segunda-feira, 12 de abril de 2010

A ditadura do TER

A cada dia que se passa me convenço mais ainda que o ter é imensamente mais penoso que o não ter ou, simplesmente, ser.

Esse estado de ter pode ser escravizante a tal ponto de nos fazer “perder” o ser. Ter muito dinheiro, ter muita beleza, ter muito poder ou influência. São condições que colocam a prova nossas convicções e valores, ou a falta dele.

Quem tem muita beleza vive o desafio constante de não se deixar tomar pela vaidade excessiva, de não enveredar pela banalização dos sentimentos e não utilizar seu estado de ter como arma para conquistas fáceis.

Quem tem muito dinheiro tem de enfrentar as tentações do egoísmo, que muitas vezes nos isola do mundo e nos faz ficar cegos para as dores do próximo.

Poder e influência são outros estados de ter que podem revelar os monstrinhos internos de cada um. E olha nem precisa ter muito. Uma simples promoção, um título mais “importante” no trabalho, na comunidade ou no grupo religioso já é suficiente para fazer brotar o autoritarismo, a inveja, a cobiça e tantas outras chagas.

Quem tem, sem ser, acaba enterrado pela areia movediça dos próprios sentimentos (ignorados). É que passamos tanto tempo buscando metas exteriores e nos esquecemos de cuidar da única estrutura capaz de sustentar todo o peso das cobranças e das decisões – o nosso interior.

Talvez por isso vejamos tantas pessoas se perderam quando lhes é dada a oportunidade de ter. Esquecem que essa auto-realização que tanto perseguem está atrelada a um processo de interdependência.

Eles desconhecem que “a auto-realização nasce e amadurece a partir de um tipo distinto de consciência... Chamaremos de percepção do miraculoso. “Miraculoso” aqui se refere não apenas aos fenômenos extraordinários, mas também aos comuns, porque absolutamente tudo pode evocar essa consciência especial, se prestarmos atenção suficiente. Quando a percepção se libertar do domínio do preconceito e do interesse pessoal, poderá experimentar o mundo como é em si mesmo e contemplar sua magnificência inerente... A percepção do miraculoso não exige fé ou pressupostos. É simplesmente uma questão de prestar total atenção aos fatos da vida, isto é, a tudo que está tão presente que não costumamos perceber. A verdadeira maravilha do mundo esta disponível em todo lugar, nas menores partes dos nossos corpos, na vastidão do cosmo e na intima interconexão entre todas essas cosias... Somos parte de um ecossistema delicadamente equilibrado em que a interdependência anda de mãos dadas com a individualização. Somos todos indivíduos, mas também parte de um todo maior, unidos em algo tão vasto e belo que está além das descrições. A percepção do miraculoso é a essência subjetiva da auto-realização, a raiz de onde crescem as mais elevadas características e experiências humanidade.” (Michael stark e Michael Washburn. “Beyond the Norm: A speculative Model of Self-realization”)

E você, tem ou é?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Qual o seu entendimento sobre a vida?

Esse começo de mês, em que milhares de católicos comemoram a ressurreição de Cristo, foi propicio para refletir sobre um tema que divide famílias e povos - religião.

Em todos os cantos do Brasil vimos (e sempre veremos) manifestações de fé que dispensam explicações racionais. São pessoas que defendem sua religião, preocupadas com rituais que possam garantir uma vida feliz, com obediência ao Criador. Mas, de fato, o que importa: ter uma religião ou ser religioso?

Um autor norte americano diz que “à medida que os seres humanos crescem em disciplina, amor e experiência de vida, sua compreensão do mundo e seu lugar nele crescem naturalmente no mesmo ritmo. Se eles não desenvolvem essas qualidades, não evoluem e não adquirem esse conhecimento. Conseqüentemente, entre os membros da raça humana, existe uma grande variedade de amplitude e entendimento do significado da vida. Esse entendimento é nossa religião”.

À primeira vista, os mais fervorosos podem repudiar essa idéia - de religião como entendimento do significado da vida - julgando tratar-se de uma apologia ateísta. Um engano natural, pois nossa mente foi treinada para compreender a religião como uma seita regida por um líder Supremo e nós... seus seguidores passivos.

Acontece que, se observarmos atenciosamente, o que o Cristo, ícone incontestável da religiosidade, conhecido não apenas por católicos, mas por espíritas, budistas, judeus, hinduístas, etc., não defendia uma religião. O Mestre pregou e vivenciou uma ideologia, que tinha o amor ao próximo como lei maior.

