Faltando 89 dias para o Ironman 70.3 (e 88 pra entrar nos 30) começo a sentir o tal friozinho na barriga e um monte de outras sensações.
A primeira vez que ouvi falar nessa prova nem de longe imaginava um dia vir a participar dela. Aliás, o triathlon não era uma modalidade que me agradava. Além de considerá-lo elitista, nunca tive vocação para esportes que exigissem força física. Aquela sensação de que seu coração vai saltar pela boca ou de que a qualquer momento você pode ter um ‘piripaque’ e parar de respirar... Me deixa em pânico. Prefiro sentir o coração confortável. Devagar e sempre, esse é meu lema... E de preferência com desafios e superações, para apimentar a conquista. Por isso sempre preferi as modalidades que exigissem mais resistência e concentração do que explosão.
Mas, em 2006, tive a oportunidade de conhecer a outra vertente desse esporte. Em meados de junho, Júnior (o treinador) havia ligado para comentar que três amigos, que moravam em Maceió, iriam à Brasília participar do Ironman 70.3.
- Ótimo! Diz a eles que podem contar comigo pro que for necessário.
Não adianta tentar explicar. Para entender o que se passa em um Ironman, é preciso estar na prova. E pra não repetir toda história, quem tiver curiosidade de saber o que aconteceu naquela época, pode acessar os textos antigos... 70.3 do começo e 70.3 – 2ª parte.
Foi depois de vivenciar aqueles dias que minha opinião sobre o triathlon começou a mudar. Descobri que nem tudo nesse esporte era apenas força física e que havia provas que exigiam além de resistência, muita paciência e perseverança.
O desafio despertou meu interesse, mas, mesmo assim, nem de longe cogitava a hipótese de vir a fazer um Ironman.
- Nadar 1.900 m, pedalar 90 km e correr 21 km... Tudo de uma tacada só ? Tá maluco!
Dizia aos amigos que me encorajavam ao desafio (e olha que estou falando o Ironman 70.3, ou seja, metade da distância do Ironman. Multiplica isso por dois e veja o que é desafio de verdade).
Bem, 2007 chegou e lá vai eu parar para pensar no que estabeleceria de metas, objetivos e desafios para os próximos 12 meses.
Como o ano anterior havia sido de muitas conquistas profissionais, sabia que a tendência para 2007 era de certa estabilização. Mas, de espírito inquieto, tinha de estabelecer algum objetivo que pudesse por em prova minha capacidade de superação.
A essa altura o esporte já havia se tornado um ‘vício’... O Ironman era algo que desafiava... Ou seja, a fome e vontade de comer estavam ali, bem juntinhas. Só faltava um empurrãozinho.
- Você tem medo de que? Já fez uma corrida de aventura de 24 horas e acha que não vai dar conta de uma prova de seis horas?
Bem, o resultado a provocação, feita pelo Júnior, vocês já podem imaginar.
Quando descobri que a prova de 2007 seria no dia 16 de setembro – um dia depois de completar 30 anos - decidi que esse seria meu presente de aniversário. Trintão em grande estilo.
Já sei... Você pode estar pensando que grande estilo é uma festa de arromba ou uma viagem maravilhosa. Tudo bem, também adoro por o pé na estrada, mas.... Viva as diferenças!!!
Desde a decisão até hoje, já se vão nove meses de treinos. Puxa, uma gestação!
Há amigos que admiram a coragem, há outros que me acham maluca. Sem problemas! Há horas que também acho.
Todas as vezes que acordo às 4h30 da manhã para pedalar 70, 80, 90 km, em baixo de chuva, nos domingos em que saio de casa para correr 35 km ou quando no meio de um treino sinto as pernas queimarem... Paro... Penso... E aí? É isso? Tem certeza?
Quem, em santa consciência, faria o mesmo?! Bem, eu e mais um bando de oito ou dez adoráveis ‘malucos’ que vez por outra treinam comigo.
Se você não pratica esporte, provavelmente não entenderá o que vou dizer. Acontece que o prazer desse ‘vício’ supera qualquer cansaço físico, que, aliás, é passageiro.
Mas, quando alguém se propõe a encarar um desafio que vai exigir treinamento e dedicação (sem falar da paciência, tolerância, perseverança, etc., etc., etc.) nem tudo são flores, por mais motivado que você esteja.
Se há momentos onde o treino é uma diversão, com direito a brincadeiras durante o pedal ou entre as braçadas na piscina... Horas em que, ao vencer uma barreira, você se sente a própria Mulher Maravilha ou o Wolverine... Também há momentos de preguiça, de tédio, de dúvida, de aborrecimento, de insônia e de cansaço mesmo. Ahhhh... E quando esses momentos se misturam a rebeldia dos hormônios femininos... Xiii... Sai de baixo!
