monossilábicos, mas ficou animado quando disse que minha amiga havia falado bem sobre ele.
- Porque você não liga pra ela?
- Ligar? Mas ela nem me deu seu telefone.
- Mas eu tenho. Liga. Convida pra ir ao cinema, fazer qualquer coisa. Ela adora cinema.
- Mas será que ela vai gostar?
- Com certeza! (foi uma mentirinha de boa fé)

Claro que ele não seria bobo em perder a oportunidade e achando que estava com a faca e o queijo nas mãos... Ligou. É claro que a Lúcia dispensou o rapaz. Mas, Marcelo não desistiu tão fácil. Era genioso... (para felicidade de todos)

Do outro lado, eu e Gisele tentávamos dar uma forcinha ao ‘acaso’.
- Vai Lú... É só um cinema. Nada de mais. Aceita o convite do cara.

Finalmente... Um dia, no trabalho, encontro Lúcia e ela já vai abrindo aquele sorrisão característico e com seus trejeitos paraenses foi me perguntando...
- Éeeeegua... O que foi que você me arrumou hein?

Não me lembro ao certo, mas devia ser meados de 2001.
Nesses anos todos acompanhei a evolução dessa história... Com cenas boas e outras nem tanto. Muito aprendizado. Com eles aprendi que relacionamento exige concessão... Sem anulação. Descobri que as brigas e desentendimentos fazem parte, mas que não podem chegar ao extremo e que devemos calar antes que isso aconteça. Aprendi que é preciso respirar fundo e refletir antes de tomar qualquer atitude precipitada (minha especialidade) e me ensinaram também a respeitar as diferenças.

Hoje, me orgulho desses irmãos. Vi meu amigo amadurecer como homem, profissional, amigo e companheiro. Vi minha amiga ceder, aprender, ensinar e dividir planos. Nada de perfeição. São um casal como qualquer outro, com suas inúmeras diferenças. Mas certos do que sentem um pelo outro e certos de que para preservar esse amor são necessários alguns sacrifícios pessoais, que envolvem vaidade, orgulho e egoísmo.

Esse dia 29 de dezembro foi a oficialização de algo que há muito já estava selado em seus corações. Ali não havia apenas um protocolo, mas uma demonstração de imenso respeito. Afinal, desde que conheço Marcelo sabia que casamento (oficializado) não estava em seus planos e eles já moravam juntos há bom tempo. Mas para minha amiga também não foi lá muito fácil esperar o tempo certo de Marcelo.

Minha felicidade e emoção foi em vê-los assumindo para todo mundo o desejo e a vontade de construírem uma vida juntos, registrando essa intenção para a sociedade.
Não acredito que por ser legal haverá grandes mudanças na história que já construíram. Mas o fato é que agora, nas correspondências, ela será a Sra. Lúcia e ele o Sr. Marcelo.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Nossa própria prisão

Às vezes nem precisamos de muitos conselhos pra sair da maré de baixo astral. Mas, egoístas que somos, insistimos em fechar os olhos para o que acontece a nossa volta e, como seres limitados, nos mantemos na prisão de nós mesmos. Assim, dondocas curam suas dores afogando-se em caixas de chocolates e rapazes tentam sufocar suas frustrações num copo de qualquer coisa. Em alguns casos cura-se a dor com um corte novo de cabelo, um estrago no cartão de crédito, um brinquedinho tecnológico... Enfim, qualquer coisa que não se sinta.

Hoje, a protagonista dessa síndrome egoísta fui eu mesma. No meu carro, a caminho do trabalho, sentia-me triste por razões pequenas, tão vergonhosamente pequenas. Era tamanho o oco no coração que nem me aborreci com a seqüência de sinais vermelhos naquele trecho de apenas dois quilômetros.
Até que em um desses sinais, minha concentração egoísta foi quebrada por uma mãe que atravessa a rua, segurando a mão do seu filho.

A fração de minutos daquela cena foi suficiente para ‘acordar’ do transe. O garotinho, com menos de 10 anos, acometido por algum tipo de deficiência, tinha dificuldades para descer o meio fio e caminhar por entre os carros. Suas perninhas tortas tropeçavam uma na outra e seu equilíbrio era mantido pela mão firme de sua mãe.

O semblante daquela criança demonstrava um desentendimento pelas coisas ao redor e uma doce ingenuidade. Que provações e que constrangimentos não passaria aquela mãe? Quantos deveriam ser os problemas daquela mulher para suprir aquele garotinho de todo o carinho e necessidades?

Confortável em meu carro, com as contas em dia, trabalho ‘estável’, uma boa e aconchegante morada, inteligência e demais capacidades no lugar... Envergonhei-me por aquela tola tristeza.

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Eu x Eu

Entre as maravilhas e dissabores proporcionados pelos 30 (mais maravilhas que dissabores) acabo de descobrir que estou em guerra. Uma guerra de poderes: direita x esquerda.

Não, não é o caso de estar sendo cotada a líder de um dos nossos ‘digníssimos’ partidos. A dissidência foi instalada em uma máquina muito mais ética, organizada e eficiente, porém, não menos traiçoeira e surpreendente: o cérebro.

Como mera expectadora, tenho assistido a guerra de dois senhores: o hemisfério esquerdo, lógico e analítico, e hemisfério direito, intuitivo e sentimental.

Sabe aquelas tardes em que você está ‘giboiando’ no sofá da sala, assistindo Vale a Pena Ver de Novo, e de repente seu vizinho de andar resolve ouvir música e acha que todo prédio compartilha do deu ‘desgosto’ musical? Então imaginem a cena. Pois é, esses dois senhores que me habitam, por vezes insistem em perturbar minha tranqüilidade com suas divagações filosóficas.

Na verdade não passam mesmo de dois caras muito autoritários, sempre invadindo o espaço alheio a fim de dominar. Porque como muitos já sabem, é o Esquerdo quem comanda o lado direito do corpo e o Direito dá as ordem ao esquerdo. Já viram, né? A confusão já começa daí. E no meio dessa balburdia estou eu, acreditando que decido alguma coisa. Quanta ilusão.

O problema é que ultimamente a discórdia entre esses senhores tem se agravado e enquanto ficam em suas argumentações sem fim, pra saber quem tem a razão, passo minhas noites em claro. Como os vizinhos barulhentos.

O consenso entre eles tem sido cada vez mais difícil. É que o Sr. Esquerdo sempre interpreta literalmente as frases e o Sr. Direito fica buscando a intenção oculta de quem fala. Já implorei um acordo, ameacei tomar um daqueles clamantes naturebas, mas esses dois são tinhosos. Não sossegam.
Enquanto um me estimula a procurar situações seguras, o outro me apresenta um lado mais delicioso da vida em suas abstrações de tempo e sua mania de arriscar, esse é o Direito (que na verdade mais parece torto).

Dona Inconsciência andou me dizendo que o Esquerdo costuma imitar, representar, fingir, enquanto o outro é autêntico. Mas ainda não descobri esse lado oculto.

Não fosse o excesso de racionalidade e crítica do Sr. Esquerdo, eu até que daria mais atenção a ele. Mas essa sua mania de inibir minha criatividade, inventividade e sonhos, me deixam muito ‘P’. É controlador demais, sempre certinho... Mas, também não posso negar que sua segurança já me livrou de muitas encrencas.

Já o Direito, faz com eu solte a imaginação, viaja pelas asas do sonho, crie, invente, recrie e assuma minha liberdade. Mas enquanto me dá asas, também me faz cair em algumas cilada.

É difícil decidir quem está certo. E enquanto não entram em acordo, fico aqui feito barata tonta, sem saber se mando tudo pra PQP, se assumo um egoísmo protetor, se adoto a postura Madre Tereza de Calcutá, Joana D´Arc ou Madonna.

domingo, 26 de novembro de 2006

A 'burra' novamente... e melhor

Foi no dia 03 de janeiro de 2005 que me deparei com ela pela primeira vez. Ontem, quase dois anos depois, eis que surge novamente me trazendo novos desafios – a ‘ladeira da burra’. Alguém ai se lembra dela? Neste fim de semana ela voltou a ser protagonista de uma das nossas aventuras.

Era pra ser um sábado diferente. Havíamos marcamos um pedal em grupo, na verdade um desafio de quatro horas. Há muito tempo todos me falavam de um local em Maceió perfeito para um bom pedal de estrada. Difícil imaginar isso numa cidade ontem os ciclistas enfrentam dois riscos constantes: buracos no asfalto e motoristas malucos.

