Embora a complicação para entrar no trem, com todas aquelas malas nada compactas, depois de acomodados a viagem seguiu tranqüila. Aliás, muito bem acomodados. A opção de fazer a viagem de trem ao invés de avião não foi meramente econômica, uma vez que a diferença entre as tarifas não ultrapassava U$ 40. Encarar 3h30 sobre os trilhos e não 45'de ar foi uma alternativa para conhecermos um pouco mais o interior dos EUA. Uma escolha acertada. Depois, se fossemos de avião ainda teríamos de nos preocupar com o translado JFK/Manhattan, o que nos custaria alguns muitos dólares e 1h (ou mais) de trânsito. Desembarcando na Pennsylvania Station, ficaríamos há apenas três quadras do hotel onde, na 33th St com a 6th Av.
No trem reencontramos nossa companheira Carolina, uma das mosqueteiras dessa história. A chegada em NY não foi, assim por dizer, encantadora. Nos deparamos com uma cidade de concreto e céu cinza, nada muito diferente das metrópoles brasileiras. O desembarque na estação nos revelou a essência da cidade. Atmosfera, cheiro, barulho e energia, capazes de provocar reações de paixão, amor, ódio e desprezo. Mas, de qualquer forma, é impossível passar indiferente. E nem adianta questionar porque é assim mesmo. Logo de cara NY vai despejando em você toda sua personalidade e hábitos, sem a obrigação de agradar. Então, corra para pegar o trem ou fique com cara de “mané” no meio da rua.
Chegando ao hotel tivemos a oportunidade de conhecer a “simpatia” dos nova-iorquinos. Corrigindo... do povo que vive em NY ou dos seus muitos povos. Sim, porque aquela cidade é uma ONU. Em um quarteirão é possível encontrar, pelo menos, uma dúzia de raças. E a raça da recepcionista daquele hotel não era das mais gentis. Paciência é uma palavra que não deve existir no vocabulário da garota ou então ela não estava mesmo num bom dia. Não via a hora dela saltar de trás daquele balcão de aplicar golpes ninjas em nós, pobres turistas brasileiros.
O hotel não era lá essas coisas e olha que nem se tratava de mera exigência dos “estudantes” de Babson. Um exemplo, além de uma central de ar que não funcionava, foi a primeira experiência de Renata com o secador de cabelos. O aparelho tinha suas peculiaridades, não podia esquentar que parava de funcionar. Haja cabelo e haja paciência. Mas, uma vez instalados, embora o cansaço, a noite de NY apenas começava. Nossos amigos Anésio e Fabiano já haviam chegado à cidade e nos esperavam. Claro que, estando lá, a última coisa que poderia fazer era me apegar aos hábitos da vida cotidiana. Então, entrei no clima dos meus companheiros de aventura e fomos para uma das badaladas boates da cidade. Imaginei que fosse encontrar figuras mais bizarras, mas nada disso. Boate até que bem comportada, onde as mulheres não podiam entrar com micro saias e cigarro era objeto proibido. Escolha acertada, afinal, não há coisa mais desagradável para não fumantes que sair de um lugar parecendo um peru defumado.
A noitada não durou muito. Vínhamos do batente de Boston, das 3h30 horas de agradáveis chacoalhada e aquela altura não sobrava muito de nós. Depois, ainda tínhamos dois dias pela frente e precisaríamos de muita energia.
Embora poucas horas de sono, na manhã seguinte, guiados pelos por Anésio e Fabiano,começamos nosso tour bem dispostos. Mas começar por onde? Que tal pelo começo?! De ante mão já sabíamos quem em dois dias não conseguiríamos conhecer muita coisa da cidade, então nos concentramos em Manhattan, o distrito mais conhecido, que com uma população de 1,5 milhão de habitantes, por si só já apresentava uma imensidão de atrações. Descemos para Downtown, a parte mais ao sul da ilha, até o Pier 17, a fim de tentar conhecer a “Dona Liberdade”. Mas da “bunita” só vimos o vulto porque a manhã nublada não ajudou muito. Nada de desanimar. A partir do Financial District fomos subindo a ilha passando por monumentos e locais tradicionais, como o “falecido” World Trade Center, algumas lojas de departamento, Wall Stret e seu lendário touro, símbolo do poder econômico-financeiro, New York Stock Exchange, uma outra loja ali, a Bolsa de Valores, o Civic Center, o City Hall, mais uma loja acolá, o Federal Reserv Bank, mais um bocadinho de outras lojas, até, enfim, chegarmos ao Central Park.
