quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Fortaleza de papel

Como se constrói uma fortaleza, de fato? Com cara sisuda, palavra firme, convicção de idéias? Com porte austero e caminhos sempre certos? Seria resultado de uma conduta moral que não gera contradição entre palavras e atitudes, da disciplina, do acerto?

Senhores e senhoras... Abandonem suas antigas crenças. Digo que essa fortaleza se constrói seguindo o caminho do coração. Felizes e fortes são aqueles que aprendem (ou tentam) a administrar seus conflitos, que reconhecem e aceitam suas fragilidades, as oscilações de humor, as perdas... Mas que, ainda assim, dão o melhor de si. Sentem, expressam, recebem, doam e não se autoflagelam pelos erros que cometem. Lembre-se... seja alegre, gentil, chato, elegante, magro, gordo, largado, crítico, humilde, discreto, arrogante, humano, sincero... Ouça o coração e construa sua fortaleza.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Efeito borboleta, atropelamento... alguém explica?

Prometo que terei mais cuidado meus amigos, prometo!Aquele foi um dos dias em que a rotina é colocada de lado e nos faz pensar no tal “efeito borboleta”. Em como o “acaso” faz sua programação, como escolhe pessoas e situações.

Era pra ser um dia em que, normalmente, acordaria cedo e sairia para fazer meu treino de bicicleta. Mas, a viagem para o Rio de Janeiro fez com que alterasse minha programação. Tinha de estar no aeroporto às 10h30 e ainda faltava arrumar algumas coisas para a viagem, então decidi substituir a bike pelo treino de corrida (mais curto).

E assim fui. Ao chegar à praia – quatro quadras da minha casa, meu quintal - o primeiro pensamento foi agradecer a Deus pelo privilégio de estar ali, vendo a manhã nascer com suas cores suaves, um mar azul e calmo. O treino já se tornou mais que uma prática esportiva. É também um momento de refletir e socializar. A cada passada um pensamento, um “bom dia” e por ai vai. Naquele dia não foi diferente. Ao longo do caminho fui encontrando os amigos de sempre, companheiros do treino de corrida e bicicleta. Entre eles um senhor que vez ou outra pedalava na praia.

- Você se incomodaria se eu tentar acompanhar você no pedal?
- Imagina. Sem problemas.


Lembro-me que esse foi nosso primeiro contato e ao vê-lo naquela manhã pensei: pois é amigo, hoje quebrei a rotina. Você vai pedalar sozinho.

Nos feriados e fins de semana é comum ver motoristas em atitudes irresponsáveis. Por isso mesmo é que alguns amigos nunca cansam de me pedir cuidado. Mas só agora as palavras do amigo Hélcio realmente soam fundo... “Antes de sair para treinar eu sempre peço a Deus que me proteja. Nós nunca sabemos quem vamos encontrar pelo caminho”.

Estava com 50’ de corrida, faltando pouco para chegar em casa, quando passaram por mim o amigo ciclista – devidamente equipado - e um desses motoristas estúpidos que colocam em risco suas vidas e as de tantas outras pessoas.Não se passaram nem dois minutos se passam de corrida e quanto olho para frente vejo apenas um aglomerado de gente e uma pessoa estendida no chão. Não acredito... Aquele motorista atropelou uma pessoa. PQP. PQP!!!

Continuei correndo, tentando entender o que estava vendo, quando um carro se aproxima de mim. Era um dos conhecidos das caminhadas na praia, indignado: um rapaz embriagado acabou de atropelar um ciclista. Será que você conhece? Naquela distância não conseguia identificar quem pudesse ser, mas a primeira pessoa que veio a mente foi o “cara da Trek branca”. Comecei a correr mais rápido e a cada passada a preocupação aumentava, junto com uma explosão de indignação e a raiva. Era ele, o cara da Trek branca que havia tentado me acompanhar na semana passada.

As pessoas que estavam ao redor, olhando a cena, não sabiam o que faze e quando me aproximei , correndo, olharam para mim como se eu pudesse resolver algo. Foram logo me entregando o relógio do tal ciclista e perguntando quem era ele. Mas eu não sabia seu nome, a quem avisar do acidente ou o que fazer. Segui apenas o instinto e pensei no que precisaria se estivesse em seu lugar (não fosse a quebra da rotina, eu estaria pedalando naquela manhã). Ajoelhei ao seu lado para ver se estava acordado. O que vi foi um homem de respiração ofegante, imóvel, extremamente machucado (desnecessário mencionar os detalhes) e sangue por todos os lados. O impacto da pancada quebrou o pára-brisa do carro e não tinha idéia do estrago que teria feito por dentro dele. Por instantes tive medo que ele parasse de respirar, que tivesse uma convulsão ou qualquer outra coisa do tipo. O que fazer? Sabia apenas que não deveria tentar deixá-lo imóvel até a chegada do socorro.

