O mundo precisa de mais ‘Rodrigos’ e menos ‘Gabriéis’”. A frase que ouvi de uma amiga nessa quinta-feira resumiu a ordem mundial. Durante um almoço agradável, em um restaurante da gastronômica São Paulo, ela relatava as descobertas pelas quais passavam seus dois pequeninos – Rodrigo e Gabriel. Uma demonstração de quão autônomos são os componentes da personalidade humana... E de quanta responsabilidade têm os senhores pais.
Rodrigo, sete anos, está mergulhado em uma daquelas maravilhosas fases da infância que fazem os pais chorarem de rir ou terem vontade de se esconder num buraco. Mas em seus questionamentos de criança (?) ele não quer saber como nascem os bebês ou porque meninos são diferentes de meninas. O que incomoda o pequenino são dúvidas da existência humana. “Mãe, quando eu morrer e nascer de novo... quem será minha mãe?” E essa não se trata de mera repetição de frases ouvidas da televisão ou qualquer coisa do gênero. Esse é o “Rô” que se emociona quando vê crianças pedindo dinheiro no sinal. Que tenta convencer o caçula a casar-se com a irmã de seu coleguinha para que eles – melhores amigos - possam ficar sempre juntos e na mesma família. Esse é o Rô que já pensa no futuro como uma construção do presente.
Influenciado pela convivência com o irmão mais velho, Gabi, 3 anos, não fugiu a dúvida e dia desses surpreendeu os pais com o mesmo questionamento, ou quase... “Mãe, quando eu morrer e nascer de novo”... Silêncio! Pai e mãe aguardando pela pergunta que sempre vem acompanhada de uma dose de emoção... “Como eu faço para ter os mesmos brinquedinhos”?
Se não fosse tão sincero e inocente, seria preocupante. Mas essa é a autonomia, maravilhosa, da personalidade humana. Quer tentar explicar? Embora os ingredientes sejam os mesmos, nada pode garantir que as receitas saiam completamente iguais.
A sinceridade de Gabi está longe de condenar seu futuro. O pequenino é apenas uma argila que começa a ser moldada e seus pais ainda têm um longo caminho pela frente. Mas há aqueles (pais e mães) que não têm sensibilidade nem maturidade para empreender nesse desafio e assim o mundo vai ficando cada vez mais cheio de Gabriéis e Gabrielas.
E o surpreendente é que enquanto desejamos Rodrigos em nossas vidas, capazes de sentir e emocionar, estamos muito pouco dispostos (ou quase nada) a abrir mãos dos Gabriéis que ainda existem em nós. Um exemplo comum está nos relacionamentos. E nem precisa de muita filosofia para entender do que estou falando.
É contraditório, pra não dizer neurótico, ver homens e mulheres em busca de uma companhia com o qual se identifiquem, enquanto, cada vez mais, se disfarçam para tentar encontrá-la. Dizem que estão à procura de alguém com gostos e hábitos similares... mas, como pretendem isso se nessa busca tiram do armário uma roupa protetora qualquer que acaba por disfarçar quem realmente são? Auto-sabotagem?
Como resultado dessa neurose toda vivemos num “jogo”, começado não sei onde e nem por quem, que já dura longa data, com regras complicadas para Rodrigos e até mesmo Gabrieis. Regras que dizem entre outras coisas que: 1)Você nunca deve demonstrar ao outro o quanto realmente está interessado nele. Ou seja, a desvalorização é regra base (?). 2) Ele – o outro – nunca pode estar seguro de que detém a “exclusividade do uso”. Ou seja, deixar sempre nas entre linhas que, se bobear, a fila anda (??). Resumindo... esse tal jogo diz que você nunca pode demonstrar o que verdadeiramente sente e quem verdadeiramente é. Vale um pouquinho, mas não tudo.
Mas a coisa mais maluca de tudo isso é que os “jogadores” agem assim tentando colher no adversário – sim, porque a essa altura já deixou de ser parceiro – a reação exatamente oposta. Ao passo que querem atenção, acreditam que precisam dar uma dose de desprezo. Ao passo que desejam cumplicidade, acreditam que autonomia é sinônimo de risco. Querem cuidados, mas têm a convicção que não podem dedicar tanta atenção. O mais engraçado, e trágico, de tudo isso é que, embora a maioria das partidas terminem em 0 x 0 (quando um dos lados não perde de lavada) as pessoas insistem em manter essas regras que ouço desde adolescente.
Na verdade o que o mundo precisa é de mais Rodrigos e Gabriéis, nas suas doses certas e complementares. Precisamos da sensibilidade do gigante Rô e a sinceridade do ainda pequeno Gabi. Somados esses dois ingredientes... seriam todos mais felizes. O problema é que ninguém quer dar o start nessa partida e arriscar jogar com novas regras. Assim vemos perpetuar essa fórmula maluca de viver, que provoca cada vez mais acidentes. Ferimentos que nem sempre se curam com um mertiolate ou beijinho da mamãe. Feridas que às vezes ficam por anos a fio.
Precisamos de mais Rodrigos, pessoas capazes de expressar com autonomia e sensibilidade. Determinadas, que sabem chorar, rir, emocionar-se. E não digam que isso é coisa de “boiola” porque para SER em essência é preciso de muita coragem. É preciso ser muito “homem”.
O mundo precisa, sem dúvida, de mais Gabriéis. Honestos, francos, sinceros, que se mostram como são, sem medos, disfarces ou meras tentativas de agrado. Mas, com respeito e compreensão. Gabriéis e Gabrielas felizes com o que são e quem são.
Senhores pais e candidatos... cuidem de seus Rodrigos. Eduquem e estimulem seus Gabriéis. Se é que ainda desejam viver em mundo melhor.
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
domingo, 23 de setembro de 2007
Desejos
Carlos Drumond de Andrade
"Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme de Carlitos
Chopp com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Ter uma pessoa especial
Uma surpresa agradável
Ver a banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Escrever um poema de amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu."
"Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme de Carlitos
Chopp com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Ter uma pessoa especial
Uma surpresa agradável
Ver a banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Escrever um poema de amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu."
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Iron 70.3...
Senhoras e senhores agora sim... Sou uma Ironman, ou melhor, uma “Ironwoman”. O que isso significa? Para alguns maluquice, para outros... Superação, prazer e a indescritível sensação de ser um daqueles super heróis com ultra poderes.
A história de agora começou a ser descrita em 2006, quando iniciei os treinos para o Ironman 70.3. Já contei aqui a história dessa competição, mas, na perspectiva de uma mera expectadora. Dessa vez o relato vem de quem estava no “olho do furacão”.
Pra minha sorte não estava nessa empreitada sozinha. Além de mim, Hélcio, Josemar, Marco André, Peixoto e Itamar também encarariam o desafio. Os dois primeiros, já experientes, davam dicas e orientações do que fazer, além de transmitir para o restante de nós, estreantes em triathlon de longa distância, a tranqüilidade de quem já passou pela mesma situação.
Na quinta-feira quando partimos (eu, Júnior, Marcos e Andréa) de Maceió para Brasília, local da competição, havia dentro de mim uma explosiva mistura de ansiedade, preocupação, medo e expectativa. Medo do desconhecido. Porque por mais que você imagine como será a prova, ela nunca será como você imaginou. A única coisa que de fato sabia é que teria de nadar 1.900m, pedalar 90 km e correr outros 21.
Sabia também que tudo isso seria feito num calor “dos infernos”, com umidade de aproximadamente 20%, ou seja, um “agradável” clima de deserto. Condições nada favoráveis para quem passou maior parte do tempo treinando com a brisa e umidade de quase 90% do litoral nordestino.
Expectativa porque as três semanas que antecederam a competição foram de complicações. Lesão no joelho, na lombar e depois inflamação nos ouvidos... Urucubaca das boas. Diante disso, minha preocupação não era com o desempenho (que desempenho?), mas, que no fim das contas acabasse sofrendo mais que o “esperado”.
Partimos com antecedência para tentar descansar na sexta e ter o sábado sossegado para cuidar de todos os preparativos da competição, que seria no domingo. Mas, nem esses dois dias livres de trabalho e da rotina do dia-a-dia conseguiram acalmar minha ansiedade. No sábado à tarde, ao chegar ao local do evento para fazer a entrega dos equipamentos e participar do congresso técnico, a sensação era de que a prova já havia começado e com o passar das horas minha ansiedade ia aumentando e se transformando num misto de concentração e mau humor (pobres amigos). Ah! E foi no congresso que encontramos outros “cabras da peste” e vizinhos de Pernambuco, Nuno e Maurício, além dos amigos Donadon, Simone e as pequeninas Bibi e Sabrina – família esportiva, lindo de se ver.
Naquela noite até tentei dormir cedo, mas, lá pelas 22h30 comecei a sentir dores em todos os lugares possíveis do corpo. Todas as lesões passadas e mais algumas vieram à tona. Doía o joelho, a lombar, o trapézio, a cabeça, a sobrancelha, a unha do dedo mindinho do pé esquerdo, tudo e, se não bastasse isso, ainda havia a secura daquele clima do cerrado. A certeza de que faria uma prova ruim era evidente. Tanto que, depois de constatar que não seria possível fazer milagres, resolvi relaxar.