Confesso: Já houve domingo em que troquei o pedal por uma manhã de praia. Dias em que dei uma ‘arrumadinha’ nos horários para não perder a ‘farra’ com os amigos. Outros em que, sem culpa, matei o treino da manhã para ficar um pouco mais na cama. Tudo pra ter a certeza de que não havia pirado de vez e que esse ‘vício’ não havia sufocado outros prazeres.
De uma forma ou de outra, todos esses momentos só deixam ainda mais flagrante o fato de que o ser humano é movido por fases e pior do que vivenciar essa montanha russa de emoções é a sensação de ter abandonado um projeto no meio do caminho. E isso acaba valendo para todas as outas coisas da vida.
terça-feira, 19 de junho de 2007
terça-feira, 12 de junho de 2007
Apaixone-se!
Para o dia dos apaixonados... um cordel sobre o amor, esse sentimento danado!
A Surpresa na Escada do Amor
Cordel de Walter Medeiros (Natal/RN – 2003)
Quero contar pra vocês,
Com a maior precisão,
Qual foi a minha impressão,
Quando pensei certa vez
Sobre a maior emoção
Que temos no coração,
Sem contar nem até três.
Pois o amor, quando chega,
Vem logo arrepiando,
Deixa a gente se enganando,
E mole feito manteiga,
Quem ama, se abestalhando,
Pensa que está ganhando,
É a pessoa mais meiga.
Ele vai levando a gente,
Com tantos sonhos que traz,
A fazer tudo demais,
Deixa até impaciente.
É como ficar sem paz
Ser notícia nos jornais,
Junta tudo que se sente.
Eu comparo o amor,
A uma grande escada,
Comprida e enviesada,
Onde a pessoa entrou;
E que depois de entrar
Nunca pensa em voltar,
Por mais que vá sentir dor.
Ela tem tantos batentes,
Pelos quais vamos subindo,
Avançando e seguindo,
Continuando em frente;
Mesmo se desiludindo,
Todos continuam indo,
Lá ninguém é diferente.
A subida continua,
Por toda aquela escada,
Que é uma grande parada,
Maior do que muita rua;
Perigosa, engraçada,
Não se compara a nada,
Parece que se flutua.
Nessa seqüência subida,
Com pássaros e jardins,
Quem sabe até querubins,
Tudo de bom dessa vida,
Finda chegando ao fim,
Pois a escada é assim,
Nunca garante guarida.
Aí vem uma surpresa,
Bem lá no fim da escada,
Uma parede fechada,
Lisa, que é uma beleza;
Não tem por onde seguir,
Pode chorar, pode rir,
É coisa da natureza.
Não se entende por quê
Se fez uma escada dessa,
Que tem batentes à beça,
Quem poderia dizer?
Alguém pregou uma peça,
É isso que interessa
A gente compreender.
Não se quer descer de volta;
Ninguém gosta de perder,
Mas não há o que fazer,
Nem precisa de escolta;
O jeito é se render,
Começar logo a descer,
E ver se ninguém lhe nota.
Cada batente é uma lágrima,
É também, uma saudade,
Pois é fim indesejado,
De deixar a cara pálida
Uma grande decepção,
Mas por resignação,
Uma experiência válida.
Resistindo e não descendo,
Tem de se abrir uma porta,
Até com a mão, não importa,
Todo mundo compreende;
Seria uma resposta,
Como todo amante gosta,
E o problema resolvendo.
Com sacrifício e fé,
Com muita perseverança,
Inocência de criança,
Amor de homem e mulher,
Alcançará a bonança,
Pois o amor só avança
Do jeito que a gente quer.
Não acredito que o amor
Nos leve a nada ruim;
Então, fazendo por mim,
A parede derrubou;
Vejam só qual foi o fim
Que encontrei bem assim,
Quando tudo terminou.
Depois da parede, estava
Tudo que a gente procura:
Sem choro nem amargura,
Vejam só quem lá morava;
Quanto mais tal aventura
Parecia uma loucura,
muito mais apreciava.
Vou lhe dizer a verdade
De quem estava ali;
Só acredito porque vi,
Creia-me, por caridade;
Quando rompi a parede,
Cansado e com tanta sede,
Vi logo a felicidade.
O pior é que ela disse
Que tinha ido pra lá
Sempre me vendo chegar,
Parecendo uma tolice;
Mas disse, pra terminar,
Que não iria chegar,
Se pra lá eu não subisse.
A Surpresa na Escada do Amor
Cordel de Walter Medeiros (Natal/RN – 2003)
Quero contar pra vocês,
Com a maior precisão,
Qual foi a minha impressão,
Quando pensei certa vez
Sobre a maior emoção
Que temos no coração,
Sem contar nem até três.