Depois de passar a semana toda pensando... “Vou ou não vou”? “Será que agüento”? Acabei sendo convencida pela idéia de estar entre amigos, num lugar novo. Resumindo: atraída por mais um desafio. Um desafio pessoal, deixando bem claro.

A brincadeira estava marcada para começar às 5h da manhã. Quem eram os malucos que acordariam às 4h da matina? Eu, Helsio, Serginho, Josemar, Tavares, Teo, Henrique e Itamar. É verdade! Enquanto algumas pessoas iriam dormir, depois de uma noite de farra, estávamos nos levantando para pedalar. Cada doido com sua mania, já dizia vovó.

Aliás, isso me fez descobrir que não sou a única maluca no prédio onde moro. Às 4h30, enquanto arrumava minha bicicleta no carro do amigo Doutor, flagrei um dos meus vizinhos saindo de casa com uma vara de pescar e isopor nas mãos. Sorri e respirei aliviada pensando que ao menos não ficaria só em caso de internação.

Como combinado, às 5h estávamos Benedito Bentes – carinhosamente chamado de Bio - um dos bairros mais populosos da capital. Ainda não conseguia imaginar onde poderia haver, por ali, o tal lugar espetacular para se pedalar. O local cospe gente pelas janelas das casas e é um vai e vem constante de ônibus.

Deixamos os carros em frente a uma igreja (talvez numa tentativa inconsciente de sermos abençoados naquela manhã) e a princípio aquela ruazinha na quebrada, que dava início ao pedal, não prometia nada demais. Mas, fui em frente com a curiosidade de saber o que descortinaria a minha frente.

A única coisa que sabia é que no circuito havia algumas ladeiras. ‘Tudo bem’, pensei comigo, nada demais para quem passou os últimos seis meses pedalando no cerrado.

As pedaladas começaram discretas, os minutos foram se passando e tal ruazinha - estreita, sem acostamento, margeada por cana-de-açúcar - foi se adentro por um extenso vale e as tais ladeiras foram aparecendo.

A primeira bastante discreta, a segunda na forma de uma descida sem fim aonde as bicicletas chegavam a, pelo menos, 60km/hora (isso para mim, que segurava firme os freios). Olhei para Helsio é perguntei: “Mas o que é isso?” “Isso é o que você vai ter de subir na volta”, respondeu o Doutor.

Entre o silêncio e o espanto, continuava na expectativa de saber o que viria pela frente, aonde e quando aquilo acabaria. Quantas ladeiras ainda teriam? Minha preocupação era manter um ritmo que me permitisse encarar aquelas quatro horas de sobe e desce sem riscos de quebrar no meio do caminho.

Alguns minutos depois, eis que surge ela ... A ‘ladeira da burra’. Pra quem não lembra a história, vale acessar os arquivos de 2005 e descobrir o porquê do apelido. (http://fanjo.blogspot.com/2005/01/porque-burra-empacou.html)

Enorme, imponente... nos deparamos com ‘a burra’ na contra-mão do desafio: uma descida que não acabava nunca. Aos poucos fui me lembrando então de aquilo tudo não era desconhecido. O cenário na verdade era o mesmo de anos atrás, mas dessa vez a percepção do desafio era bem diferente.

A primeira volta pelo circuito foi mais uma espécie de reconhecimento do território. Necessária para se ter uma idéia exata do desafio e calcular os limites para que a aventura não se tornasse um sacrifício. E não foi!

Aos poucos, fui reparando que aquele era mesmo um pedaço do paraíso para os apaixonados pela magrela. A tal ‘ruazinha’ singela e sem graça era apenas a porta de entrada para um trecho de estrada, com asfalto lisinho, que corta uma montanha russa de subidas e descidas cravadas no meio de um pedaçinho de mata.

Se aquelas intermináveis subidas eram um teste para a resistência cardíaca de cada um de nós, as descidas sem dúvida eram presentes dos céus. O fato é que o tempo passou sem que ninguém percebesse as tão desafiadoras quatro horas, com direito a cantoria, piada, boas histórias e, porque não, um pouco de meditação.

Assim, a manhã de sábado terminou bem e o fim de semana começou melhor ainda.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Quem nos limita?

Quando me deparo com um portador de deficiência física nem sempre sei como comportar-me. Olhar, não olhar, perguntar, calar, fingir que não há nada demais... nunca sei o que fazer. O fato é que essas pessoas não podem ser vistas como coitadinhas, mas até que ponto oferecer ajuda para aliviar suas limitações pode incomodar? Difícil saber o que vai na cabeça de quem tem de conviver com essa realidade.

No útimo domingo tive a oportunidade de pensar um pouco mais sobre isso. Estava no aerporto, embarcando para o Rio de Janeiro, quando me deparei com aquela família especial. Ele, numa cadeira de rodas, acompanhado dos pais e do irmão mais velho.

Fatalmente, no avião sentamos todos na mesma fileira, separado apenas pelo corredor da aeronave. A princípio tentei não olhar muito para aquele menino franzino, de olhar triste, totalmente imóvel dos braços para baixo. Nem tetraplégico, nem paraplético... aquele garoto estava no meio do caminho.

Durante 50 minutos, até a escala em Salvador, me contive em reparar os detalhes daquela situação, evitando constrangimentos. Concentrei-me no livro que estava lendo, mas, inevitavelmente, parava para refletir sobre aquela cena.

Eram visíveis os cuidados da sua mãe para deixá-lo o mais confortável possível naquelas poltronas que por si só já incomodam quem, como eu, não tem nenhuma limitação motora. Aliás, nesse dia nem senti a tradicional dor no pescoço que geralmente me acomete durante as viagens. Parece que tudo ficou menor nesse dia.

O pai e o irmão, ao meu lado, olhavam a todo instante para ver se ele estava bem. Qualquer gemido do garoto era motivo de atenção da família.

Naqueles minutos todos fiquei imaginado o que se passaria na cabeça daquele rapaz. Inútil tentativa. O máximo que consegui foi refletir sobre como EU estaria em sua situação. Aliás, inútil também...

Já no desembarque, aproveite a aproximação com sua mãe - a simpática D.Fátima - e soube num breve bate-papo que ele havia sofrido um acidente há pouco mais de seis meses, durante uma aula de judô. Imaginar-me na sua situação ficou ainda mais difícil.

"Não tenho raiva do judô" disse D. Fátima muito tranquila. "Poderia ter acontecido em qualquer outra circunstância. E quando ele voltar a andar (?) voltarei a incentivá-lo ao esporte". Sabedoria materna, fé, esperança, otimismo? Não sei. O fato é que ele, embora as fases normais de revolta diante daquele situação nova, fazia planos de voltar a faculdade e tornar-se um pesquisador.

Fatalmente esqueci de perguntar o nome daquele garoto, mas assim como aqueles atletas que vi no Iron Man - nadando, pedalando e correndo sem uma das pernas - ele me fez pensar em como somos os limitadores de nós mesmos.

domingo, 12 de novembro de 2006

Vários tempos

"Para cada coisa há uma estação, e um tempo para cada propósito sobre a terra: um tempo para nascer e um tempo para morrer; um tempo para plantar e um tempo para colher o que foi plantado; um tempo para matar e um tempo para curar; um tempo para destruir e um tempo para construir; um tempo para chorar e um tempo para rir; um tempo para lamentar e um tempo para dançar; um tempo para se desfazer das pedras e um tempo para recolhe-las; um tempo para abraçar e um tempo para abster-se do abraço; um tempo para ganhar e um tempo para perder; um tempo para guardar e um tempo para jogar fora; um tempo para gastar e um tempo para costurar; um tempo para se calar e um tempo para falar; um tempo para amar e um tempo para odiar; um tempo de guerra e um tempo de paz".

Eclesiástico

sábado, 4 de novembro de 2006

A idade é essa

Na minha ausência, fiquem com Quintana. E lembrem-se... a idade é essa. O hoje!

IDADE

Existe somente uma idade para a gente ser feliz.
Somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito, nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo novo, de novo e de novo, e quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE
e tem a duração do instante que passa ...

Mário Quintana



domingo, 29 de outubro de 2006

Habilidade de viver

"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Ser capaz de ficar alegre e mais alegre, no meio da alegria, e ainda mais alegre no meio da tristeza."

