quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Eu x Eu

Entre as maravilhas e dissabores proporcionados pelos 30 (mais maravilhas que dissabores) acabo de descobrir que estou em guerra. Uma guerra de poderes: direita x esquerda.

Não, não é o caso de estar sendo cotada a líder de um dos nossos ‘digníssimos’ partidos. A dissidência foi instalada em uma máquina muito mais ética, organizada e eficiente, porém, não menos traiçoeira e surpreendente: o cérebro.

Como mera expectadora, tenho assistido a guerra de dois senhores: o hemisfério esquerdo, lógico e analítico, e hemisfério direito, intuitivo e sentimental.

Sabe aquelas tardes em que você está ‘giboiando’ no sofá da sala, assistindo Vale a Pena Ver de Novo, e de repente seu vizinho de andar resolve ouvir música e acha que todo prédio compartilha do deu ‘desgosto’ musical? Então imaginem a cena. Pois é, esses dois senhores que me habitam, por vezes insistem em perturbar minha tranqüilidade com suas divagações filosóficas.

Na verdade não passam mesmo de dois caras muito autoritários, sempre invadindo o espaço alheio a fim de dominar. Porque como muitos já sabem, é o Esquerdo quem comanda o lado direito do corpo e o Direito dá as ordem ao esquerdo. Já viram, né? A confusão já começa daí. E no meio dessa balburdia estou eu, acreditando que decido alguma coisa. Quanta ilusão.

O problema é que ultimamente a discórdia entre esses senhores tem se agravado e enquanto ficam em suas argumentações sem fim, pra saber quem tem a razão, passo minhas noites em claro. Como os vizinhos barulhentos.

O consenso entre eles tem sido cada vez mais difícil. É que o Sr. Esquerdo sempre interpreta literalmente as frases e o Sr. Direito fica buscando a intenção oculta de quem fala. Já implorei um acordo, ameacei tomar um daqueles clamantes naturebas, mas esses dois são tinhosos. Não sossegam.
Enquanto um me estimula a procurar situações seguras, o outro me apresenta um lado mais delicioso da vida em suas abstrações de tempo e sua mania de arriscar, esse é o Direito (que na verdade mais parece torto).

Dona Inconsciência andou me dizendo que o Esquerdo costuma imitar, representar, fingir, enquanto o outro é autêntico. Mas ainda não descobri esse lado oculto.

Não fosse o excesso de racionalidade e crítica do Sr. Esquerdo, eu até que daria mais atenção a ele. Mas essa sua mania de inibir minha criatividade, inventividade e sonhos, me deixam muito ‘P’. É controlador demais, sempre certinho... Mas, também não posso negar que sua segurança já me livrou de muitas encrencas.

Já o Direito, faz com eu solte a imaginação, viaja pelas asas do sonho, crie, invente, recrie e assuma minha liberdade. Mas enquanto me dá asas, também me faz cair em algumas cilada.

É difícil decidir quem está certo. E enquanto não entram em acordo, fico aqui feito barata tonta, sem saber se mando tudo pra PQP, se assumo um egoísmo protetor, se adoto a postura Madre Tereza de Calcutá, Joana D´Arc ou Madonna.

domingo, 26 de novembro de 2006

A 'burra' novamente... e melhor

Foi no dia 03 de janeiro de 2005 que me deparei com ela pela primeira vez. Ontem, quase dois anos depois, eis que surge novamente me trazendo novos desafios – a ‘ladeira da burra’. Alguém ai se lembra dela? Neste fim de semana ela voltou a ser protagonista de uma das nossas aventuras.

Era pra ser um sábado diferente. Havíamos marcamos um pedal em grupo, na verdade um desafio de quatro horas. Há muito tempo todos me falavam de um local em Maceió perfeito para um bom pedal de estrada. Difícil imaginar isso numa cidade ontem os ciclistas enfrentam dois riscos constantes: buracos no asfalto e motoristas malucos.