Levantamos às 4h30 e começamos a nos movimentar para estar no local da competição até às 6h. A primeira imagem ao chegar já te faz respirar mais fundo... Um mar de bicicletas, 518 delas para ser mais precisa. A largada estava marcada para 7h30 e o tempinho que faltava foi o suficiente para fazer a pintura do corpo, ir ao banheiro, checar pela última vez os equipamentos, tirar algumas fotos, repassar os detalhes das transições na mente, ir ao banheiro outra vez, abraçar os amigos, chorar de nervoso e pensar nas pessoas especiais que você gostaria que estivessem ao seu lado.
Às 7h15 começamos a descer para a margem do Lago Paranoá, de onde seria dada a largada e onde faríamos os 1.900 m de natação. Para aquela etapa, meu objetivo era levar o menor número de tapas e pesadas possível - é o que acontece quando mais de 500 pessoas saem juntas para nadar. Então a estratégia era ficar no fundão e deixar os mais preparados (ou afoitos) na briga de braçadas. Deu 07h29... 07h31... 07h37... 07h43... E nada de largada. Até que a organização da prova se justifica: o Detran não havia terminado de fechar todos os trechos por onde os atletas passariam e sem a garantia de segurança ninguém sairia do lugar. Mas também avisaram que “aqueles que quisessem” poderiam sair da água. Ufa! Mas quem não tivesse afim poderia ficar ali mesmo, congelando pouquinho. Não contei conversa...
Nessa hora a programação de alimentação de muita gente já havia ido para o espaço. E meu nervosismo veio à tona novamente, com uma dor de cabeça daquela. Mas tudo bem, finalmente às 8h20 (ou algo próximo disso) a largada foi dada. Embora tivesse tentando me preparar psicologicamente para não sofrer da famosa “síndrome da largada”, que faz você sair forte demais e acabar se quebrando, meu coração não entendeu a mensagem. No primeiro minuto de prova ele parecia que ai saltar pela boca. - Não acredito! Que é isso? Cadê o aaaar??? A solução foi tentar imaginar que estava na piscina do Iate (onde fazia meus treinos diariamente) e procurar uma harmonia entre a respiração e as braçadas. Deu certo! Com 36’30” sai da água para aquele que julgava ser o trecho mais difícil de todos – os 90 km de ciclismo.
A transição entre as modalidades é um capitulo a parte. Sabia que precisaria de calma para não esquecer nenhum detalhe que pudesse jogar no ralo aqueles 12 meses de treinamento. Então, antes de me preocupar com o tempo, me preocupei com a vaselina (muita vaselina) nos pés e entre as coxas. Depois, pernas pra que te quero...
Os 90 km estavam divididos em quatro voltas. A primeira delas foi para reconhecer o percurso e saber onde apertar e onde aliviar. Logo nos primeiros minutos percebi que teria de fazer um ajuste na programação, já que o calor estava muito além do que eu imaginava. A idéia inicial era fazer a hidratação a cada 20 minutos, mas na metade desse tempo minha boca já estava seca. E não era de nervosismo não. Era calor mesmo. Então a estratégia foi beber água a cada 10’, ingerir um “power gororoba gel” a cada 20’ e molhar cabeça, pescoço e punhos sempre que necessário, ou seja, a cada 10’. Hidratação era fator de sobrevivência nessa prova.
Pra minha tristeza, nos 15 km encontro um dos mosqueteiros (Josemar) encostado na calçada e, num gesto de fúria, jogando o pneu da sua bike pra bem longe. - Caramba! Não acredito! Não acredito! É o Josemar! Nosso amigo foi sorteado e, desprevenido, acabou fora do jogo.
Durante aqueles 90 km um turbilhão de coisas passou pela mente. Os treinos, as orientações do treinador/professor Júnior, as brincadeiras com os amigos, a saudade de quem não podia estar ali naquele momento, a expectativa de como meu corpo reagiria aos próximos quilômetros... Enfim, algumas idéias animadoras e outras nem tanto. Nessas horas cada um usa artifícios bem pessoais para buscar motivação, mas, sem dúvida, todos nós pudemos contar com um tipo de “dopping” que costuma funcionar muito bem. Nada melhor do que ver um rosto ou reconhecer uma voz amiga no meio daquele “vazio”.
No meu caso esse "dopping" vinha da amiga Andrea que gritava "Vai Fabí". Em outras horas, do amigo/treinador/professor Júnior que, mais eufórico, berrava "Vai lá mulher, você está muito bem. Você é maravilhosa”. Caramba! Sabia que aquilo era mero incentivo de quem passou parte dos treinos me chamando, carinhosamente, de “mulher xibunga”. Mas tudo bem! O importante é que tinha um efeito psicológico muito bom.
A cada volta completada me surpreendia por ainda estar inteira. Para quem sempre olhou os pedais longos com certo sofrimento, foi impossível conter o grito de satisfação e o choro ao terminar aqueles 90 km com uma agradável sensação de missão quase cumprida.
- Pronto! Falta só mais uma etapa. Foi no que pensei quando terminei o ciclismo.
- Mas peraí! Cadê minhas pernas? Caramba! Acho que ficaram na bike. Tem um par de pernas ai?, brinquei com o staff que cuidava da minha magrelinha. - Tá em falta! Mas tem uma coca-cola ali que já ajuda, respondeu com o mesmo bom humor.
Nos meus planos, começaria ali a parte mais agradável da competição - os 21 km de corrida. Moleza! Ao sair, Júnior ainda me supriu com uma dose extra... - Vai lá mulher, faz o que você sabe fazer! - Xá comigo!
Mas quê? Quanto engano... Descobri que depois de 90 km de pedal não há corrida fácil e se você fizer isso às 12h, sem um “pé de sombra”, ai é que o bicho complica mesmo.
No primeiro quilômetros de pista, ao me deparar com aquele sol, àquela seca, imaginei que seriam os 21 km de corrida mais longos da minha vida. “Lasquei-me”!
Mas como além de terminar a prova, meu objetivo era terminá-la bem e como até ali havia conseguido administrar psicologicamente as dificuldades, não podia escorregar faltando tão pouco. Nessas horas você dá uma de doida e começa a falar consigo mesma. E naquele diálogo aberto dizia - Fabi. Você já fez 90... agora só faltam 21. Se concentra e administra garota. Resolvi encarar a corrida como um “passeio” e quando dei por mim já estava nos 5 km.
Esse é o momento da competição em que você realmente consegue olhar no olho dos demais atletas e solidarizar-se com eles. Se no olhar de alguns percebia energia sobrando, em outros era notório o esforço para superar as limitações e concluir o desafio. Então era comum que aqueles mais tivessem doassem um pouquinho aos que precisavam, ainda que fossem apenas palavras de incentivo. Os amigos Hélcio e Itamar cuidaram de me alimentar com um pouquinho daquele nitrogênio todo. - Bi... É isso aí. Tá muito bem. Continua assim que hoje eu pago seu jantar. Foi o compromisso que o Doutor assumiu ao passar por mim. - Menina continue assim. Falta pouco. Foi o incentivo carinhoso do outro amigo também apaixonado por corridas.
Aquele sol de rachar não era moleza mesmo. Mas quem escolhe fazer um Ironman tem, no mínimo, uma força de vontade muito grande e isso estava ainda mais visível naqueles que preferiam encarar os 21 km sob a “lua” a ter de desistir.
Quando estava finalizando os primeiros 10 km de corrida meus joelhos começaram a reclamar.
- Ah não! Peraí amigo... Segura a onda. Falta muito pouco. Diante daquela dorzinha a primeira coisa que me passou pela cabeça era 1) se a dor iria aumentar e se iria conseguir 2) que não deveria pensar naquilo e enganar minha mente.
Nesse ponto da prova ver os rostos amigos de Andrea, Junior e Josemar foi um consolo. Uma miragem no deserto? Ouvir a voz dos amigos “pangarés” de Brasília gritando "Vai Fabi! Acredita! Pensa em mim que você consegue"! Foi fundamental para levantar o astral e lembrar que aquilo tudo era uma grande festa.
Então vamos pra aquele conversa de pé de ouvido novamente. - Fabi imagina que você está correndo os 10 km da orla de Maceió. Fiz isso mesmo e a cada quilômetro passei a visualizar o cenário dos meus treinos. Quando dei por mim já estava passando pelo último posto de abastecimento.
Tô terminando? Tive que repetir aquilo para mim mesma. Era verdade, apenas 1 km me separava do título de Ironman. Naquele trecho veio à tona todas as lembranças boas e os perrengues que me fizeram chegar até ali. O joelho já estava dizendo - Se você não parar eu paro. Mas naquele instante a conexão entre ele o meu cérebro foi desligada e a única coisa que conseguia sentir era uma felicidade incontrolável.
Não conseguiria explicar em palavras a sensação de entrar na reta final e cruzar a chegada. Desculpem, mas vocês ficaram sem essa emoção, que só pode ser sentida por quem vive a situação. É simplesmente inexplicável.