Pois o amor, quando chega,
Vem logo arrepiando,
Deixa a gente se enganando,
E mole feito manteiga,
Quem ama, se abestalhando,
Pensa que está ganhando,
É a pessoa mais meiga.
Ele vai levando a gente,
Com tantos sonhos que traz,
A fazer tudo demais,
Deixa até impaciente.
É como ficar sem paz
Ser notícia nos jornais,
Junta tudo que se sente.
Eu comparo o amor,
A uma grande escada,
Comprida e enviesada,
Onde a pessoa entrou;
E que depois de entrar
Nunca pensa em voltar,
Por mais que vá sentir dor.
Ela tem tantos batentes,
Pelos quais vamos subindo,
Avançando e seguindo,
Continuando em frente;
Mesmo se desiludindo,
Todos continuam indo,
Lá ninguém é diferente.
A subida continua,
Por toda aquela escada,
Que é uma grande parada,
Maior do que muita rua;
Perigosa, engraçada,
Não se compara a nada,
Parece que se flutua.
Nessa seqüência subida,
Com pássaros e jardins,
Quem sabe até querubins,
Tudo de bom dessa vida,
Finda chegando ao fim,
Pois a escada é assim,
Nunca garante guarida.
Aí vem uma surpresa,
Bem lá no fim da escada,
Uma parede fechada,
Lisa, que é uma beleza;
Não tem por onde seguir,
Pode chorar, pode rir,
É coisa da natureza.
Não se entende por quê
Se fez uma escada dessa,
Que tem batentes à beça,
Quem poderia dizer?
Alguém pregou uma peça,
É isso que interessa
A gente compreender.
Não se quer descer de volta;
Ninguém gosta de perder,
Mas não há o que fazer,
Nem precisa de escolta;
O jeito é se render,
Começar logo a descer,
E ver se ninguém lhe nota.
Cada batente é uma lágrima,
É também, uma saudade,
Pois é fim indesejado,
De deixar a cara pálida
Uma grande decepção,
Mas por resignação,
Uma experiência válida.
Resistindo e não descendo,
Tem de se abrir uma porta,
Até com a mão, não importa,
Todo mundo compreende;
Seria uma resposta,
Como todo amante gosta,
E o problema resolvendo.
Com sacrifício e fé,
Com muita perseverança,
Inocência de criança,
Amor de homem e mulher,
Alcançará a bonança,
Pois o amor só avança
Do jeito que a gente quer.
Não acredito que o amor
Nos leve a nada ruim;
Então, fazendo por mim,
A parede derrubou;
Vejam só qual foi o fim
Que encontrei bem assim,
Quando tudo terminou.
Depois da parede, estava
Tudo que a gente procura:
Sem choro nem amargura,
Vejam só quem lá morava;
Quanto mais tal aventura
Parecia uma loucura,
muito mais apreciava.
Vou lhe dizer a verdade
De quem estava ali;
Só acredito porque vi,
Creia-me, por caridade;
Quando rompi a parede,
Cansado e com tanta sede,
Vi logo a felicidade.
O pior é que ela disse
Que tinha ido pra lá
Sempre me vendo chegar,
Parecendo uma tolice;
Mas disse, pra terminar,
Que não iria chegar,
Se pra lá eu não subisse.
quinta-feira, 7 de junho de 2007
Não é Amélia, mas é uma mulher de verdade.
É do ser humano notar o quanto alguém é especial somente depois que não pode mais contar com sua presença física. Talvez isso tenha origem no ensinamento religioso que nos incutiu na mente conceitos como humildade, orgulho e vaidade. Homens e mulheres ‘de bem’ devem ser humildes, não alimentar vaidade e orgulho – isso sintetizando bem a lista.
Tudo bem, até aí concordo. Embora saibamos que tem muita gente por ai sendo ‘humilde’ por ‘vaidade’ e ‘orgulho’, não devemos nos gabar por nossos feitos e qualidades, até porque nossas ‘pisadas da bola’ e defeitos são tantos que cai tudo na lei da compensação. Ou seja, ficam elas por elas.
Mas daí... Não notar quem está ao nosso lado, ou pior, fazê-lo somente depois que ‘perdemos’, é egoísmo mesmo! E não é porque dona Irene é minha mãe, mas tenho que aproveitar enquanto ela ainda pode me ouvir para dizer: PQP... É uma mulher maravilhosa!
Poderia listar suas inúmeras qualidades e defeitos que a fazem ser única, mas vou me deter apenas na lição dessa tarde.