Depois de passar a semana toda pensando... “Vou ou não vou”? “Será que agüento”? Acabei sendo convencida pela idéia de estar entre amigos, num lugar novo. Resumindo: atraída por mais um desafio. Um desafio pessoal, deixando bem claro.

A brincadeira estava marcada para começar às 5h da manhã. Quem eram os malucos que acordariam às 4h da matina? Eu, Helsio, Serginho, Josemar, Tavares, Teo, Henrique e Itamar. É verdade! Enquanto algumas pessoas iriam dormir, depois de uma noite de farra, estávamos nos levantando para pedalar. Cada doido com sua mania, já dizia vovó.

Aliás, isso me fez descobrir que não sou a única maluca no prédio onde moro. Às 4h30, enquanto arrumava minha bicicleta no carro do amigo Doutor, flagrei um dos meus vizinhos saindo de casa com uma vara de pescar e isopor nas mãos. Sorri e respirei aliviada pensando que ao menos não ficaria só em caso de internação.

Como combinado, às 5h estávamos Benedito Bentes – carinhosamente chamado de Bio - um dos bairros mais populosos da capital. Ainda não conseguia imaginar onde poderia haver, por ali, o tal lugar espetacular para se pedalar. O local cospe gente pelas janelas das casas e é um vai e vem constante de ônibus.

Deixamos os carros em frente a uma igreja (talvez numa tentativa inconsciente de sermos abençoados naquela manhã) e a princípio aquela ruazinha na quebrada, que dava início ao pedal, não prometia nada demais. Mas, fui em frente com a curiosidade de saber o que descortinaria a minha frente.

A única coisa que sabia é que no circuito havia algumas ladeiras. ‘Tudo bem’, pensei comigo, nada demais para quem passou os últimos seis meses pedalando no cerrado.

As pedaladas começaram discretas, os minutos foram se passando e tal ruazinha - estreita, sem acostamento, margeada por cana-de-açúcar - foi se adentro por um extenso vale e as tais ladeiras foram aparecendo.

A primeira bastante discreta, a segunda na forma de uma descida sem fim aonde as bicicletas chegavam a, pelo menos, 60km/hora (isso para mim, que segurava firme os freios). Olhei para Helsio é perguntei: “Mas o que é isso?” “Isso é o que você vai ter de subir na volta”, respondeu o Doutor.

Entre o silêncio e o espanto, continuava na expectativa de saber o que viria pela frente, aonde e quando aquilo acabaria. Quantas ladeiras ainda teriam? Minha preocupação era manter um ritmo que me permitisse encarar aquelas quatro horas de sobe e desce sem riscos de quebrar no meio do caminho.

Alguns minutos depois, eis que surge ela ... A ‘ladeira da burra’. Pra quem não lembra a história, vale acessar os arquivos de 2005 e descobrir o porquê do apelido. (http://fanjo.blogspot.com/2005/01/porque-burra-empacou.html)

Enorme, imponente... nos deparamos com ‘a burra’ na contra-mão do desafio: uma descida que não acabava nunca. Aos poucos fui me lembrando então de aquilo tudo não era desconhecido. O cenário na verdade era o mesmo de anos atrás, mas dessa vez a percepção do desafio era bem diferente.

A primeira volta pelo circuito foi mais uma espécie de reconhecimento do território. Necessária para se ter uma idéia exata do desafio e calcular os limites para que a aventura não se tornasse um sacrifício. E não foi!

Aos poucos, fui reparando que aquele era mesmo um pedaço do paraíso para os apaixonados pela magrela. A tal ‘ruazinha’ singela e sem graça era apenas a porta de entrada para um trecho de estrada, com asfalto lisinho, que corta uma montanha russa de subidas e descidas cravadas no meio de um pedaçinho de mata.

Se aquelas intermináveis subidas eram um teste para a resistência cardíaca de cada um de nós, as descidas sem dúvida eram presentes dos céus. O fato é que o tempo passou sem que ninguém percebesse as tão desafiadoras quatro horas, com direito a cantoria, piada, boas histórias e, porque não, um pouco de meditação.

Assim, a manhã de sábado terminou bem e o fim de semana começou melhor ainda.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Quem nos limita?