Não quero dizer com isso que devemos destruir todos os templos. Absolutamente não! A religião, com todas as suas segmentações, ainda é um suporte necessário a nós, espíritos cegos e ainda vacilantes. Mas creio que o crescimento espiritual, de fato, é uma viagem de conhecimento e não de fé (cega). O que a humanidade precisa é encarar a viagem interior em busca do autoconhecimento, da divindade que existe em nós, a ponto de vencer o que nos faz azedar por dentro. Se todos os homens adotassem em suas ações (não apenas verbalizações) apenas um dos conselhos do Cristo - amar ao próximo - não precisaríamos de tantas religiões que “conduzem a Deus”. Por enquanto, nosso desafio é entender o que significa esse amor.

domingo, 21 de março de 2010

Audiência com Deus

A pauta ainda não está fechada, mas na minha próxima audiência com Deus vou pedir a revisão de algumas leis um tanto injustas.

Embora não tenha me nomeado porta voz da humanidade, acho que Ele não é do tipo que recusa conselhos. Além do mais, depois de tantos anos (luz) na gestão do universo, algumas mudanças podem até fazer bem para humanidade.

Bem, dentre os itens que proporei revisão, há um especial que está no topo da lista. Vou sugerir uma emenda à Lei de Ação e Reação, proibindo idosos de sofrer, principalmente aqueles que levaram uma vida digna e repleta de sacrifícios.

Com as mudanças na Constituição Celeste eles passariam a ter privilégios, regalias e todos os tipos de mimos que fazem bem a alma.

A emenda que apresentarei ao Supremo determina que idosos não podem adoecer, nem da mente, nem do físico. Nada de dores musculares, osteoporose, doenças de pele e disfunções gastrointestinais. Nada de picadas de agulha, remédios amargos ou muletas. Vovôs e vovós nas filas do nosso eficiente SUS, sendo humilhados por tentar usufruir de um direito, adquirido à custa de muitos impostos? Terminantemente proibido!

Para eles a morte deverá chegar de maneira sutil, como uma bateria que vai descarregando aos poucos. Nenhum acidente ou internações.

No setor de embarque do aeroporto me deparei com um senhor de corpo franzino, curvado, calças acima da cintura, óculos de lente amarela (amarela mesmo) e movimentos lentos. A esteira onde era feita a inspeção das bagagens de mão (raios-x) era só dele. Ninguém ousava apressá-lo ou reclamar do seu ritmo. Naquela cena, meu e outros olhares eram de contemplação.

E assim deveria ser, sempre! Eles não deveriam lidar com atendentes de loja mal educados, enfermeiros impacientes, netos mimados, filhos egoístas ou tão pouco pedir esmolas, dormir nas ruas ou ficar abandonados em asilos. Jamais deveriam ser aborrecidos com brigas mesquinhas de família.

Aparelhos para surdez e dentadura? Nem pensar. Eles deverão ter liberdade para comer e ouvir os belos sons que a natureza pode oferecer. Para o restante dos barulhos, fofocas e reclamações sem fim, caberia a audição seletiva.

Passada certa idade, o trabalho deveria ser hobby e não um determinante para o sustento. E se o Alzheimer os atingisse, que os fizesse perder apenas as lembranças dolorosas.

Para eles... bicicleta, banho de mar, bolinho de chuva (feitos pelos netos), caminhadas no parque, jogo de xadrez, muito tricô, uma rede e um livro e, por que não, salto de pára-quedas, trilhas no parque... Enfim, tudo o quando a mente pudesse e quisesse acompanhar.

Já dizia Carlos Drummond de Andrade que “há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons”. Então, para os nossos idosos, doses diárias de bombons, de todos os sabores.

Mas, esse é apenas um item da minha pauta, o que vocês proporiam ao Magnânimo?

segunda-feira, 15 de março de 2010

Eles são indispensáveis

Entre os muitos personagens que passam pela nossa vida, os dias que passaram me convidaram a refletir sobre um em especial – os amigos.

O honrado Aurélio diz que amigo é 1. Que é ligado a outrem por laços de amizade. 2. Simpático, acolhedor. 3.Que ampara ou defende; protetor... Entre muitas outras definições.

Na verdade, nos acostumamos a utilizar a palavra “amigo” de uma maneira genérica e instituímos uma escala de valores. Nela há o amigo “Básico”, o amigo “Premium” e aquele “Reserva Especial”, raríssimo de se encontrar e seu cultivo rende frutos de sabor inigualável. Mas, esqueçam as generalidades, hoje quero falar sobre os amigos mesmo.