Desde meus 19 anos criamos um ritual muito particular, que tentamos manter até hoje, mesmo depois de ter saído de casa. É o ritual do bolo com café! Isso surgiu meio que sem querer, como uma expressão de carinho. Minha ‘baixinha’ sempre foi fã de café (como boa paulista que é) e naquela época, com a faculdade trancada, estava na minha fase de experimentações culinárias.
O resultado disso é que quase todo finzinho de tarde (especialmente nos chuvosos) preparava uma de minhas receitas e levava pra ela um bolo com café quentinho. Era o momento de pararmos e conversarmos sobre a vida. Aliás, foi em um desses momentos que comuniquei a minha decisão de sair de casa, deixar Minas Gerais e voltar à Maceió para terminar a faculdade.
Bem, voltando pra 2007... Hoje foi tarde de ritual. “Filha, vou passar aí para tomarmos um café”. Mais do que tomar um café, ela veio me ensinar sobre a vida, sobre SER humano.
Quando a baixinha chegou, trouxe consigo um sorriso iluminado que me fez voltar a ser criança e dar uma trégua na agitação dos meus dias. Fomos pra cozinha passar um café fresquinho, boa desculpa para conversarmos.
No bate papo percebi que estava diante de uma pessoa com uma capacidade de doação como a muito não se vê. Embora já soubesse disso, o fato ficou mais evidente e me fez enxergar o tamanho egoísmo em que vivemos.
Pra minha ‘velinha’ os seus 60 e poucos anos e filhos criados não são sinal de calmaria. Os planos eram chegar a essa idade desfrutando de uma aposentadoria tranqüila, entretanto, os acontecimentos, entre eles os pacotes econômicos do Brasil, foram traçando novos caminhos. Mas, embora todos os perrengues e preocupações de esposa, mãe, pequena empresária, ela consegue, espontaneamente, abstrair-se de si em favor de alguém, mesmo que esse alguém seja um completo desconhecido.
O dia de ontem foi um exemplo disso. Ela estava a caminho do trabalho, véspera de feriado de Corpus Christi, com uma dor tremenda no pé que mal a deixava andar (o famoso esporão) quando encontrou um senhor bastante idoso sentado na calçada. Limpo, mas com a saúde muito fragilizada, o que se podia perceber pelo semblante e os gemidos.
Talvez a maioria das pessoas (onde me incluo) passasse despercebida pela cena ou mesmo não se preocupasse em parar, julgando ser apenas mais um dos ‘bêbados’ largados pela rua. Mas a dona Irene não! Passou, pensou em seguir, mas, não conseguiu ignorar e voltou! Tentou conversar com aquele senhor que mal conseguia falar tamanha a dor que sentia. Atenciosamente esperou ele se acalmar para ouvi-lo e descobriu que ele vinha de uma cidade do interior, chamada São Luiz do Quitunde, em busca de um remédio que lhe prometeram (detalhe: uma vereadora havia lhe prometido).
O tal senhor chegará à Maceió na noite anterior, porque o combinado era que estivesse na casa da ‘benfeitora’ às 8h daquela manhã para receber o tal remédio. Remédio, aliás, que deveria ser fornecido pelo nosso ‘eficiente’ Sistema Único de Saúde (SUS). Para não correr o risco de se atrasar, uma vez que não conhecia a cidade e ainda teria de procurar pela residência que ficava em algum lugar do bairro de Ponta Verde, preferiu se antecipar.
Conseguiu ajuda de alguém que lhe pagou um pernoite e café da manhã em hotel próximo a rodoviária e, como planejado, estava na casa da vereadora no horário combinado. Mas acontece que a sujeita resolveu aproveitar o feriadão e viajou, picou a mula.
Dona Irene poderia ter parado por ali, no máximo ter dados ‘alguns trocadinhos’ para ajudar. Mas ela não contentou em apenas ouvir. Convidou o senhor para acompanhá-la até seu restaurante e aguardasse enquanto ela veria de que maneira poderia ajudá-lo a adquiri o tal medicamento.
Lembrando que bem próximo havia uma igreja que dispunha de serviço de Assistência Social, pediu para uma de suas funcionárias acompanhar o senhor até a igreja em busca de ajuda. Mas ainda era cedo e a assistente social que prestava trabalho voluntário só estaria por lá depois das 17h. Sem saber o que fazer, a moça voltou ao restaurante com o senhor, que mal conseguia sustentar o próprio corpo, apoiado em uma bengala.
Embora tantas tarefas para fazer, minha mãe não desistiu de ajudá-lo e imediatamente ligou para uma farmácia. Ela mesma compraria o tal remédio. Mas o medicamento estava além de suas possibilidades. As seis ampolas descritas na receita custavam a bagatela de R$ 280,00. Por mais que quisesse ajudar, aquele realmente era um fator limitante.