Quando acaba a única coisa que você pensa é em abraçar as pessoas amigas que estão com você e ligar aos que não podem estar para dizer - Sou uma Iron. É maravilhoso! Se valeu a pena? Alguém ai ainda tem dúvida?
A história de agora começou a ser descrita em 2006, quando iniciei os treinos para o Ironman 70.3. Já contei aqui a história dessa competição, mas, na perspectiva de uma mera expectadora. Dessa vez o relato vem de quem estava no “olho do furacão”.
Pra minha sorte não estava nessa empreitada sozinha. Além de mim, Hélcio, Josemar, Marco André, Peixoto e Itamar também encarariam o desafio. Os dois primeiros, já experientes, davam dicas e orientações do que fazer, além de transmitir para o restante de nós, estreantes em triathlon de longa distância, a tranqüilidade de quem já passou pela mesma situação.
Na quinta-feira quando partimos (eu, Júnior, Marcos e Andréa) de Maceió para Brasília, local da competição, havia dentro de mim uma explosiva mistura de ansiedade, preocupação, medo e expectativa. Medo do desconhecido. Porque por mais que você imagine como será a prova, ela nunca será como você imaginou. A única coisa que de fato sabia é que teria de nadar 1.900m, pedalar 90 km e correr outros 21.
Sabia também que tudo isso seria feito num calor “dos infernos”, com umidade de aproximadamente 20%, ou seja, um “agradável” clima de deserto. Condições nada favoráveis para quem passou maior parte do tempo treinando com a brisa e umidade de quase 90% do litoral nordestino.
Expectativa porque as três semanas que antecederam a competição foram de complicações. Lesão no joelho, na lombar e depois inflamação nos ouvidos... Urucubaca das boas. Diante disso, minha preocupação não era com o desempenho (que desempenho?), mas, que no fim das contas acabasse sofrendo mais que o “esperado”.
Partimos com antecedência para tentar descansar na sexta e ter o sábado sossegado para cuidar de todos os preparativos da competição, que seria no domingo. Mas, nem esses dois dias livres de trabalho e da rotina do dia-a-dia conseguiram acalmar minha ansiedade. No sábado à tarde, ao chegar ao local do evento para fazer a entrega dos equipamentos e participar do congresso técnico, a sensação era de que a prova já havia começado e com o passar das horas minha ansiedade ia aumentando e se transformando num misto de concentração e mau humor (pobres amigos). Ah! E foi no congresso que encontramos outros “cabras da peste” e vizinhos de Pernambuco, Nuno e Maurício, além dos amigos Donadon, Simone e as pequeninas Bibi e Sabrina – família esportiva, lindo de se ver.
Naquela noite até tentei dormir cedo, mas, lá pelas 22h30 comecei a sentir dores em todos os lugares possíveis do corpo. Todas as lesões passadas e mais algumas vieram à tona. Doía o joelho, a lombar, o trapézio, a cabeça, a sobrancelha, a unha do dedo mindinho do pé esquerdo, tudo e, se não bastasse isso, ainda havia a secura daquele clima do cerrado. A certeza de que faria uma prova ruim era evidente. Tanto que, depois de constatar que não seria possível fazer milagres, resolvi relaxar.
Levantamos às 4h30 e começamos a nos movimentar para estar no local da competição até às 6h. A primeira imagem ao chegar já te faz respirar mais fundo... Um mar de bicicletas, 518 delas para ser mais precisa. A largada estava marcada para 7h30 e o tempinho que faltava foi o suficiente para fazer a pintura do corpo, ir ao banheiro, checar pela última vez os equipamentos, tirar algumas fotos, repassar os detalhes das transições na mente, ir ao banheiro outra vez, abraçar os amigos, chorar de nervoso e pensar nas pessoas especiais que você gostaria que estivessem ao seu lado.
Às 7h15 começamos a descer para a margem do Lago Paranoá, de onde seria dada a largada e onde faríamos os 1.900 m de natação. Para aquela etapa, meu objetivo era levar o menor número de tapas e pesadas possível - é o que acontece quando mais de 500 pessoas saem juntas para nadar. Então a estratégia era ficar no fundão e deixar os mais preparados (ou afoitos) na briga de braçadas. Deu 07h29... 07h31... 07h37... 07h43... E nada de largada. Até que a organização da prova se justifica: o Detran não havia terminado de fechar todos os trechos por onde os atletas passariam e sem a garantia de segurança ninguém sairia do lugar. Mas também avisaram que “aqueles que quisessem” poderiam sair da água. Ufa! Mas quem não tivesse afim poderia ficar ali mesmo, congelando pouquinho. Não contei conversa...
Nessa hora a programação de alimentação de muita gente já havia ido para o espaço. E meu nervosismo veio à tona novamente, com uma dor de cabeça daquela. Mas tudo bem, finalmente às 8h20 (ou algo próximo disso) a largada foi dada. Embora tivesse tentando me preparar psicologicamente para não sofrer da famosa “síndrome da largada”, que faz você sair forte demais e acabar se quebrando, meu coração não entendeu a mensagem. No primeiro minuto de prova ele parecia que ai saltar pela boca. - Não acredito! Que é isso? Cadê o aaaar??? A solução foi tentar imaginar que estava na piscina do Iate (onde fazia meus treinos diariamente) e procurar uma harmonia entre a respiração e as braçadas. Deu certo! Com 36’30” sai da água para aquele que julgava ser o trecho mais difícil de todos – os 90 km de ciclismo.
A transição entre as modalidades é um capitulo a parte. Sabia que precisaria de calma para não esquecer nenhum detalhe que pudesse jogar no ralo aqueles 12 meses de treinamento. Então, antes de me preocupar com o tempo, me preocupei com a vaselina (muita vaselina) nos pés e entre as coxas. Depois, pernas pra que te quero...
Os 90 km estavam divididos em quatro voltas. A primeira delas foi para reconhecer o percurso e saber onde apertar e onde aliviar. Logo nos primeiros minutos percebi que teria de fazer um ajuste na programação, já que o calor estava muito além do que eu imaginava. A idéia inicial era fazer a hidratação a cada 20 minutos, mas na metade desse tempo minha boca já estava seca. E não era de nervosismo não. Era calor mesmo. Então a estratégia foi beber água a cada 10’, ingerir um “power gororoba gel” a cada 20’ e molhar cabeça, pescoço e punhos sempre que necessário, ou seja, a cada 10’. Hidratação era fator de sobrevivência nessa prova.
Pra minha tristeza, nos 15 km encontro um dos mosqueteiros (Josemar) encostado na calçada e, num gesto de fúria, jogando o pneu da sua bike pra bem longe. - Caramba! Não acredito! Não acredito! É o Josemar! Nosso amigo foi sorteado e, desprevenido, acabou fora do jogo.
Durante aqueles 90 km um turbilhão de coisas passou pela mente. Os treinos, as orientações do treinador/professor Júnior, as brincadeiras com os amigos, a saudade de quem não podia estar ali naquele momento, a expectativa de como meu corpo reagiria aos próximos quilômetros... Enfim, algumas idéias animadoras e outras nem tanto. Nessas horas cada um usa artifícios bem pessoais para buscar motivação, mas, sem dúvida, todos nós pudemos contar com um tipo de “dopping” que costuma funcionar muito bem. Nada melhor do que ver um rosto ou reconhecer uma voz amiga no meio daquele “vazio”.
No meu caso esse "dopping" vinha da amiga Andrea que gritava "Vai Fabí". Em outras horas, do amigo/treinador/professor Júnior que, mais eufórico, berrava "Vai lá mulher, você está muito bem. Você é maravilhosa”. Caramba! Sabia que aquilo era mero incentivo de quem passou parte dos treinos me chamando, carinhosamente, de “mulher xibunga”. Mas tudo bem! O importante é que tinha um efeito psicológico muito bom.
A cada volta completada me surpreendia por ainda estar inteira. Para quem sempre olhou os pedais longos com certo sofrimento, foi impossível conter o grito de satisfação e o choro ao terminar aqueles 90 km com uma agradável sensação de missão quase cumprida.
- Pronto! Falta só mais uma etapa. Foi no que pensei quando terminei o ciclismo.
- Mas peraí! Cadê minhas pernas? Caramba! Acho que ficaram na bike. Tem um par de pernas ai?, brinquei com o staff que cuidava da minha magrelinha. - Tá em falta! Mas tem uma coca-cola ali que já ajuda, respondeu com o mesmo bom humor.
Nos meus planos, começaria ali a parte mais agradável da competição - os 21 km de corrida. Moleza! Ao sair, Júnior ainda me supriu com uma dose extra... - Vai lá mulher, faz o que você sabe fazer! - Xá comigo!
Mas quê? Quanto engano... Descobri que depois de 90 km de pedal não há corrida fácil e se você fizer isso às 12h, sem um “pé de sombra”, ai é que o bicho complica mesmo.