Dias atrás, uma amiga, daquelas que não mede esforços para ajudar alguém, contava sobre suas aventuras do final de semana, onde trocara a psicologia pela carpintaria. Casada a pouco mais de um ano, já fazia alguns meses que ela vinha perseguindo a meta da casa própria. Não que o dinheiro estivera sobrando, ela simplesmente estava decidida a não desperdiçar (mais) dim dim com aluguel. Claro que, com a coragem e a persistência que são suas características, ela conseguiu.

Mas, depois de garantida a compra, o dilema era saber se faziam os concertos no apartamento ou se o mobiliavam. Escolha difícil e que foi solucionada rapidinho. Os amigos, de imediato, se prontificaram a cuidar da reforma do apartamento. Fizeram um mutirão para lixar, pintar e concertar tudo que podiam. Quem tinha alergia tratou de tomar umas bolinhas para evitar crises e quem tinha trabalho trocou o descanso pelo turno extra. O objetivo era um só: arrumar a casa da amiga e fazê-la economizar bons trocados.

Enquanto ela me contava sobre aquele mutirão eu pensava sobra importância dessas figuras em nossa vida. Quanto tempo leva para construirmos essas relações de amizade? De que material elas são feitas? São resistentes a criptonita?

Não arriscaria uma teoria. Mas, posso dizer que amizades se constroem com o tempo. São edificadas com risos, com aborrecimentos, com dedicação, companheirismo, com desentendimentos e, sobretudo, com o compartilhar de valores. Às vezes elas ficam abaladas, mas, se há respeito e compreensão, são restabelecidas, mesmo que leve um tempinho.

Amizades são resistentes a distância geográfica e ao passar dos anos. E chega um momento em que eles – os amigos – passam a ter as mesmas prerrogativas de mãe, pai ou irmão mais velho.

E engana-se quem acredita que amigos são sempre uma boa companhia e dizem apenas coisas boas a nosso respeito. Ora, ora... Pessoas sempre “boazinhas” não são amigos, são políticos.

A amizade implica em amar e quem ama colabora com o crescimento do outro. O que significa que os amigos, muitas vezes, irão nos confrontar e dizer verdades nem sempre agradáveis. Mas, ainda assim são capazes de respeitar a nossa individualidade, nosso tempo e as nossas escolhas.

Amigos - sejam pais, irmãos, namorados, esposas ou amigos – nos fazem perceber que família vai muito além do sangue e que esse sentimento, por vezes tão mal interpretado, chamado amor, pode ser multiplicado por milhares.

Felizes de quem os têm!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Ter ou não ter...

O post da semana passada causou certo frenesi. Mas isso já era de se esperar, pois toquei num ponto um tanto delicado. Afinal, com mãe não se mexe, não é verdade?

Até que uma amiga, daquelas que me inspiram a maternidade, levantou a seguinte questão: “E aqueles casais que optam por não ter filhos? Porque você não fala deles?” Ela estava um tanto abusada, é verdade. Mas amiga tem esse direito.

Pensei, pensei, pensei... o que a danada queria dizer com isso?

Tendo a mim mesmo como exemplo, passei a refletir sobre o assunto e muitas coisas vieram à mente.... Será que não ter “rebentos” seria uma opção egoísta e conveniente?

Para alguns talvez seja. Afinal, maternidade (ou paternidade) é um sacerdócio. Dentro das minhas crenças pessoais, os filhos são seres que nos foram confiados para que possamos ajudá-los a crescer, em todos os aspectos. E como dedicar-se a tal missão enquanto nossos interesses estão voltados para questões ainda egoístas e de satisfação a curto prazo?

Olhando por esse ângulo, não tê-los pode ser egoísmo sim. Ou pode não ser... Há pessoas que simplesmente adotaram outras prioridades na sua lista de realizações pessoais. Há casais, mais iluminados, que conseguem transcender nossa pequenina noção de família e se realizam dedicando-se a outras pessoas, anônimas ou não.

Por mais que pense no assunto só consigo voltar à mesma pergunta: o que, verdadeiramente, nos motiva? O que buscamos?

Crianças são lindas! Talvez nenhum outro ser no planeta tenha tanta habilidade para aproximar e reconciliar pessoas quanto esses pequeninos. Sabiam que uma gargalhada dessas “fadas” disfarçadas de pequenos mortais pode ser terapêutica?

Mas, para que crianças cresçam emocionalmente saudáveis é preciso provas de amor, diárias. E não me refiro apenas aos afagos na cabeça, beijinhos de boa-noite e noites em claro.