Quando me deparo com um portador de deficiência física nem sempre sei como comportar-me. Olhar, não olhar, perguntar, calar, fingir que não há nada demais... nunca sei o que fazer. O fato é que essas pessoas não podem ser vistas como coitadinhas, mas até que ponto oferecer ajuda para aliviar suas limitações pode incomodar? Difícil saber o que vai na cabeça de quem tem de conviver com essa realidade.

No útimo domingo tive a oportunidade de pensar um pouco mais sobre isso. Estava no aerporto, embarcando para o Rio de Janeiro, quando me deparei com aquela família especial. Ele, numa cadeira de rodas, acompanhado dos pais e do irmão mais velho.

Fatalmente, no avião sentamos todos na mesma fileira, separado apenas pelo corredor da aeronave. A princípio tentei não olhar muito para aquele menino franzino, de olhar triste, totalmente imóvel dos braços para baixo. Nem tetraplégico, nem paraplético... aquele garoto estava no meio do caminho.

Durante 50 minutos, até a escala em Salvador, me contive em reparar os detalhes daquela situação, evitando constrangimentos. Concentrei-me no livro que estava lendo, mas, inevitavelmente, parava para refletir sobre aquela cena.

Eram visíveis os cuidados da sua mãe para deixá-lo o mais confortável possível naquelas poltronas que por si só já incomodam quem, como eu, não tem nenhuma limitação motora. Aliás, nesse dia nem senti a tradicional dor no pescoço que geralmente me acomete durante as viagens. Parece que tudo ficou menor nesse dia.

O pai e o irmão, ao meu lado, olhavam a todo instante para ver se ele estava bem. Qualquer gemido do garoto era motivo de atenção da família.

Naqueles minutos todos fiquei imaginado o que se passaria na cabeça daquele rapaz. Inútil tentativa. O máximo que consegui foi refletir sobre como EU estaria em sua situação. Aliás, inútil também...

Já no desembarque, aproveite a aproximação com sua mãe - a simpática D.Fátima - e soube num breve bate-papo que ele havia sofrido um acidente há pouco mais de seis meses, durante uma aula de judô. Imaginar-me na sua situação ficou ainda mais difícil.

"Não tenho raiva do judô" disse D. Fátima muito tranquila. "Poderia ter acontecido em qualquer outra circunstância. E quando ele voltar a andar (?) voltarei a incentivá-lo ao esporte". Sabedoria materna, fé, esperança, otimismo? Não sei. O fato é que ele, embora as fases normais de revolta diante daquele situação nova, fazia planos de voltar a faculdade e tornar-se um pesquisador.

Fatalmente esqueci de perguntar o nome daquele garoto, mas assim como aqueles atletas que vi no Iron Man - nadando, pedalando e correndo sem uma das pernas - ele me fez pensar em como somos os limitadores de nós mesmos.

domingo, 12 de novembro de 2006

Vários tempos

"Para cada coisa há uma estação, e um tempo para cada propósito sobre a terra: um tempo para nascer e um tempo para morrer; um tempo para plantar e um tempo para colher o que foi plantado; um tempo para matar e um tempo para curar; um tempo para destruir e um tempo para construir; um tempo para chorar e um tempo para rir; um tempo para lamentar e um tempo para dançar; um tempo para se desfazer das pedras e um tempo para recolhe-las; um tempo para abraçar e um tempo para abster-se do abraço; um tempo para ganhar e um tempo para perder; um tempo para guardar e um tempo para jogar fora; um tempo para gastar e um tempo para costurar; um tempo para se calar e um tempo para falar; um tempo para amar e um tempo para odiar; um tempo de guerra e um tempo de paz".

Eclesiástico

sábado, 4 de novembro de 2006

A idade é essa

Na minha ausência, fiquem com Quintana. E lembrem-se... a idade é essa. O hoje!

IDADE

Existe somente uma idade para a gente ser feliz.
Somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito, nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo novo, de novo e de novo, e quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE
e tem a duração do instante que passa ...

Mário Quintana