Guimarães Rosa

sábado, 28 de outubro de 2006

Mulheres de 30, com muito gosto!

A cada dia que se passa tenho descoberto que o medo era pura tolice. Os 2.9 (quase 3.0) são maravilhosos. Reverencio as sábias palavras de Jabor...

MULHERES DE 30

E para todas aquelas que estão entrando nos 30, e para todas aquelas queestão com medo de entrar nos 30...
E para homens que têm medo de meninas de mais de 30!!!
"Á medida que envelheço, e convivo com outras, valorizo mais as mulheres que estão acima dos 30".
Estas são algumas razões do porquê:
- Uma mulher de 30 nunca o acordará no meio da noite para perguntar: "O quevocê está pensando?"Ela não se importa com o que você pensa, mas se dispõe de coração se você tiver a intenção de conversar.
- Se uma mulher de 30 não quer assistir o jogo, ela não fica à sua voltaresmungando.Ela faz alguma coisa que queira fazer. E, geralmente é alguma coisa bemmais interessante.
- Uma mulher de 30 se conhece o suficiente para saber quem é, o que quer equem quer.Poucas mulheres de 30 se incomodam com o que você pensa dela ou sobre o queela está fazendo.
- Mulheres dos 30 são honradas. Elas raramente brigam aos gritos com você durante a ópera ou no meio de um restaurante caro.É claro, que se você merecer, elas não hesitarão em atirar em você, mas sóse ,ainda assim, elas acharem que poderão se safar impunes.
- Uma mulher de 30 tem total confiança em si para apresentá-lo para suas melhores amigas.Uma mulher mais nova com um homem tende a ignorar mesmo sua melhor amigaporque ela não confia no cara com outra mulher.E falo por experiência própria. Não se fica com quem não se confia, vivendo e aprendendo né???
- Mulheres se tornam psicanalistas quando envelhecem. Você nunca precisaconfessar seus pecados para uma mulher com mais de 30.Elas sempre sabem.
- Uma mulher com mais de 30 fica linda usando batom vermelho. O mesmo não ocorre com mulheres mais jovens.
- Mulheres mais velhas são diretas e honestas. Elas te dirão na cara sevocê for um idiota, se você estiver agindo como um!
- Você nunca precisa se preocupar onde você se encaixa na vida dela. Basta agir como homem, e o resto deixe que ela faça.
- Sim, nós admiramos as mulheres com mais de 30 por um "sem" númeroderazões.
Infelizmente, isso não é recíproco. Para cada mulher de mais de 30, estonteante, inteligente, bem apanhada e sexy, existe umcareca, velho,pançudo em calças amarelas bancando o bobo para uma garçonetede 22 anos.
Senhoras, eu peço desculpas:
Para todos os homens que dizem, "porque comprar a vaca se você pode beber o leite de graça?", aqui está a novidade para vocês:
Hoje em dia 80% das mulheres são contra o casamento, sabe por quê?
- Porque as mulheres perceberam que não vale a pena comprar um porcointeiro só para ter uma lingüiça. Nada mais justo.

Arnaldo Jabor

domingo, 15 de outubro de 2006

O retorno sem “quase”

Dia atrás (muito atrás) recebi uma jóia de Veríssimo por um amigo distante e estava esperando a hora certa de posta-lo. A hora é agora que estou de volta ao antigo lar.

Aliás, ô coisa boa sentir o carinho dos amigos. Ter o colo da mãe. Poder ver o sol nascer no mar, sentir o cheiro de maresia. Bem, agora é seguir o caminho, traçar alguns novos objetivos, reforçar antigas metas, continuar no exercício de jogar fora o que não serve mais e aprender. E é aqui que “O Quase” entra.


O quase

Ainda pior que a convicção do não é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Luis Fernando Veríssimo

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Até mais, linda Brasília!

Já se foram seis meses. E que seis meses hein?
Quanta mudança... A Fabi que volta não é a mesma da chegada. Metamorfose ambulante? Não... Evolução!

Em novembro passado, quando fui convidada para uma temporada no cerrado, assumindo novos desafios, no meu íntimo sabia que seria mais um daqueles acontecimentos marcantes da nossa vida. Mais um ciclo. Só não sabia que seria tão assim...

E agora que está chegando o momento de voltar “pra casa”, as idéias começam a borbulhar num pequeno balanço pessoal. Quem veio e quem vai?

Os seis meses no cerrado brasileiro me trouxeram boas, maravilhosas, tristes e doloridas experiências. Crescimento! Lembro que quando cheguei aqui, em seis de maio, alguém me disse que “Brasília tinha o poder de trazer à tona a verdadeira essência das pessoas. Tudo que bate ressoa”.

O comentário havia ficado esquecido no meu subconsciente, mas não é que agora, fazendo um balanço desse tempo, as coisas parecem fazer sentido?!

Aqui me deparei com a intimidade da alma. Crua, sem máscaras. E tudo que até então era camuflado na imagem de Mulher Maravilha, veio à tona e bateu de frente. Bateu forte.

Nessa terra onde o sol é uma bola de fogo, de entardecer alaranjado e céu inigualável, enxerguei minha verdadeira essência e a do outro também. Sem subterfúgios ou ‘saídas de incêndio’, não restou outra possibilidade a não ser... Encarar.
Afinal, como diz um querido amigo... “Cultivar demônio é como ter erva daninha no jardim. Temos que tratar deles. Dizer pra eles: Olá seu demônio, tudo bem?! Acá, né por nada não, mas o Sr. já me soprou demais no ouvido. Brigado pelos conselhos, mas a sua hora já passou... viu!? Té logo e mande um abraço pro seu chefe!"

Pois é... Não deu outra, encarei e descobri um monte de coisas que estavam intoxicando a alma e que precisavam ser descartadas. Tive que admitir meu orgulho, minha arrogância, intolerância e um bocado de outras mazelas.

Foi aqui também que entendi o que é esse tal de amor. Percebi como ele funciona dentro de mim, o que é e como vibra. Compreendi suas necessidades e entendi, finalmente, a importância das diferenças. Mas também percebi que sentimentos verdadeiros não se destroem tão facilmente.

Por outro lado... Descobri minhas qualidades, aquelas mais sutis, que poucos podem desfrutar. Foi aqui também que vivi um dos melhores momentos profissionais. Os desafios foram vencidos e geraram novas metas. Compreendi – internalizei - que precisamos nos reinventar diariamente. E mesmo que o reconhecimento pela nossa capacidade não venha da forma como desejamos... É importante respirar e poder reconhecer que estamos indo bem, muito bem!

Enfim, aprendi um bocado sobre mim. Sobre família, sobre trabalho, sobre relacionamentos. Muitas pessoas já me perguntaram se estou feliz ou triste pela volta. A resposta? Estou feliz por ter aprendido tanta coisa. Hoje sou a melhor Fabrícia de todas as minhas existências.

Agora... É casa nova, vida nova, outras perspectivas! O caminho é velho conhecido, mas dessa vez vou encarar a jornada com um pouco mais de ‘suprimentos’.

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Os bastidores...

Agora tem o outro lado da história... Aquele que não tava na primeira versão do Super 40. E talvez os bastidores seja mesmo a parte mais divertida disso tudo. Porque a corrida em si dura pouco, então o recheio é o que acontece ante e depois.

Bem, fui a primeira da equipe a chegar à Esplanada, ainda sem acreditar que realmente teria de ficar ali, simplesmente embaixo da chuva. Mas não demorou muito e Vinicius liga: "Cadê você mulher?

Ele já tinha se adiantado e arranjado um lugar coberto próximo ao guarda-volumes, ponto que acabou virando o local de concentração da equipe. As 7h30 a expectativa era saber onde estava o nosso capitão, Murilo. A entrega dos chips já estava pra encerrar e nem sinal dele. Mas Murilo, que não marca bobeira, já havia se adiantado e quando nos encontrou estava com tudo em mãos.

Daí por diante a pergunta era: será que todo mundo vai chegar? Já eram 7h40 e a prova começaria às 8h. Mas, para o nosso alívio, aos poucos nossos companheiros de equipe começaram a sair da toca. Geraldo, Alex e Rafael... Depois Sávio e Adriano. Mas, faltando 10 minutos pra largada ainda não havia nenhum sinal de Pedro e Carlos. A falta deles poderia ser suprida por qualquer um de nós; teoricamente bastava pegar o chip e corremos no lugar deles. Mas não era apenas isso... O problema não era a falta de dois corredores... Importava ter todos juntos ali. A expectativa continuava.