No primeiro quilômetros de pista, ao me deparar com aquele sol, àquela seca, imaginei que seriam os 21 km de corrida mais longos da minha vida. “Lasquei-me”!
Mas como além de terminar a prova, meu objetivo era terminá-la bem e como até ali havia conseguido administrar psicologicamente as dificuldades, não podia escorregar faltando tão pouco. Nessas horas você dá uma de doida e começa a falar consigo mesma. E naquele diálogo aberto dizia - Fabi. Você já fez 90... agora só faltam 21. Se concentra e administra garota. Resolvi encarar a corrida como um “passeio” e quando dei por mim já estava nos 5 km.
Esse é o momento da competição em que você realmente consegue olhar no olho dos demais atletas e solidarizar-se com eles. Se no olhar de alguns percebia energia sobrando, em outros era notório o esforço para superar as limitações e concluir o desafio. Então era comum que aqueles mais tivessem doassem um pouquinho aos que precisavam, ainda que fossem apenas palavras de incentivo. Os amigos Hélcio e Itamar cuidaram de me alimentar com um pouquinho daquele nitrogênio todo. - Bi... É isso aí. Tá muito bem. Continua assim que hoje eu pago seu jantar. Foi o compromisso que o Doutor assumiu ao passar por mim. - Menina continue assim. Falta pouco. Foi o incentivo carinhoso do outro amigo também apaixonado por corridas.
Aquele sol de rachar não era moleza mesmo. Mas quem escolhe fazer um Ironman tem, no mínimo, uma força de vontade muito grande e isso estava ainda mais visível naqueles que preferiam encarar os 21 km sob a “lua” a ter de desistir.
Quando estava finalizando os primeiros 10 km de corrida meus joelhos começaram a reclamar.
- Ah não! Peraí amigo... Segura a onda. Falta muito pouco. Diante daquela dorzinha a primeira coisa que me passou pela cabeça era 1) se a dor iria aumentar e se iria conseguir 2) que não deveria pensar naquilo e enganar minha mente.
Nesse ponto da prova ver os rostos amigos de Andrea, Junior e Josemar foi um consolo. Uma miragem no deserto? Ouvir a voz dos amigos “pangarés” de Brasília gritando "Vai Fabi! Acredita! Pensa em mim que você consegue"! Foi fundamental para levantar o astral e lembrar que aquilo tudo era uma grande festa.
Então vamos pra aquele conversa de pé de ouvido novamente. - Fabi imagina que você está correndo os 10 km da orla de Maceió. Fiz isso mesmo e a cada quilômetro passei a visualizar o cenário dos meus treinos. Quando dei por mim já estava passando pelo último posto de abastecimento.
Tô terminando? Tive que repetir aquilo para mim mesma. Era verdade, apenas 1 km me separava do título de Ironman. Naquele trecho veio à tona todas as lembranças boas e os perrengues que me fizeram chegar até ali. O joelho já estava dizendo - Se você não parar eu paro. Mas naquele instante a conexão entre ele o meu cérebro foi desligada e a única coisa que conseguia sentir era uma felicidade incontrolável.
Não conseguiria explicar em palavras a sensação de entrar na reta final e cruzar a chegada. Desculpem, mas vocês ficaram sem essa emoção, que só pode ser sentida por quem vive a situação. É simplesmente inexplicável.
Quando acaba a única coisa que você pensa é em abraçar as pessoas amigas que estão com você e ligar aos que não podem estar para dizer - Sou uma Iron. É maravilhoso! Se valeu a pena? Alguém ai ainda tem dúvida?
Amigos... parabéns a todos vocês. Hélcio, Itamar e Nuno, pela exelente prova, Marco André, Marcão, Donandon e Maurício, pela garra, perseverança e determinação, Ju, Andrea e Josemar, pelo apoio e paciência, Geraldo , Alex e Chico, pelo bom humor restaurador, e ao "anjo" que esteve presente comigo em todos os minutos e, claro, a todos os outros que não estavam ali mas estavam torcendo por nós. Valeu! Desafio vencido!
Júnior e Andrea.... nosso "dopping" legalizado
Companheiros de perrengue
Ah!! Pra quem está na curiosidade... Concluí a prova em 6:06:49. A sétima colocada na categoria Mulher Maravilha, digo... F30-34.sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Nos States (final)
Embora a complicação para entrar no trem, com todas aquelas malas nada compactas, depois de acomodados a viagem seguiu tranqüila. Aliás, muito bem acomodados. A opção de fazer a viagem de trem ao invés de avião não foi meramente econômica, uma vez que a diferença entre as tarifas não ultrapassava U$ 40. Encarar 3h30 sobre os trilhos e não 45'de ar foi uma alternativa para conhecermos um pouco mais o interior dos EUA. Uma escolha acertada. Depois, se fossemos de avião ainda teríamos de nos preocupar com o translado JFK/Manhattan, o que nos custaria alguns muitos dólares e 1h (ou mais) de trânsito. Desembarcando na Pennsylvania Station, ficaríamos há apenas três quadras do hotel onde, na 33th St com a 6th Av.
No trem reencontramos nossa companheira Carolina, uma das mosqueteiras dessa história. A chegada em NY não foi, assim por dizer, encantadora. Nos deparamos com uma cidade de concreto e céu cinza, nada muito diferente das metrópoles brasileiras. O desembarque na estação nos revelou a essência da cidade. Atmosfera, cheiro, barulho e energia, capazes de provocar reações de paixão, amor, ódio e desprezo. Mas, de qualquer forma, é impossível passar indiferente. E nem adianta questionar porque é assim mesmo. Logo de cara NY vai despejando em você toda sua personalidade e hábitos, sem a obrigação de agradar. Então, corra para pegar o trem ou fique com cara de “mané” no meio da rua.
Chegando ao hotel tivemos a oportunidade de conhecer a “simpatia” dos nova-iorquinos. Corrigindo... do povo que vive em NY ou dos seus muitos povos. Sim, porque aquela cidade é uma ONU. Em um quarteirão é possível encontrar, pelo menos, uma dúzia de raças. E a raça da recepcionista daquele hotel não era das mais gentis. Paciência é uma palavra que não deve existir no vocabulário da garota ou então ela não estava mesmo num bom dia. Não via a hora dela saltar de trás daquele balcão de aplicar golpes ninjas em nós, pobres turistas brasileiros.
O hotel não era lá essas coisas e olha que nem se tratava de mera exigência dos “estudantes” de Babson. Um exemplo, além de uma central de ar que não funcionava, foi a primeira experiência de Renata com o secador de cabelos. O aparelho tinha suas peculiaridades, não podia esquentar que parava de funcionar. Haja cabelo e haja paciência. Mas, uma vez instalados, embora o cansaço, a noite de NY apenas começava. Nossos amigos Anésio e Fabiano já haviam chegado à cidade e nos esperavam. Claro que, estando lá, a última coisa que poderia fazer era me apegar aos hábitos da vida cotidiana. Então, entrei no clima dos meus companheiros de aventura e fomos para uma das badaladas boates da cidade. Imaginei que fosse encontrar figuras mais bizarras, mas nada disso. Boate até que bem comportada, onde as mulheres não podiam entrar com micro saias e cigarro era objeto proibido. Escolha acertada, afinal, não há coisa mais desagradável para não fumantes que sair de um lugar parecendo um peru defumado.
A noitada não durou muito. Vínhamos do batente de Boston, das 3h30 horas de agradáveis chacoalhada e aquela altura não sobrava muito de nós. Depois, ainda tínhamos dois dias pela frente e precisaríamos de muita energia.
Embora poucas horas de sono, na manhã seguinte, guiados pelos por Anésio e Fabiano,começamos nosso tour bem dispostos. Mas começar por onde? Que tal pelo começo?! De ante mão já sabíamos quem em dois dias não conseguiríamos conhecer muita coisa da cidade, então nos concentramos em Manhattan, o distrito mais conhecido, que com uma população de 1,5 milhão de habitantes, por si só já apresentava uma imensidão de atrações. Descemos para Downtown, a parte mais ao sul da ilha, até o Pier 17, a fim de tentar conhecer a “Dona Liberdade”. Mas da “bunita” só vimos o vulto porque a manhã nublada não ajudou muito. Nada de desanimar. A partir do Financial District fomos subindo a ilha passando por monumentos e locais tradicionais, como o “falecido” World Trade Center, algumas lojas de departamento, Wall Stret e seu lendário touro, símbolo do poder econômico-financeiro, New York Stock Exchange, uma outra loja ali, a Bolsa de Valores, o Civic Center, o City Hall, mais uma loja acolá, o Federal Reserv Bank, mais um bocadinho de outras lojas, até, enfim, chegarmos ao Central Park.
Se minhas amigas Renata e Carolina tinham comichão ao entrar em daquelas imensas lojas de departamento, como Vitoria Screts, eu senti o mesmo ao chegar no Central Park. Um dos sonhos de consumo dos apaixonados por corrida é conhecer as famosas trilhas do lugar. Eu estava ali, bem no miolo, vendo alguns corajosos corredores e ciclistas encarem aquela tarde escaldante de Manhattan, sem se quer poder arriscar um trote. Afinal, às 16h, depois de oito horas de peregrinação por todas aquelas ruas e lojas, não sobrava muita força para uma corridinha (pra não dizer quase nenhuma).
