sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

A despedida de um líder general

O auditório nunca esteve tão cheio, lotado, para uma reunião interna da empresa. A previsão era começar às 10h e às 9h55, quando saí da minha sala em direção ao auditório, os corredores já davam sinal do extraordinário. Salas vazias e luzes apagadas... nunca vi tamanha pontualidade e adesão.

Na pauta não estava a discussão sobre o reajuste salarial para o próximo ano. Afinal, sem a garantia de um coffee-break ou, para os seguidores de Suassuna, um lanche, nem isso seria capaz de lotar o auditório.

O motivo de tamanha mobilização era a despedida do superintendente da instituição, o General Nilton. E não imaginem vocês que o fato conseguiu reunir a todos porque o “gera”, (desculpe-me, mas assim que o “povo” da Comunicação o chamava nas horas de descontração... sem ele saber, claro!) era uma pessoa mal quista. Aquela manifestação não era o reflexo de um desejo coletivo de ter o “chefe” pelas costas, com direito a tapinha e tudo mais. Não! Tratava-se de uma manifestação solidária, repleta de emoção, de uma equipe que tinha a consciência de estar perdendo um dos melhores líderes que já passou pela cadeira de diretor superintendente.

Aos mais descrentes, por favor, não pensem que isso é puxação de saco. E mesmo que eu quisesse, não haveria espaço para isso, já que a primeira providência do General, ao saber que outro assumiria seu lugar, foi dizer que não queria homenagem alguma. E quando ele fala... tá falado. Neste caso, ousar contrariar sua posição, seria correr o risco de se queimar com o “chefinho”.

Mas o que digo? Ele não é chefe. General é um líder. E esqueçam os modelos da Exame e Você S.A. Essa liderança também não é fruto apenas, dos seus muitos anos de Exército. Quem o conhece sabe que me refiro aqui a um homem de uma genialidade excepcional. Audacioso, ágil nas suas atitudes, porém, muito, extremamente humano. Humilde para reconhecer seus enganos, hábil para criar consensos positivos, capaz de delegar grandiosas missões para seus subordinados e fazer com que eles acreditem que são capazes de cumpri-las com excelência. Aliás, excelência é uma de suas palavras-chaves. Assim como legalidade, credibilidade, resultados e imparcialidade.

Foram três anos de convivência. O suficiente para ele conhecer toda a casa. E quando digo “toda”, é toda mesmo. Fazia questão de sair da sua sala e ir aos gerentes, coordenadores, analistas, para saber como andava o trabalho. Com motorista... nada de andar no banco de trás. Na entrada da instituição.... parada obrigatória para cumprimentar porteiros, faxineiros e todos aqueles outros colaboradores que a maioria das pessoas não conhece pelo nome, quem dirá pelo rosto.

Com muito senso de humor, era capaz de fazer graça em situações inusitadas. Idolatrado pelos estagiários e boys. Porque? Por que sabia olhar nos olhos de cada um e dizer “Bom Dia”, com um sincero aperto de mãos.

O General tem dessas, ao ponto que te dá aquela famosa “comida de rabo” por um trabalho mau feito, é capaz de, na sua reunião de despedida, referir-se a uma antiga professora, em tempos de Forças Armadas, com “avacalhada”.

Ao passo em que cobra de toda a casa, excelência e esforço por resultados, diz para todos que “quem trabalha fora de hora é enrolado ou é burro”.
Exige cumprimento às normas e leis, mas também diz que “precisamos de gente que reaja e deixe de dizer apenas, ‘meu patrão’”.

Bem, essa emotividade não é apenas minha. E a saudade também não! O choro era geral. Teve quem sequer conseguisse falar. Até a chefe de gabinete, tida por muitos como dura e fria, quem a conhece sabe que não é verdade, não conteve a emoção. Funcionários, antigos e novos, mais ligados ao não à Diretoria, vibravam em uma só sinergia.

Sabíamos que estávamos perdendo um grande líder. Mas, também sabemos que outros líderes ficaram. E por terem sido tão marcantes as palavras do General, e sobretudo seus exemplos, é que temos a consciência de que “a vida continua”... e se não tivermos a capacidade de nos adaptarmos as novas situação e superar as pequenas discordâncias, é por que nada aprendemos com o “nosso” General.

É verdade.... esse líder existe. E eu tive o privilégio de trabalhar com ele.