Havia a promessa de termos ali, entre a nossa “imensa” torcida organizada, o Morelli. Ele, o maior “pitaqueiro” de todos, estava mais curioso do que qualquer um de nós para saber como seria a prova. Passou a semana toda falando da nossa estratégia (que nem tínhamos) e apostando em resultados. Tudo bem... É justificável... Afinal, quatro dos 10 integrantes da equipe trabalham com ele. Mas acontece que Morelli, apesar de surfista (assim reza a lenda), é um amante da cama e pra ser honesta nem contava com a presença dele ali... Tão cedo... Ainda mais sob chuva.

Faltando pouco para largada ele manda uma mensagem: "De baixo de chuva é duro ir pra ficar assistindo. Tem lugar coberto ai?”. Talvez ele estivesse esperando ouvir um “não”, mas fui enfática: “Tem. Venha”!

Murilo, o primeiro a largar, já estava na rua e ainda não havia sinal algum do Pedro e Carlos. Adriano nos avisou que o Pedro havia levado o filho para casa de sua mãe e estava a caminho. Mas e o Carlos?

Savio liga:
- Alô! Carlos? Cadê você? Está dormindo?
- Tô... Quando for 7h você me liga de novo.
(já eram 8h da manhã e ele achava que era noite)

Fabrícia liga:
- Alô! Carlos? Você está dormindo?
- Não...

- Carlos, invertemos a ordem dos atletas. Você vai largar mais cedo. Sai já dessa cama e vem pra cá.
- Não... você tá brincando...
- Não tô não! Vem agora. A prova já começou.

Carlos foi a “sensação” da prova. O figurinha havia chegado em casa às 5h da manhã. Detalhe que só ficamos sabendo mais tarde.

No geral a competição foi organizada. Cada atleta tinha a hora exata de ir para área de transição, para evitar tumulto. Ali, enquanto esperávamos, havia uma aposta geral nos tempo (tudo na brincadeira). Segundo Morelli, Sávio e Carlos tinham por “obrigação” fazer um tempo menor que do Murilo. Alex Cuevas foi advertido pelo Geraldo: "Pangaré, quero menos de 15’, ouviu"?

Brincadeiras a parte, o fato é que de fome ninguém ali iria morrer. Alguns de nossos atletas haviam levado um super-mega-power kit de suprimentos... banana, biscoito, banana, água, banana, maça, banana... Tudo bem que eles seriam os últimos a correr, mas não precisava tanto.

Murilo chegou com 22:17. Vinicius, nosso segundo corredor, já estava na rua quando finalmente apareceu o Carlos. Estranhei o abraço, os beijinhos, a falação... e só fui entender depois.

Vinicius fechou com 22h01min. Geraldo e Sávio foram pra rua e cumpriram muito bem seus papéis (21:18 e 21:33). A próxima seria eu e não tive com evitar aquele famoso friozinho na barriga. Afinal, largada é sempre largada. Sempre haverá expectativa. Bem, fui lá e fiz também fiz minha parte. Fechei a volta com 18:34 e passei a braçadeira pro Carlos, que estava "animadíssimo". Verdade seja dita, ninguém dava muito pelo seu desempenho. Carlos estava entre o grupo de sedentários com orgulho. Mas acontece que, surpreendentemente, o rapaz fez os 4 km em 18:10. Morelli, que já estava entre nós fazendo o ranking do povo, ficou boquiaberto.

- Rapaz.... o que foi isso Carlos? O que é a juventude hein?

Depois de resultado tão fantástico, descobrimos que ele – Carlos - estava literalmente dopado. Nas veias havia mais álcool que sangue. O que explica a animação exagerada. Claro que se soubesse disso antes, não teria o deixado correr. Mas depois do fato consumado... fazer o que? Virou chacota.

Depois da corrida, logicamente que ele colocou o álcool pra fora de todas as maneiras que se possa imaginar. Recebeu, ali na grama mesmo, o cuidado “afetuoso” do amigo Sávio e de um desconhecido que se compadeceu com sua situação e, sem muito que fazer, ofereceu-lhe laranjas. Logo logo o rapaz estava recuperado.

Daí por diante foi esperar os meninos completarem a prova. O duro é que depois do resultado do Carlos, todos tinham quase que a obrigação de baixar aquele tempo alcoolizado. Rafael, Adriano, Pedro fecharam em 20:20, 19:59 e 20:04n, respectivamente. E nem Alex conseguiu a proeza de superar Carlos, fechando a volta em 18:10 e a prova em 3h27.

No dia seguinte, no trabalho, ao saber das novidades, Rosana ria enquanto Marcos protestava: "Pooooxa, se soubesse que era tão divertido assim eu teria ido". E a pergunta ficou no ar... Sóbrio, Carlos se sairia melhor ou pior?

domingo, 24 de setembro de 2006

Domingão com chuva?.... Corra!


Depois de muitos dias de intenso calor... Com temperatura beirando os 30° e umidade do ar na casa dos 29%... Eis que a chuva cai na capital federal. Ô coisa boa... Acordar num domingão, com barulho de chuva na janela e aquele friozinho... A desculpa perfeita para ficar agarrado embaixo das cobertas.

Quem seria doido de acordar às 6h pra correr em baixo de chuva? Bem... Apenas cerca de umas duas mil pessoas, divididas em 250 equipes, que estavam participando da Super 40 - o maior circuito de revezamento do Brasil.

Desculpem-nos os “normais”... Mas é que esse negócio de esporte, quando entra na veia... xiiiiii não tem jeito. É caso perdido.

Confesso que quando estava saindo de casa bateu aquela dúvida... Caracas! Será que toda minha equipe vai estar lá? Será que a chuva vai espantar o povo?

A entrega dos chips era até 7h30 da manhã. Às 7h, a caminho da Esplanada dos Ministérios, onde seria a competição, a única coisa que via era a chuva caindo no pára-brisa e as ruas desertas. “Caramba! Acho que a prova vai atrasar. Ainda não deve ter ninguém por lá... só eu mesmo, maluca, para sair de casa embaixo de chuva para correr. Tenho que me tratar! Urgentemente”.

Mas, para meu alívio, ao chegar à Esplanada já havia um locutor “histérico” convocando as equipes para checagem e retirada dos chips. Um bando de “doidinhos” pra baixo e pra cima, empacotados, andando sob a chuva para organizar os últimos detalhes. Os pobres militares que faziam a guarda do Palácio do Planalto olhavam atônitos, quase sem acreditar que mesmo com aquela chuva o povo tava lá.

Foi minha primeira participação numa prova de revezamento. Na verdade, a primeira de todo mundo da equipe.

- E ai Fabí, qual será a nossa estratégia?
- Estratégia? Nenhuma.
- Não? Não temos uma estratégia?
- Não. Você pensou em alguma?

A competição em si não seria desgastante. Formamos uma equipe de 10 integrantes, ou seja, 4 km para cada um. Minha expectativa era que terminássemos aqueles 40 km em 4 horas. Afinal, tratava-se de um grupo heterogêneo. Entre nós haviam aqueles apaixonados por corrida de rua (eu e Alex), ex-triatletas (Pedro e Adriano), “figuras” que gostam de esporte, mas estavam um tanto entregues ao sofá (Geraldo e Rafael), freqüentadores de academia - que estou aliciando para corridas de rua (Murilo e Vinicius) e por fim sedentários convictos, mas com muita disposição (Sávio e Carlos).

Nosso objetivo não era vencer ninguém. Cada um tinha seu desafio pessoal. Mas interessante mesmo é ver como provas desse tipo são capazes de congregar esportistas de diversas modalidades. Ali havia Iron Man, maratonistas, nadadores, atletas de fim de semana... Enfim, gente que, como nós, estava ali pelo simples prazer de se reunir com amigos e praticar um esporte.

Loucura? Não! Mas acontece que só entende quem sente esse “veneno” correr nas veias. E se quem faz não consegue explicar... quem não faz... não consegue entender. Bem, pra nosso espanto e alegria geral, fechamos a prova em 3h27. Show de bola pra um domingão que tinha tudo pra ser só mais um.

sábado, 9 de setembro de 2006

Meu Ano Novo pessoal

Aniversários são como o Ano Novo pessoal. Já repararam como é inevitável repensar a vida e os acontecimentos nesta data? E agora que estou chegando aos 2.9... Andei pensando no que deu pra aprender em quase três décadas?
No geral, descobri que ainda tenho muito, muito para aprender.

