Senhoras e senhores agora sim... Sou uma Ironman, ou melhor, uma “Ironwoman”. O que isso significa? Para alguns maluquice, para outros... Superação, prazer e a indescritível sensação de ser um daqueles super heróis com ultra poderes.
A história de agora começou a ser descrita em 2006, quando iniciei os treinos para o Ironman 70.3. Já contei aqui a história dessa competição, mas, na perspectiva de uma mera expectadora. Dessa vez o relato vem de quem estava no “olho do furacão”.
Pra minha sorte não estava nessa empreitada sozinha. Além de mim, Hélcio, Josemar, Marco André, Peixoto e Itamar também encarariam o desafio. Os dois primeiros, já experientes, davam dicas e orientações do que fazer, além de transmitir para o restante de nós, estreantes em triathlon de longa distância, a tranqüilidade de quem já passou pela mesma situação.
Na quinta-feira quando partimos (eu, Júnior, Marcos e Andréa) de Maceió para Brasília, local da competição, havia dentro de mim uma explosiva mistura de ansiedade, preocupação, medo e expectativa. Medo do desconhecido. Porque por mais que você imagine como será a prova, ela nunca será como você imaginou. A única coisa que de fato sabia é que teria de nadar 1.900m, pedalar 90 km e correr outros 21.
Sabia também que tudo isso seria feito num calor “dos infernos”, com umidade de aproximadamente 20%, ou seja, um “agradável” clima de deserto. Condições nada favoráveis para quem passou maior parte do tempo treinando com a brisa e umidade de quase 90% do litoral nordestino.
Expectativa porque as três semanas que antecederam a competição foram de complicações. Lesão no joelho, na lombar e depois inflamação nos ouvidos... Urucubaca das boas. Diante disso, minha preocupação não era com o desempenho (que desempenho?), mas, que no fim das contas acabasse sofrendo mais que o “esperado”.
Partimos com antecedência para tentar descansar na sexta e ter o sábado sossegado para cuidar de todos os preparativos da competição, que seria no domingo. Mas, nem esses dois dias livres de trabalho e da rotina do dia-a-dia conseguiram acalmar minha ansiedade. No sábado à tarde, ao chegar ao local do evento para fazer a entrega dos equipamentos e participar do congresso técnico, a sensação era de que a prova já havia começado e com o passar das horas minha ansiedade ia aumentando e se transformando num misto de concentração e mau humor (pobres amigos). Ah! E foi no congresso que encontramos outros “cabras da peste” e vizinhos de Pernambuco, Nuno e Maurício, além dos amigos Donadon, Simone e as pequeninas Bibi e Sabrina – família esportiva, lindo de se ver.
Naquela noite até tentei dormir cedo, mas, lá pelas 22h30 comecei a sentir dores em todos os lugares possíveis do corpo. Todas as lesões passadas e mais algumas vieram à tona. Doía o joelho, a lombar, o trapézio, a cabeça, a sobrancelha, a unha do dedo mindinho do pé esquerdo, tudo e, se não bastasse isso, ainda havia a secura daquele clima do cerrado. A certeza de que faria uma prova ruim era evidente. Tanto que, depois de constatar que não seria possível fazer milagres, resolvi relaxar.
Levantamos às 4h30 e começamos a nos movimentar para estar no local da competição até às 6h. A primeira imagem ao chegar já te faz respirar mais fundo... Um mar de bicicletas, 518 delas para ser mais precisa. A largada estava marcada para 7h30 e o tempinho que faltava foi o suficiente para fazer a pintura do corpo, ir ao banheiro, checar pela última vez os equipamentos, tirar algumas fotos, repassar os detalhes das transições na mente, ir ao banheiro outra vez, abraçar os amigos, chorar de nervoso e pensar nas pessoas especiais que você gostaria que estivessem ao seu lado.
Às 7h15 começamos a descer para a margem do Lago Paranoá, de onde seria dada a largada e onde faríamos os 1.900 m de natação. Para aquela etapa, meu objetivo era levar o menor número de tapas e pesadas possível - é o que acontece quando mais de 500 pessoas saem juntas para nadar. Então a estratégia era ficar no fundão e deixar os mais preparados (ou afoitos) na briga de braçadas. Deu 07h29... 07h31... 07h37... 07h43... E nada de largada. Até que a organização da prova se justifica: o Detran não havia terminado de fechar todos os trechos por onde os atletas passariam e sem a garantia de segurança ninguém sairia do lugar. Mas também avisaram que “aqueles que quisessem” poderiam sair da água. Ufa! Mas quem não tivesse afim poderia ficar ali mesmo, congelando pouquinho. Não contei conversa...
