domingo, 27 de fevereiro de 2005

O duelo

Sexta-feira, 03h20

Rua deserta, só mesmo o vigia para abrir o portão. “Ele deve ta achando que eu tô chegando da noite”... pensei comigo. “Não, seu moço. Eu tava trabalhando mesmo.”

Foi só o tempo de chegar, colocar as tralhas sobre a mesa, o corpo sob o chuveiro e depois, o que restou dele, sobre a cama. E que cama. Adoro minha cama. È daquelas “king size”, grandona, confortável. Boa de dormir e de... de ficar acordada.

Fabí: amanhã não quero ter hora pra acordar.
Consciência: Mas que tarde? Logo cedo tem pós-graduação.
Fabí: Hummmm. Quero colinho.


Logo cedo, cedo mesmo... tipo assim... 05h30, o corpo (eu não, apenas ele) estava de pé. Revoltado, claro, porque queria ficar na cama. Mas a consciência fez questão de sacolejá-lo.

Para agradar o pobrezinho, moído... massagem. É a primeira providência de todos os sábados. Eliene, a massagista, vem tentar recuperar o que sobra de mim depois da madrugada naquela redação. O detalhe é que nos dias de Pós, ela vem, digamos... um pouco mais cedo.

Precisamente às 8h10, ele (o corpo) esta presente na sala de aula. Nem a massagem da Eliene resolveu e o cansaço estampado no rosto foi motivo pra tirada. Cheguei à conclusão de que, não importa a idade, na sala de aula todo mundo volta a ser criança. Deve ser alguma coisa que colocam naqueles pincéis pra quadro branco.

Emanuel: êta que a farra foi boa.
Fabí: hein?
Emmanuel: não veio ontem pra aula ontem e hoje tá com essa cara de ressaca...
Fabí:


As horas naquela cadeira não passavam. Interminável duelo entre a Dona Consciência, e o Sr. Sono, mais um personagem dessa saga.

As pálpebras, manipuladas pelo corpo, não obedeciam ao comando do cérebro. Acho que havia chumbo nos círios. Até que a salvação veio com o anúncio da professora doutora.

Prof: gente, eu vou passar um vídeo, parará, parará, parará.... deve ter uns 50 minutos... blá, blá, blá.
Corpo: oba! Vamos dormir.
Consciência: não, que vergonha. É uma falta de respeito à professora.
Prof: vocês acham melhor apagar a luz?
Sono: já deveria ter apagado.

O corpo resolveu aliar-se ao sono e eles venceram o duelo. O Porém, outras batalhas foram travadas até o fim do dia.

Às 17h, o corpo, convencido pelo sono, decidiu ir embora.
Em casa, apenas 4 minutos e o celular toca.

Lucia (Lucy): oi fofa. Já saiu da Pós?
Fabí: acabei de chegar em casa.
Lucy: então, você não vem pro shopping? Não disse que precisava comprar umas coisas?
Fabí: é verdade.

A intenção era deitar e descansar. Mas tive medo que o corpo e o sono armassem uma rebelião e me mantivessem aprisionada àquele colchão até a manhã seguinte. Também tinha compromisso com meus amigos, Itamar, Edna e Tâmara. Uma “quibada” paulista no lar da Família Felipe. Eu sei... não como carne... mas ainda vou chegar lá!

Então, já pro chuveiro! Banho com erva-doce, sabonete anti-estresse (existe sim! È da Natura. Tão bão!). Tudo pra dar aquela levantada no astral e fazer a média com o corpo e o sono.

Já na rua, em meio às vitrines, o corpo não mais reclamou, o sono passou batido e ganhei mais um prego no cartão.

Na casa dos Felipe, com Lucy a tira colo, uma calorosa recepção. Afinal, são amigos. Reunião dos bons... Júnior, Marco, Andréa, Fabrício, Tavares, o irmão do Itamar, além do filho do Marco.

Fui apenas para rever meus caros. O quibe não estava nos planos; que iam muito bem até a Edna passar com pela sala com aquela vasilha repleta de quibes. Cheiro de trigo misturado com ervas... irresistível. Fez-me lembrar dos tempos na casa dos meus pais, quando o “Seu Marco” tinha paciência de ir pra cozinha. Quibe era, ainda é, sua especialidade.

Não resisti... só um... foram três.

Parará, parará, parará... muita conversa, coisas saudáveis e nem aí pro sono, que já tava chegando. Até que ele, aliado ao corpo, resolveu adotar uma nova estratégia. Atacou pela dor de cabeça.
Os olhos começaram a fechar, doloridos pelo reflexo da luz, a voz ecoava, e as passadas ressoavam como sino na minha cabeça.
Safados! Jogo sujo. No melhor da farra tive de ir pra casa.

Depois de deixar Lucy... pra completar, engarrafamento no caminho. Todo mundo que passa pela “rua dos bares” decidi diminuir a velocidade pra ver quem está na área e claro, para ser visto.

Fabi: nessa eu não caio. Vou pela praia.
Sono e corpo (rebelados): otária.

Descobri que na praia, também havia engarrafamento.
Farol vai, farol vem, até que, consegui chegar em casa e entregue aos meus adversários, cai na cama. Às 22h30.

Hoje? Hoje uma baita azia pela carne, afinal há mais de cinco anos que ela não faz parte do meu cardápio, e um CD de Meditação sobre a mesinha de cabeceira...espero não dormir, pelo menos, nos 10 primeiros minutos.