Dos aprendizados, o mais forte foi a descoberta de que não devemos ser escravos do relógio, mas que pontualidade facilita muito as coisas.
Aprendi também que quebrar a rotina faz bem para a saúde;
Que chegar atrasado no trabalho não mata ninguém;
E que fazer hora extra e trabalhar nos fins de semana não é sinônimo de eficiência.

Percebi que devemos usar somente roupas que nos fazem sentir bem;
Que estilo está acima de qualquer moda;
Que maquiagem é algo totalmente dispensável;
Mas que, depois dos 25, o creme anti-rugas é um dos nossos maiores aliados.

Aprendi que em bolsa de mulher nunca podem faltar: caneta e lixa de unha;
Que nunca devemos cortar o cabelo quando estamos deprimidos;
E que fazer compras é um bom remédio para espantar a tristeza (correr também).

Aprendi que um pedido de desculpa alivia a alma;
E que reconhecer os próprios erros nos torna mais humilde.
Que amizades verdadeiras resistem à distância;
E que sempre devemos dizer “obrigada”, ”por favor”, “bom dia” e “com licença”.

Depois de algumas quedas...
Descobri que falar demais nem sempre é bom;
Que falar de menos é pior ainda;
Que a medida exata do falar exige sabedoria;
E que calar é essencial para poder escutar.

Aprendi que dizer a verdade é SEMPRE melhor que mentir (e dá menos trabalho);
Que devemos fazer uma coisa de cada vez;
E prestar atenção em quem está falando é exercitar o respeito.

Aprendi que pequenas pausas no trabalho ajudam a oxigenar a mente;
Que as refeições devem ser saboreadas, até as mais simples;
E que frutas são sempre uma opção melhor que biscoitos.
Descobri (de fato) que uma alimentação leve dá mais disposição;
E que chocolate é um santo remédio para TPM, mas em excesso te deixa arrasada.

Aprendi que colegas de trabalho podem ser agressivos quando se sentem inseguros;
Que chefes... Serão sempre chefes. Alguns melhores, outros piores.
Que levar o trabalho “nas coxas” é uma acomodação inútil;
Que sempre devemos nos dedicar ao que fazemos (e tentar fazer bem feito);
E que renovar os desafios nos traz mais motivação.
Ah! Importante: descobri que misturar trabalho e amor não dá certo.

Aprendi que nunca é tarde para dizer a sua mãe que ela é a melhor do mundo;
Que é obrigação dos irmãos mais velhos levantarem a estima dos mais novos;
Que irmãos mais velhos sempre se acharam mais espertos e experientes;
E que não devemos ser os “pais” de nossos pais. Isso não é saudável!

Vejamos...
Descobri que se o primeiro beijo não te fizer tremer... Nem adianta ir além;
Que não se deve ir para “o finalmente” no primeiro encontro;
Que preservativo é in-dis-pen-sá-vel, por que filhos provocam uma baita mudança;
E que nossa cama é um lugar sagrado, digno de pessoas especiais.

Descobri que toda mulher é romântica sim (cada uma a sua maneira);
Que devemos, acima de tudo, sermos apaixonados pela vida e por nós;
Que relacionamentos exigem zelo permanente;
E que se os sentimentos devem ser “retro alimentados” para que não morram.

Ai ai...
Aprendi que não devemos ser tão inflexíveis, exigentes, sérios e metódicos.
Sorrir mais!

A pouco tempo entendi que não devemos esconder o que sentimos;
Nunca deixar de dizer “eu te amo”;
Mas que isso também não pode virar lugar comum.
Que devemos nos permitir amar e oferecer esse amor a alguém, mas não a qualquer um.

Depois de alguns deslizes...
Descobri que devemos dar sempre o melhor de nós;
E nunca nos arrependermos disso;
Mas, que precisamos saber a hora de começar e parar;
E algo importantíssimo: relacionamentos não se terminam por telefone.

Aprendi que precisamos estabelecer limites para que os outros entrem em nossas vidas;
Que nunca devemos esperar nada de ninguém;
Que não existe par perfeito;
Que sempre existirão diferenças (e nem sempre elas serão defeitos);
E que compartilhar não exclui a necessidade de privacidade.

Aprendi que nunca teremos certeza de tudo;
Que nunca estaremos imunes a uma decepção;
Que confiança é base de um relacionamento;
Que a dor de um amor pode levar dias para curar e dói pra C...;
E que intuição é F... Não falha!

Descobri que uma noite mal dormida te deixa arrasada o dia todo;
Mas que noites (bem) agitadas fazem muito bem para o humor.
Descobri que sexo é bom, mas não pode ser descartável.
Ah! Aprendi que beijar um homem pensando em outro é uma agressão para alma.

Calma, tem mais...
Descobri como é prazeroso cozinhar para as pessoas que gostamos;
Que plantas humanizam o ambiente (mas ainda não falo com elas);
Que livros e vídeos são excelentes pedidas para o fim de semana;
Que café e sorvete são ótimos acompanhamentos para um bate-papo;
E que receber bem as pessoas faz uma diferença danada.

Descobri que uma reunião na casa de amigos é melhor que qualquer “balada”;
Que ver o sol nascer é melhor que ficar na cama até tarde;
Mas que dormir depois do almoço é uma delícia.

Descobri que quase nada é tão bom quanto: dormir nos braços da pessoa que você ama, pedalar na estrada, correr na beira da praia, sentir o cheiro e sons da natureza no meio da mata, escutar o silêncio de um fim de tarde e assistir ao pôr-do-sol nas estradas de Alagoas e nas serras de Minas Gerais.

Aprendi que a mudança é algo necessário;
Que devemos arriscar;
Que precisamos aprender a perdoar a nós mesmos;
E que mesmo triste, não devemos fechar as portas.

Também descobri que não adianta tentar ser perfeita.
Percebi que a vida é o bem mais precioso que temos;
Que temos a obrigação de aproveita-la com sabedoria e alegria;
E descobri que nem tudo que sabemos nós realmente aprendemos, mas sou feliz com o TUDO MUITO que tenho.

domingo, 3 de setembro de 2006

Qual a medida?

Entre as dificuldades de SER humano está saber dosar.
Encontrar a medida certa dos ingredientes
É uma arte exige observação e experiência.

O excesso ou a falta podem fazer desandar.
Então, atenção para o dosar!

A medida certa do fermento,
As colheres de açúcar e a pitada de sal.
O tempo de cozimento, as horas de congelador.

Cuidado com a dose da raiva, ela pode intoxicar.
Tolerância e passividade com moderação, para não acomodar.
Iniciativa e colaboração, na medida e tempo certos, para não deixar morrer.

Saber medir com precisão a quantidade de palavras,
E o tempo de silêncio também é importante.
Em demasia, pode azedar a receita ou causar indigestão.

Saber quando acelerar e o ponto de parar.
Ah! É preciso ter atenção!
Amor? Sempre! Mas, cuidado!
Esse é um ingrediente que tem o tempo certo para ser misturado.

Não deu certo? Não desanime.
Poucos aprendem de primeira.
Na falta da experiência ou de habilidade,
O importante é continuar se dedicando à arte.

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

A vida 'senhorinha'

O que se passa na mente da senhorinha de casaco verde?
Sentada, de pés juntinhos e bengala entre as pernas...

O que se passa na mente daquela mulher de cabelos nevoados e olhar meigo?
Serena, de semblante paciente a espera da chamada...
Para aonde ela irá? De onde vem? Em que lugares já esteve?
Terá vivido bons anos? Terá sido boa mãe, filha?

O que se passa na cabeça daquela senhorinha de mãos pequeninas
e delicadamente postas sobre os joelhos?
Será que espera por um reencontro?
Será que pensa no jantar, no seu jardim, nos seus netos?
Pensaria em dias alegres ou desperdiçados?
Saudade de alguém, saudade dos anos, saudades de si?

O que vai à mente daquela senhorinha que a tudo observa de olhos atentos?
Como quem assiste a um filme pela segunda, terceira ou quarta vez...
São lembranças do passado ou será o futuro que tenta desenhar?
O que se passa na mente que habita aquele corpinho franzino?