Se minhas amigas Renata e Carolina tinham comichão ao entrar em daquelas imensas lojas de departamento, como Vitoria Screts, eu senti o mesmo ao chegar no Central Park. Um dos sonhos de consumo dos apaixonados por corrida é conhecer as famosas trilhas do lugar. Eu estava ali, bem no miolo, vendo alguns corajosos corredores e ciclistas encarem aquela tarde escaldante de Manhattan, sem se quer poder arriscar um trote. Afinal, às 16h, depois de oito horas de peregrinação por todas aquelas ruas e lojas, não sobrava muita força para uma corridinha (pra não dizer quase nenhuma).
Mas nem assim nos demos por vencidos. Depois ainda percorremos a badalada 5th Av e todas aquelas luxuosas lojas, o Empire State, co m seus 102 andares, e tudo mais que estivesse em nosso caminho. Lá pelas 20h, de volta ao hotel, foi só o tempo de despejar as comprinhas, tomar um banho e... rua novamente. Dessa vez o destino era Times Square, digamos assim... o centro do formigueiro.
O batente se repetiu no dia seguinte e o resultado de toda essa maratona? Muita diversão, não tenha dúvida, pílulas de cultura, informação, muitos dólares a menos na carteira, cobranças a mais no cartão de crédito, alguns calos nos pés, olheiras e uma vontade enorme de voltar pra casa.
Mas, quando pensávamos que a aventura havia chegado ao fim e que nos faltava apenas a jornada nos aeroportos (nosso vôo sairia de Boston), começamos a perceber que esse retorno não seria tão tranqüilo assim.
Depois de três noites e dois dias em NY, tivemos, digamos, certa dificuldade em fazer as malas. Sabíamos que, com aquelas “comprinhas”, o peso extra seria inevitável. Apenas não imaginávamos que fosse tão extra assim. Marcos conseguiu manter sua praticidade. Euzinha, como trouxe mala de mais, consegui administrar os apetrechos todos no espaço que sobrava. Nossa amiga Carol precisou de uma ajudinha para acomodar suas roupas. Nada que um extensor não pudesse resolver. Mas Renatinha... bem, faltou espaço na mala vermelha para nossa amiga guardar suas “lembrancinhas”. Ou seja, peso demais, força e coluna de menos.
Peso extra nesse caso significa puxador quebrado logo na saída hotel. Ai é que complicou tudo mesmo e nosso amigo Marcos acabou se candidatando a um belo dum abacaxi. Melhor, uma melancia, que cavalheiramente e caridosamente arrastou pelo restante da viagem.
Então, antes de despacharmos aquelas tralhas todas, primeiro foi preciso conseguir colocá-las dentro de um taxi. Vejamos: três pessoas + três malas + duas caixas + três bagagens de mão = pobre Marcos, pobre taxista. Depois era penitenciar pela Penn Station, embarcar as malas no trem para Boston, desembarcá-las na South Station, mais uma vez enfiar nossos bagulhos em um taxi até o aeroporto e, ufa!, mandar tudo para esteira... alguém ai duvida que Marcos sofreu um bocado?
Mas como viagem sem mico não rende história... é claro que a nossa teve de terminar com um king Kong dos grandes. Com muitos quilos a mais do que o permitido pelas normas internacionais de aviação, nossa amiga Renata teve der distribuir suas comprinhas no que ainda sobrava de espaço na mala do Marcos e na minha. Imaginem a cena: malas abertas em pleno saguão, a atendente da companhia aérea nos aguardando, uma fila de pessoas esperando para fazer o check-in... Estresse? Nem pensar! Éramos turistas assumidos e, além do mais, quem ali nos veria de novo?
Bem, mas não parou por ai. Depois de 30´ dentro do avião que nos levaria de volta a NY (??) para a conexão com SP, o piloto pediu que todos descessem. A aeronave estava com defeito e teríamos de fazer uma troca. Troca feita, mais alguns minutos de demora até que o piloto pede que um dos passageiros sentados no fundo da aeronave vá para frente do avião, pois precisavam equilibrar o peso. Será que esse problema da crise aérea é um vírus? Parasse que sim porque em NY ficamos mais cerca de quatro horas esperando que fosse consertada uma pane no sistema de navegação da aeronave. Dessa vez, sem o peso das bagagens, o que incomodava era a fome e aquela angustia de quem apenas quer voltar para casa, de preferência, com todas as nossas malas.
Saldo desses 10 dias? Bem, para mim, a certeza de que 1) mais vale um amigo na praça que dinheiro no bolso (como diz o dito popular), 2) desprender-se dos velhos hábitos é tão importante quanto adaptar-se, 3) cuidado com os excessos e 4) mala é mala mesmo e não adianta.
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
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