Nessa hora a programação de alimentação de muita gente já havia ido para o espaço. E meu nervosismo veio à tona novamente, com uma dor de cabeça daquela. Mas tudo bem, finalmente às 8h20 (ou algo próximo disso) a largada foi dada. Embora tivesse tentando me preparar psicologicamente para não sofrer da famosa “síndrome da largada”, que faz você sair forte demais e acabar se quebrando, meu coração não entendeu a mensagem. No primeiro minuto de prova ele parecia que ai saltar pela boca. - Não acredito! Que é isso? Cadê o aaaar??? A solução foi tentar imaginar que estava na piscina do Iate (onde fazia meus treinos diariamente) e procurar uma harmonia entre a respiração e as braçadas. Deu certo! Com 36’30” sai da água para aquele que julgava ser o trecho mais difícil de todos – os 90 km de ciclismo.
A transição entre as modalidades é um capitulo a parte. Sabia que precisaria de calma para não esquecer nenhum detalhe que pudesse jogar no ralo aqueles 12 meses de treinamento. Então, antes de me preocupar com o tempo, me preocupei com a vaselina (muita vaselina) nos pés e entre as coxas. Depois, pernas pra que te quero...
Os 90 km estavam divididos em quatro voltas. A primeira delas foi para reconhecer o percurso e saber onde apertar e onde aliviar. Logo nos primeiros minutos percebi que teria de fazer um ajuste na programação, já que o calor estava muito além do que eu imaginava. A idéia inicial era fazer a hidratação a cada 20 minutos, mas na metade desse tempo minha boca já estava seca. E não era de nervosismo não. Era calor mesmo. Então a estratégia foi beber água a cada 10’, ingerir um “power gororoba gel” a cada 20’ e molhar cabeça, pescoço e punhos sempre que necessário, ou seja, a cada 10’. Hidratação era fator de sobrevivência nessa prova.
Pra minha tristeza, nos 15 km encontro um dos mosqueteiros (Josemar) encostado na calçada e, num gesto de fúria, jogando o pneu da sua bike pra bem longe. - Caramba! Não acredito! Não acredito! É o Josemar! Nosso amigo foi sorteado e, desprevenido, acabou fora do jogo.
Durante aqueles 90 km um turbilhão de coisas passou pela mente. Os treinos, as orientações do treinador/professor Júnior, as brincadeiras com os amigos, a saudade de quem não podia estar ali naquele momento, a expectativa de como meu corpo reagiria aos próximos quilômetros... Enfim, algumas idéias animadoras e outras nem tanto. Nessas horas cada um usa artifícios bem pessoais para buscar motivação, mas, sem dúvida, todos nós pudemos contar com um tipo de “dopping” que costuma funcionar muito bem. Nada melhor do que ver um rosto ou reconhecer uma voz amiga no meio daquele “vazio”.
No meu caso esse "dopping" vinha da amiga Andrea que gritava "Vai Fabí". Em outras horas, do amigo/treinador/professor Júnior que, mais eufórico, berrava "Vai lá mulher, você está muito bem. Você é maravilhosa”. Caramba! Sabia que aquilo era mero incentivo de quem passou parte dos treinos me chamando, carinhosamente, de “mulher xibunga”. Mas tudo bem! O importante é que tinha um efeito psicológico muito bom.
A cada volta completada me surpreendia por ainda estar inteira. Para quem sempre olhou os pedais longos com certo sofrimento, foi impossível conter o grito de satisfação e o choro ao terminar aqueles 90 km com uma agradável sensação de missão quase cumprida.
- Pronto! Falta só mais uma etapa. Foi no que pensei quando terminei o ciclismo.
- Mas peraí! Cadê minhas pernas? Caramba! Acho que ficaram na bike. Tem um par de pernas ai?, brinquei com o staff que cuidava da minha magrelinha. - Tá em falta! Mas tem uma coca-cola ali que já ajuda, respondeu com o mesmo bom humor.
Nos meus planos, começaria ali a parte mais agradável da competição - os 21 km de corrida. Moleza! Ao sair, Júnior ainda me supriu com uma dose extra... - Vai lá mulher, faz o que você sabe fazer! - Xá comigo!