Então coloquei as mãos em suas costas, me aproximei do seu rosto e fiquei conversando com ele. Tentando acalmá-lo e, intimamente, pedindo a Deus que ele “resistisse” até a chegada da ambulância. Os minutos pareciam intermináveis, mas, aos poucos, a sua respiração se normalizou e eu me tranqüilizei.

- Você consegue dizer seu nome?
Nada! Nem uma palavra. Apenas um olhar vago.

Fiquei ali até que o socorro chegasse. Foi quando pude olhar para os lados e ver que a bicicleta havia se transformado em um monte de ferro retorcido. O que fazer agora? Ele vai entrar nessa ambulância só? Para onde iria? Como avisar a família? Quem eram seus familiares? E a bicicleta, o que fazer com ela? Não havia ninguém ali que o conhecesse e pudesse acompanhá-lo. Pensei em fazer esse papel, mas faltavam menos de três horas para meu vôo. Então tentei sensibilizar uma das pessoas conhecidas que assistiam a cena, mas não deu muito certo... “Meu Deus... poderia ter sido um de nós ali, naquele dia. Poderia ter sido eu. Ele não poderia ficar só, naquela situação”. Senti-me angustiada e com uma enorme sensação de egoísmo.

Na minha limitação, o que pude fazer foi convencer algumas pessoas de ser um canal de contato para os socorristas, caso não conseguissem entrar em contato com a família do ciclista. Pensei em me voluntariar, mas não estaria em Maceió, e dessa forma não poderia resolver muita coisa. Pedi ainda ao vigia do clube onde nado (que também assista a cena) que guardasse o que havia restado da bicicleta.

E assim, sem ter mais o que fazer, vi aquele rapaz ser levado ao hospital. Chocada, indignada, enfurecida, assustada com a fragilidade de nossa vida. Agora sim compreendendo os pedidos de cuidado, vindos de todos os lados. Poderia ter sido eu naquela manhã, poderia ter sido um dos amigos mais próximos.

O que aconteceu com o ciclista? Ao chegar ao Rio, busquei informações e soube que ele estava fora de perigo. O que aconteceu ao motorista? Não sei. Mas o que vocês acham que pode acontecer num País onde grande parte da sociedade e seus governantes ainda preferem aceitar que esses “acidentes” são decorrências naturais de um conjunto de fatalidades? Onde, anualmente, 34 mil pessoas morem em acidentes de trânsito, 400 mil ficam feridas e.... Quantas mesmo são presas?? Um País onde a faixa de pedestre é apenas um mero detalhe pintado no chão das ruas e onde pagar ou não multa de trânsito depende do tamanho do seu “network”?!

domingo, 14 de outubro de 2007

5.292 e um atropelamento

Dia das crianças e um presentinho nada convencional. Que tal uma L200? Nada mal... se... ela viesse para mim e não por cima de mim. Pois é amigos... eis o primeiro (e único, espero) atropelamento!

Para falar a verdade estava felizmente surpresa e achando um tanto estranhando, diante do meu histórico, passar 14 meses sem nenhuma queda de bike, quer dizer, com a minha cannondale. Exatos 5.292 e nenhum acidente. Embora os muitos riscos, consegui passar ilesa pelos treinos na BR em pleno feriadão, pelas descidas alucinantes do Benedito Bentes dias de chuva, pelas madrugadas ( e os tarados)... tudo tudo e nadinha de nada.

Mas eles (acidentes) sempre acontecem quando você menos espera e nessa sexta-feira foi exatamente assim. Cena do crime: fim de treino na orla de Maceió, velocidade moderada, uma L200 (aqueles caminhões disfarçados de carro), uma equipe de festas montando os brinquedos que iriam fazer a festa da molecada. Todos próximos a uma das transversais de acesso a praia e... e uma dedução ingênua.

Aviste a caminhonete ao longe e vi que ao se aproximar daquela transversal, onde três rapazes montavam os brinquedos, o motorista reduziu a velocidade até parar (embora não tenha sinalizado que iria entrar). Entre a parada do carro e minha aproximação passaram-se alguns segundos, foi quando deduzi, ingenuamente, que o motorista estava esperando eu passar. Mas quando? Ele se quer havia me visto, estava na verdade analisando se aquele seu “caminhão doméstico” passaria na parte da rua que ainda não estava ocupada pelos brinquedos. Resultado: ao me aproximar do carro... o motorista decidiu que poderia arriscar e daí vocês já podem imaginar o resto da cena.

