domingo, 26 de novembro de 2006

A 'burra' novamente... e melhor

Foi no dia 03 de janeiro de 2005 que me deparei com ela pela primeira vez. Ontem, quase dois anos depois, eis que surge novamente me trazendo novos desafios – a ‘ladeira da burra’. Alguém ai se lembra dela? Neste fim de semana ela voltou a ser protagonista de uma das nossas aventuras.

Era pra ser um sábado diferente. Havíamos marcamos um pedal em grupo, na verdade um desafio de quatro horas. Há muito tempo todos me falavam de um local em Maceió perfeito para um bom pedal de estrada. Difícil imaginar isso numa cidade ontem os ciclistas enfrentam dois riscos constantes: buracos no asfalto e motoristas malucos.

Depois de passar a semana toda pensando... “Vou ou não vou”? “Será que agüento”? Acabei sendo convencida pela idéia de estar entre amigos, num lugar novo. Resumindo: atraída por mais um desafio. Um desafio pessoal, deixando bem claro.

A brincadeira estava marcada para começar às 5h da manhã. Quem eram os malucos que acordariam às 4h da matina? Eu, Helsio, Serginho, Josemar, Tavares, Teo, Henrique e Itamar. É verdade! Enquanto algumas pessoas iriam dormir, depois de uma noite de farra, estávamos nos levantando para pedalar. Cada doido com sua mania, já dizia vovó.

Aliás, isso me fez descobrir que não sou a única maluca no prédio onde moro. Às 4h30, enquanto arrumava minha bicicleta no carro do amigo Doutor, flagrei um dos meus vizinhos saindo de casa com uma vara de pescar e isopor nas mãos. Sorri e respirei aliviada pensando que ao menos não ficaria só em caso de internação.

Como combinado, às 5h estávamos Benedito Bentes – carinhosamente chamado de Bio - um dos bairros mais populosos da capital. Ainda não conseguia imaginar onde poderia haver, por ali, o tal lugar espetacular para se pedalar. O local cospe gente pelas janelas das casas e é um vai e vem constante de ônibus.

Deixamos os carros em frente a uma igreja (talvez numa tentativa inconsciente de sermos abençoados naquela manhã) e a princípio aquela ruazinha na quebrada, que dava início ao pedal, não prometia nada demais. Mas, fui em frente com a curiosidade de saber o que descortinaria a minha frente.

A única coisa que sabia é que no circuito havia algumas ladeiras. ‘Tudo bem’, pensei comigo, nada demais para quem passou os últimos seis meses pedalando no cerrado.

As pedaladas começaram discretas, os minutos foram se passando e tal ruazinha - estreita, sem acostamento, margeada por cana-de-açúcar - foi se adentro por um extenso vale e as tais ladeiras foram aparecendo.

A primeira bastante discreta, a segunda na forma de uma descida sem fim aonde as bicicletas chegavam a, pelo menos, 60km/hora (isso para mim, que segurava firme os freios). Olhei para Helsio é perguntei: “Mas o que é isso?” “Isso é o que você vai ter de subir na volta”, respondeu o Doutor.

Entre o silêncio e o espanto, continuava na expectativa de saber o que viria pela frente, aonde e quando aquilo acabaria. Quantas ladeiras ainda teriam? Minha preocupação era manter um ritmo que me permitisse encarar aquelas quatro horas de sobe e desce sem riscos de quebrar no meio do caminho.

Alguns minutos depois, eis que surge ela ... A ‘ladeira da burra’. Pra quem não lembra a história, vale acessar os arquivos de 2005 e descobrir o porquê do apelido. (http://fanjo.blogspot.com/2005/01/porque-burra-empacou.html)

Enorme, imponente... nos deparamos com ‘a burra’ na contra-mão do desafio: uma descida que não acabava nunca. Aos poucos fui me lembrando então de aquilo tudo não era desconhecido. O cenário na verdade era o mesmo de anos atrás, mas dessa vez a percepção do desafio era bem diferente.

A primeira volta pelo circuito foi mais uma espécie de reconhecimento do território. Necessária para se ter uma idéia exata do desafio e calcular os limites para que a aventura não se tornasse um sacrifício. E não foi!

Aos poucos, fui reparando que aquele era mesmo um pedaço do paraíso para os apaixonados pela magrela. A tal ‘ruazinha’ singela e sem graça era apenas a porta de entrada para um trecho de estrada, com asfalto lisinho, que corta uma montanha russa de subidas e descidas cravadas no meio de um pedaçinho de mata.

Se aquelas intermináveis subidas eram um teste para a resistência cardíaca de cada um de nós, as descidas sem dúvida eram presentes dos céus. O fato é que o tempo passou sem que ninguém percebesse as tão desafiadoras quatro horas, com direito a cantoria, piada, boas histórias e, porque não, um pouco de meditação.

Assim, a manhã de sábado terminou bem e o fim de semana começou melhor ainda.

Um comentário:

  1. Eita saudade danada dessas trilhas penosas que nos levam a lugares jamais imaginados, a conhecer pessoas também apaixonadas pelo esporte, pela natureza, pela vida... pelo prazer de viver.
    E no meio dessas trilhas conheci tanta gente maravilhosa, no meio de uma competição, perdidos na noite estávamos nós... Só os loucos como nós, podemos achar isso maravilhoso.
    Beijão

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