Mas nem assim nos demos por vencidos. Depois ainda percorremos a badalada 5th Av e todas aquelas luxuosas lojas, o Empire State, co m seus 102 andares, e tudo mais que estivesse em nosso caminho. Lá pelas 20h, de volta ao hotel, foi só o tempo de despejar as comprinhas, tomar um banho e... rua novamente. Dessa vez o destino era Times Square, digamos assim... o centro do formigueiro.
O batente se repetiu no dia seguinte e o resultado de toda essa maratona? Muita diversão, não tenha dúvida, pílulas de cultura, informação, muitos dólares a menos na carteira, cobranças a mais no cartão de crédito, alguns calos nos pés, olheiras e uma vontade enorme de voltar pra casa.
Mas, quando pensávamos que a aventura havia chegado ao fim e que nos faltava apenas a jornada nos aeroportos (nosso vôo sairia de Boston), começamos a perceber que esse retorno não seria tão tranqüilo assim.
Depois de três noites e dois dias em NY, tivemos, digamos, certa dificuldade em fazer as malas. Sabíamos que, com aquelas “comprinhas”, o peso extra seria inevitável. Apenas não imaginávamos que fosse tão extra assim. Marcos conseguiu manter sua praticidade. Euzinha, como trouxe mala de mais, consegui administrar os apetrechos todos no espaço que sobrava. Nossa amiga Carol precisou de uma ajudinha para acomodar suas roupas. Nada que um extensor não pudesse resolver. Mas Renatinha... bem, faltou espaço na mala vermelha para nossa amiga guardar suas “lembrancinhas”. Ou seja, peso demais, força e coluna de menos.
Peso extra nesse caso significa puxador quebrado logo na saída hotel. Ai é que complicou tudo mesmo e nosso amigo Marcos acabou se candidatando a um belo dum abacaxi. Melhor, uma melancia, que cavalheiramente e caridosamente arrastou pelo restante da viagem.
Então, antes de despacharmos aquelas tralhas todas, primeiro foi preciso conseguir colocá-las dentro de um taxi. Vejamos: três pessoas + três malas + duas caixas + três bagagens de mão = pobre Marcos, pobre taxista. Depois era penitenciar pela Penn Station, embarcar as malas no trem para Boston, desembarcá-las na South Station, mais uma vez enfiar nossos bagulhos em um taxi até o aeroporto e, ufa!, mandar tudo para esteira... alguém ai duvida que Marcos sofreu um bocado?
Mas como viagem sem mico não rende história... é claro que a nossa teve de terminar com um king Kong dos grandes. Com muitos quilos a mais do que o permitido pelas normas internacionais de aviação, nossa amiga Renata teve der distribuir suas comprinhas no que ainda sobrava de espaço na mala do Marcos e na minha. Imaginem a cena: malas abertas em pleno saguão, a atendente da companhia aérea nos aguardando, uma fila de pessoas esperando para fazer o check-in... Estresse? Nem pensar! Éramos turistas assumidos e, além do mais, quem ali nos veria de novo?
Bem, mas não parou por ai. Depois de 30´ dentro do avião que nos levaria de volta a NY (??) para a conexão com SP, o piloto pediu que todos descessem. A aeronave estava com defeito e teríamos de fazer uma troca. Troca feita, mais alguns minutos de demora até que o piloto pede que um dos passageiros sentados no fundo da aeronave vá para frente do avião, pois precisavam equilibrar o peso. Será que esse problema da crise aérea é um vírus? Parasse que sim porque em NY ficamos mais cerca de quatro horas esperando que fosse consertada uma pane no sistema de navegação da aeronave. Dessa vez, sem o peso das bagagens, o que incomodava era a fome e aquela angustia de quem apenas quer voltar para casa, de preferência, com todas as nossas malas.
Saldo desses 10 dias? Bem, para mim, a certeza de que 1) mais vale um amigo na praça que dinheiro no bolso (como diz o dito popular), 2) desprender-se dos velhos hábitos é tão importante quanto adaptar-se, 3) cuidado com os excessos e 4) mala é mala mesmo e não adianta.
No trem reencontramos nossa companheira Carolina, uma das mosqueteiras dessa história. A chegada em NY não foi, assim por dizer, encantadora. Nos deparamos com uma cidade de concreto e céu cinza, nada muito diferente das metrópoles brasileiras. O desembarque na estação nos revelou a essência da cidade. Atmosfera, cheiro, barulho e energia, capazes de provocar reações de paixão, amor, ódio e desprezo. Mas, de qualquer forma, é impossível passar indiferente. E nem adianta questionar porque é assim mesmo. Logo de cara NY vai despejando em você toda sua personalidade e hábitos, sem a obrigação de agradar. Então, corra para pegar o trem ou fique com cara de “mané” no meio da rua.
Chegando ao hotel tivemos a oportunidade de conhecer a “simpatia” dos nova-iorquinos. Corrigindo... do povo que vive em NY ou dos seus muitos povos. Sim, porque aquela cidade é uma ONU. Em um quarteirão é possível encontrar, pelo menos, uma dúzia de raças. E a raça da recepcionista daquele hotel não era das mais gentis. Paciência é uma palavra que não deve existir no vocabulário da garota ou então ela não estava mesmo num bom dia. Não via a hora dela saltar de trás daquele balcão de aplicar golpes ninjas em nós, pobres turistas brasileiros.
O hotel não era lá essas coisas e olha que nem se tratava de mera exigência dos “estudantes” de Babson. Um exemplo, além de uma central de ar que não funcionava, foi a primeira experiência de Renata com o secador de cabelos. O aparelho tinha suas peculiaridades, não podia esquentar que parava de funcionar. Haja cabelo e haja paciência. Mas, uma vez instalados, embora o cansaço, a noite de NY apenas começava. Nossos amigos Anésio e Fabiano já haviam chegado à cidade e nos esperavam. Claro que, estando lá, a última coisa que poderia fazer era me apegar aos hábitos da vida cotidiana. Então, entrei no clima dos meus companheiros de aventura e fomos para uma das badaladas boates da cidade. Imaginei que fosse encontrar figuras mais bizarras, mas nada disso. Boate até que bem comportada, onde as mulheres não podiam entrar com micro saias e cigarro era objeto proibido. Escolha acertada, afinal, não há coisa mais desagradável para não fumantes que sair de um lugar parecendo um peru defumado.
A noitada não durou muito. Vínhamos do batente de Boston, das 3h30 horas de agradáveis chacoalhada e aquela altura não sobrava muito de nós. Depois, ainda tínhamos dois dias pela frente e precisaríamos de muita energia.
Embora poucas horas de sono, na manhã seguinte, guiados pelos por Anésio e Fabiano,começamos nosso tour bem dispostos. Mas começar por onde? Que tal pelo começo?! De ante mão já sabíamos quem em dois dias não conseguiríamos conhecer muita coisa da cidade, então nos concentramos em Manhattan, o distrito mais conhecido, que com uma população de 1,5 milhão de habitantes, por si só já apresentava uma imensidão de atrações. Descemos para Downtown, a parte mais ao sul da ilha, até o Pier 17, a fim de tentar conhecer a “Dona Liberdade”. Mas da “bunita” só vimos o vulto porque a manhã nublada não ajudou muito. Nada de desanimar. A partir do Financial District fomos subindo a ilha passando por monumentos e locais tradicionais, como o “falecido” World Trade Center, algumas lojas de departamento, Wall Stret e seu lendário touro, símbolo do poder econômico-financeiro, New York Stock Exchange, uma outra loja ali, a Bolsa de Valores, o Civic Center, o City Hall, mais uma loja acolá, o Federal Reserv Bank, mais um bocadinho de outras lojas, até, enfim, chegarmos ao Central Park.
Se minhas amigas Renata e Carolina tinham comichão ao entrar em daquelas imensas lojas de departamento, como Vitoria Screts, eu senti o mesmo ao chegar no Central Park. Um dos sonhos de consumo dos apaixonados por corrida é conhecer as famosas trilhas do lugar. Eu estava ali, bem no miolo, vendo alguns corajosos corredores e ciclistas encarem aquela tarde escaldante de Manhattan, sem se quer poder arriscar um trote. Afinal, às 16h, depois de oito horas de peregrinação por todas aquelas ruas e lojas, não sobrava muita força para uma corridinha (pra não dizer quase nenhuma).
Mas nem assim nos demos por vencidos. Depois ainda percorremos a badalada 5th Av e todas aquelas luxuosas lojas, o Empire State, co m seus 102 andares, e tudo mais que estivesse em nosso caminho. Lá pelas 20h, de volta ao hotel, foi só o tempo de despejar as comprinhas, tomar um banho e... rua novamente. Dessa vez o destino era Times Square, digamos assim... o centro do formigueiro.
