sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Rodrigo e Gabriel na dose certa

O mundo precisa de mais ‘Rodrigos’ e menos ‘Gabriéis’”. A frase que ouvi de uma amiga nessa quinta-feira resumiu a ordem mundial. Durante um almoço agradável, em um restaurante da gastronômica São Paulo, ela relatava as descobertas pelas quais passavam seus dois pequeninos – Rodrigo e Gabriel. Uma demonstração de quão autônomos são os componentes da personalidade humana... E de quanta responsabilidade têm os senhores pais.

Rodrigo, sete anos, está mergulhado em uma daquelas maravilhosas fases da infância que fazem os pais chorarem de rir ou terem vontade de se esconder num buraco. Mas em seus questionamentos de criança (?) ele não quer saber como nascem os bebês ou porque meninos são diferentes de meninas. O que incomoda o pequenino são dúvidas da existência humana. “Mãe, quando eu morrer e nascer de novo... quem será minha mãe?” E essa não se trata de mera repetição de frases ouvidas da televisão ou qualquer coisa do gênero. Esse é o “Rô” que se emociona quando vê crianças pedindo dinheiro no sinal. Que tenta convencer o caçula a casar-se com a irmã de seu coleguinha para que eles – melhores amigos - possam ficar sempre juntos e na mesma família. Esse é o Rô que já pensa no futuro como uma construção do presente.

Influenciado pela convivência com o irmão mais velho, Gabi, 3 anos, não fugiu a dúvida e dia desses surpreendeu os pais com o mesmo questionamento, ou quase... “Mãe, quando eu morrer e nascer de novo”... Silêncio! Pai e mãe aguardando pela pergunta que sempre vem acompanhada de uma dose de emoção... “Como eu faço para ter os mesmos brinquedinhos”?

Se não fosse tão sincero e inocente, seria preocupante. Mas essa é a autonomia, maravilhosa, da personalidade humana. Quer tentar explicar? Embora os ingredientes sejam os mesmos, nada pode garantir que as receitas saiam completamente iguais.

A sinceridade de Gabi está longe de condenar seu futuro. O pequenino é apenas uma argila que começa a ser moldada e seus pais ainda têm um longo caminho pela frente. Mas há aqueles (pais e mães) que não têm sensibilidade nem maturidade para empreender nesse desafio e assim o mundo vai ficando cada vez mais cheio de Gabriéis e Gabrielas.

E o surpreendente é que enquanto desejamos Rodrigos em nossas vidas, capazes de sentir e emocionar, estamos muito pouco dispostos (ou quase nada) a abrir mãos dos Gabriéis que ainda existem em nós. Um exemplo comum está nos relacionamentos. E nem precisa de muita filosofia para entender do que estou falando.

É contraditório, pra não dizer neurótico, ver homens e mulheres em busca de uma companhia com o qual se identifiquem, enquanto, cada vez mais, se disfarçam para tentar encontrá-la. Dizem que estão à procura de alguém com gostos e hábitos similares... mas, como pretendem isso se nessa busca tiram do armário uma roupa protetora qualquer que acaba por disfarçar quem realmente são? Auto-sabotagem?

Como resultado dessa neurose toda vivemos num “jogo”, começado não sei onde e nem por quem, que já dura longa data, com regras complicadas para Rodrigos e até mesmo Gabrieis. Regras que dizem entre outras coisas que: 1)Você nunca deve demonstrar ao outro o quanto realmente está interessado nele. Ou seja, a desvalorização é regra base (?). 2) Ele – o outro – nunca pode estar seguro de que detém a “exclusividade do uso”. Ou seja, deixar sempre nas entre linhas que, se bobear, a fila anda (??). Resumindo... esse tal jogo diz que você nunca pode demonstrar o que verdadeiramente sente e quem verdadeiramente é. Vale um pouquinho, mas não tudo.

Mas a coisa mais maluca de tudo isso é que os “jogadores” agem assim tentando colher no adversário – sim, porque a essa altura já deixou de ser parceiro – a reação exatamente oposta. Ao passo que querem atenção, acreditam que precisam dar uma dose de desprezo. Ao passo que desejam cumplicidade, acreditam que autonomia é sinônimo de risco. Querem cuidados, mas têm a convicção que não podem dedicar tanta atenção. O mais engraçado, e trágico, de tudo isso é que, embora a maioria das partidas terminem em 0 x 0 (quando um dos lados não perde de lavada) as pessoas insistem em manter essas regras que ouço desde adolescente.

Na verdade o que o mundo precisa é de mais Rodrigos e Gabriéis, nas suas doses certas e complementares. Precisamos da sensibilidade do gigante Rô e a sinceridade do ainda pequeno Gabi. Somados esses dois ingredientes... seriam todos mais felizes. O problema é que ninguém quer dar o start nessa partida e arriscar jogar com novas regras. Assim vemos perpetuar essa fórmula maluca de viver, que provoca cada vez mais acidentes. Ferimentos que nem sempre se curam com um mertiolate ou beijinho da mamãe. Feridas que às vezes ficam por anos a fio.

Precisamos de mais Rodrigos, pessoas capazes de expressar com autonomia e sensibilidade. Determinadas, que sabem chorar, rir, emocionar-se. E não digam que isso é coisa de “boiola” porque para SER em essência é preciso de muita coragem. É preciso ser muito “homem”.

O mundo precisa, sem dúvida, de mais Gabriéis. Honestos, francos, sinceros, que se mostram como são, sem medos, disfarces ou meras tentativas de agrado. Mas, com respeito e compreensão. Gabriéis e Gabrielas felizes com o que são e quem são.

Senhores pais e candidatos... cuidem de seus Rodrigos. Eduquem e estimulem seus Gabriéis. Se é que ainda desejam viver em mundo melhor.

3 comentários:

  1. Acho que tenho um Rodrigo em casa, apesar dele se chamar Yuri...

    bjo

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  2. Não sei se o meu Otto chega a ser um Rodrigo, mas o meu pequeno ( 3 anos) anda com uma preocupação muito "séria". Descobriu um dia desses que qd ele crescer a Mamãe e o Papai vão ficar velhos. Desde então ele vive falando que quer ficar pequeno pra sempre, pois não quer me vê velhinha.....
    beijosssssssssss
    Suana

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  3. Eita mundo pequeno... Suana é minha prima!
    O "bom" é que eles crescem e passam pela adolescência...
    Beijão

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