Bem, novamente ela teve a oportunidade de parar por ali, mas não o fez. Lembrou-se de seus clientes que trabalhavam em clinicas e laboratórios e saiu ligando para todos eles. Infelizmente, ninguém pôde ajudar.
A essa altura, o senhor que aguardava sentado agradeceu e disse que ela não precisava mais se incomodar.
Quem disse que ela deu-se por satisfeita? Lembrou-se do centro espírita que freqüenta esporadicamente. Sabia que lá havia um ambulatório e quem sabe, poderia encontrar o tal remédio. Sem sucesso!
Mas, nesse contato, a pessoa que a atendeu, esposa de um médico, sensibilizou-se com a história e decidiu entrar na empreitada. Cinco minutos depois, dona Irene recebeu o telefonema de um médico, Ivan, falando para que ela aguardasse porque ele estava tentando conseguir o medicamento.
Enquanto isso o senhor pediu que minha mãe o ajudasse a levantar. Segundo ele, sentado suas dores eram maiores. Assim ela o fez e ele ficou dando pequenos passos pela calçada em frente ao restaurante.
Enquanto aguardava o retorno do telefonema, ela ocupou-se das tarefas do trabalho e por alguns instantes distraiu-se da figura do senhor. Minutos depois Dr. Ivan liga. Não havia conseguido o medicamento, mas fez uma ‘vaquinha’ entre amigos e arrecadou o dinheiro para comprar o remédio.
Mas, para sua surpresa, quando dona Irene foi comunicar a boa notícia ao senhor, ele já havia ‘desaparecido’. Sentindo-se frustrada, mamãe me contava o fato, decepcionada por não ter conseguido ajudar o ‘velinho’.
Sentada diante daquela mulher, que já havia criticado várias vezes pela sua boa fé e inocência, não consegui falar uma só palavra. Em mim, apenas o sentimento de gratidão por tê-la como mãe.
Tudo bem, até aí concordo. Embora saibamos que tem muita gente por ai sendo ‘humilde’ por ‘vaidade’ e ‘orgulho’, não devemos nos gabar por nossos feitos e qualidades, até porque nossas ‘pisadas da bola’ e defeitos são tantos que cai tudo na lei da compensação. Ou seja, ficam elas por elas.
Mas daí... Não notar quem está ao nosso lado, ou pior, fazê-lo somente depois que ‘perdemos’, é egoísmo mesmo! E não é porque dona Irene é minha mãe, mas tenho que aproveitar enquanto ela ainda pode me ouvir para dizer: PQP... É uma mulher maravilhosa!
Poderia listar suas inúmeras qualidades e defeitos que a fazem ser única, mas vou me deter apenas na lição dessa tarde.
Desde meus 19 anos criamos um ritual muito particular, que tentamos manter até hoje, mesmo depois de ter saído de casa. É o ritual do bolo com café! Isso surgiu meio que sem querer, como uma expressão de carinho. Minha ‘baixinha’ sempre foi fã de café (como boa paulista que é) e naquela época, com a faculdade trancada, estava na minha fase de experimentações culinárias.
O resultado disso é que quase todo finzinho de tarde (especialmente nos chuvosos) preparava uma de minhas receitas e levava pra ela um bolo com café quentinho. Era o momento de pararmos e conversarmos sobre a vida. Aliás, foi em um desses momentos que comuniquei a minha decisão de sair de casa, deixar Minas Gerais e voltar à Maceió para terminar a faculdade.
Bem, voltando pra 2007... Hoje foi tarde de ritual. “Filha, vou passar aí para tomarmos um café”. Mais do que tomar um café, ela veio me ensinar sobre a vida, sobre SER humano.
Quando a baixinha chegou, trouxe consigo um sorriso iluminado que me fez voltar a ser criança e dar uma trégua na agitação dos meus dias. Fomos pra cozinha passar um café fresquinho, boa desculpa para conversarmos.
No bate papo percebi que estava diante de uma pessoa com uma capacidade de doação como a muito não se vê. Embora já soubesse disso, o fato ficou mais evidente e me fez enxergar o tamanho egoísmo em que vivemos.
Pra minha ‘velinha’ os seus 60 e poucos anos e filhos criados não são sinal de calmaria. Os planos eram chegar a essa idade desfrutando de uma aposentadoria tranqüila, entretanto, os acontecimentos, entre eles os pacotes econômicos do Brasil, foram traçando novos caminhos. Mas, embora todos os perrengues e preocupações de esposa, mãe, pequena empresária, ela consegue, espontaneamente, abstrair-se de si em favor de alguém, mesmo que esse alguém seja um completo desconhecido.
O dia de ontem foi um exemplo disso. Ela estava a caminho do trabalho, véspera de feriado de Corpus Christi, com uma dor tremenda no pé que mal a deixava andar (o famoso esporão) quando encontrou um senhor bastante idoso sentado na calçada. Limpo, mas com a saúde muito fragilizada, o que se podia perceber pelo semblante e os gemidos.