O batente se repetiu no dia seguinte e o resultado de toda essa maratona? Muita diversão, não tenha dúvida, pílulas de cultura, informação, muitos dólares a menos na carteira, cobranças a mais no cartão de crédito, alguns calos nos pés, olheiras e uma vontade enorme de voltar pra casa.
Mas, quando pensávamos que a aventura havia chegado ao fim e que nos faltava apenas a jornada nos aeroportos (nosso vôo sairia de Boston), começamos a perceber que esse retorno não seria tão tranqüilo assim.
Depois de três noites e dois dias em NY, tivemos, digamos, certa dificuldade em fazer as malas. Sabíamos que, com aquelas “comprinhas”, o peso extra seria inevitável. Apenas não imaginávamos que fosse tão extra assim. Marcos conseguiu manter sua praticidade. Euzinha, como trouxe mala de mais, consegui administrar os apetrechos todos no espaço que sobrava. Nossa amiga Carol precisou de uma ajudinha para acomodar suas roupas. Nada que um extensor não pudesse resolver. Mas Renatinha... bem, faltou espaço na mala vermelha para nossa amiga guardar suas “lembrancinhas”. Ou seja, peso demais, força e coluna de menos.
Peso extra nesse caso significa puxador quebrado logo na saída hotel. Ai é que complicou tudo mesmo e nosso amigo Marcos acabou se candidatando a um belo dum abacaxi. Melhor, uma melancia, que cavalheiramente e caridosamente arrastou pelo restante da viagem.
Então, antes de despacharmos aquelas tralhas todas, primeiro foi preciso conseguir colocá-las dentro de um taxi. Vejamos: três pessoas + três malas + duas caixas + três bagagens de mão = pobre Marcos, pobre taxista. Depois era penitenciar pela Penn Station, embarcar as malas no trem para Boston, desembarcá-las na South Station, mais uma vez enfiar nossos bagulhos em um taxi até o aeroporto e, ufa!, mandar tudo para esteira... alguém ai duvida que Marcos sofreu um bocado?
Mas como viagem sem mico não rende história... é claro que a nossa teve de terminar com um king Kong dos grandes. Com muitos quilos a mais do que o permitido pelas normas internacionais de aviação, nossa amiga Renata teve der distribuir suas comprinhas no que ainda sobrava de espaço na mala do Marcos e na minha. Imaginem a cena: malas abertas em pleno saguão, a atendente da companhia aérea nos aguardando, uma fila de pessoas esperando para fazer o check-in... Estresse? Nem pensar! Éramos turistas assumidos e, além do mais, quem ali nos veria de novo?
Bem, mas não parou por ai. Depois de 30´ dentro do avião que nos levaria de volta a NY (??) para a conexão com SP, o piloto pediu que todos descessem. A aeronave estava com defeito e teríamos de fazer uma troca. Troca feita, mais alguns minutos de demora até que o piloto pede que um dos passageiros sentados no fundo da aeronave vá para frente do avião, pois precisavam equilibrar o peso. Será que esse problema da crise aérea é um vírus? Parasse que sim porque em NY ficamos mais cerca de quatro horas esperando que fosse consertada uma pane no sistema de navegação da aeronave. Dessa vez, sem o peso das bagagens, o que incomodava era a fome e aquela angustia de quem apenas quer voltar para casa, de preferência, com todas as nossas malas.
Saldo desses 10 dias? Bem, para mim, a certeza de que 1) mais vale um amigo na praça que dinheiro no bolso (como diz o dito popular), 2) desprender-se dos velhos hábitos é tão importante quanto adaptar-se, 3) cuidado com os excessos e 4) mala é mala mesmo e não adianta.
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Nos States (2ª parte)
Apesar do desconforto de estar em um país estranho, até que estava conformada com a situação. Tavares, depois de nos fazer penar um pouquinho, foi solidário e prestativo. Segundo ele, a bagagem deveria chegar naquela mesma tarde e até 20h seria devolvida a mim. Claro que a notícia, embora não fosse das piores, preocupou um bocado porque a cerimônia de abertura do curso seria realizada naquele mesmo dia, às 18h. Bem, depois de quase dois dias de viagem, minhas roupas, impraticáveis, já caminhavam sozinhas.
De qualquer forma o remédio era tentar manter a calma. Então, almoçamos e do aeroporto fomos para a universidade de Babson College, que fica em um distrito de Boston chamado Wellesley. As primeiras impressões da cidade foram excelentes, tanto que merece entrar para a lista de “lugares que quero conhecer”. Limpa, com ruas largas, bem cuidadas e uma arquitetura bela, não fosse as bandeiras norte americanas hasteadas na fachada de 8 entre 10 casas, poderia dizer que estava em uma cidade européia.
Não custou muito para chegarmos a Babson, onde seria realizado curso e onde também ficaríamos alojados. Quer dizer, alojados não, hospedados, com o conforto de um hotel cinco estrelas. Dentro da universidade foi construído um centro de educação para executivos – Executive Conference Center - com toda infra-estrutura de um hotel de luxo, mas sem aquela chatice de pagar horrores por um copo de água. Aliás, café, chocolate, sorvete, frutas, entre outras guloseimas eram disponibilizadas para os alunos sem custo (direto, claro!). Mordomia das boas e merecidas.
Depois de nos acomodarmos é que fomos realmente perceber o quanto estávamos cansados, pra não dizer um bagaço. No meu caso, somando o cansaço + o extravio da mala + mais uma gripe que me congestionava cruelmente há cinco dias + o esforço de manter-me calma + três dias sem treino (ou seja, energia acumulada até a tampa)... Estava pronta para explodir. Não fosse a “Santa Renata”, amiga e companheira de quarto – que, aliás, deveria ser canonizada - eu teria perdido as estribeiras. A “bunita” não apenas me emprestou algumas roupas como soube administrar meu estresse com a sabedoria de quem e mãe do Gabriel.
Mas, embora o carinho da amiga, a qualidade das instalações e do jantar servido aos participantes do curso - todos brasileiros - nada foi capaz de me animar naquela noite. Queria apenas “aquele colo”e minha malinha queridinha de volta. Deu 20h e nada, 21h, 22h, 23h e nada... Fazer o que? Sem colo e sem mala, a solução era tentar dormir. Na manhã seguinte acordei como uma criança em dia de Natal, direto em busca dos presentes deixados sob árvore. Mas que presente? Nada de presente, digo nada de mala. Nessa altura do campeonato ninguém ousasse me chamar de feia porque corria risco de morte. Mas ao menos a Santa Renata parecia ter previsto a situação. Na sua mala havia mais roupa do que o necessário e algumas delas na minha numeração. Então, lá fui eu novamente vestida de Renatinha para a aula, até, finalmente, receber minha mala, lá pelas tantas da manhã. Ufa! Que alívio. Nada pior que sentir-me dependente. Finalmente era dona das minhas próprias roupas e, tranqüilizada, pude aproveitar melhor o que Babson e Wellesley tinham a nos oferecer, incluindo belos lugares para a corridinha matinal.
Bem, disse a vocês que não iria me ater aos detalhes intelectuais de Babson, que foi em si uma experiência excelente, seja pela didática dos professores, pelos temas abordados e pela oportunidade de interagir com profissionais de áreas tão distintas. Ah! Claro, pela comida também. E haja comida! Além dos fartos e deliciosos café da manhã, almoço e jantar, cada intervalo para o “cafezinho” era um atentado a boa forma. Estudar e comer , comer e estudar ... Essa foi a rotina durante os cinco dias de Babson.
Mas além das aulas, eu, Renata e Marcos, passamos a semana organizando a parte “exploratória” de nossa viagem. Estava em nossos planos, depois de terminado o curso, passar um dia em Boston e seguir para NY. Rezando para que, dessa vez, minha mala me acompanhasse.
Em Babson acabamos descobrindo outros companheiros para nossa aventura, como Carolina, Fabiano e Anésio. O roteiro dos rapazes, além de Boston e NY, incluía uma viagem de carro pela Costa Leste dos EUA. Carol, nos encontraria em NY.
Como quem tem boca vai a Roma, com as dicas que recebemos, conseguimos fazer a reserva em num hotel no centro da cidade (dessa vez, sem os mesmos confortos e regalias de Babson) e compramos passagens para NY em um trem que sairia de South Station às 15h da sexta-feira. Ou seja, tínhamos apenas a tarde e noite da quinta e a manhã de sexta para tentar conhecer um pouquinho da cidade. Então dormir não era bem nossa prioridade.
Apaixonante. É assim que posso descrever o centro de Boston. Caminhando pelas ruas da cidade é que se percebe o sentido da palavra civilização. Bicicletas transitando em harmonia com os carros, sem barulho de buzinas ou lixo esparramado pelas calçadas. Um exemplo claro da relação saudável entre cidadão e estado é o sistema de transporte, em que os ônibus circulam sem cobrador. Uma vez que todos sabem que é preciso pagar para utilizar o serviço, cada um faz seu papel e pronto. Simples assim.
Apesar do pouco tempo, conseguimos conhecer a famosa universidade de Harvard, onde até os esquilos são intelectuais, e os principais pontos turísticos (e lojas, claro) de Boston. Anésio e Fabiano foram nossos guias, que hora orientavam e outras nos desorientavam.