Como serei eu senhorinha? Serei bem vivida?
Só não vale chegar ao fim da vida (ou mesmo de um dia) sem ter percebido o principal.

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Iron 70.3 (2ª parte)

Olhar de Fora

Impossível saber o que se passava na cabeça deles durante aquelas cinco horas e tanto de prova. Mas posso falar do que vi e senti.

As quatro e pouco da manhã, quando me preparava para sair de casa, pensei: “Vou acompanhar a largada, tirar algumas fotos dos meninos e ficar por ali, na área de transição, para vê-los entre as passagens. Ah! Lógico, também vou levar um livro pra passar o tempo. Procurar uma árvore... uma sombra. É só ter um pouco de paciência e as horas passarão rapidinho”.

A previsão era de que os meninos terminassem a prova em, no mínino, 5h30min. Também pensei em aproveitar o tempo para comprar algo na exposição que estava tendo por ali... uma camisa.... coisas do tipo. Ou, quem sabe, tentar perder o medo de bung jump, já que eles haviam montado uma estrutura para salto dentro do evento.

Mas acontece que meus planos não saíram da forma como imaginei...

Como minha idéia era registrar todas as etapas da prova, depois da largada corri para o local onde os atletas sairiam da água pra tirar fotos dos meninos. Os favoritos logo chegaram e estava preparada para esperar pelos nossos mosqueteiros pacientemente. Mas, quando menos espero, com pouco mais de 20 min (precisos 28’18”), eis que surge o Fabrizio. Sem nenhum traço de cansaço. Entre surpresa e feliz, resolvi esperar mais um pouco para tentar fazer fotos dos outros amigos.

Mas também queria registrar a saída deles de bicicleta. Então pensei: “Espero eles saírem da água e corro para tentar pegar a transição para bike. Depois... vou para sombra”. O sol já estava começando a tostar meus ombros.

Acontece que a diferença entre o tempo dos meninos na natação não permitiu esse registro tão fiel. Tavares saiu da água com 31’28” e Hélcio com 35’19”. Ou seja, consegui fazer a foto do pedal de apenas dois mosqueteiros.

- E agora? Tenho que fazer o foto do Fabrizio. Ele não pode ficar sem o registro do pedal. E depois, serão 90 km de ciclismo (divididos em três voltas de 30 km)... Não dá pra ficar aqui, sentada, sem saber o que se passa no asfalto. Vou assistir ao menos a primeira volta.

Então procurei um lugar por onde os atletas passariam e fiquei esperando. Naquela altura do campeonato a “quentura” já estava matando. Olhei para sol, para as sombras e pensei: “Depois que eles passarem por aqui vou lá para dentro, sentar na arquibancada coberta, e esperar lendo meu livro”.

Na primeira volta consegui ver apenas o Fabrízio e Hélcio... nada do Tavares. A preocupação começou a bater. “Caramba! Será que aconteceu alguma coisa?”. Lógico que depois disso decidi ficar e assistir a segunda volta. Não poderia ficar na expectativa, sem saber o que teria acontecido a ele. “Será que não vi o Tavares passar? Será que ele quebrou? Poxa vida, cadê o ‘Tata’?” Sabia que ele estava com uma lesão muscular e tinha medo que houvesse acontecido algo. O ‘negão’ tem raça, mas não é de ferro (embora seja um Iron Man).

O tempo entre uma volta e outra era suficiente para ir ao banheiro e procurar algo para comer. Detalhe: lembrei do livro e esqueci a comida – o vacilo do dia. Mas descobri que por perto não havia nenhum lugar para comprar comida e a única barraca de alimentação do evento ainda estava fechada.

Constatado o fato de que teria que me abstrair do café da manhã, voltei correndo para a rua. Durante a espera, uma conversa aqui... outra ali... e pude confirmar de que realmente a organização do Iron escolheu o pior trecho de asfalto de Brasília para compor o ciclismo. A cidade teve o asfalto todo reformado, mas ali, justamente ali, havia pedaços recapeados que faziam as bicicletas trepidarem.

Na segunda volta o Fabrízio ainda estava na frente dos outros mosqueteiros. Quase não acreditei. Ele, novato no triathlon de longa distância, estava conseguindo se manter muito bem na prova. Aliás, todos estavam muito bem tendo em vista as condições tão adversas do clima no planalto central. O sol cada vez mais forte e a umidade cada vez mais baixa.

Quando eles saíram para completar a terceira volta de bike, finalmente resolvi ir à área de transição para buscar uma sobra e fazer as fotos da corrida.

Reta final

Enquanto estava lá, esperando, pude observar um pouco mais da organização da prova. Para cada atleta que chegava à área de transição, onde deixariam as bikes e sairiam para correr, havia um staff responsável por recolher sua bicicleta e levá-la com cuidado ao bicicletário.

A comunicação por rádio entre os organizadores dava a noção exata de como estava a competição. Ali também pude prestar mais atenção aos paratletas, entre eles havia um sem parte da perda esquerda. Pessoas como ele são exemplos de superação. Quantas barreiras arrumamos para não realizar nossos desejos e objetivos? Mas essa é uma discussão para o próximo momento.

Durante a espera, tentava passar “boletins de notícia” para dois outros grandes amigos que estavam distantes, na torcida e expectativa... Júnior e Josemar.

Fabrizio foi o primeiro dos mosqueteiros chegar do ciclismo, depois de 2h25, e sair para corrida. Mas Tavares e Hélcio não estavam muito atrás. Os dois fizeram o tempo de 2h44, com poucos segundos de diferença.

Finalmente, cerca de 10h30 da manhã, todos eles já estavam correndo. E o sol? Ah!!!!!!!! O sol... também estava lá. Lindo, tórrido. Pensei: “Agora é a hora da sobra. Mas... peraí! Tenho que ver como será a corrida deles. Não dá pra ficar aqui, sem saber como estão”.

Por ter feito algumas corridas de rua em Brasília e por estar a cinco meses fazendo meus treinos na cidade, sabia que aquela talvez fosse a parte mais dura da prova. Sol de esturricar + asfalto queimando + ar seco + umidade de 20% + subidas... realmente não seria nada fácil.

Fiquei próxima de um dos postos de abastecimento de água, no km 10, para ver como estavam os meninos e tentar animá-los para os 10 km finais. Ainda tinha receio que Tavares tivesse problemas na corrida, por causa da tal lesão. Mas para minha alegria ele chegou ao km 10 inteiro. Foi o primeiro dos mosqueteiros. Entretanto, para meu desespero, vi a água que estava sendo distribuída aos atletas acabar (erro do staff que sequer comunicou a organização sobre o fato). Se o calor estava desesperador par nós, que estávamos assistindo a prova, imaginem então para quem estava correndo.

Quando Tavares passou por mim, tentei avisá-lo sobre a falta de água. No ponto em que estava os atletas passavam por mim indo e voltando do km 10. E minha intenção era que ele conseguisse raciocinar (mesmo com aquele sol de rachar) e não tomasse o gel que estava sendo distribuído no posto anterior ao que eu estava. Gel sem água... não dá! Mas acontece que quando disse: “Tavares, se liga que aqui está sem água”, ele só ouviu: “aqui tem água”.
Resultado... desceu o gel goela abaixo.

Naquele meio tempo, na agonia da água que não chegava, pensei em pegar o carro e sair em busca do líquido precioso. Mas as ruas na proximidade estavam todas interditadas e teria de descobrir algum caminho alternativo. Pensei que aquilo pudesse levar muito tempo e com certeza a organização seria mais ágil para fazer a reposição.

Infelizmente, quando Fabrizio passou por mim na ida para o km 10, a água ainda não havia chegado. Minha preocupação com ele era maior que com os demais, por dois motivos: 1º porque sabia que aquela era sua estréia; 2º porque já tinha o visto desistir de algumas provas e torcia muito para que aquilo não se repetisse ali. Pensei: “Vou avisá-lo que a água acabou. Vou falar para ele ficar firme, para não desistir. Mas pera aí.... se disser para ele não desistir ele pode achar que está muito mal e isso pode deixar o psicológico dele abalado”.

Nessas horas, não sei se é assim para todo mundo, mas penso até no que dizer e não dizer para não prejudicar o emocional de quem está competindo.
Então, quando Fabrizio passou apenas orientei para que não tomasse o diacho daquele gel. Assim como Tavares, ele também chegou inteiro ao km 10, mas confesso que o peito doeu ao ver sua expressão quando soube que não havia água por ali.