Mas quê? Quanto engano... Descobri que depois de 90 km de pedal não há corrida fácil e se você fizer isso às 12h, sem um “pé de sombra”, ai é que o bicho complica mesmo.
No primeiro quilômetros de pista, ao me deparar com aquele sol, àquela seca, imaginei que seriam os 21 km de corrida mais longos da minha vida. “Lasquei-me”!
Mas como além de terminar a prova, meu objetivo era terminá-la bem e como até ali havia conseguido administrar psicologicamente as dificuldades, não podia escorregar faltando tão pouco. Nessas horas você dá uma de doida e começa a falar consigo mesma. E naquele diálogo aberto dizia - Fabi. Você já fez 90... agora só faltam 21. Se concentra e administra garota. Resolvi encarar a corrida como um “passeio” e quando dei por mim já estava nos 5 km.
Esse é o momento da competição em que você realmente consegue olhar no olho dos demais atletas e solidarizar-se com eles. Se no olhar de alguns percebia energia sobrando, em outros era notório o esforço para superar as limitações e concluir o desafio. Então era comum que aqueles mais tivessem doassem um pouquinho aos que precisavam, ainda que fossem apenas palavras de incentivo. Os amigos Hélcio e Itamar cuidaram de me alimentar com um pouquinho daquele nitrogênio todo. - Bi... É isso aí. Tá muito bem. Continua assim que hoje eu pago seu jantar. Foi o compromisso que o Doutor assumiu ao passar por mim. - Menina continue assim. Falta pouco. Foi o incentivo carinhoso do outro amigo também apaixonado por corridas.
Aquele sol de rachar não era moleza mesmo. Mas quem escolhe fazer um Ironman tem, no mínimo, uma força de vontade muito grande e isso estava ainda mais visível naqueles que preferiam encarar os 21 km sob a “lua” a ter de desistir.
Quando estava finalizando os primeiros 10 km de corrida meus joelhos começaram a reclamar.
- Ah não! Peraí amigo... Segura a onda. Falta muito pouco. Diante daquela dorzinha a primeira coisa que me passou pela cabeça era 1) se a dor iria aumentar e se iria conseguir 2) que não deveria pensar naquilo e enganar minha mente.
Nesse ponto da prova ver os rostos amigos de Andrea, Junior e Josemar foi um consolo. Uma miragem no deserto? Ouvir a voz dos amigos “pangarés” de Brasília gritando "Vai Fabi! Acredita! Pensa em mim que você consegue"! Foi fundamental para levantar o astral e lembrar que aquilo tudo era uma grande festa.
Então vamos pra aquele conversa de pé de ouvido novamente. - Fabi imagina que você está correndo os 10 km da orla de Maceió. Fiz isso mesmo e a cada quilômetro passei a visualizar o cenário dos meus treinos. Quando dei por mim já estava passando pelo último posto de abastecimento.
Tô terminando? Tive que repetir aquilo para mim mesma. Era verdade, apenas 1 km me separava do título de Ironman. Naquele trecho veio à tona todas as lembranças boas e os perrengues que me fizeram chegar até ali. O joelho já estava dizendo - Se você não parar eu paro. Mas naquele instante a conexão entre ele o meu cérebro foi desligada e a única coisa que conseguia sentir era uma felicidade incontrolável.
Não conseguiria explicar em palavras a sensação de entrar na reta final e cruzar a chegada. Desculpem, mas vocês ficaram sem essa emoção, que só pode ser sentida por quem vive a situação. É simplesmente inexplicável.
Quando acaba a única coisa que você pensa é em abraçar as pessoas amigas que estão com você e ligar aos que não podem estar para dizer - Sou uma Iron. É maravilhoso! Se valeu a pena? Alguém ai ainda tem dúvida?
A história de agora começou a ser descrita em 2006, quando iniciei os treinos para o Ironman 70.3. Já contei aqui a história dessa competição, mas, na perspectiva de uma mera expectadora. Dessa vez o relato vem de quem estava no “olho do furacão”.
Pra minha sorte não estava nessa empreitada sozinha. Além de mim, Hélcio, Josemar, Marco André, Peixoto e Itamar também encarariam o desafio. Os dois primeiros, já experientes, davam dicas e orientações do que fazer, além de transmitir para o restante de nós, estreantes em triathlon de longa distância, a tranqüilidade de quem já passou pela mesma situação.
