Quando me deparo com um portador de deficiência física nem sempre sei como comportar-me. Olhar, não olhar, perguntar, calar, fingir que não há nada demais... nunca sei o que fazer. O fato é que essas pessoas não podem ser vistas como coitadinhas, mas até que ponto oferecer ajuda para aliviar suas limitações pode incomodar? Difícil saber o que vai na cabeça de quem tem de conviver com essa realidade.
No útimo domingo tive a oportunidade de pensar um pouco mais sobre isso. Estava no aerporto, embarcando para o Rio de Janeiro, quando me deparei com aquela família especial. Ele, numa cadeira de rodas, acompanhado dos pais e do irmão mais velho.
Fatalmente, no avião sentamos todos na mesma fileira, separado apenas pelo corredor da aeronave. A princípio tentei não olhar muito para aquele menino franzino, de olhar triste, totalmente imóvel dos braços para baixo. Nem tetraplégico, nem paraplético... aquele garoto estava no meio do caminho.
Durante 50 minutos, até a escala em Salvador, me contive em reparar os detalhes daquela situação, evitando constrangimentos. Concentrei-me no livro que estava lendo, mas, inevitavelmente, parava para refletir sobre aquela cena.
Eram visíveis os cuidados da sua mãe para deixá-lo o mais confortável possível naquelas poltronas que por si só já incomodam quem, como eu, não tem nenhuma limitação motora. Aliás, nesse dia nem senti a tradicional dor no pescoço que geralmente me acomete durante as viagens. Parece que tudo ficou menor nesse dia.
O pai e o irmão, ao meu lado, olhavam a todo instante para ver se ele estava bem. Qualquer gemido do garoto era motivo de atenção da família.
Naqueles minutos todos fiquei imaginado o que se passaria na cabeça daquele rapaz. Inútil tentativa. O máximo que consegui foi refletir sobre como EU estaria em sua situação. Aliás, inútil também...
Já no desembarque, aproveite a aproximação com sua mãe - a simpática D.Fátima - e soube num breve bate-papo que ele havia sofrido um acidente há pouco mais de seis meses, durante uma aula de judô. Imaginar-me na sua situação ficou ainda mais difícil.
"Não tenho raiva do judô" disse D. Fátima muito tranquila. "Poderia ter acontecido em qualquer outra circunstância. E quando ele voltar a andar (?) voltarei a incentivá-lo ao esporte". Sabedoria materna, fé, esperança, otimismo? Não sei. O fato é que ele, embora as fases normais de revolta diante daquele situação nova, fazia planos de voltar a faculdade e tornar-se um pesquisador.
Fatalmente esqueci de perguntar o nome daquele garoto, mas assim como aqueles atletas que vi no Iron Man - nadando, pedalando e correndo sem uma das pernas - ele me fez pensar em como somos os limitadores de nós mesmos.
quinta-feira, 16 de novembro de 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Fabricia!
ResponderExcluirQuanto tempo que não conversamos!
Coincidentemente, esse rapaz chama-se Hugo. Existe uma grande camapanha para ajudá-lo nos tratamentos pós-operatórios que ele terá que submeter-se. Provavelmente, para você sentar ao lado dele, é porque Deus mandou-lhe para alguma missão.
Acredito fielmente que sim!
Um grande beijos,
Elisa
Nossos limites são visíveis...
ResponderExcluirMas sabe que não tem limite?
Oamor de Deus por mim,por vc e por todos nós!
bjocas