Bem, a água foi resposta e quando Hélcio passou a situação já estava normalizada. Mas o calor.... continuava lá. Causticante!

A chegada

Depois que os nossos mosqueteiros passaram, fiz os cálculos e vi que faltavam cerca de 40’ para a chegada do Tavares. Naquele meio tempo poderia procurar algo para comer. Mas foi tudo em vão! Nada de comida!

- Então vou procurar a Viviane, esposa do Hélcio, e uma sombra na arquibancada para esperara pelos meninos.

Mas acontece que outras 999 pessoas chegaram na minha frente. Nada de sombra, nem arquibancada. Só me restou um brechinha no sol, perto da chegada. O que não me favorecia um bom ângulo para fotografar.

Fiquei lá... consumindo o resto a ansiedade, vendo os atletas chegarem (entre eles o tal paratleta)... a espera do Tavares. O vencedor da prova Oscar Galindez, já estava no seu merecido descanso depois de ter completado a prova em 4h04min.

A chegada do Tavares teve transmissão “ao vivo” para Maceió. Estava ao telefone com Josemar quando o avistei ao longe, há poucos metros da linha de chegada, depois de 5h16 de prova. Desculpem, mas não tenho como descrever a emoção desse momento. Digo apenas que tremia tanto que não consegui encontrar foco para a foto. A imagem que ficou foi uma tremedeira só. A emoção e tremedeira foi a mesma com a chegada dos amigos Hélcio e Fabrizio, que completaram a prova em 5h28 e 5h40.

Ufa! Acabou! Apesar do cansaço, todos chegaram bem, felizes! Felizes de mais da conta!

Cada um contando de si... da sua visão sobre a prova e de como passou pelos “perrengues”... mais uma vez surgiu a pergunta: o que motiva essas pessoas estarem aqui? Estilo de vida!

terça-feira, 22 de agosto de 2006

70.3 do começo

Quando o Júnior ligou e deu a notícia de que três de nossos amigos viriam à capital federal participar do Iron Man 70.3 não tinha bem a noção de como seria aquele domingo – 20 de agosto de 2006.

Estava contente em poder recebê-los (matar a saudade depois de tantos meses distante) e disposta a ajudar no que fosse preciso. Afinal, bem sabia que viajar para fazer uma competição fora de casa é, sem dúvida, um momento de tensão. Estar sozinho em uma cidade estranha pode tornar as coisas ainda mais desgastantes.

Bem, dias depois do telefonema, procurei saber um pouco mais sobre a tal prova. No site oficial da competição, tive acesso às informações básicas: um triathlon de longa distância. O que significa: 1.900m de natação, 90km de ciclismo e 21km de corrida. Até ai tudo bem. Outros amigos já haviam participado deste tipo de competição, o que tornava o fato relativamente comum. Tornava! (passado)

Na sexta-feira passada comecei a sentir que aquela prova seria diferente do que imaginava. Embora Tavares, um dos “três mosqueteiros” já tivesse desembarcado na cidade, minha ficha ainda não havia caído. Foi apenas à noite, enquanto esperava Fabrizio chegar, no saguão do aeroporto, é que senti aquele famoso friozinho na barriga. Durante a espera, pude acompanhar o desembarque de outros atletas. Alguns vinham sozinhos e outros eram recebidos por amigos... mas, TODOS, traziam a mesma expectativa indisfarçável no olhar, como se estivessem tentando fazer o reconhecimento da terra estranha. Expectativa, aliás, que também estava visível na fisionomia do nosso amigo.

Preparativos

No dia seguinte, o calor e a baixa umidade da cidade já davam a dica de que o domingo de prova não seria nada mole. Mas seria espetacular. Nos encontramos, eu e dois dos mosqueteiros, logo cedo. Tínhamos de ir ao local onde estavam sendo distribuídos dos kits de prova e tomar conhecimento sobre os detalhes da competição.

Ao ver as áreas de transição, largada e chegada da prova, a minha expectativa começou a crescer. De imediato, fiquei impressionada pela organização. Seria difícil tentar descrever o trabalho realizado por aquelas centenas de pessoas. Tudo extremamente alinhado, programado, cronometrado. Quase impecável!

Parte da prova começava mesmo na véspera, com o check in das bicicletas. No sábado, todos os atletas tinham de deixar na área de transição as suas “magrelas” e o material que seria utilizado durante a competição. Sacolas de cores diferentes eram utilizadas para guardar os apetrechos da natação, ciclismo e corrida. Tudo ficava pendurado em araras enormes, o que facilitaria o acesso dos atletas. Uma prática simples e extremamente eficaz. Na área de transição também haviam tendas para a troca de roupa e diversos banheiros químicos. Mas como disse, essa é apenas uma pobre descrição sobre a forma de organização.

Paralelo a toda essa movimentação, observava que ali se reuniam pessoas de diferentes estados e até nacionalidades. Também haviam esposas, maridos, namoradas e filhos.

Por momentos pensei: "O que faz essas pessoas viajarem milhas e milhas, acordar às tantas da madrugada para estar aqui. O que me faz estar aqui, agora?" As respostas reforçavam em mim a certeza de que escolhemos não apenas um esporte, mas um estilo de vida.

Poucas horas....

Já sentindo a expectativa do que estava por vir, dormir naquele sábado foi um tanto difícil. O despertador programado para às 4h, foi substituído pela preocupação... O medo de não acordar no horário certo e atrapalhar os meninos, me fez despertar várias vezes durante a noite. E se eu, mera expectadora, já estava daquele jeito... imagine eles. Pra nenhum de nós deve ter sido fácil dormir naquela noite.

Às 5h em ponto já estava na porta do hotel onde dois de nossos amigos estavam hospedados. O terceiro, com a esposa e filha, havia ficado em um hotel mais próximo ao evento.

Embora a largada da prova estivesse marcada para 7h e os atletas tivessem até 6h40 para pintura e checagem final dos equipamentos, queríamos chegar logo. Não apenas pela expectativa, mas para prevenir contratempos.

E... mesmo tendo entre nossos atletas um virginiano (pessoas que têm como uma de suas características a pontualidade) tenho que admitir: eles são um bocado enrolados. Então... checa e “recheca” tudo antes de sair. Procura, acha, perde novamente.

O bom disso foi que ganhei uns minutos extra para cochilar enquanto esperava os meninos acabarem de tomar banho e organizar os equipamentos.
- Tá tudo certo?
- Tá!?
- Então... vamos simbora!


Às 5h40 finalmente saímos. O coração já estava na garganta. A 1h20min que faltava para a largada passou rapidinho. Foi apenas o tempo de fazer a pintura dos atletas, dar uma última olhadinha nas bicicletas, nos equipamentos, vestir a “roupa de tubarão” (apelido carinhoso para o neoprene) e quando menos esperamos já estava todo mundo no píer onde seria a largada.

Faltando poucos minutos para o início da prova, alguém da organização gritava, aos montes, tentando encontrar o dono de uma tornozeleira perdida. Todos os atletas tinham de usar uma tornozeleira com um chip de identificação. Perde-la significava a desclassificação imediata.

Imaginar o desespero daquele atleta ao perceber que havia perdido seu chip, fez minha adrenaliza aumentar ainda mais. E ver aquele mar de gente caindo na água fez o coração parar na boca. Não sei se estava tão nervosa quanto os meninos, mas, a emoção de vê-los naquele desafio, me fez chorar na largada da prova.

Olhar de fora

Impossível saber o que se passava na cabeça deles durante aquelas cinco horas de tanto de competição... mas posso falar do que vi e senti... (continua!)

domingo, 13 de agosto de 2006

A Arte de perder

“A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente de perdê-las,
Que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero, a chave perdida,
A hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente da viagem não feita.
Nada disso é sério. Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império que era meu,
Dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça muito sério.”
Elizabeth Bishop

sábado, 29 de julho de 2006

Inverno de esturricar

Você já teve a sensação de estar sendo “sugado”?. Ou melhor, de estar esturricando? Mas não to falando de esturricar no sol... a beira mar... com brisa fresca, água de como e copitchos desfilando pela areia.