Na quinta-feira quando partimos (eu, Júnior, Marcos e Andréa) de Maceió para Brasília, local da competição, havia dentro de mim uma explosiva mistura de ansiedade, preocupação, medo e expectativa. Medo do desconhecido. Porque por mais que você imagine como será a prova, ela nunca será como você imaginou. A única coisa que de fato sabia é que teria de nadar 1.900m, pedalar 90 km e correr outros 21.
Sabia também que tudo isso seria feito num calor “dos infernos”, com umidade de aproximadamente 20%, ou seja, um “agradável” clima de deserto. Condições nada favoráveis para quem passou maior parte do tempo treinando com a brisa e umidade de quase 90% do litoral nordestino.
Expectativa porque as três semanas que antecederam a competição foram de complicações. Lesão no joelho, na lombar e depois inflamação nos ouvidos... Urucubaca das boas. Diante disso, minha preocupação não era com o desempenho (que desempenho?), mas, que no fim das contas acabasse sofrendo mais que o “esperado”.
Partimos com antecedência para tentar descansar na sexta e ter o sábado sossegado para cuidar de todos os preparativos da competição, que seria no domingo. Mas, nem esses dois dias livres de trabalho e da rotina do dia-a-dia conseguiram acalmar minha ansiedade. No sábado à tarde, ao chegar ao local do evento para fazer a entrega dos equipamentos e participar do congresso técnico, a sensação era de que a prova já havia começado e com o passar das horas minha ansiedade ia aumentando e se transformando num misto de concentração e mau humor (pobres amigos). Ah! E foi no congresso que encontramos outros “cabras da peste” e vizinhos de Pernambuco, Nuno e Maurício, além dos amigos Donadon, Simone e as pequeninas Bibi e Sabrina – família esportiva, lindo de se ver.
Naquela noite até tentei dormir cedo, mas, lá pelas 22h30 comecei a sentir dores em todos os lugares possíveis do corpo. Todas as lesões passadas e mais algumas vieram à tona. Doía o joelho, a lombar, o trapézio, a cabeça, a sobrancelha, a unha do dedo mindinho do pé esquerdo, tudo e, se não bastasse isso, ainda havia a secura daquele clima do cerrado. A certeza de que faria uma prova ruim era evidente. Tanto que, depois de constatar que não seria possível fazer milagres, resolvi relaxar.
Levantamos às 4h30 e começamos a nos movimentar para estar no local da competição até às 6h. A primeira imagem ao chegar já te faz respirar mais fundo... Um mar de bicicletas, 518 delas para ser mais precisa. A largada estava marcada para 7h30 e o tempinho que faltava foi o suficiente para fazer a pintura do corpo, ir ao banheiro, checar pela última vez os equipamentos, tirar algumas fotos, repassar os detalhes das transições na mente, ir ao banheiro outra vez, abraçar os amigos, chorar de nervoso e pensar nas pessoas especiais que você gostaria que estivessem ao seu lado.
Às 7h15 começamos a descer para a margem do Lago Paranoá, de onde seria dada a largada e onde faríamos os 1.900 m de natação. Para aquela etapa, meu objetivo era levar o menor número de tapas e pesadas possível - é o que acontece quando mais de 500 pessoas saem juntas para nadar. Então a estratégia era ficar no fundão e deixar os mais preparados (ou afoitos) na briga de braçadas. Deu 07h29... 07h31... 07h37... 07h43... E nada de largada. Até que a organização da prova se justifica: o Detran não havia terminado de fechar todos os trechos por onde os atletas passariam e sem a garantia de segurança ninguém sairia do lugar. Mas também avisaram que “aqueles que quisessem” poderiam sair da água. Ufa! Mas quem não tivesse afim poderia ficar ali mesmo, congelando pouquinho. Não contei conversa...
Nessa hora a programação de alimentação de muita gente já havia ido para o espaço. E meu nervosismo veio à tona novamente, com uma dor de cabeça daquela. Mas tudo bem, finalmente às 8h20 (ou algo próximo disso) a largada foi dada. Embora tivesse tentando me preparar psicologicamente para não sofrer da famosa “síndrome da largada”, que faz você sair forte demais e acabar se quebrando, meu coração não entendeu a mensagem. No primeiro minuto de prova ele parecia que ai saltar pela boca. - Não acredito! Que é isso? Cadê o aaaar??? A solução foi tentar imaginar que estava na piscina do Iate (onde fazia meus treinos diariamente) e procurar uma harmonia entre a respiração e as braçadas. Deu certo! Com 36’30” sai da água para aquele que julgava ser o trecho mais difícil de todos – os 90 km de ciclismo.