Amor significa esforço, esforço demanda tempo e, normalmente, desgasta. Saber ouvir faz parte do esforço da atenção. Para ouvir, precisamos renunciar ao nosso tempo, concentrar-se e experimentar o mundo de quem fala, ainda que seja muito diferente do nosso. Isso é amor.

Acontece que nem todos estão dispostos a isso e optam por não se arriscar. Egoísmo, medo, insegurança, momento? Não sei... Deixo a avaliação para vocês.

Mas não acredito que haja uma “fórmula” certa, tipo “se casou, tem de ter filhos”. Felicidade e realização são muito subjetivas para serem taxadas.

E... Para aqueles que duvidam... Sim! Pretendo ter filhos. Um ou dois! Apenas não sei quando. Por enquanto, estou no empenho por ser menos “general” e mais humana.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A cegonha pode esperar

Passado certo tempo de relacionamento, agora começo a ser “aterrozida” com aquela pergunta clássica... “E o bebê, quando chega”?
- Como é?! Mas eu nem sabia que ele estava a caminho. Ninguém me avisou nada.

Ou então, basta uma colega de trabalho engravidar e lá vem a clássica... “Você será a próxima, viu”? Alguns, mais cruéis, ou inconformados, dizem... “Ainda vou ver você com trigêmeos”. Imaginem então a minha atual situação, convivendo com três gestantes na mesma empresa.

Alguém precisa dizer pra essa gente (eu já cansei de tentar) que namoro+casamento nem sempre é (imediatamente) igual a filhos+fraldas+choramingos+noites em claro.

Nada contra. Absolutamente! Acho a gestação uma coisa mágica, lindíssima. E que os filhos são divisores de água em nossas vidas. Que além das fraldas e choramingos têm as gargalhadas, as descobertas e a vivência do amor. Também sei que tudo tem um prazo de validade, inclusive os hormônios.

Mas, sinto que, às vezes, estamos tão bitolados no padrão “ensinado”, que não pensamos naquilo que verdadeiramente nos motiva.

Vejo meninas de 20 anos, solteiras e desesperadas, achando que vão ficar para titia. Resultado: Casam-se com o primeiro sapo, quer dizer, príncipe encantado que aparece pela frente.

E embora conheça mães admiráveis, que me inspiram, também ouvi mulheres aspirando à maternidade, pois assim “nunca mais ficariam sozinhas”. Santo Deus, quanto egoísmo! Resultado: Mães possessivas que transformam seus filhos em bichinhos de estimação ou em moeda de troca no relacionamento. É cruel, mas é verdade.

Vitor, um pequeno notável de 11 anos, na sua grande sabedoria, disse à avó:
“O homem e a mulher deviam fazer uma prova para saber se podem ser pai e mãe. E se não passassem na prova, eles não poderiam ter filhos”.

É isso aí Vitor, você disse tudo. Afinal, há muita gente maluca no mundo. Muita gente despreparada, carente, infeliz e cheia de “marcas”. Homens e mulheres ignorantes sobre si mesmo. Pessoas que precisam de um pai e não de um filho.

Esse negócio que, quando chega a hora, desenvolvemos o instinto necessário para educar os filhos... é balela. Ou melhor, até tem um fundo de verdade. Desenvolvemos instintos. Instintos que nos ajudarão a cuidar dos filhotes e ensiná-los a sobreviver no mundo, sozinhos. Mas e o resto, como fica?

Quem vai ensinar a eles que às vezes precisamos adiar certos prazeres? Ensiná-los que quando evitamos encarar a dor, adiamos o nosso crescimento. Que disciplina doméstica e autodisciplina são coisas completamente diferentes, e que sem essa última não podemos resolver coisa alguma na vida.

Quem vai dizer aos pequenos que para serem amados não precisam ser “bonzinhos” e falar sempre coisas agradáveis? Que eles podem e devem expressar seus sentimentos e idéias, mesmo sendo contrárias as suas. Mas, que precisam assumir a responsabilidade pelo que são ao invés de transferi-la para o vizinho.
Alguém precisa dizer a eles que a honestidade não é indolor, mas, que mentir para nós mesmos é ainda mais doloroso.

Jean Piaget, um grande educador, estudioso do desenvolvimento cognitivo, dizia que a educação de uma criança começa 20 anos antes dela nascer, com a educação dos seus pais. Concordo! Pais despreparados (emocionalmente) geram filhos neuróticos ou com desordem de caráter, porque, sem perceber, descarregam sua carência, seus medos, sua solidão e seu vazio nas pobres crias.