Tô falando de falta de umidade mesmo. De ar seco. Umidade tipo 20%. Sem dúvida, isso ainda é melhor que a situação dos nossos vizinhos mineiros - sofrendo com críticos 10% (abaixo dos índices registrados nos desertos). Mas sabe o que isso significa? Significa correr sem suar, lavar a cabeça e não precisar de secador para enxuga-la, acordar no meio da madrugada com a boca seca, ter dor de cabeça e moleza no corpo. Olhar no horizonte e enxergar embasado, por causa de uma névoa seca no ar. Respirar fundo e ter a impressão de ter dado uma boa fungada num monte de terra. Isso entre outras coisas.

Ai meu Deus! Vá lá que também não me agrada os 98% de umidade (insuportáveis) em que vivem os nossos companheiros amazonenses.... mas assim também está demais.

quarta-feira, 19 de julho de 2006

Contrato pré-nupcial ou Cegonha?

Você sabe o que é um contrato pré-nupcial? Já imaginou fazer um? Uma aulinha rápida então: contrato (ou acordo) pré-nupcial é um documento onde o casal detalha como ficarão as finanças do marido e da mulher tanto durante o casamento quanto em caso de separação.

A princípio uma solução e tanto para o secular e ainda utilizado golpe do baú (será mesmo?). Mas o fato é que a solução ganhou novas funcionalidades. Num bate papo com amiga, uma delas prestes a se casar, o assunto surgiu entre a lista de providências a serem tomadas até o tão esperado “SIM”!

Além do enxoval, lista de convidados, igreja, lua de mel.... também era preocupação dos noivos delimitar as obrigações de marido e mulher. Sim, por que esse negócio de que “o amor vence tudo” passou a ter tanta credibilidade quanto a D.Cegonha e Sr.Papai Noel.

Uma série de itens seria acordada entre o casal - ele, administrador e ela, arquiteta e advogada. Tudo devidamente assinado e registrado em cartório; sujeito a multa e indenização em caso de quebra de acordo por uma das partes.

Além de estabelecer a separação de bens, devaneio ou não, a lista enfileirava itens como: quem pagaria o que; quantos filhos teriam; quem levaria as crianças para a escola; quem acordaria de noite para acalmar o choro do bebê; quantas vezes por semana o casal deveria fazer sexo; quando iriam discutir a relação; quem lavaria a louça em caso de ausência da secretária; quem dormiria no sofá depois da briga; quantas viagens deveriam fazer por ano; as datas que não poderiam passar sem presente; o grau de insanidade permitido durante a TPM; os dias reservados para o jogo de futebol... e por aí vai.

Claro que diante da explanação tão enfática da amiga, algumas perguntas não quiseram calar. Quem faria a contabilidade do sexo? Sexo ruim seria registrado como crédito ou débito? Quem seria responsabilizado em caso de uma produção excessiva de “hormônios assassinos” durante a TPM? Havia um valor mínimo para os presentes, tipo o que se faz nas confraternizações de empresa? Ou jóia e CD teriam o mesmo peso? Caso a chuva atrapalhasse o jogo de futebol da semana, o crédito seria cumulativo ou não?

O contrato exigia uma análise apurada de riscos externos e internos. Todas as situações imprevistas deveriam ser previstas para que ninguém saísse prejudicado. Mas, a única conclusão que se pode chegar é que não há como pactuar sentimentos e reações. Afinal, o Ser é humano.

Bem, elas preferiram acreditar na D. Cegonha e no Sr. Papai Noel. Acreditar também que nem todo começo pressupõe um fim. Afinal, de qualquer forma, com a lentidão da justiça brasileira, é menos trabalho "juntar os caquinhos".

domingo, 16 de julho de 2006

Quando não é seu dia... não é seu dia mesmo.

Desde o acordar, já havia certa contrariedade no ar. Não queria voltar para casa ontem. Tinha ido para Maceió a trabalho e os planos eram ficar no fim de semana também. Rever os amigos, ficar um pouco mais de tempo com meus pais. Mas, não consegui remarcar a passagem. Aviões lotados. Reflexo de férias escolares. Para conseguir transferir a data da viagem teria de pagar mais de R$500,00 pela diferença de valor. Mais de R$1.000,00 estava custando o bilhete pela TAM. “Bendito” monopólio.

Sem muito o que fazer, e como não havia conseguido fazer o check-in pela Internet, preferi chegar no aeroporto com certa antecedência e garantir uma vaga na frente. A idéia era sair do avião o mais rápido possível e chegar em casa bem depressa. Vôo marcado para 15h30, às 13h40 estava com o bilhete na mão.. poltrona 1B. Primeira fileira, mais espaço. Excelente!

Mas... como aquele não era meu dia... não seria tão simples assim. Descobri que de nada adiantou me adiantar. A começar pelo atraso no embarque, que só aconteceu às 16h17. Engraçado é que nem mesmo haviam anunciado o embarque e o painel do aeroporto já informava: vôo 3577 – Brasília - Ultima chamada.

Quando chamada, fui me encaminhando ao avião. Antes de entrar, constatei mais uma vez que o glamour dos ares não é mais o mesmo. A recepção era feita por um comandante barrigudo e aeromoças com a maquiagem tão carregada que poderiam participar dos desfiles excêntricos da Fashion Week. Sem falar no cabelo repleto de “goma” (laquê? gel?...Sei lá o que!)

Ao entrar no avião, vi que havia um indivíduo no meu lugar. – “Moço, este é meu lugar”. Tratava-se de um casal “cara de pau” com um bebê de colo. – “Você se importaria de trocar de lugar? É que estamos com a neném... blá, blá, blá.”

Crianças sempre nos tocam e os pais deviam ser processados por usá-las em próprio proveito. Sem pensar muito bem, aceitei. – “Mas em que lugar devo sentar”? – “Pode ser no 22D”.

Não podia ser tão ruim assim (pensei). Respirei fundo e fui caminhando lentamente pelo corredor. O número 22 não chegava e percebia que estava cada vez mais distante de sair rápido daquele avião. Percebi também que a letra “D” referia-se aos acentos do meio. A raiva foi aumentando. Entre quem eu sentaria? Seria esmagada?

Final do corredor. Isso mesmo, os acentos 22 eram os últimos do avião. PQP! PQP mil vez! E pra completar... havia alguém sentado no tal 22D. A aeromoça Joyce estava em pé e me dirigia a ela. – “Acho que temos um problema”. Expliquei o fato. Estava com tanta raiva que falava manso e baixinho. Muito simpática ela sugeriu o acento 22B, mas esclareceu que eu não era obrigada a fazer a troca e que ela poderia pedir para que o casal voltasse para sua poltrona. Pensei na criança, no vôo que já estava atrasado e no fato de não estar disposta à encrenca. “Bendita” educação familiar!

O fato é que troquei a primeira poltrona pela última! Bela troca! Mas o pior estava ainda por vir. Depois de me acomodar, percebi que estava num “ônibus leito com asas”. Olhei para o lado, não haviam janelas. Nem uma chance de ver o céu para aliviar minha raiva contida. Num lamento... abaixei a cabeça. Um buraco no braço que dividia as duas poltronas, o chão sujo de migalhas e papéis me desanimaram mais ainda. Ergui a cabeça, respirei fundo.... e... veio então aquele cheiro desagradável do banheiro. E eram dois... bem ali, a pouco mais de 1m de distância.

Fechei os olhos, tentando me abstrair daquela situação. Mas, ao ligar o motor da aeronave.... não acreditei... estava sentado sobre ele. Barulho ensurdecedor. Quando o avião começou a se mover, as aeromoças saíram apressadas fechando os bagageiros superiores. Situação no mínimo estranha!

Será que aquilo poderia piorar? Poderia sim! Nos cinco primeiros minutos o passageiro a minha frente reclinou sua poltrona. Um palmo era a distância que faltava para encostar no meu nariz. Aos poucos a situação começou a ganhar proporções. Percebi que tranqüilidade era tudo que não teria naquele vôo. O entra e sai de pessoas no banheiro era constante. Além do trânsito, algumas se encostavam à minha poltrona, quase sentadas ao meu colo, enquanto esperavam o banheiro desocupar. Sem falar que ali era também a copa onde as aeromoças arrumavam as refeições que seriam distribuídas durante o vôo.

E foi assim durante as quase 2h15 de viagem naquele “ônibus com asas”. Pela primeira vez me arrependi de manter a fidelidade àquela companhia aérea. Desde o check-in (pela falta de informações) até a restituição demorada da bagagem. É nessas horas que sinto falta da concorrência de mercado. Será que reclamar adianta?