Como tudo próximo, taxi não era uma alternativa inteligente. Caminhar pela cidade era a melhor forma de explorar os detalhes. Nossa idéia era fazer parte do Freedom Trail, uma caminhada, de 4 km, que passa pelos principais pontos turísticos históricos de Bonston. É possível fazer o passei sem ajuda de guias, já que o caminho é indicado com uma faixa vermelha pintada no chão. Com um mapa nas mãos, bastava seguira faixa e desvendar por si mesmo o cenário local.
Até que tentamos e quem surpreendeu mesmo foi Renata. Minha amiga, que pega um taxi para atravessar as pistas da Avenida Paulista, enfrentou a “maratona” sem deixar a bola cair. Quer dizer, não foi bem assim, já no fim da manhã de sexta, depois de horas num sol de rachar, nos rendemos e embarcamos em um daqueles ônibus de tour convencional. Mas não era o Duck Tour, carros anfíbios da Segunda Guerra Mundial adaptados para transportar pacíficos turistas. Afinal, o mico não poderia ser tão grande.
No fim das contas, moídas, pagamos U$29 para descansar um pouco e conhecer lugares que nossas pernas se recusavam a levar, como Public Garden. E Marcos? Bem, nosso amigo optou por uma visita ao museu marinho e nos encontraria na estação.
Rendidas ao cansaço, ao fim do passeio já não éramos mais gente... E pela frente ainda tínhamos uma viagem de 3h30 de trem até NY... Onde, ai sim, começamos a entender o verdadeiro o sentido da palavra mala.
Continua...
De qualquer forma o remédio era tentar manter a calma. Então, almoçamos e do aeroporto fomos para a universidade de Babson College, que fica em um distrito de Boston chamado Wellesley. As primeiras impressões da cidade foram excelentes, tanto que merece entrar para a lista de “lugares que quero conhecer”. Limpa, com ruas largas, bem cuidadas e uma arquitetura bela, não fosse as bandeiras norte americanas hasteadas na fachada de 8 entre 10 casas, poderia dizer que estava em uma cidade européia.
Não custou muito para chegarmos a Babson, onde seria realizado curso e onde também ficaríamos alojados. Quer dizer, alojados não, hospedados, com o conforto de um hotel cinco estrelas. Dentro da universidade foi construído um centro de educação para executivos – Executive Conference Center - com toda infra-estrutura de um hotel de luxo, mas sem aquela chatice de pagar horrores por um copo de água. Aliás, café, chocolate, sorvete, frutas, entre outras guloseimas eram disponibilizadas para os alunos sem custo (direto, claro!). Mordomia das boas e merecidas.
Depois de nos acomodarmos é que fomos realmente perceber o quanto estávamos cansados, pra não dizer um bagaço. No meu caso, somando o cansaço + o extravio da mala + mais uma gripe que me congestionava cruelmente há cinco dias + o esforço de manter-me calma + três dias sem treino (ou seja, energia acumulada até a tampa)... Estava pronta para explodir. Não fosse a “Santa Renata”, amiga e companheira de quarto – que, aliás, deveria ser canonizada - eu teria perdido as estribeiras. A “bunita” não apenas me emprestou algumas roupas como soube administrar meu estresse com a sabedoria de quem e mãe do Gabriel.
Mas, embora o carinho da amiga, a qualidade das instalações e do jantar servido aos participantes do curso - todos brasileiros - nada foi capaz de me animar naquela noite. Queria apenas “aquele colo”e minha malinha queridinha de volta. Deu 20h e nada, 21h, 22h, 23h e nada... Fazer o que? Sem colo e sem mala, a solução era tentar dormir. Na manhã seguinte acordei como uma criança em dia de Natal, direto em busca dos presentes deixados sob árvore. Mas que presente? Nada de presente, digo nada de mala. Nessa altura do campeonato ninguém ousasse me chamar de feia porque corria risco de morte. Mas ao menos a Santa Renata parecia ter previsto a situação. Na sua mala havia mais roupa do que o necessário e algumas delas na minha numeração. Então, lá fui eu novamente vestida de Renatinha para a aula, até, finalmente, receber minha mala, lá pelas tantas da manhã. Ufa! Que alívio. Nada pior que sentir-me dependente. Finalmente era dona das minhas próprias roupas e, tranqüilizada, pude aproveitar melhor o que Babson e Wellesley tinham a nos oferecer, incluindo belos lugares para a corridinha matinal.
Bem, disse a vocês que não iria me ater aos detalhes intelectuais de Babson, que foi em si uma experiência excelente, seja pela didática dos professores, pelos temas abordados e pela oportunidade de interagir com profissionais de áreas tão distintas. Ah! Claro, pela comida também. E haja comida! Além dos fartos e deliciosos café da manhã, almoço e jantar, cada intervalo para o “cafezinho” era um atentado a boa forma. Estudar e comer , comer e estudar ... Essa foi a rotina durante os cinco dias de Babson.
Mas além das aulas, eu, Renata e Marcos, passamos a semana organizando a parte “exploratória” de nossa viagem. Estava em nossos planos, depois de terminado o curso, passar um dia em Boston e seguir para NY. Rezando para que, dessa vez, minha mala me acompanhasse.
Em Babson acabamos descobrindo outros companheiros para nossa aventura, como Carolina, Fabiano e Anésio. O roteiro dos rapazes, além de Boston e NY, incluía uma viagem de carro pela Costa Leste dos EUA. Carol, nos encontraria em NY.
Como quem tem boca vai a Roma, com as dicas que recebemos, conseguimos fazer a reserva em num hotel no centro da cidade (dessa vez, sem os mesmos confortos e regalias de Babson) e compramos passagens para NY em um trem que sairia de South Station às 15h da sexta-feira. Ou seja, tínhamos apenas a tarde e noite da quinta e a manhã de sexta para tentar conhecer um pouquinho da cidade. Então dormir não era bem nossa prioridade.
Apaixonante. É assim que posso descrever o centro de Boston. Caminhando pelas ruas da cidade é que se percebe o sentido da palavra civilização. Bicicletas transitando em harmonia com os carros, sem barulho de buzinas ou lixo esparramado pelas calçadas. Um exemplo claro da relação saudável entre cidadão e estado é o sistema de transporte, em que os ônibus circulam sem cobrador. Uma vez que todos sabem que é preciso pagar para utilizar o serviço, cada um faz seu papel e pronto. Simples assim.
Apesar do pouco tempo, conseguimos conhecer a famosa universidade de Harvard, onde até os esquilos são intelectuais, e os principais pontos turísticos (e lojas, claro) de Boston. Anésio e Fabiano foram nossos guias, que hora orientavam e outras nos desorientavam.
Como tudo próximo, taxi não era uma alternativa inteligente. Caminhar pela cidade era a melhor forma de explorar os detalhes. Nossa idéia era fazer parte do Freedom Trail, uma caminhada, de 4 km, que passa pelos principais pontos turísticos históricos de Bonston. É possível fazer o passei sem ajuda de guias, já que o caminho é indicado com uma faixa vermelha pintada no chão. Com um mapa nas mãos, bastava seguira faixa e desvendar por si mesmo o cenário local.
Até que tentamos e quem surpreendeu mesmo foi Renata. Minha amiga, que pega um taxi para atravessar as pistas da Avenida Paulista, enfrentou a “maratona” sem deixar a bola cair. Quer dizer, não foi bem assim, já no fim da manhã de sexta, depois de horas num sol de rachar, nos rendemos e embarcamos em um daqueles ônibus de tour convencional. Mas não era o Duck Tour, carros anfíbios da Segunda Guerra Mundial adaptados para transportar pacíficos turistas. Afinal, o mico não poderia ser tão grande.
No fim das contas, moídas, pagamos U$29 para descansar um pouco e conhecer lugares que nossas pernas se recusavam a levar, como Public Garden. E Marcos? Bem, nosso amigo optou por uma visita ao museu marinho e nos encontraria na estação.
Rendidas ao cansaço, ao fim do passeio já não éramos mais gente... E pela frente ainda tínhamos uma viagem de 3h30 de trem até NY... Onde, ai sim, começamos a entender o verdadeiro o sentido da palavra mala.
Continua...
Um pouco de Boston.
Desorientados no metrô.
Exploradores em Harvard.
Duck Tour: esse mico não pagamos....
domingo, 2 de setembro de 2007
Nos States (1ª parte)
O EUA nunca esteve no topo da minha lista de “lugares que quero conhecer”. Minto, havia NY, que sempre chamou minha atenção pelo Central Park e sua famosa maratona. Mas, por obra do destino, “Tio Sam” foi o primeiro a carimbar meu passaporte.
Acontece que por uma oportunidade de trabalho, com o propósito de participar de um curso sobre empreendedorismo, na universidade Babson College, este ano fiz minha primeira viagem internacional. O destino? Boston, com direito a uma visitinha a Nova York.
