terça-feira, 22 de agosto de 2006

70.3 do começo

Quando o Júnior ligou e deu a notícia de que três de nossos amigos viriam à capital federal participar do Iron Man 70.3 não tinha bem a noção de como seria aquele domingo – 20 de agosto de 2006.

Estava contente em poder recebê-los (matar a saudade depois de tantos meses distante) e disposta a ajudar no que fosse preciso. Afinal, bem sabia que viajar para fazer uma competição fora de casa é, sem dúvida, um momento de tensão. Estar sozinho em uma cidade estranha pode tornar as coisas ainda mais desgastantes.

Bem, dias depois do telefonema, procurei saber um pouco mais sobre a tal prova. No site oficial da competição, tive acesso às informações básicas: um triathlon de longa distância. O que significa: 1.900m de natação, 90km de ciclismo e 21km de corrida. Até ai tudo bem. Outros amigos já haviam participado deste tipo de competição, o que tornava o fato relativamente comum. Tornava! (passado)

Na sexta-feira passada comecei a sentir que aquela prova seria diferente do que imaginava. Embora Tavares, um dos “três mosqueteiros” já tivesse desembarcado na cidade, minha ficha ainda não havia caído. Foi apenas à noite, enquanto esperava Fabrizio chegar, no saguão do aeroporto, é que senti aquele famoso friozinho na barriga. Durante a espera, pude acompanhar o desembarque de outros atletas. Alguns vinham sozinhos e outros eram recebidos por amigos... mas, TODOS, traziam a mesma expectativa indisfarçável no olhar, como se estivessem tentando fazer o reconhecimento da terra estranha. Expectativa, aliás, que também estava visível na fisionomia do nosso amigo.

Preparativos

No dia seguinte, o calor e a baixa umidade da cidade já davam a dica de que o domingo de prova não seria nada mole. Mas seria espetacular. Nos encontramos, eu e dois dos mosqueteiros, logo cedo. Tínhamos de ir ao local onde estavam sendo distribuídos dos kits de prova e tomar conhecimento sobre os detalhes da competição.

Ao ver as áreas de transição, largada e chegada da prova, a minha expectativa começou a crescer. De imediato, fiquei impressionada pela organização. Seria difícil tentar descrever o trabalho realizado por aquelas centenas de pessoas. Tudo extremamente alinhado, programado, cronometrado. Quase impecável!

Parte da prova começava mesmo na véspera, com o check in das bicicletas. No sábado, todos os atletas tinham de deixar na área de transição as suas “magrelas” e o material que seria utilizado durante a competição. Sacolas de cores diferentes eram utilizadas para guardar os apetrechos da natação, ciclismo e corrida. Tudo ficava pendurado em araras enormes, o que facilitaria o acesso dos atletas. Uma prática simples e extremamente eficaz. Na área de transição também haviam tendas para a troca de roupa e diversos banheiros químicos. Mas como disse, essa é apenas uma pobre descrição sobre a forma de organização.

Paralelo a toda essa movimentação, observava que ali se reuniam pessoas de diferentes estados e até nacionalidades. Também haviam esposas, maridos, namoradas e filhos.

Por momentos pensei: "O que faz essas pessoas viajarem milhas e milhas, acordar às tantas da madrugada para estar aqui. O que me faz estar aqui, agora?" As respostas reforçavam em mim a certeza de que escolhemos não apenas um esporte, mas um estilo de vida.

Poucas horas....

Já sentindo a expectativa do que estava por vir, dormir naquele sábado foi um tanto difícil. O despertador programado para às 4h, foi substituído pela preocupação... O medo de não acordar no horário certo e atrapalhar os meninos, me fez despertar várias vezes durante a noite. E se eu, mera expectadora, já estava daquele jeito... imagine eles. Pra nenhum de nós deve ter sido fácil dormir naquela noite.

Às 5h em ponto já estava na porta do hotel onde dois de nossos amigos estavam hospedados. O terceiro, com a esposa e filha, havia ficado em um hotel mais próximo ao evento.

Embora a largada da prova estivesse marcada para 7h e os atletas tivessem até 6h40 para pintura e checagem final dos equipamentos, queríamos chegar logo. Não apenas pela expectativa, mas para prevenir contratempos.

E... mesmo tendo entre nossos atletas um virginiano (pessoas que têm como uma de suas características a pontualidade) tenho que admitir: eles são um bocado enrolados. Então... checa e “recheca” tudo antes de sair. Procura, acha, perde novamente.

O bom disso foi que ganhei uns minutos extra para cochilar enquanto esperava os meninos acabarem de tomar banho e organizar os equipamentos.
- Tá tudo certo?
- Tá!?
- Então... vamos simbora!


Às 5h40 finalmente saímos. O coração já estava na garganta. A 1h20min que faltava para a largada passou rapidinho. Foi apenas o tempo de fazer a pintura dos atletas, dar uma última olhadinha nas bicicletas, nos equipamentos, vestir a “roupa de tubarão” (apelido carinhoso para o neoprene) e quando menos esperamos já estava todo mundo no píer onde seria a largada.

Faltando poucos minutos para o início da prova, alguém da organização gritava, aos montes, tentando encontrar o dono de uma tornozeleira perdida. Todos os atletas tinham de usar uma tornozeleira com um chip de identificação. Perde-la significava a desclassificação imediata.

Imaginar o desespero daquele atleta ao perceber que havia perdido seu chip, fez minha adrenaliza aumentar ainda mais. E ver aquele mar de gente caindo na água fez o coração parar na boca. Não sei se estava tão nervosa quanto os meninos, mas, a emoção de vê-los naquele desafio, me fez chorar na largada da prova.

Olhar de fora

Impossível saber o que se passava na cabeça deles durante aquelas cinco horas de tanto de competição... mas posso falar do que vi e senti... (continua!)

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