A transição entre as modalidades é um capitulo a parte. Sabia que precisaria de calma para não esquecer nenhum detalhe que pudesse jogar no ralo aqueles 12 meses de treinamento. Então, antes de me preocupar com o tempo, me preocupei com a vaselina (muita vaselina) nos pés e entre as coxas. Depois, pernas pra que te quero...
Os 90 km estavam divididos em quatro voltas. A primeira delas foi para reconhecer o percurso e saber onde apertar e onde aliviar. Logo nos primeiros minutos percebi que teria de fazer um ajuste na programação, já que o calor estava muito além do que eu imaginava. A idéia inicial era fazer a hidratação a cada 20 minutos, mas na metade desse tempo minha boca já estava seca. E não era de nervosismo não. Era calor mesmo. Então a estratégia foi beber água a cada 10’, ingerir um “power gororoba gel” a cada 20’ e molhar cabeça, pescoço e punhos sempre que necessário, ou seja, a cada 10’. Hidratação era fator de sobrevivência nessa prova.
Pra minha tristeza, nos 15 km encontro um dos mosqueteiros (Josemar) encostado na calçada e, num gesto de fúria, jogando o pneu da sua bike pra bem longe. - Caramba! Não acredito! Não acredito! É o Josemar! Nosso amigo foi sorteado e, desprevenido, acabou fora do jogo.
Durante aqueles 90 km um turbilhão de coisas passou pela mente. Os treinos, as orientações do treinador/professor Júnior, as brincadeiras com os amigos, a saudade de quem não podia estar ali naquele momento, a expectativa de como meu corpo reagiria aos próximos quilômetros... Enfim, algumas idéias animadoras e outras nem tanto. Nessas horas cada um usa artifícios bem pessoais para buscar motivação, mas, sem dúvida, todos nós pudemos contar com um tipo de “dopping” que costuma funcionar muito bem. Nada melhor do que ver um rosto ou reconhecer uma voz amiga no meio daquele “vazio”.
No meu caso esse "dopping" vinha da amiga Andrea que gritava "Vai Fabí". Em outras horas, do amigo/treinador/professor Júnior que, mais eufórico, berrava "Vai lá mulher, você está muito bem. Você é maravilhosa”. Caramba! Sabia que aquilo era mero incentivo de quem passou parte dos treinos me chamando, carinhosamente, de “mulher xibunga”. Mas tudo bem! O importante é que tinha um efeito psicológico muito bom.
A cada volta completada me surpreendia por ainda estar inteira. Para quem sempre olhou os pedais longos com certo sofrimento, foi impossível conter o grito de satisfação e o choro ao terminar aqueles 90 km com uma agradável sensação de missão quase cumprida.
- Pronto! Falta só mais uma etapa. Foi no que pensei quando terminei o ciclismo.
- Mas peraí! Cadê minhas pernas? Caramba! Acho que ficaram na bike. Tem um par de pernas ai?, brinquei com o staff que cuidava da minha magrelinha. - Tá em falta! Mas tem uma coca-cola ali que já ajuda, respondeu com o mesmo bom humor.
Nos meus planos, começaria ali a parte mais agradável da competição - os 21 km de corrida. Moleza! Ao sair, Júnior ainda me supriu com uma dose extra... - Vai lá mulher, faz o que você sabe fazer! - Xá comigo!
Mas quê? Quanto engano... Descobri que depois de 90 km de pedal não há corrida fácil e se você fizer isso às 12h, sem um “pé de sombra”, ai é que o bicho complica mesmo.
No primeiro quilômetros de pista, ao me deparar com aquele sol, àquela seca, imaginei que seriam os 21 km de corrida mais longos da minha vida. “Lasquei-me”!
Mas como além de terminar a prova, meu objetivo era terminá-la bem e como até ali havia conseguido administrar psicologicamente as dificuldades, não podia escorregar faltando tão pouco. Nessas horas você dá uma de doida e começa a falar consigo mesma. E naquele diálogo aberto dizia - Fabi. Você já fez 90... agora só faltam 21. Se concentra e administra garota. Resolvi encarar a corrida como um “passeio” e quando dei por mim já estava nos 5 km.
