sábado, 30 de dezembro de 2006

Um casório pra fechar o ano bem

Entre as coisas que emocionam uma mulher, poucas eram tão indiferentes a mim quanto ao casamento. Eram!

O dia 29 de dezembro de 2006 entrou para a lista das datas mais emocionantes dessas quase três décadas. Foi o casamento dos meus mais que amigos, irmãos, Lúcia e Marcelo.

Lembro como se fosse ontem...
Era uma noite qualquer da semana e liguei pra Lúcia, que há um bom tempo estava sem namorado, convidando-a para sairmos. Queria que ela conhecesse o David e Marcelo, dois amigos de aventura.

Na verdade, queria que Lúcia conhecesse Marcelo. Já tinha tentado apresentar outros amigos a ela, mas tudo sem muito sucesso... Apenas boas, muitas, risadas.
No encontro, Marcelo já chegou atrasado (nada muito bom para a primeira impressão). Na verdade, estava um tanto descrente da possibilidade de aproximá-los. Sabia que eram muito diferentes.

Lú... Arquiteta que admiro pela inteligência, sensibilidade e sua imensa capacidade de se adequar a situações adversas, era difícil de agradar. Marcelo, ainda na faculdade de Biologia, estava na fase “carpe diem”. Tratava-se de um amigo que admirava pela sua habilidade “safa”, pela sua característica protetora, sua personalidade decidida e autêntica. Um animado companheiro de aventura. Mas, o conhecia suficientemente para saber do seu gênio nada fácil de administrar.
Ainda assim, era só uma tentativa.

O fato é que aquela tal noite não produziu muitos efeitos nem em um nem em outro. Então, dar uma forcinha para aproximação deles foi algo tentador e inevitável.
Confabulando com outra amiga – Gisele - perguntei o que ela acharia se eu desse o telefone da Lúcia para Marcelo.
- Ela vai te odiar. Mas pode dar. Eu não conto nada.
- Combinado.

No dia seguinte, lembro que estava sentada na redação da TV aguardando um telefone para concluir a produção de pauta quando liguei para Marcelo.
Tentei sondar o que ele havia achado de Lúcia. Os comentários foram monossilábicos, mas ficou animado quando disse que minha amiga havia falado bem sobre ele.
- Porque você não liga pra ela?
- Ligar? Mas ela nem me deu seu telefone.
- Mas eu tenho. Liga. Convida pra ir ao cinema, fazer qualquer coisa. Ela adora cinema.
- Mas será que ela vai gostar?
- Com certeza! (foi uma mentirinha de boa fé)

Claro que ele não seria bobo em perder a oportunidade e achando que estava com a faca e o queijo nas mãos... Ligou. É claro que a Lúcia dispensou o rapaz. Mas, Marcelo não desistiu tão fácil. Era genioso... (para felicidade de todos)

Do outro lado, eu e Gisele tentávamos dar uma forcinha ao ‘acaso’.
- Vai Lú... É só um cinema. Nada de mais. Aceita o convite do cara.

Finalmente... Um dia, no trabalho, encontro Lúcia e ela já vai abrindo aquele sorrisão característico e com seus trejeitos paraenses foi me perguntando...
- Éeeeegua... O que foi que você me arrumou hein?

Não me lembro ao certo, mas devia ser meados de 2001.
Nesses anos todos acompanhei a evolução dessa história... Com cenas boas e outras nem tanto. Muito aprendizado. Com eles aprendi que relacionamento exige concessão... Sem anulação. Descobri que as brigas e desentendimentos fazem parte, mas que não podem chegar ao extremo e que devemos calar antes que isso aconteça. Aprendi que é preciso respirar fundo e refletir antes de tomar qualquer atitude precipitada (minha especialidade) e me ensinaram também a respeitar as diferenças.

Hoje, me orgulho desses irmãos. Vi meu amigo amadurecer como homem, profissional, amigo e companheiro. Vi minha amiga ceder, aprender, ensinar e dividir planos. Nada de perfeição. São um casal como qualquer outro, com suas inúmeras diferenças. Mas certos do que sentem um pelo outro e certos de que para preservar esse amor são necessários alguns sacrifícios pessoais, que envolvem vaidade, orgulho e egoísmo.

Esse dia 29 de dezembro foi a oficialização de algo que há muito já estava selado em seus corações. Ali não havia apenas um protocolo, mas uma demonstração de imenso respeito. Afinal, desde que conheço Marcelo sabia que casamento (oficializado) não estava em seus planos e eles já moravam juntos há bom tempo. Mas para minha amiga também não foi lá muito fácil esperar o tempo certo de Marcelo.

Minha felicidade e emoção foi em vê-los assumindo para todo mundo o desejo e a vontade de construírem uma vida juntos, registrando essa intenção para a sociedade.
Não acredito que por ser legal haverá grandes mudanças na história que já construíram. Mas o fato é que agora, nas correspondências, ela será a Sra. Lúcia e ele o Sr. Marcelo.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Nossa própria prisão

Às vezes nem precisamos de muitos conselhos pra sair da maré de baixo astral. Mas, egoístas que somos, insistimos em fechar os olhos para o que acontece a nossa volta e, como seres limitados, nos mantemos na prisão de nós mesmos. Assim, dondocas curam suas dores afogando-se em caixas de chocolates e rapazes tentam sufocar suas frustrações num copo de qualquer coisa. Em alguns casos cura-se a dor com um corte novo de cabelo, um estrago no cartão de crédito, um brinquedinho tecnológico... Enfim, qualquer coisa que não se sinta.

Hoje, a protagonista dessa síndrome egoísta fui eu mesma. No meu carro, a caminho do trabalho, sentia-me triste por razões pequenas, tão vergonhosamente pequenas. Era tamanho o oco no coração que nem me aborreci com a seqüência de sinais vermelhos naquele trecho de apenas dois quilômetros.
Até que em um desses sinais, minha concentração egoísta foi quebrada por uma mãe que atravessa a rua, segurando a mão do seu filho.

A fração de minutos daquela cena foi suficiente para ‘acordar’ do transe. O garotinho, com menos de 10 anos, acometido por algum tipo de deficiência, tinha dificuldades para descer o meio fio e caminhar por entre os carros. Suas perninhas tortas tropeçavam uma na outra e seu equilíbrio era mantido pela mão firme de sua mãe.

O semblante daquela criança demonstrava um desentendimento pelas coisas ao redor e uma doce ingenuidade. Que provações e que constrangimentos não passaria aquela mãe? Quantos deveriam ser os problemas daquela mulher para suprir aquele garotinho de todo o carinho e necessidades?

Confortável em meu carro, com as contas em dia, trabalho ‘estável’, uma boa e aconchegante morada, inteligência e demais capacidades no lugar... Envergonhei-me por aquela tola tristeza.