A capacitação foi excelente, Babson é tudo que se espera de uma universidade, seja pelas suas instalações, limpeza, organização, beleza e qualificação do corpo acadêmico. Mas, não é do aspecto intelectual dessa viagem que quero falar e sim das aventuras. Teve de tudo, bagagem extraviada, avião quebrado e até o homem da mala vermelha.
Começando do começo... Como não podia deixar de ser, os dias que antecederam a ida para o EUA foram de ansiedade. O fato de não estar fluente no idioma, pra não dizer totalmente travada, potencializou ainda mais a angústia. Minha tábua de salvação seriam os dois companheiros de viagem: Marcos e Renata.
Acostumada a acordar cedinho para treinar, naquele sábado, levantar da cama às 3h30 da manhã para estar no aeroporto às 5h não foi nada demais. De mala pronta, com o suficiente para 10 dias nos States e espaço bastante para trazer umas “comprinhas”, passei na casa do amigo. Nessas horas, sempre impressiona a praticidade masculina. A mala do Marcos (não o mala do Marcos) tinha metade do tamanho da minha.
Bem, tentando fazer uma analogia, posso dizer que nossa viagem aos States é comparável a uma corrida de aventura, onde o que vale é a resistência, a paciência e o espírito de companheirismo.
Os desafios começaram no aeroporto. O avião que nos levou para São Paulo, nossa primeira escala e onde encontraríamos a Renata, chegou à cidade às 8h e pouco da manhã, mas só embarcaríamos para NY, nossa segunda escala, às 21h30.
Ficamos os três nos sentindo o próprio Tom Hanks, no filme “O Terminal”. O detalhe é que eu e Marcos tivemos de ficar com as malas aguardando pelo embarque internacional, que só começaria às 17h30. Então vamos contabilizar... 13 horas de espera no aeroporto de Guarulhos, nove delas arrastando nossas tralhas pra cima e pra baixo. Maravilha! Aliás, para Marcos, aquele foi um ensaio do que estaria por vir. As malas foram a sensação dessa viagem.
Mas até então tudo era festa. Todos na expectativa, animados e com energia suficiente para agüentar as cerca de 10h de vôo para NY. Alias, foi ai que começamos a perceber as diferenças entre o terceiro e o primeiro mundo.
Se o Brasil perde na qualidade da comida servida dentro das aeronaves, ganha de lavada nos quesitos beleza, aparência e atendimento das nossas comissárias de bordo. Algumas das senhoras aeromoças norte americanas pareciam ter saído de um filme de terror. Já no quesito overbooking, Brasil e EUA empataram. Eu, Marcos e Renata fomos testemunhas disso. Nossos acentos foram vendidos duas vezes. A pergunta era: quem sentaria no colo de quem? Bem, meus amigos tiveram um “desagradável” remanejamento da classe econômica para a classe executiva, enquanto eu fiquei no meu lugarzinho... De segunda.
A noite dentro de um avião nunca é tão agradável, ao menos para quem tenta dormir nas poltronas da classe econômica. Por isso, a chegada a NY foi um alívio. O embarque para Boston (até quem fim) levaria apenas duas horas, o que no total contabilizaria quase 36 horas de viagem.
Nesse meio tempo fomos apresentados ao “cafezinho” americano e além de descobrir que o café dos vizinhos do primeiro mundo é ralo, descobrimos também que nunca se deve pedir a versão “big” (grande), porque o “small” (pequeno) deles já é suficientemente gigante.
Bem, salvo aquelas coisinhas desagradáveis como ter de tirar os sapatos para fazer o reembarque e o fato da minha operadora de celular ter me deixado na mão, tudo correu bem até a chegada em Boston. Chegada em termos, porque minha mala... Essa resolveu curtir um pouquinho mais de NY e não chegou ao nosso destino. Ótimo! Seria a primeira oportunidade de experimentar o idioma. Na sessão de malas perdidas, tentava estabelecer um diálogo razoável com o atendente, Tavares, e Marcos me ajudava nessa árdua missão, até travar tudo.
Fabi: Marcos, o que foi que ele disse?
Marcos: ???
Fabi: Ai meu Deus... E agora?
Marcos: repeat, please???
Tavares: &*$#&%!
Fabi: Entendeu?
Marcos: Não.
Tavares: Perguntei aonde vocês vão ficar em Boston (em bom e claro português).
O cara era brasileiro, mineiríssimo... Encontrá-lo foi como, criança, estar perdida no supermercado e dar de cara com minha mãe.
Continua...
Acontece que por uma oportunidade de trabalho, com o propósito de participar de um curso sobre empreendedorismo, na universidade Babson College, este ano fiz minha primeira viagem internacional. O destino? Boston, com direito a uma visitinha a Nova York.
A capacitação foi excelente, Babson é tudo que se espera de uma universidade, seja pelas suas instalações, limpeza, organização, beleza e qualificação do corpo acadêmico. Mas, não é do aspecto intelectual dessa viagem que quero falar e sim das aventuras. Teve de tudo, bagagem extraviada, avião quebrado e até o homem da mala vermelha.
Começando do começo... Como não podia deixar de ser, os dias que antecederam a ida para o EUA foram de ansiedade. O fato de não estar fluente no idioma, pra não dizer totalmente travada, potencializou ainda mais a angústia. Minha tábua de salvação seriam os dois companheiros de viagem: Marcos e Renata.
Acostumada a acordar cedinho para treinar, naquele sábado, levantar da cama às 3h30 da manhã para estar no aeroporto às 5h não foi nada demais. De mala pronta, com o suficiente para 10 dias nos States e espaço bastante para trazer umas “comprinhas”, passei na casa do amigo. Nessas horas, sempre impressiona a praticidade masculina. A mala do Marcos (não o mala do Marcos) tinha metade do tamanho da minha.
Bem, tentando fazer uma analogia, posso dizer que nossa viagem aos States é comparável a uma corrida de aventura, onde o que vale é a resistência, a paciência e o espírito de companheirismo.
Os desafios começaram no aeroporto. O avião que nos levou para São Paulo, nossa primeira escala e onde encontraríamos a Renata, chegou à cidade às 8h e pouco da manhã, mas só embarcaríamos para NY, nossa segunda escala, às 21h30.
Ficamos os três nos sentindo o próprio Tom Hanks, no filme “O Terminal”. O detalhe é que eu e Marcos tivemos de ficar com as malas aguardando pelo embarque internacional, que só começaria às 17h30. Então vamos contabilizar... 13 horas de espera no aeroporto de Guarulhos, nove delas arrastando nossas tralhas pra cima e pra baixo. Maravilha! Aliás, para Marcos, aquele foi um ensaio do que estaria por vir. As malas foram a sensação dessa viagem.
Mas até então tudo era festa. Todos na expectativa, animados e com energia suficiente para agüentar as cerca de 10h de vôo para NY. Alias, foi ai que começamos a perceber as diferenças entre o terceiro e o primeiro mundo.
Se o Brasil perde na qualidade da comida servida dentro das aeronaves, ganha de lavada nos quesitos beleza, aparência e atendimento das nossas comissárias de bordo. Algumas das senhoras aeromoças norte americanas pareciam ter saído de um filme de terror. Já no quesito overbooking, Brasil e EUA empataram. Eu, Marcos e Renata fomos testemunhas disso. Nossos acentos foram vendidos duas vezes. A pergunta era: quem sentaria no colo de quem? Bem, meus amigos tiveram um “desagradável” remanejamento da classe econômica para a classe executiva, enquanto eu fiquei no meu lugarzinho... De segunda.
A noite dentro de um avião nunca é tão agradável, ao menos para quem tenta dormir nas poltronas da classe econômica. Por isso, a chegada a NY foi um alívio. O embarque para Boston (até quem fim) levaria apenas duas horas, o que no total contabilizaria quase 36 horas de viagem.
Nesse meio tempo fomos apresentados ao “cafezinho” americano e além de descobrir que o café dos vizinhos do primeiro mundo é ralo, descobrimos também que nunca se deve pedir a versão “big” (grande), porque o “small” (pequeno) deles já é suficientemente gigante.
Bem, salvo aquelas coisinhas desagradáveis como ter de tirar os sapatos para fazer o reembarque e o fato da minha operadora de celular ter me deixado na mão, tudo correu bem até a chegada em Boston. Chegada em termos, porque minha mala... Essa resolveu curtir um pouquinho mais de NY e não chegou ao nosso destino. Ótimo! Seria a primeira oportunidade de experimentar o idioma. Na sessão de malas perdidas, tentava estabelecer um diálogo razoável com o atendente, Tavares, e Marcos me ajudava nessa árdua missão, até travar tudo.
Fabi: Marcos, o que foi que ele disse?
Marcos: ???
Fabi: Ai meu Deus... E agora?
Marcos: repeat, please???
Tavares: &*$#&%!
Fabi: Entendeu?
Marcos: Não.
Tavares: Perguntei aonde vocês vão ficar em Boston (em bom e claro português).
O cara era brasileiro, mineiríssimo... Encontrá-lo foi como, criança, estar perdida no supermercado e dar de cara com minha mãe.
Continua...
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