E depois o mundo fica se perguntando o que está acontecendo com a nossa sociedade.
O que acontece vai mais ou menos por aí. Pais transferindo para os filhos suas feridas inconscientes, abertas por gerações.
De quem é a culpa? De quem, hoje, consegue perceber essa “falha” e nada faz a respeito.

Então gente, na conta de Piaget, eu ainda estou passando pelos 15 anos. Tenham paciência porque meu objetivo é dar filhos melhores ao mundo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Verdades que não nos contaram...

Já conheci muitas versões para o significado da palavra amor. Algumas românticas, outras pessimistas. Por vezes, cercada de ilusões cor-de-rosa ou nebulosamente desesperançadas. Esse é mesmo um sentimento que nos leva a extremos.

Confesso que eu mesma já ensaiei muitas teorias sobre relacionamentos. Mas, agora, percebi que eram todas superficiais. Nada como o casamento para fazer você mudar conceitos e mostrar que tuuuudo aquilo que você acreditava e se orgulhava em saber... Na verdade, não sabia. Sua sapiência não valia muita coisa.

Nessa semana comemoramos nosso primeiro ano de casamento, tempo suficiente para descobrir verdades que ninguém nunca havia dito sobre amor e relacionamento.

Sim! Falaram algumas coisinhas, mas ninguém foi a fundo e rasgou o verbo. Ninguém havia dito que para viver a dois (viver mesmo, não apenas passar os fins de semana) era o mesmo que fazer um intensivo para monge budista.

Verdade seja dita... Os pais e amigos nos dizem apenas do básico. Alguns inimigos podem até tentar nos alertar, num gesto de solidariedade, mas, vindo deles, logo interpretamos o conselho como praga.

Vejamos... Nos falam sobre a paciência para lidar com as diferentes maneiras que homens e mulheres “tratam” a toalha após o banho; ou para a antagônica forma de compreender a utilidade da tampa do vaso sanitário. Lendas que ouvimos desde pequeninos.

Alertam para aquelas bobagens de (des) organização, de chinelos pela casa, de meias largadas no escritório e outras pequenas coisinhas. Mas, há dezenas de detalhes que acabamos por descobrir na marra.

Por exemplo, ninguém tem a coragem de falar que você terá que abrir mão do seu egoísmo, aquele que você cultivou por tanto tempo e que hoje mais parece uma trepadeira a sugar toda sua educação e companheirismo. Ahhh... Ninguém fala que vamos ter de matar nossa “plantinha”. Tão desumanos.

Ninguém diz que você vai ter de reavaliar os conceitos de orgulho e amor próprio, ou diz? Dizem que você vai ter de aprender a ceder? Nana nina não. Não dizem mesmo.

Nossas mães nos orientam sobre as habilidades e os talentos que devemos ter enquanto mulher, profissional, dona de casa e mãe. Mas elas comentam que, além disso, devemos ter o dom da psicologia canina? Não.

E os pais? Aconselham os filhos sobre o papel provedor e protetor que devem desempenhar na família. Agora, por um acaso, dizem a eles que não se casam com uma, e sim com duas mulheres? Uma na fase da progesterona e outra do estrogêneo? Mulheres que num minuto são meigas e no minuto seguinte se transformam em filhotes de diabo da tasmânia. Isso ninguém diz aos pobres coitados.

E o pior... Ninguém nos fala que com o casamento você perde o título de “Dono da Verdade”. Anos de vaidade e pretensão jogados fora. Tanto tempo cultivando a arrogância e para no final das contas descobrir que existe outro dono ou dona desse posto. Séculos de enganação.

Acho que, na verdade, ninguém tem a coragem de admitir que “milhões de pessoas desperdiçam um bocado de energia tentando desesperada e inutilmente ajustar a realidade de suas vidas à realidade do mito (o mito do amor romântico)”.

Poxa, não seria mais fácil dizer que há dias em que você irá odiar o ser amado e outros onde irá contemplá-lo, como se fosse a uma das maravilhas do mundo? Dias em que ele (ou ela) não estará tão belo ou romântico e outros em que dirá a você mesmo: “Nossa, sou uma mulher de sorte”.

Deveriam nos dizer que a discordância é saudável e que vocês podem ser felizes juntos, sem serem dependentes do amor do outro. Eles poderiam ser mais objetivos e dizer que o casamento é uma excelente oportunidade para descobrir mais sobre você mesmo.

Bem, talvez não adiantasse muita coisa. Talvez não conseguíssemos compreender a complexidade desse sentimento, sem vivenciá-lo. Talvez não fosse possível entender que mesmo com tantas “ilusões” partidas, tudo isso vale a pena.