Naquelas frações de segundo que percebi o inevitável, minha duvida era: tento parar a bicicleta e me esfolo no chão ou relaxo e encaro a batida contra o capô do carro? Bem... o capô é mais lisinho. E depois, como o carro havia saído do estado de inércia e ainda não havia tido tempo de aceleração suficiente para ganhar uma velocidade que representasse risco de morte... e eu, por minha vez, já estava em processo de desaceleração (olha aí as aulas de física servindo para alguma coisa)... conclui que aquela seria a melhor e “relaxei”.

Acudida de imediato pelos rapazes que montavam os tais brinquedos, felizmente não aconteceu nada de grave. Alguns hematomas no cotovelo, joelho (que estava bom), bacia e outras coisinhas mais. Porém, nada, absolutamente nada em comparado com as quedas hollywoodianas que já aconteceram quando eu “pilotava” uma mountain bike.

Meio assustado, meio desesperado, o motorista queria saber se eu estava bem. Tudo bem moço, eu e minha bicicleta passamos bem.... mas... blá, blá, blá, blá... o pobre não escapou da minha falação e jurou mais cuidado e respeito aos ciclistas que não andam na contra-mão.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Certificado de Garantia

Já imaginaram como seria a vida se para todas as boas coisas houvesse um certificado de garantia, assim como o da minha bicicleta – vitalício? Quebrou, rachou, arranhou, caiu, machucou, feriu, brigou, acabou, morreu... Bastaria acessar o Serviço de Atendimento ao Consumidor e pronto! Teríamos um cachorrinho novo, um pedido de desculpa... Um amor 0 km. Os abraços seriam sempre mágicos, os beijos nos levariam sempre ao mundo da lua, os filmes seriam todos bons e os amores nunca esfriariam.

Já imaginaram certificados que dessem a garantia de que o amor da nossa vida seria eterno e que nos amaria como somos para o resto da vida, com todos os nossos defeitinhos. Algo que nos certificasse que sempre teríamos aquelas pessoas que amamos ao nosso lado, de preferência saudáveis e bem humorados. Sem despedidas.

Certificado para garantir os dias de sol e os dias de chuva também - aqueles que passamos em boa companhia. Garantia de mar limpo e o ar puro. Algo que nos assegurasse que não perderíamos horas preciosas de nossa vida em congestionamentos e que motivação, auto-estima, tesão... estariam sempre em alta.

Que tal certificados que pudessem garantir filhos sempre amáveis, sem rebeldias? Certificados para palavras e ações sinceras. Garantia de alimento, emprego, saúde - em escala mundial. Ah! Sem falar dos certificados de garantia para festas, jantares, amigos leais e uma vida sem estresse???

Bom seria... Mas que chatice seria. Antes de resolver, esses tais certificados nos limitariam a mesmice e a pequenez de nossas imperfeições. “Poupariam o esforço” de melhorar em nós aquilo que azedou e que nos afastou de nosso amor. De aparar as arrestas que ainda arranham e machucam. De modificar os hábitos que contribuíram para a poluição do mar, dos ares, das almas. Talvez esses certificados nos prendessem no egoísmo de achar que pessoas, assim como coisas, são propriedades. Pior que isso... Talvez esses certificados atrofiassem nossa coragem, força, fé. A capacidade de sermos melhores, enfim... evoluir.

Então senhores... Diante dessa inconstância, a única garantia é que de que não podemos acomodar jamais.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Você sofre de Normose?

Lendo uma entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, considerado o fundador da ioga no Brasil, ouvi uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal. Todo mundo quer se encaixar num padrão.

Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Quem não se "normaliza" acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o que de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas?

Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo.

A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?

Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original.

Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais. Eu não sou filiada, seguidora, fiel, ou discípula de nenhuma religião ou crença, mas simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera.

Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.

Martha Medeiros
Jornal Zero Hora
05.08.07

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Quer saber?

Sabe quando o amor é lindo?
Quando encontramos alguém que nos impulsione ao melhor que podemos ser.
Quando é livre e quando respeita.
Quando nos faz amar o outro na medida em que amamos a nós mesmos.
Esse amor é um sentimento pra lá de complicado... tantas vezes confundido e mal interpretado. Mas é ele quem dá corda ao relógio do mundo. Capaz de nos transformar em "anjos".