Talvez a maioria das pessoas (onde me incluo) passasse despercebida pela cena ou mesmo não se preocupasse em parar, julgando ser apenas mais um dos ‘bêbados’ largados pela rua. Mas a dona Irene não! Passou, pensou em seguir, mas, não conseguiu ignorar e voltou! Tentou conversar com aquele senhor que mal conseguia falar tamanha a dor que sentia. Atenciosamente esperou ele se acalmar para ouvi-lo e descobriu que ele vinha de uma cidade do interior, chamada São Luiz do Quitunde, em busca de um remédio que lhe prometeram (detalhe: uma vereadora havia lhe prometido).
O tal senhor chegará à Maceió na noite anterior, porque o combinado era que estivesse na casa da ‘benfeitora’ às 8h daquela manhã para receber o tal remédio. Remédio, aliás, que deveria ser fornecido pelo nosso ‘eficiente’ Sistema Único de Saúde (SUS). Para não correr o risco de se atrasar, uma vez que não conhecia a cidade e ainda teria de procurar pela residência que ficava em algum lugar do bairro de Ponta Verde, preferiu se antecipar.
Conseguiu ajuda de alguém que lhe pagou um pernoite e café da manhã em hotel próximo a rodoviária e, como planejado, estava na casa da vereadora no horário combinado. Mas acontece que a sujeita resolveu aproveitar o feriadão e viajou, picou a mula.
Dona Irene poderia ter parado por ali, no máximo ter dados ‘alguns trocadinhos’ para ajudar. Mas ela não contentou em apenas ouvir. Convidou o senhor para acompanhá-la até seu restaurante e aguardasse enquanto ela veria de que maneira poderia ajudá-lo a adquiri o tal medicamento.
Lembrando que bem próximo havia uma igreja que dispunha de serviço de Assistência Social, pediu para uma de suas funcionárias acompanhar o senhor até a igreja em busca de ajuda. Mas ainda era cedo e a assistente social que prestava trabalho voluntário só estaria por lá depois das 17h. Sem saber o que fazer, a moça voltou ao restaurante com o senhor, que mal conseguia sustentar o próprio corpo, apoiado em uma bengala.
Embora tantas tarefas para fazer, minha mãe não desistiu de ajudá-lo e imediatamente ligou para uma farmácia. Ela mesma compraria o tal remédio. Mas o medicamento estava além de suas possibilidades. As seis ampolas descritas na receita custavam a bagatela de R$ 280,00. Por mais que quisesse ajudar, aquele realmente era um fator limitante.
Bem, novamente ela teve a oportunidade de parar por ali, mas não o fez. Lembrou-se de seus clientes que trabalhavam em clinicas e laboratórios e saiu ligando para todos eles. Infelizmente, ninguém pôde ajudar.
A essa altura, o senhor que aguardava sentado agradeceu e disse que ela não precisava mais se incomodar.
Quem disse que ela deu-se por satisfeita? Lembrou-se do centro espírita que freqüenta esporadicamente. Sabia que lá havia um ambulatório e quem sabe, poderia encontrar o tal remédio. Sem sucesso!
Mas, nesse contato, a pessoa que a atendeu, esposa de um médico, sensibilizou-se com a história e decidiu entrar na empreitada. Cinco minutos depois, dona Irene recebeu o telefonema de um médico, Ivan, falando para que ela aguardasse porque ele estava tentando conseguir o medicamento.
Enquanto isso o senhor pediu que minha mãe o ajudasse a levantar. Segundo ele, sentado suas dores eram maiores. Assim ela o fez e ele ficou dando pequenos passos pela calçada em frente ao restaurante.
Enquanto aguardava o retorno do telefonema, ela ocupou-se das tarefas do trabalho e por alguns instantes distraiu-se da figura do senhor. Minutos depois Dr. Ivan liga. Não havia conseguido o medicamento, mas fez uma ‘vaquinha’ entre amigos e arrecadou o dinheiro para comprar o remédio.
Mas, para sua surpresa, quando dona Irene foi comunicar a boa notícia ao senhor, ele já havia ‘desaparecido’. Sentindo-se frustrada, mamãe me contava o fato, decepcionada por não ter conseguido ajudar o ‘velinho’.
