A pauta ainda não está fechada, mas na minha próxima audiência com Deus vou pedir a revisão de algumas leis um tanto injustas.
Embora não tenha me nomeado porta voz da humanidade, acho que Ele não é do tipo que recusa conselhos. Além do mais, depois de tantos anos (luz) na gestão do universo, algumas mudanças podem até fazer bem para humanidade.
Bem, dentre os itens que proporei revisão, há um especial que está no topo da lista. Vou sugerir uma emenda à Lei de Ação e Reação, proibindo idosos de sofrer, principalmente aqueles que levaram uma vida digna e repleta de sacrifícios.
Com as mudanças na Constituição Celeste eles passariam a ter privilégios, regalias e todos os tipos de mimos que fazem bem a alma.
A emenda que apresentarei ao Supremo determina que idosos não podem adoecer, nem da mente, nem do físico. Nada de dores musculares, osteoporose, doenças de pele e disfunções gastrointestinais. Nada de picadas de agulha, remédios amargos ou muletas. Vovôs e vovós nas filas do nosso eficiente SUS, sendo humilhados por tentar usufruir de um direito, adquirido à custa de muitos impostos? Terminantemente proibido!
Para eles a morte deverá chegar de maneira sutil, como uma bateria que vai descarregando aos poucos. Nenhum acidente ou internações.
No setor de embarque do aeroporto me deparei com um senhor de corpo franzino, curvado, calças acima da cintura, óculos de lente amarela (amarela mesmo) e movimentos lentos. A esteira onde era feita a inspeção das bagagens de mão (raios-x) era só dele. Ninguém ousava apressá-lo ou reclamar do seu ritmo. Naquela cena, meu e outros olhares eram de contemplação.
E assim deveria ser, sempre! Eles não deveriam lidar com atendentes de loja mal educados, enfermeiros impacientes, netos mimados, filhos egoístas ou tão pouco pedir esmolas, dormir nas ruas ou ficar abandonados em asilos. Jamais deveriam ser aborrecidos com brigas mesquinhas de família.
Aparelhos para surdez e dentadura? Nem pensar. Eles deverão ter liberdade para comer e ouvir os belos sons que a natureza pode oferecer. Para o restante dos barulhos, fofocas e reclamações sem fim, caberia a audição seletiva.
Passada certa idade, o trabalho deveria ser hobby e não um determinante para o sustento. E se o Alzheimer os atingisse, que os fizesse perder apenas as lembranças dolorosas.
Para eles... bicicleta, banho de mar, bolinho de chuva (feitos pelos netos), caminhadas no parque, jogo de xadrez, muito tricô, uma rede e um livro e, por que não, salto de pára-quedas, trilhas no parque... Enfim, tudo o quando a mente pudesse e quisesse acompanhar.
Já dizia Carlos Drummond de Andrade que “há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons”. Então, para os nossos idosos, doses diárias de bombons, de todos os sabores.
Mas, esse é apenas um item da minha pauta, o que vocês proporiam ao Magnânimo?
domingo, 21 de março de 2010
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