Esse é o momento da competição em que você realmente consegue olhar no olho dos demais atletas e solidarizar-se com eles. Se no olhar de alguns percebia energia sobrando, em outros era notório o esforço para superar as limitações e concluir o desafio. Então era comum que aqueles mais tivessem doassem um pouquinho aos que precisavam, ainda que fossem apenas palavras de incentivo. Os amigos Hélcio e Itamar cuidaram de me alimentar com um pouquinho daquele nitrogênio todo. - Bi... É isso aí. Tá muito bem. Continua assim que hoje eu pago seu jantar. Foi o compromisso que o Doutor assumiu ao passar por mim. - Menina continue assim. Falta pouco. Foi o incentivo carinhoso do outro amigo também apaixonado por corridas.
Aquele sol de rachar não era moleza mesmo. Mas quem escolhe fazer um Ironman tem, no mínimo, uma força de vontade muito grande e isso estava ainda mais visível naqueles que preferiam encarar os 21 km sob a “lua” a ter de desistir.
Quando estava finalizando os primeiros 10 km de corrida meus joelhos começaram a reclamar.
- Ah não! Peraí amigo... Segura a onda. Falta muito pouco. Diante daquela dorzinha a primeira coisa que me passou pela cabeça era 1) se a dor iria aumentar e se iria conseguir 2) que não deveria pensar naquilo e enganar minha mente.
Nesse ponto da prova ver os rostos amigos de Andrea, Junior e Josemar foi um consolo. Uma miragem no deserto? Ouvir a voz dos amigos “pangarés” de Brasília gritando "Vai Fabi! Acredita! Pensa em mim que você consegue"! Foi fundamental para levantar o astral e lembrar que aquilo tudo era uma grande festa.
Então vamos pra aquele conversa de pé de ouvido novamente. - Fabi imagina que você está correndo os 10 km da orla de Maceió. Fiz isso mesmo e a cada quilômetro passei a visualizar o cenário dos meus treinos. Quando dei por mim já estava passando pelo último posto de abastecimento.
Tô terminando? Tive que repetir aquilo para mim mesma. Era verdade, apenas 1 km me separava do título de Ironman. Naquele trecho veio à tona todas as lembranças boas e os perrengues que me fizeram chegar até ali. O joelho já estava dizendo - Se você não parar eu paro. Mas naquele instante a conexão entre ele o meu cérebro foi desligada e a única coisa que conseguia sentir era uma felicidade incontrolável.
Não conseguiria explicar em palavras a sensação de entrar na reta final e cruzar a chegada. Desculpem, mas vocês ficaram sem essa emoção, que só pode ser sentida por quem vive a situação. É simplesmente inexplicável.
Quando acaba a única coisa que você pensa é em abraçar as pessoas amigas que estão com você e ligar aos que não podem estar para dizer - Sou uma Iron. É maravilhoso! Se valeu a pena? Alguém ai ainda tem dúvida?
Amigos... parabéns a todos vocês. Hélcio, Itamar e Nuno, pela exelente prova, Marco André, Marcão, Donandon e Maurício, pela garra, perseverança e determinação, Ju, Andrea e Josemar, pelo apoio e paciência, Geraldo , Alex e Chico, pelo bom humor restaurador, e ao "anjo" que esteve presente comigo em todos os minutos e, claro, a todos os outros que não estavam ali mas estavam torcendo por nós. Valeu! Desafio vencido!
Júnior e Andrea.... nosso "dopping" legalizado
Companheiros de perrengue
Ah!! Pra quem está na curiosidade... Concluí a prova em 6:06:49. A sétima colocada na categoria Mulher Maravilha, digo... F30-34.
Fabrícia,
ResponderExcluirgarota!! Vc me fez ficar emocionada... Fico muito, muito feliz por você, por sua imensa vitória, conquista, superação... Sabia que conseguiria, afinal você é uma "ironwoman". Parabéns!!
Obs.: você tá forte pra caramba... as fotos estão lindas.
Beijos!
Parabéns Fabrícia!
ResponderExcluirAdorei seu blog :-)
beijos
Viviane
Ela é minha amigaaaaaaaaaaa...
ResponderExcluirAhhhh!
Ela é Iron e eu woman
piadinha!!!