Sentada diante daquela mulher, que já havia criticado várias vezes pela sua boa fé e inocência, não consegui falar uma só palavra. Em mim, apenas o sentimento de gratidão por tê-la como mãe.
domingo, 3 de junho de 2007
Fessooora
Um ‘pangaré’ muito querido, mineiro refugiado em Brasília, provocador por natureza, questionou:
“Fessora! uma pergunta: casamento é um programa, digo, um conjunto de projetos? Se for um programa, fazer amor é um projeto, um processo, uma atividade ou uma tarefa? Se for uma atividade, as preliminares são atividades "predecessoras" ou depende dos 'steakholders'? Fessora, a última, eu juro!!! E se os cronogramas dos 'steakholders' forem diferentes, o 'output' fica prejudicado?
Querido pangaré...
Sim! Sem sombra de dúvidas casamento é um ‘programa’, que por sua vez abrange vários projetos. Alguns deles são bem definidos em relação ao prazo, como ‘ter filhos’ e ‘viajar nas férias’. Esses são projetos em que o fator ‘tempo’ é inflexível.
Outros necessitam de ‘repactuação’ constante, como aqueles que têm como objetivo: ser querido pela sogra e cunhados ou estar em paz com a balança depois dos primeiros anos de casório. Na verdade, esses projetos poderiam ser enquadrados como atividades (pela constância na execução), mas nesses casos como a repetição de processos pode ser prejudicial e as estratégias e metas necessitam de constante revisão, preferimos classificar como projeto.
Vale lembrar que o programa casamento também inclui projetos de alto risco, como os de administração da TPM e discussões de relacionamento. Esses estão relacionados à parte de gestão e suporte da organização e se não forem bem gerenciados podem comprometer o programa como um todo. Salientamos ainda que os gerentes desses tipos de projetos devem receber adicional por risco e trabalho prestado em condições insalubres e perigosas.
Respondendo a segunda pergunta, fazer amor (sexo) não é necessariamente um projeto, Trata-se na verdade de uma atividade que pode, inclusive, permear mais de um projeto dentro do programa.
Vejamos... Os projetos ‘ter filhos’ e ‘qualidade de vida’ têm em sua lista de atividades o sexo. Outros que também necessitam dessa atividade para sua execução são o de administração da TPM, gerenciamento da auto-estima e todos os demais relacionados à área de gestão de pessoas, que têm em suas metas a manutenção do bom humor e da qualidade do ambiente de trabalho.
Aliás, o gestor deve estar atento no que tange ao controle da qualidade na execução dessa atividade. Caso a assistência técnica especializada não consiga operacionalizar as ações programadas, haverá comprometimento do todo, deixando os projetos vulneráveis ao risco de maior impacto no programa – a infidelidade.
Quanto à terceira pergunta, no geral, as preliminares são ações dentro da atividade sexo, é são totalmente dependente dos ‘steakholders’. Mas, volto a enfatizar a necessidade do gestor estar atendo ao controle de qualidade. É preciso certificar-se de que todas as necessidades do cliente foram atendidas. Quando ocorrem falhas na execução da ação ‘preliminares’ a atividade também fica comprometida. Em alguns casos, os clientes acabam recorrendo a consultores externos para tentar minimizar os danos e isso é uma situação de risco grave para todos os projetos que possuem interface com essa atividade, e logo, ao programa como um todo.
Para finalizar, cronograma é cronograma. Será inevitável que as ações dos ‘steakholders’, em dado momento, caminhem em desalinho. Mas, de forma geral, é imprescindível que todos trabalhem com foco em um único escopo e atentos aos prazos de entrega dos produtos. Sem esquecer, jamais, a satisfação do cliente.
“Fessora! uma pergunta: casamento é um programa, digo, um conjunto de projetos? Se for um programa, fazer amor é um projeto, um processo, uma atividade ou uma tarefa? Se for uma atividade, as preliminares são atividades "predecessoras" ou depende dos 'steakholders'? Fessora, a última, eu juro!!! E se os cronogramas dos 'steakholders' forem diferentes, o 'output' fica prejudicado?
Querido pangaré...
Sim! Sem sombra de dúvidas casamento é um ‘programa’, que por sua vez abrange vários projetos. Alguns deles são bem definidos em relação ao prazo, como ‘ter filhos’ e ‘viajar nas férias’. Esses são projetos em que o fator ‘tempo’ é inflexível.
Outros necessitam de ‘repactuação’ constante, como aqueles que têm como objetivo: ser querido pela sogra e cunhados ou estar em paz com a balança depois dos primeiros anos de casório. Na verdade, esses projetos poderiam ser enquadrados como atividades (pela constância na execução), mas nesses casos como a repetição de processos pode ser prejudicial e as estratégias e metas necessitam de constante revisão, preferimos classificar como projeto.
Vale lembrar que o programa casamento também inclui projetos de alto risco, como os de administração da TPM e discussões de relacionamento. Esses estão relacionados à parte de gestão e suporte da organização e se não forem bem gerenciados podem comprometer o programa como um todo. Salientamos ainda que os gerentes desses tipos de projetos devem receber adicional por risco e trabalho prestado em condições insalubres e perigosas.
Respondendo a segunda pergunta, fazer amor (sexo) não é necessariamente um projeto, Trata-se na verdade de uma atividade que pode, inclusive, permear mais de um projeto dentro do programa.
Vejamos... Os projetos ‘ter filhos’ e ‘qualidade de vida’ têm em sua lista de atividades o sexo. Outros que também necessitam dessa atividade para sua execução são o de administração da TPM, gerenciamento da auto-estima e todos os demais relacionados à área de gestão de pessoas, que têm em suas metas a manutenção do bom humor e da qualidade do ambiente de trabalho.
Aliás, o gestor deve estar atento no que tange ao controle da qualidade na execução dessa atividade. Caso a assistência técnica especializada não consiga operacionalizar as ações programadas, haverá comprometimento do todo, deixando os projetos vulneráveis ao risco de maior impacto no programa – a infidelidade.
Quanto à terceira pergunta, no geral, as preliminares são ações dentro da atividade sexo, é são totalmente dependente dos ‘steakholders’. Mas, volto a enfatizar a necessidade do gestor estar atendo ao controle de qualidade. É preciso certificar-se de que todas as necessidades do cliente foram atendidas. Quando ocorrem falhas na execução da ação ‘preliminares’ a atividade também fica comprometida. Em alguns casos, os clientes acabam recorrendo a consultores externos para tentar minimizar os danos e isso é uma situação de risco grave para todos os projetos que possuem interface com essa atividade, e logo, ao programa como um todo.
Para finalizar, cronograma é cronograma. Será inevitável que as ações dos ‘steakholders’, em dado momento, caminhem em desalinho. Mas, de forma geral, é imprescindível que todos trabalhem com foco em um único escopo e atentos aos prazos de entrega dos produtos. Sem esquecer, jamais, a satisfação do cliente.
Projeto encerrado
Para matar a curiosidade... Siiim, meu último ‘projeto’ está finalizado! Tudo bem... Confesso que não consegui atingir todas as metas e fiquei longe do produto final. O cronograma e orçamento estouraram e nem todas as ações foram executadas, aliás, algumas delas geraram muito retrabalho.
Mas, uma vez que a continuidade do projeto traria muito mais prejuízos para a organização que o encerramento, ora ora, a decisão não poderia ter sido mais acertada.
Hilário mesmo foi a maneira como me dei conta de que já não havia mais ‘pendências’. Eis que um dia estava dirigindo, a caminho de lugar qualquer, e ouço ‘a música’. Por mais brega que possa parecer, tenho de admitir... Todos mortais que um dia se apaixonaram têm uma música, um perfume, um lugar, uma coisa qualquer que traz a lembrança os nossos ‘finados e finadas’. Euzinha não fugi a regra.
Mas, ouço a tal música e diminuo a velocidade a espera de uma reação qualquer do meu coração ditador. Era de manhãzinha e a razão ainda dormia. Olhos arregalados, ouvidos atendo, sensores ligados e... Nada! Nadica de nada! Nem uma reação qualquer, nem um batimento mais acelerado, nem um suspiro, nem um traço de saudosismo!
Não me contive e quem passava pela calçada na certa não entendeu de onde e nem o porquê daquela euforia. Ufa! Finalizei e hoje meus ‘steakholders’, aqueles que fazem parte do quadro fixo (coração, razão, hormônios), estão comprometidos em outras atividades.
Mas, uma vez que a continuidade do projeto traria muito mais prejuízos para a organização que o encerramento, ora ora, a decisão não poderia ter sido mais acertada.
Hilário mesmo foi a maneira como me dei conta de que já não havia mais ‘pendências’. Eis que um dia estava dirigindo, a caminho de lugar qualquer, e ouço ‘a música’. Por mais brega que possa parecer, tenho de admitir... Todos mortais que um dia se apaixonaram têm uma música, um perfume, um lugar, uma coisa qualquer que traz a lembrança os nossos ‘finados e finadas’. Euzinha não fugi a regra.
Mas, ouço a tal música e diminuo a velocidade a espera de uma reação qualquer do meu coração ditador. Era de manhãzinha e a razão ainda dormia. Olhos arregalados, ouvidos atendo, sensores ligados e... Nada! Nadica de nada! Nem uma reação qualquer, nem um batimento mais acelerado, nem um suspiro, nem um traço de saudosismo!
Não me contive e quem passava pela calçada na certa não entendeu de onde e nem o porquê daquela euforia. Ufa! Finalizei e hoje meus ‘steakholders’, aqueles que fazem parte do quadro fixo (coração, razão, hormônios), estão comprometidos em outras atividades.
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